Hoje foi daqueles dias para pensar um pouco na vida e, no meu caso, dar graças aos céus por não trabalhar mais no sell side e ter que gastar o inglês para explicar aos clientes estrangeiros o que é quase inexplicável. O desenrolar das medidas anunciadas de manhã para o câmbio está sendo digno de enredo de filme dos irmãos Marx: os personagens entram e saem freneticamente e só geram confusão. Até agora, ninguém ainda conseguiu esclarecer:
- Como o CMN vai fazer o cálculo da exposição cambial líquida dos agentes? Em muitos casos (sobretudo para bancos estrangeiros, que descasam os balanços para dar liquidez a clientes externos), os contratos registrados na BM&F e na CETIP são apenas uma ponta da exposição, que é compensada por outras operações no exterior nos mais diversos instrumentos.
- Como o imposto vai ser cobrado? Com base em qual exposição: do final do dia, da semana, mês, trimestre, ciclo de Saturno?
- O que vai ser considerado como derivativo - só contratos da BM&F? Adiantamentos de contratos de comércio exterior? Termos?
- O que acontece com exposições em derivativos de outras moedas que não o dólar? É perfeitamente possível montar posições de carry trade em reais contra outras moedas que pagam juros baixos, como o euro e o iene.
- Como os investidores vão lidar com o poder que foi concedido ao CMN? Quem tem posições em derivativos no Brasil vai ter que conviver com uma espada de Dâmocles sobre sua cabeça: do dia para a noite pode aparecer um imposto absurdo sobre um valor nocional que muitas vezes tem pouco a ver com intenção ou tamanho da especulação.
Minha opinião definitiva (ô pretensão) sobre o assunto segue a mesma deste texto, de março. Tentar PMDBizar a questão do câmbio (sem escolher nenhum lado e agindo como se fosse possível ter uma taxa que ao mesmo tempo ajude na inflação e não desagrade o empresariado, uma conta de capital aberta com uma postura hostil para parte dos investimentos, uma percepção de que poupança externa é desejável mas não pode entrar quando quiser, juros totalmente desalinhados com o resto do mundo e ausência de especulação em cima disso) culminou com a situação grotesca de hoje. Cada vez mais as medidas parecem totalmente arbitrárias, e cada vez são maiores e mais danosas as consequências não previstas. É hora dos economistas do Planalto decidirem para qual direção queremos seguir.
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
"se você não está confuso é que não está prestando atenção."
Krugman (recentemente comentando sobre a negociacao da divida grega)
Deve ter pensado na frase do Bohr:
"Anyone who is not shocked by quantum theory has not understood it."
Postar um comentário