sexta-feira, 29 de julho de 2011

What, Me Worry?

O dinheiro do tesouro americano "acabando", a mídia tentando vender o começo da era Mad Max, Obama na TV pedindo pelamordedeus para os congressistas chegarem em algum consenso e... a taxa dos títulos de 10 anos do tesouro americano caminha para fechar o mês no nível mais baixo do ano. Os bond vigilantes estão tranquilos nas férias de verão. Ou eles são malucos, ou a discussão é tão consistente quanto espuma de sabão e vale pouco mais que uma nota de três dólares. Escolha seu lado.


Som da Sexta - Nelson Sargento

Como bem lembrou o amigo Veiga, na segunda-feira o grande sambista completou 87 anos. Aqui, Paulinho da Viola convoca Marçal, Juquinha, Élton e Dezinho - tudo isso pra cantar um samba do Nelson Sargento (na minha iletrada opinião, um dos melhores da história).

Novas ferramentas do Google

Bem, podem não ser tão novas, mas só descobri esses dias:

- Google Public Data Explorer - acho que começaram de vez a usar a tecnologia adquirida da Gapminder, do Hans Rosling. Ainda são poucas séries, mas o tratamento padrão Google é muito legal (o gráfico abaixo é um exemplo de lá). Espero que consigam tornar mais acessíveis os dados que, como gosta de dizer o doutor Rosling, os organismos multilaterais recolhem com dinheiro público e colocam à venda para benefício próprio.



- What do you love? - um agregador de várias ferramentas do Google, com informações e meios de interação sobre qualquer assunto. Quer dizer, quase - tente fazer uma busca por "hot sex", por exemplo. Maldito moralismo puritano...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Brasil (mais) caro

A The Economist publicou hoje uma versão do índice Big Mac ajustado pelo PIB per capita. Adivinhem o que deu:

Novos colaterais para empréstimos bancários

A "supercaixa" espanhola, Bankia (tentativa de transformar sete bancos virtualmente quebrados em um único grande demais para falir), está usando os passes de Kaká e Cristiano Ronaldo como garantia de empréstimos junto ao Banco Central Europeu (mais aqui). Mais bizarro do que a situação é saber que nem de longe serão os piores colaterais depositados no BCE...

P.S. Se não fossem a Sandy e a discussão bizantina do limite de endividamento americano, esta seria a notícia mais bizarra do dia. Estamos bem servidos...

Série do Valor sobre a conjuntura brasileira

Excelente dica do André, do Housing Market BR: todos os artigos que o Valor publicou este mês na série sobre conjuntura brasileira. Textos de Samuel Pessoa e Márcio Nakane, Chico Lopes, André Lara Resende, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Fernando J. Cardim de Carvalho, Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo, José Luís Oreiro e Luiz Fernando de Paula, Ilan Goldfajn, Márcio Holland e Octavio de Barros. Tem coisa boa, coisa ruim, coisa ortodoxa, coisa keynesiana, coisa de banco, coisa do governo... faltou um marxistão, mas, de qualquer maneira, é uma ótima amostra dos debates de macroeconomia aplicada ao país.

Brasil x Grécia: onde mesmo é a crise?

Tinha reparado nisso na semana passada, mas deixei de lado e o Financial Times me antecipou (e o Pana me lembrou, agradeço): o retorno em euros do Ibovespa este ano já é pior do que o do índice da bolsa de Atenas (Athens Stock Exchange General Index). A matéria do link acima traz as possíveis explicações; abaixo um gráfico com os dois índices em euros, base 100 no final de 2010.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Passadas algumas horas - o impacto das novas medidas do câmbio

Hoje foi daqueles dias para pensar um pouco na vida e, no meu caso, dar graças aos céus por não trabalhar mais no sell side e ter que gastar o inglês para explicar aos clientes estrangeiros o que é quase inexplicável. O desenrolar das medidas anunciadas de manhã para o câmbio está sendo digno de enredo de filme dos irmãos Marx: os personagens entram e saem freneticamente e só geram confusão. Até agora, ninguém ainda conseguiu esclarecer:

- Como o CMN vai fazer o cálculo da exposição cambial líquida dos agentes? Em muitos casos (sobretudo para bancos estrangeiros, que descasam os balanços para dar liquidez a clientes externos), os contratos registrados na BM&F e na CETIP são apenas uma ponta da exposição, que é compensada por outras operações no exterior nos mais diversos instrumentos.

- Como o imposto vai ser cobrado? Com base em qual exposição: do final do dia, da semana, mês, trimestre, ciclo de Saturno?

- O que vai ser considerado como derivativo - só contratos da BM&F? Adiantamentos de contratos de comércio exterior? Termos?

- O que acontece com exposições em derivativos de outras moedas que não o dólar? É perfeitamente possível montar posições de carry trade em reais contra outras moedas que pagam juros baixos, como o euro e o iene.

- Como os investidores vão lidar com o poder que foi concedido ao CMN? Quem tem posições em derivativos no Brasil vai ter que conviver com uma espada de Dâmocles sobre sua cabeça: do dia para a noite pode aparecer um imposto absurdo sobre um valor nocional que muitas vezes tem pouco a ver com intenção ou tamanho da especulação.

Minha opinião definitiva (ô pretensão) sobre o assunto segue a mesma deste texto, de março. Tentar PMDBizar a questão do câmbio (sem escolher nenhum lado e agindo como se fosse possível ter uma taxa que ao mesmo tempo ajude na inflação e não desagrade o empresariado, uma conta de capital aberta com uma postura hostil para parte dos investimentos, uma percepção de que poupança externa é desejável mas não pode entrar quando quiser, juros totalmente desalinhados com o resto do mundo e ausência de especulação em cima disso) culminou com a situação grotesca de hoje. Cada vez mais as medidas parecem totalmente arbitrárias, e cada vez são maiores e mais danosas as consequências não previstas. É hora dos economistas do Planalto decidirem para qual direção queremos seguir.

Leituras da quarta-feira

- "Situations that will irritate some of us with higher prices will cause others to starve. Situations that will cause some of us to go hungry will be for others a real disaster, and I believe this, unfortunately, will not be in the dim and distant future". Jeremy Grantham sobe um tom na escala de pessimismo em sua última carta trimestral.

- Talvez ajude a causa de Grantham: foi encontrado o maior volume de água do universo - em um buraco negro.  Logo mais o Eike Batista aparece com um plano mirabolante para explorar (dica Veiga).

Howard Marks"One of the most striking aspects of the debt in the modern era is that little if any attention is paid to repayment of principal. No one pays off their debt. They merely roll it over... and add to it." (Carta trimestral da Oaktree.)

Dani Rodrik jogando um pouco de água fria na ideia de que os emergentes vão dominar o mundo.

Porque economistas precisam estudar história, por Barry Eichengreen (vídeo).

- A Veja desta semana tem uma entrevista com o Luciano Coutinho, dizendo, basicamente, que é isso aí, mesmo, que as empresas "vencedoras" já foram selecionadas pelo mercado e que o BNDES só dá uma forcinha pra que elas virem "supercampeãs".

- Uma rara (e sempre pertinente) entrevista de Elie Horn, da Cyrela.

- Dan Ariely indica cinco livros sobre economia comportamental.

- Para quem estiver em Boston no final de setembro: na próxima terça-feira começam as vendas de ingressos para a 21ª entrega do prêmio Ig Nobel.

- Uma campanha pelo Banco Imobiliário de raiz.

Leituras de verão, no outro hemisfério (a foto aí do lado é de lá).

Combate aos derivativos, versão Brasil

Por enquanto ninguém entendeu direito a medida provisória publicada hoje. Minha impressão é que o governo adquiriu algo como um míssil nuclear na "guerra cambial" - a possibilidade de taxar valor nocional de derivativos é assustadora e, como no uso de armas nucleares, as consequências indesejadas podem ser desastrosas. Minha única aposta para o dia é que as ações da BM&F Bovespa vão sofrer.

O trecho do Diário Oficial de hoje:

Diário Oficial - Taxação Derivativos

P.S. Para relembrar:

terça-feira, 26 de julho de 2011

Quantum Fund, 1969-2011 (ou: se não está fácil pro Soros...)

Mais um marco para uma geração de lendários gestores de hedge funds: menos de um ano após a aposentadoria do seu ex-protegido, Stanley Druckenmiller, George Soros (nome original: Dzjchdzhe Shorash) está devolvendo o dinheiro de seus clientes externos (cerca de US$ 1 bilhão, seguirá administrando apenas US$ 24,5 bi da família). O Quantum Fund, fundado em 1969, retornou cerca de impressionantes 20% por ano (em média) ao longo de sua história.

Mais na Bloomberg. O FT Alphaville tem a carta enviada aos investidores.

Imigração para o Brasil, por que não?

Estou lendo o Pós-Guerra, do Tony Judt, e cheguei numa passagem em que ele aponta como um dos fatores mais importantes para o sucesso econômico europeu entre 1953 e 1971 as ondas de migração no continente - dentro de países, de regiões mais atrasadas para pólos industriais (na Espanha, da Andaluzia para a Catalunha; em Portugal, do Alentejo para Lisboa; na Itália, do sul para o norte, etc) e entre países, na direção para onde a mão-de-obra era escassa e muito demandada: a Alemanha firmou acordos de imigração com Itália, Grécia, Espanha, Turquia, Marrocos, Portugal, Tunísia e Iugoslávia; a Suíça e a França receberam milhares de portugueses; a Holanda incentivou a vinda de trabalhadores da Espanha, Iugoslávia, Itália, Turquia, Marrocos e Suriname; e a lista de exemplos vai longe.

Fast-forward para o Brasil de hoje, vivendo praticamente no pleno emprego, com certa escassez de mão-de-obra (na maioria das vezes especializada, mas, em São Paulo, por exemplo, vive se falando na falta de operários da construção civil, garçons, empregadas domésticas, manicures, etc), grande pressão nos custos do trabalho e rodeado de vizinhos mais pobres. Por que o Brasil não recebe, às dezenas de milhares, bolivianos, paraguaios, argentinos, peruanos, etc? Superficialmente, vejo os seguintes possíveis motivos:

1. Falta de interesse do governo brasileiro, que não faz questão de facilitar a situação dos imigrantes que já estão aqui, muito menos de incentivar a vinda de mais gente. Isso pode ser pelo motivo ruim (xenofobia disfarçada) ou pelo relativamente bom (proteção da mão-de-obra local e necessidade de gerar uma pressão deliberada por salários mais altos).

2. Falta de interesse dos possíveis imigrantes, seja por diferenças de língua e culturais ou porque a situação em seus países não está tão ruim (certamente já esteve pior, na maioria dos casos).

3. Descompasso entre a oferta e a demanda por trabalho: o tipo de profissional requerido por aqui não é facilmente encontrado nos vizinhos. Pode ser verdade para alguns casos, mas, novamente, em muitas regiões do país falta a mão-de-obra mais básica.

4. Compreensível falta de vontade dos hermanos latinos de viver no mesmo país que a Valeska Popozuda, o Gabriel Chalita e o Restart.

Seria muito interessante ouvir de alguém que estuda demografia, a ajuda dos universitários nos comentários é mais do que benvinda.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fuga de risco

Não vai demorar para alguém falar de uma bolha de aversão a risco. Franco suíço, iene e ouro estão nas suas máximas históricas (contra o dólar) - o franco suíço já se valorizou 16% neste ano.




O sentimento negativo com relação ao dólar e ao euro é impressionante. Juntando isso com o fato de que a reação dos mercados ao novo pacote da Europa resumiu-se a uma semana de maior otimismo relativo, devemos ter mais emoções em breve.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Fenômenos da Bovespa, versão cutelaria

Essa foi a história mais inusitada do mercado brasileiro esta semana. Preço das ações ordinárias da Mundial S.A. Produtos de Consumo:


Da Exame, CVM investiga manipulação em ações da Mundial.

Gráfico do dia - dissecando o euro

O Barclays Capital publicou um estudo muito interessante que tenta estimar, via um modelo de inspiração claramente drunkeynesiana chamado BEER (behavioural equilibrium exchange rate model, que leva em conta movimentos em termos de troca, diferenciais de produtividade, estoque de ativos estrangeiros e consumo do governo), quanto as antigas moedas nacionais européias que foram convertidas para o euro estariam distantes de uma taxa de equilíbrio. O gráfico resume os resultados (caso não tenha familiaridade com as siglas, aqui tem uma tabela que serve como legenda):


De acordo com o BEER, portanto, a dracma grega seria 20% mais desvalorizada, enquanto a markka finlandesa está subvalorizada mais ou menos na mesma proporção. A surpresa é o marco alemão, bem perto do seu valor "justo".

Leituras pra terminar a semana

Para honrar o dia da semana, mais banalidades do que o usual:

- O tamanho (literal) das dívidas americanas.

- Uma boa análise da proposta de reestruturação da dívida da Grécia.

- O "bolhômetro" de tecnologia chega no nívei seis (de dez) - obrigado, Soneca.

- Um programa da Bloomberg sobre Michael Burry, um dos personagens de The Big Short

- A Apple entre os países do mundo.

- Agnes, Dieter e os Papadopoulos, uma fábula de famílias européias - bastante simplista, mas serve para ilustrar parte do espírito.

- Pocalia! Os chineses estão pirateando Apple Stores inteiras.

- Mapas do Brasil distorcidos por vários parâmetros econômicos / sociais - obrigado, Balu (crédito devido: os mapas são do Daniel Bronfen).

- Scott Adams (o pai do Dilbert) sobre confirmation bias: "In a world of 24-hour news, non-stop punditry, and the Internet, my hypothesis is that confirmation bias has moved to critical levels."

- Isso aqui oô, é um pouquinho da Rússia, iaiá (ou, como diria o Tyler Cowen, the culture that is Russia): o país finalmente passará a classificar cerveja como bebida alcoólica (até esta semana, bebidas com menos de 10% de teor alcoólico eram "foodstuff"). E começa a campanha para a volta de Putin à presidência no ano que vem, com um concurso que dará um iPad para que as moças arranquem as roupas pelo czar. Bônus: This Is Russia, propaganda à parte (valeu, Luiz).

- Uma fantástica animação com algumas capas de discos da Blue Note.

P.S. Tem uma entrevista muito boa do Barry Eichengreen no caderno de fim de semana no Valor, vale procurar.

Som da Sexta - Battles

Menos malucos depois da saída do maluco-mor Tyondai Braxton, mas ainda muito bom. Ah, o clipe é espetacular, valeria mesmo se a música fosse fraquinha.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Acabou a crise na Europa (de novo)

A mídia deve ser inundada pelo assunto nos próximos dias; depois, se eu ainda tiver algo minimamente original a ser dito, escrevo aqui. Coloquei minhas impressões superficiais e rasteiras no twitter:

Estacionando pelo mundo

A turma da Pratik Park, uma rede de estacionamentos aqui em São Paulo, me passou alguns dados muito interessantes que eu nem sabia que existiam: a Colliers International, uma companhia de serviços imobiliários (competidora da Cushman, Richard Ellis, JLL, etc), faz uma pesquisa de preços de estacionamento mundo afora. Para os paulistanos, que vivem reclamando do preço de estacionamento (sobretudo da alta nos últimos anos), a primeira surpresa: São Paulo, uma das cidades mais caras do mundo por outros quesitos, não aparece entre as 50 mais caras para se guardar o carro (essas são as taxas mensais, no relatório tem a mesma tabela para taxas diárias, os resultados são ligeiramente diferentes):


Na América Latina, o estacionamento médio mensal em São Paulo e no Rio ainda é menor do que em Buenos Aires:


A Pratik também cruzou os dados dessa pesquisa com outro trabalho da Colliers, que agrega dados de imóveis comerciais. Um dos resultados é a seguinte regressão*, que apontaria, caso o padrão mundial fosse seguido por aqui (se é que há um padrão válido para a relação entre esses dois dados), para uma mensalidade de estacionamento de cerca de R$ 1,300 no Rio e em São Paulo - e estaria construído um case quase perfeito para banqueiros tentarem vender esse tipo de negócio para estrangeiros. Pode-se argumentar também que os preços de aluguéis que subiram demais e estão fora do lugar, o tempo dirá.


Muito obrigado à Pratik pelos dados e análises. O modesto espaço está aberto para outras visões sobre o assunto.

* Observações da Pratik sobre esses dados:



1) As séries possuem bases temporais com uma pequena defasagem: mensalidades de estacionamento do 1o semestre de 2011 e valores de locação comercial do 2o semestre de 2010. No entanto, a expectativa para o fechamento dos dados de locação comercial em SP e RJ no 1o semestre de 2011 é de um novo aumento, relativamente maior que em outras cidades do mundo, reforçando a defasagem.


2) A variação de preços de locação é mais "granular" do que mensalidades de estacionamento. Em outras palavras, em um mesmo quarteirão, pode haver grandes variações no preço de locações comerciais (dependendo da idade do empreendimento, tecnologias envolvidas, ...), enquanto os estacionamentos tendem a ter o mesmo preço (mais "comoditizado", mais fácil de trocar). Exemplificando: o levantamento da Colliers leva em consideração centros comerciais, edificios novos/seminovos, padrão AAA. O resultado de São Paulo, por exemplo, é um valor médio de R$86 por m² para locação e mensalidade de estacionamento a R$272. Ao lado desse prédio modelo, pode haver um prédio extremamente bem localizado, porém mais antigo, o que leva o valor de locação para algo em torno de R$55 por m², por exemplo. E os usuários desse edifício estarão sujeitos aos mesmos R$272 para mensalidade do estacionamento.
De todo modo, mesmo para esses valores de locação, o ponto de SP fica muito aquém da "tendência mundial".

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Futuros de barriga de porco, 1961-2011

Após cinquenta anos de gloriosa história, os contratos futuros de barriga de porco deixaram de ser negociados na Chicago Mercantile Exchange, na última sexta-feira. Os contratos de leite e manteiga seguem firmes, por enquanto. Mais no Planet Money.

Sexo e câmbio

Esse é o título da coluna do Delfim Netto na Folha de hoje (o título deve ter sido escolhido por algum editor com tendências sensacionalistas). Ele cita um trabalho apresentado no seminário anual de economia do leste asiático, organizado pelo NBER, cujo título é "Uma perspectiva darwiniana sobre a taxa de câmbio chinesa" (achei este paper, não é o mesmo título, mas deve tratar do mesmo assunto - update: o paper que o Delfim menciona é este aqui, obrigado, Bisnetto.). Na mesma linha da brilhante relação descoberta entre tamanho do pênis e desenvolvimento econômico, os pesquisadores afirmam que o aumento proporcional no número de homens na China tem como efeito uma desvalorização no câmbio real e consequente aumento do superávit em conta corrente. A cereja do bolo é o corolário extraído da teoria, assim citado pelo Delfim:

"Se o planejador central (talvez alguém com a visão do líder Mao?) puder reduzir a relação entre os sexos (agora matando os nascituros masculinos?), ele produzirá uma redução da conta corrente de acordo com a proposição 2" (que exige uma fantástica coleção de hipóteses para ser demonstrada)."

O último parágrafo da coluna também merece ser citado:

Como disse, nos anos 1910, Vilfredo Pareto, sociólogo e economista matemático sério, "concedam-me as hipóteses e eu lhes demonstrarei qualquer coisa". De que são capazes pequenos matemáticos supostos grandes economistas...

Assim ficamos.

Crescimento x austeridade

A última coluna de economia da The Economist (Economic focus) comenta alguns trabalhos acadêmicos que tentam encontrar casos históricos em que austeridade fiscal levou a maior crescimento econômico, a combinação que muitos julgam desejável para os EUA e a Europa atuais Infelizmente, o sucesso dos defensores do aperto dependerá da incômoda premissa que "this time is different" (o racional suposto é que a austeridade diminui a probabilidade de calote da dívida, baixando as taxas de juros e, por consequência, aumentando os preços de ativos e os incentivos para investimento - esse tipo de argumento embute um grau de crença em expectativas e na preponderância de fatores financeiros que é bastante típica da nossa época, também tem sido usada pelo Fed): em um paper do FMI, por exemplo, foram estudadas 173 mudanças de política fiscal entre 1978 e 2009, e a conclusão é que um corte no orçamento de 1% do PIB leva a um crescimento real cerca de 0,7% menor e a um desemprego 0,3% mais alto.

Fugindo das possíveis distorções que uma modelo econométrico agregado pode gerar, um outro trabalho, de um professor da Universidade Bocconi, apresentou os casos em que políticas austeras tiveram sucesso. As tristes conclusões são que: (i) não são muitos, (ii) dependeram de fortes quedas nos juros (com o estímulo monetário decorrente substituindo algo da restrição fiscal) e/ou de grandes desvalorizações das moedas - possibilidades remotas em nosso mundo de juros já muito baixos e (no caso da Europa) taxas de câmbio não-independentes. Sem crescimento, sobram como opções para diminuir a dívida a combinação perniciosa de monetização e inflação ou o velho e bom calote, com o nome pomposo que queiram dar (reestruturação, renegociação...). O aperto fiscal arrisca piorar a atividade de economias já fragilizadas, e, no fim das contas, levaria por outro caminho a essas duas opções. Não vejo como os detentores de dívida não perderem, e,  até isso acontecer, seguiremos nesse estranho mundo de promessas irreais e políticos de grandes egos tentando controlar o incontrolável (e, tristemente, de dívida ruim sendo transferida de bancos privados para bancos centrais e tesouros nacionais).

Especulação imobiliária no Rio de Janeiro

Mais um do Dinâmica de Bruto.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Apple

A Apple acabou de divulgar seus resultados do segundo semestre. Alguns destaques, via WSJ (grifos meus):

  • The company said it sold 20 million iPhones in the quarter.
  • Mac unit sales were 3.95 million.
  • The company now has $76 billion in cash. That’s a nearly $10 billion surge in three months. No wonder they need a new headquarters.
  • iPods keep selling, with 7.54 million out-the-door in the quarter.
  • iPads? 9.25 million sold.
  • iPad sales grew 184%, iPhones sales grew 142%.
  • The company said it sold every iPad it could make.
  • The iPod has a 70% market share and is the top device in every country it is sold.
  • Apple’s shares are up 54% in the last year, more than double the gain of the S&P 500 over that same period.
Isso com a economia bem, digamos, mais ou menos. É de fato o maior fenômeno corporativo dos nossos tempos.

Update: atendendo a um pedido, as maiores companhias abertas do mundo, por valor de mercado (em milhões de dólares):


Update 2: os chineses deram um passo adiante, e passaram a piratear as lojas da Apple.

Leituras da terça-feira

Hoje é dia da independência do Laos, país que tem uma das histórias de guerra que mais me choca: no meio da Guerra do Vietnã, entre 1964 e 1973, uma carga de bombas de um B-52 era despejada no país, em média, a cada oito minutos, 24 horas por dia. Nesse período, o território do Laos (do tamanho de Rondônia) recebeu mais bombas (260 milhões) do que toda a Europa durante a II Guerra Mundial (mais no The Guardian). Uma vergonha pouco conhecida para a lista do Tio Sam.

- Um longo perfil de Ray Dalio, da Bridgewater, o maior hedge fund do mundo (cerca de US$ 100 bilhões admnistrados). Excentricidades à parte, ele acha que o mundo desenvolvido está em um ciclo de desalavancagem que pode levar uma década para ser completado.

- O Quantum, fundo de George Soros, tem 3/4 do seu patrimônio em caixa.

- Os Estados Unidos não são mais AAA, para a respeitável Egan-Jones.

- Falando em AAA... a grande farsa dos títulos "sem risco" (The Atlantic).

- Paul Krugman sobre o tratamento a banqueiros nos EUA.

- Alguém achava o Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago, "infilmável"; que tal isso: chega a São Paulo a versão para o cinema de O Capital: nove horas e meia de duração (Estado e Folha). Fiquei com vontade de ver, significa?

- Acho que a imbecilidade no uso de métodos quantitativos na economia atingiu novas máximas: um estudo relaciona o tamanho do órgão sexual masculino com crescimento econômico (pênis de 13,5 centímetros são ideais, acima de 16, problemáticos - talvez isso seja a explicação definitiva para o atraso da África subsaariana, não?). Mais no Improbable Research, mas metade dos blogs de economia que leio já comentou a respeito. Piadas sobre o crescimento do Peru nos comentários serão vetadas.

- Não está na internet ainda, mas recomendo: a Trip deste mês tem uma entrevista muito legal com o David Byrne sobre bicicletas e cidades. O cara é muito articulado, nada demagógico.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Correlação do dia - câncer e telefones celulares

Piadinhas envolvendo correlações nunca perdem a graça...


Obrigado, Balu.

Sobre economistas, políticos e controle

Seu Bresser-Pereira encerra sua coluna na Folha de hoje, sobre a crise na Europa, com a seguinte frase:

"O fundamental é manter a economia europeia sob controle."

É curioso como boa parte dos economistas que já passaram por algum cargo importante no governo tem a impressão de que é possível "controlar" uma economia além das variáveis que efetivamente podem ser controladas - pouco mais do que os juros de um dia, ou algo dos gastos do governo, ou a geração de incentivos que, com algum grau de certeza, podem produzir efeitos desejados. Como "controlar" uma união monetária de 17 economias, como todas as suas peculiaridades, ligações e complexidades? O caminho escolhido até agora tem sido suprimir os mercados: atualmente três membros do euro (Portugal, Irlanda e Grécia) operam com juros de mercado acima de 10% ao ano para seus títulos de dez anos. A essas taxas, a dinâmica da dívida inevitavelmente leva a um calote em pouco tempo (a regra de bolso, na verdade, é 7% - evidentemente não vale para o Brasil, que desenvolveu ao longo de gerações um arcabouço para lidar com juros lunáticos). O que se faz? Tira-se o mercado do jogo, garante-se o financiamento por alguns anos e espera-se que os países consigam uma combinação mágica de crescimento e ajuste fiscal que os permita conseguir honrar o serviço e reduzir o estoque da dívida existente.

Os defensores da estratégia argumentam que os problemas são restritos a esses poucos países, que são pequenos o bastante para que a União Européia mate as dívidas no peito, sem grandes prejuízos para os tesouros dos países solventes. E se o problema da dívida for estrutural e generalizado? Não é difícil pensar em uma situação em que o buraco seja grande demais, e que a decisão a ser tomada seja menos trivial do que aparecer com algumas dezenas de bilhões de euros. Em última instância, se a tentativa de suprimir o mercado se estender, a consequência é que de fato o mercado desaparecerá, e ficará evidente que os financiamentos são simples transferências de arrecadação de um país para outro. Pode-se discutir que é isso que se busca (uma união fiscal), mas não creio que os governos tenham respaldo de seus eleitores para que esse passo seja dado sem votações ou discussões.

Voltando para a divagação abstrata: não há como manter controle sobre um ambiente muito grande e muito complexo. A situação atual da Europa é o resultado de um acúmulo de desequilíbrios, que, na medida em que ocorriam, talvez pudessem ser controlados. Hoje, o melhor que os detentores do poder poderiam fazer é tentar alinhar esses desequilíbrios com os mercados e reerguer as economias a partir de um novo patamar. A ideia de que mercados são controlados por especuladores que manipulam os preços de acordo com sua conveniência é errada. A verdadeira manipulação é feita pelos governos, que são agentes maiores do que qualquer agregado de "especuladores" (os grandes bancos, que potencialmente poderiam se juntar à turma, claramente estão do mesmo lado dos governos, ou vice-versa). Os governantes deveriam tratar os cidadãos como adultos responsáveis pelos seus atos, reconhecer a dificuldade da situação e deixar que ajustes sejam feitos, com premissas realistas. Infelizmente, isso não vai acontecer: a tendência é que a precificação de risco continue sendo distorcida e que a ruptura implique numa distribuição de perdas dos detentores da dívida (que deveriam sofrer as consequências de suas más decisões de investimento) para toda a população - pior, proporcionalmente, para quem parte de uma situação pior; daí a covardia desse tipo de decisão. Tentar controlar o que, por natureza, é incontrolável, não tem nada de heroísmo, trata-se de pura tolice ou interesses inconfessáveis disfarçados.

Desviando um pouco do assunto, recomendo o vídeo de Tim Harford que apareceu no TED semana passada, diz algo sobre os problemas do "complexo de Deus":

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Post # 1000

Eis que, para minha surpresa (só me dei conta que estava perto lá pelo # 980), este blog publica seu milésimo post. The Drunkeynesian já tem quase quatro anos; levou mais de um ano e meio para engrenar e, exceto durante algumas interrupções nas minhas férias, tem sido atualizado quase diariamente desde maio de 2009. Hoje o blog está mantendo uma média de quase 200 visitas por dia útil (cerca de 1/4 disso nos finais de semana) e conta com 116 leitores via RSS feed. A audiência tem crescido nos últimos meses, em grande parte graças à generosidade de outros escribas mais populares que citaram alguma coisa que eu escrevi e/ou colocaram um link em suas listas de recomendações. Devo meu agradecimento a eles e aos leitores que passaram por aqui, sobretudo aos que se deram ao trabalho de comentar, debater e contribuir com ideias e correções -- o volume destas tem aumentado bastante, o que é um grande estímulo para continuar escrevendo.

Ter um blog de atualização constante envolve uma combinação de ego (achar que você tem algo relevante para dizer ao público, no meu caso) e tempo livre que não pode ser vista como garantida. Por enquanto, meu trabalho requer muito tempo de "espera" (como bem observou o saudoso Benoît Mandelbrot, nos mercados o tempo é flexível e "big gains and losses concentrate into small packages of time"), que uso para ler e escrever, e me faz perder relativamente pouco tempo com comitês, reuniões e distrações do tipo. Quando isso mudar, talvez algo mude por aqui.

Blogs que sobrevivem por mais de um par de anos são raros, e não por acaso: fazer direito toma tempo e energia, não paga nada, gera uma exposição que nem sempre é boa, o meio supostamente está definhando... Em compensação, o blog é uma ótima ferramenta para manter a honestidade intelectual, organizar ideias e leituras e debater com gente interessante. Para mim, o saldo tem sido bastante positivo, de novo, muito em função dos que visitam este espaço. Vale mais um 'muito obrigado'.

Terminada a rodada de sentimentalismo, volto ao tom no post # 2,000 ou na visita # 100,000. Até lá!

Som da Sexta - Jorge Mautner, 70

O aniversário foi em janeiro, mas, em São Paulo, está sendo comemorado com shows neste fim de semana.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um mercado onde a crise não chegou

Como disse F.S. Fitzgerald, os muito ricos são diferentes de nós. Enquanto os mortais se preocupam com os balanços dos bancos italianos ou a fraqueza do Ibovespa, os compradores de vinhos finos puxaram o índice Liv-ex 100 para novas máximas, em junho. Os níveis são cerca de 38% maiores do que antes do estouro da bolha de crédito, em 2008 (ainda que parte dessa alta possa ser explicada pela desvalorização da libra britânica, moeda na qual o índice é calculado). Sobre o tal Liv-ex 100:

The Liv-ex 100 Fine Wine Index is the industry's leading benchmark. It represents the price movement of 100 of the most sought-after fine wines for which there is a strong secondary market and is calculated monthly. The majority of the index consists of Bordeaux wines - a reflection of the overall market - although wines from Burgundy, the Rhone, Champagne and Italy are also included.

Saúde!

E chegamos no ponto...

... em que as agências de rating ameaçam tirar os EUA do panteão dos AAA. Ainda não concluí o que é mais patético, entre as notícias dos últimos dias:

- Após o fiasco de 2007/2008, as mesmas agências tentando deixar de ser reativas e "antecipando" problemas nas dívidas dos governos;

- Após o fiasco de 2007/2008, alguém ainda prestar atenção no que essas agências dizem;

- Após o fiasco de 2007/2008, o mercado reagir (supostamente) a esse tipo de notícia;

- Os EUA se meterem nessa situação ridícula;

- Os Republicanos tentando passar a Obama a fama de gastador irresponsável, sendo que a parte mais relevante do aumento da dívida deve-se à tentativas, por economistas egressos do governo republicano, de consertar barbeiragens dos anos Bush;

- O senado italiano votando um pacote de "austeridade" (seria mais divertido e quase mais crível se resolvessem vender Bunga-Bunga Bonds, com a efígie do Berlusconi fazendo joinha);

- A Unip pagando um anúncio de página inteira nos jornais para dizer que é a universidade do Brasil que aprovou a terceira universidade do Brasil que aprovou mais alunos no exame da OAB - algo como se a China fizesse propaganda dizendo que é o país do mundo com mais alunos de QI acima da média.

- O desempenho de Brasil, Argentina e Uruguai na Copa América, contribuindo para alimentar a tese de que "não existe mais bobo no futebol".

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A moeda mais nova do mundo

Benvinda, libra sul-sudanesa. Não vai ser fácil.


Mais no Planet Money.

Leituras da QUARTA-feira

- George Soros convoca os "verdadeiros europeus" para mais um grande passo na integração do continente. Estou lendo o Pós-Guerra, do Tony Judt (um modesto volume de mais de 800 páginas, em letra miúda) e começando a entender porque, defesa dos interesses dos bancos à parte, muita gente se dispõe a lutar pela União Européia. Ah, acho que vale adicionar nos favoritos esse A-List do Financial Times, todo dia tem algum figurão comentando um assunto atual.

- René Magritte e a Grécia, na carta trimestral da Greenlight Capital, de David Einhorn.

- O Leonardo Monasterio puxa a comparação recorrente entre análise técnica e crenças esotéricas, deu uma boa discussão.

- O Financial Times segue decretando o fim do boom econômico do Brasil.

- A The Economist acredita na Itália, desde que, claro, o custo de financiamento da dívida não entre em órbita.

- Artigo do Mansueto Almeida na Folha do domingo, sobre o BNDES.

- O dinheiro da ilha de Yap, no Pacífico: discos de pedra de três metros de diâmetro, cuja elaboração empregava 10% da população de homens adultos. Curioso seria alguém estudar o impacto de uma política monetária expansionista em um ambiente desse tipo: dobrar a base monetária aumentaria brutalmente a demanda por mão de obra, com todas as consequências. Seria o sonho de Ben Bernanke & companhia.

Update: um comentarista anônimo e mais letrado do que este escriba lembrou que a mesma ilha foi usada por Milton Friedman, no primeiro capítulo do livro Money Mischief, de 1994, para ilustrar o aparente absurdo do sistema de moeda fiduciária.

- Os 11 próximos emergentes.

- Um mapa de estereótipos inúteis.

- Enquete impertinente: agora que o BNDES desistiu de participar da brincadeira Pão de Açúcar - Carrefour, qual vai ser o próximo mico em que o banco vai se meter? Financiar o trem-bala sozinho? Ajudar na transferência do Tevez do Manchester City para o Corinthians?

- Hoje é aniversário de 26 anos do Live Aid, ou, como ficou conhecido, Dia Mundial do Rock. Tem algo mais rock & roll que o Angus Young?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Você acha São Paulo, Rio e Brasília caras?

Segundo a Mercer, tem toda a razão. Saiu hoje a pesquisa anual de custo de vida, que, graças ao real forte e a inflação, colocou São Paulo entre as dez cidades mais caras do mundo (à frente de Oslo e Copenhague - vai Brasil!). Rio e Brasília são, respectivamente, a 12ª e a 33ª. Férias baratas podem ser conseguidas em La Paz, Manágua, Addis Abeba e Karachi, ou mesmo em Nova York, como hordas de brasileiros tem atestado.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Bancos, de novo

A bola da vez é o italiano UniCredit (ações caindo 26% este mês), mas, novamente, está no ar a possibilidade que, talvez, só talvez, ainda existam algumas perdas escondidas nos balanços dos bancos, sobretudo nos europeus (uma pequena ilustração: o BNP Paribas, maior banco do mundo em ativos, tem em carteira € 710 bilhões em empréstimos, com uma provisão para perdas de apenas € 27 bilhões. No Santander, são € 740 bilhões em empréstimos para € 20 bilhões em provisões). Nada disso é novo (choque para quem acha que mercados operam só fundamentos), mas podemos estar vendo mais um daqueles episódios que Paul Krugman apelidou tão apropriadamente de Wile E. Coyote moment. A semana promete...

Paper do dia - fins de semana

Apropriado para uma segunda-feira. Trecho do abstract:

We find that there is no day-of-week effect for life evaluations, represented here by the Cantril Ladder, but significantly more happiness, enjoyment, and laughter, and significantly less worry, sadness, and anger on weekends (including public holidays) than on weekdays.

A íntegra está no NBER.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Partiu!


E assim acaba uma era (ou um ciclo, como preferirem).

Heróis do mar, nobre povo

E Portugal reage ao rebaixamento de sua nota de crédito pela Moody's:


Via Business Insider.

Som da Sexta - The Three Degrees

Houve uma época em que todos estavam indo para a lua. Hoje, melancolicamente, a NASA encerra , com o último lançamento da Atlantis, a parte mais fascinante do programa espacial americano. Talvez, na ponta do lápis, tenha sido um grande desperdício de dinheiro, mas serviu, entre outros propósitos mais concretos, para alimentar sonhos de milhões de moleques de algumas gerações.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mercados futuros

Da série do Kibe Loco:


A popular expressão "o mercado está fumando" terá ganhado outra conotação.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mais pitacos sobre a bolha imobiliária brasileira

Virou moda tentar antecipar bolhas. No caso do Brasil, muita gente tem dito que estamos vivendo em uma bolha de crédito (aqui) e uma bolha de preço de imóveis, sobretudo em São Paulo e no Rio - o exemplo dos apartamentos no Leblon a R$ 35 mil por metro quadrado é onipresente. Eu já escrevi algumas vezes sobre o tema; como a discussão anda cada vez mais quente, aí vai um sumário do que penso:

1. Para ser sucinto (e arrogante, alguns dirão): a simples presença do tema na mídia enfraquece muito a possibilidade de haver uma bolha, pelo menos em proporção catastrófica (variação da Bob Farrell rule # 9). Grandes bolhas dependem de um convencimento amplo dos participantes do mercado, do tipo: "preços de imóveis nunca vão cair", "empresas de tecnologia são a nova economia", "comprar tulipas é o caminho para a riqueza", e por aí vai. As manchetes quase diárias nos jornais, revistas e portais de internet, além de refletirem o "social mood", fazem o papel de alertar os incautos que, em outra situação, poderiam alimentar a bolha.

2. A gestora de investimentos GMO, de Boston, se especializou, ao longo de anos, no estudo de bolhas. A definição que eles usam é bastante simples: grosso modo, um determinado ativo está em bolha se seu preço real estiver acima de dois desvios-padrão de uma tendência de longo prazo. É praticamente impossível conduzir um estudo desse tipo para o Brasil, já que os dados históricos de preços de imóveis são precários e os anos de hiperinflação e indexação complicam qualquer normalização de preços. Além disso, como a taxa real de juros é muito alta, creio que a melhor comparação, para ativos, seria contra o custo de oportunidade, o nosso infame e quase imbatível CDI. Neste post eu peguei o caso de um amigo que comprou um apartamento no começo da década: a valorização parecia espetacular, mas, ainda assim, o dinheiro teria rendido mais simplesmente aplicado no overnight. É claro que a alta do preço dos imóveis foi mais acelerada nos últimos anos, mas, por enquanto, parece mais uma correção (talvez um pouco exagerada) de preços deprimidos por muito tempo. Quem acertou bem o timing pode ter ganhado alguma coisa, mas enquanto os juros por aqui andarem nos patamares atuais, sigo dizendo para quem quer que pergunte que comprar imóvel não é uma decisão que faz sentido, de um ponto de vista exclusivamente financeiro. Quando os juros caírem, conversamos novamente.

[É também maluco pensar o quanto as taxas de retorno no Brasil, quando compostas por um período razoável - cinco anos, digamos - precisam ser fabulosas para compensar o custo de oportunidade, mas isso é outra história.]

3. Há pouco mais de um ano, apliquei para o Brasil um checklist que Edward Chancellor, também da GMO, criou para verificar a formação de uma grande bolha na China. Dos dez itens, o Brasil confirmava oito. Desde então, o regime de câmbio continuou flutuante, mas, creio, a taxa de retorno dos novos investimentos só piorou, com os juros básicos subindo. Na época, eu achava que o Brasil tinha mais cara de bolha, com capa da The Economist com o Cristo Redentor decolando e tudo mais. Hoje, pelo menos o mercado de ações parece mais realista (a matéria de Capa do Valor de hoje, por exemplo, destaca as ações da Petrobras operando abaixo do valor patrimonial), mas ainda assim acho que o país não tem projetos bons o bastante para remunerar decentemente todos os investimentos privados que tem sido feitos - mais ainda para os passivos em moeda estrangeira, contratados a um câmbio que parece supervalorizado.

4. Uma das vantagens do atraso do Brasil no desenvolvimento de produtos financeiros, combinado com os juros altos, é que aqui não tem CDO, mortgage equity withdrawal, refinanciamento de hipoteca, etc, etc, etc... A possibilidade de alavancagem é bem menor do que nos mercados desenvolvidos.

Resumindo isso tudo: não acho que estamos vivendo uma bolha imobiliária, pelo menos não de forma generalizada, como vimos em boa parte do mundo. Dos preços altos, alguns vão se confirmar (terrenos na orla do Rio são de fato escassos, assim como prédios em Manhattan e Hong Kong, casas de frente pro mar em Capri, etc.), outros serão corrigidos, mas não acho que isso vá enfiar a economia num buraco. O grande ajuste de preços no Brasil vai acontecer quando o câmbio devolver a sobrevalorização, mas já cansei de errar o timing disso (coloquei dinheiro em um fundo cambial no início do ano, por exemplo) para minha opinião valer alguma coisa.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Último carregamento da Amazon

As aquisições mais recentes para a minha anti-biblioteca são:


- O The March of Folly é um livro do qual meu chefe vive falando, de uma historiadora autodidata (brrr) e best seller (brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr) que, aparentemente, foi muito lida até sua morte, em 1989. A Wikipedia define o livro como uma "meditação sobre a recorrência histórica de governos perseguindo políticas claramente contrárias a seus interesses".

- The Most Important Thing é o primeiro livro do Howard Marks, um dos grandes gestores de fundos americanos, que tem por hábito escrever longas cartas para seus cotistas (de vez em quando eu coloco aqui). As indicações na contracapa são de Joel Greenblatt, Jeremy Grantham, Seth Klarman, John Bogle e Warren Buffett, então pelo menos moral na comunidade o cara tem.

- Gödel, Escher, Bach é de 1979, e já tem um certo status de clássico. Parece meio maluco e muito lateral, mas, até onde entendi, usa exemplos do trabalho do Kurt Gödel, do M.C. Escher e do J.S. Bach para falar de inteligência, simetria e outros conceitos. Deve dar trabalho, tem quase 800 páginas.

- A Farewell to Alms é um livro de história econômica do mundo do qual o Tyler Cowen falou muito bem. Eu andava querendo ler um livro desse tipo; tentei o A Concise Economic History of the World, mas achei pouco fluente.

- The Tao of Travel é a última obra do Paul Theroux, recolhendo impressões dele e de outras figuras literárias sobre o ato de viajar. A edição é lindona, com uma capa de couro falso imitando um Moleskine.

- The Fart Party é, provavelmente, o tratado mais relevante sobre filosofia e a condição humana escrito neste século, e coloca Julia Wertz no mesmo nível de outros grandes pensadores da história. Comprei seu mais recente trabalho, Drinking at the Movies, na minha última visita a uma loja da Barnes & Noble, e não pude deixar de procurar o resto da obra.

- Expected Returns foi muito bem indicado pelo cara da coluna de finanças da The Economist (Buttonwood) e por outro amigo. Não deve interessar a ninguém cujo ganha-pão seja algo mais nobre do que ficar tentando, como diria o Sherman McCoy, catar as migalhas que o mercado deixa cair.

P.S. Por aqui, comprei a história da inflação brasileira que a Miriam Leitão escreveu (A Saga Brasileira). Confesso o meu preconceito inicial, mas gente relativamente insuspeita falou bem, veremos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Leituras do 235º aniversário dos EUA

Aproveitemos a paradeira nos mercados para colocar as leituras em dia:

- Festival de notícias e análises sobre o Brasil mundo afora: Roger Cohen, do NYT, evoca a clássica frase de Tom Jobim (O Brasil não é para amadores) para ressuscitar o termo "convergência"; a Bloomberg fala sobre a morte de Itamar Franco; o Wells Fargo contribui para a discussão sobre o nosso câmbio; a BBC discute as possíveis bolhas do país; a Economist opina sobre a briga pelo varejo e, gran finale, um paper do Fed estuda nosso sistema de depósitos compulsórios e seu papel durante a crise, abrindo com uma citação do nosso fiel timoneiro nesse mar de instabilidade.

- George Soros, Niall Ferguson, Paul Krugman, Nouriel Roubini & cia discutem a crise (NY Review of Books).

- O Lauro Martins testa a teoria da normalidade dos retornos para o Ibovespa.

- Um novo blog sobre a América Latina, vista dos EUA (dica do IKN).

- Mais um artigo de Barry Eichengreen sobre o fim do dólar. Para os mais práticos, ele acha que a moeda americana ainda deve perder mais 20%.

- Uma entrevista curtinha com Hugh Hendry. O YouTube não está funcionando hoje no meu Chrome, alguém com o mesmo problema?

- 10 curiosidades da teoria econômica.

- As 14 maiores ideias do ano, até agora (The Atlantic).

- 2000 anos de história da Europa, em mapas (dica da Aline).

- Aberta a temporada de apostas para o Nobel de Literatura (via Marginal Revolution).

- Sobre o Google+.

- Rudresh Mahantappa é o melhor saxofonista (alto) do ano. Eu já sabia :-P

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Strauss-Kahn, barbaridades e mercados

A possível reviravolta no caso Strauss-Kahn já acordou os bárbaros. Comentários do site do Nouvel Observateur, recolhidos pelo Financial Times:

“Like Dreyfus, he was pursued mercilessly by new ideologues. The hunt was on and no one wanted him as a nextdoor neighbour anymore…It was execution by image, against a single man. All this could be damaging to the political class, the IMF, the media and all those women who are victims of aggression. Like Dreyfus, perhaps DSK has to be rehabilitated at every level”.
Esperamos que o senhor Yannick Commenge, autor do comentário, sinta a ira de Clio.

Enquanto isso, os mercados estão perto de absolver o francês:

Supermercados, desenvolvimento e falácias

Excelente texto do Mansueto Almeida sobre o BNDES e os supermercados.

Som da Sexta - Albert Collins

Do bluesman figuríssima, mestre da Telecaster.