Não tenho absolutamente nada contra reciclagem e cooperativas. Nessa história, dois problemas me afligem: primeiro, que um banco, mesmo estatal, deveria levar em conta o retorno das atividades que está financiando, na esperança de que essas consigam gerar o caixa para pagar os empréstimos, mais os juros (ainda que subsidiados). Segundo, que tal banco deveria incentivar desenvolvimento. Os ecologistas que me desculpem, mas não vejo como reciclagem pode ser um motor de desenvolvimento no sentido de gerar inovação, empregos, etc (e me vem à mente a frase de um amigo, que dizia que se Bill Gates tivesse nascido no Rio de Janeiro e montado uma empresa numa garagem, estaria vendendo CDs piratas no Largo do Machado). Se o governo quer transferir dinheiro para esses setores, que faça via um programa social, sem o engano de que está alimentando algum benefício de longo prazo para a sociedade. Fazendo isso via BNDES, a impressão que se tem é que qualquer atividade é elegível a um financiamento com juros camaradas -- basta contar uma história bonita e ter um bom lobby no governo. A moda agora é pintar de verde os interesses dos vários setores com bom trânsito no governo, e assim cobrir de boas intenções financiamentos, isenções, incentivos, etc. Já aconteceu com a tal "linha branca", está acontecendo com as usinas de reciclagem, e podemos aguardar mais e mais.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Parabéns, contribuinte brasileiro
Você está prestes a se tornar sócio compulsório de cooperativas de reciclagem. Seu Lula anunciou ontem que o BNDES vai liberar uma linha de crédito de R$ 225 milhões para fomentar essa atividade.
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3 comentários:
sem querer defender a tal linha, nem negar as reais intenções por trás dessa decisão, mas o negócio da reciclagem é sim um negocio lucrativo.
O problema das cooperativas em geral é um problema de gestão, quase que inerente ao formato da cooperativa, mas não de falta de mercado ou lucratividade. Existem um razoavel numero de milionários da industria da reciclagem. Todos eles a custas dos muitos catadores que passam por aí com suas carroças.
As cooperativas eram inclusive a solução tentada para evitar essa exploração e acabar com atravessadores.
E crédito nessas cooperativas é muito util (o maior diferencial de quem é explorado para quem explora, é ter ou não terreno para guardar o lixo e a máquina de prensagem).
Mas o problema de que provavelmente as cooperativas não vão conseguir ter as qualidades empresariais necessárias para transformar o crédito em crescimento do negócio continua.
É mesmo lucrativo? Com base no modelo do catador, que não é registrado, não paga nenhum imposto e cujo custo da mão de obra é baixíssimo, talvez seja. Se for para operar como uma empresa, dando direitos trabalhistas e pagando impostos, tenho mais dúvidas.
Além disso, lucrativo não é sinônimo de capacidade de se alavancar (apesar de as taxas do BNDES serem bem mais baixas que as de mercado). Pior, pode ser que o setor fique num limbo: um negócio que gera pouca inovação que só é viável a custo de subsídio. Talvez valha a pena pensando só nos empregos gerados, mas, novamente, não é o que eu faria se eu tivesse que escolher onde aplicar dinheiro público.
Ok, mas o modelo de cooperativa é justamente para não ter que pagar todos os impostos/encargos de uma empresa.
Agora se é mesmo lucrativo, e o quanto o é, não tenho nenhum estudo de viabielidade para saber. Mas nesse caso acho que a geração de emprego já é motivo válido.
Mas eu também não escolheria, pelo outro motivo que não a viabilidade como negócio. Cooperativa é algo muito instável. Basta eleger uma diretoria e essa diretoria passar a achar que é dona do negócio e querer se perpetuar. Aí dá pau e acaba a cooperativa. Pagar uma prensa de milhares de reais para algo assim é muito arriscado. Se ainda fosse vinculado a alguma intervenção de gestão, controle e etc. Mas provavelmente vai virar desperdício mesmo.
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