Basta aparecer uma crise para que dedos comecem a apontar para os especuladores. Os corvos. As hienas. Os aproveitadores inescrupulosos. São os alvos preferidos de políticos, como forma de desviar a atenção de sua própria incompetência e dos exageros das sociedades que comandam (ver a declaração da dona Merkel hoje). Jornalistas, que, no geral, gostam de explicações fáceis, também costumam apelar para essa prática. É de fazer perder (mais) a fé na classe ler o editorial de Clóvis Rossi na Folha de hoje. Um dos mais experientes e visíveis profissionais da imprensa no Brasil usa até uma defesa dos "bancos não corsários" para ilustrar a sua análise rasa e mal informada.
Ele diz que não há "rationale" (que belo termo... soa sofisticado, não?) para o que está ocorrendo na Europa -- como se anos de desequilíbrio e falta de austeridade não justificassem uma piora no custo da dívida dos governos. Os "bancos não corsários", coitados, são os mesmos que receberam ajuda dos tesouros nacionais para não quebrarem por suas más decisões de crédito, e agora estão sem saber o que fazer com as carteiras repletas de títulos de países, companhias e hipotecas com baixa capacidade de pagamento. Exemplo mais gritante: títulos da dívida da Grécia foram adquiridos para se obter um excesso de retorno de 0,65% ao ano (a diferença média, na última década, do rendimento de um título de dez anos da Grécia para um equivalente da Alemanha -- ver o gráfico -- hoje essa diferença é de 8,18% ao ano). Falemos sobre "ganância desenfreada".
É difícil gostar de um especulador. Sua tarefa parece fácil e desproporcionalmente recompensada -- talvez a última impressão seja verdadeira, mas, definitivamente, não é fácil lucrar tentando antecipar movimentos do mercado (sem informação privilegiada, claro). Para começar, recomendo fortemente a leitura do (especulador) Hugh Hendry, numa coluna para o Telegraph de dois meses atrás. Especuladores podem não ser totalmente admiráveis (no Brasil, não ajuda a palavra ser praticamente sinônimo de "Naji Nahas"), mas são uma parte importantíssima e necessária do mercado -- merecem, ao menos, serem tratados sem os preconceitos e maniqueísmos costumeiros.
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