Atualmente, o grosso do que o país acumula em moeda estrangeira é aplicado em títulos do tesouro americano, que há tempos são considerados os ativos livres de risco no mercado mundial. Entretanto, atualmente, além da remuneração paga por esses títulos ser baixa (perto de 3,5% ao ano), o mundo ainda tem que conviver com os EUA emitindo grandes quantidades de dívida e gerando dúvidas sobre sua capacidade de pagá-la em um futuro não muito distante. Não que um dia os EUA vão declarar uma moratória, há um jeito mais simples e menos chocante de fazer com que essa dívida diminua: deixar a inflação correr (ou melhor, galopar). Como já comentei aqui, a disposição da sociedade americana para fazer sacrifícios e garantir um futuro mais tranquilo para as próximas gerações parece baixa, então essa solução inflacionária não deve ser vista como uma idéia tão lunática assim.
Nesse cenário. acumular mais títulos do governo americano, que carregam a infeliz combinação de remuneração baixa e algum risco de desvalorização, não parece ser exatamente uma alternativa muito inteligente. É claro que as Treasuries têm a vantagem da liquidez, mas podemos trabalhar com a seguinte premissa: se US$ 200 bilhões em títulos líquidos foram suficientes para que o país atravessasse praticamente incólume a maior crise financeira mundial desde a décadada de 1930, as eventuais reservas adicionais podem tranquilamente serem aplicadas em outros instrumentos (e não seria má idéia diversificar os tais US$ 200 bilhões em outros créditos também líquidos).
Uma solução interessante seria o uso do tal Fundo Soberano do Brasil, que teve a criação aprovada pelo Senado no final do ano passado e que ainda não decolou. O fundo soberano poderia investir em ações e participações de empresas mundo afora. É claro que, tratando-se de órgão do governo, esses investimentos estariam sujeitos a critérios políticos bastante discutíveis (provavelmente nem se cogitaria a possibilidade de formar uma equipe independente, competente e bem remunerada para tocar esses investimentos), mas ainda assim parece um uso melhor para o dinheiro do que simplesmente ajudar a financiar a preços baixos os déficits americanos.
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