quinta-feira, 18 de junho de 2009

Palmas para o STF...

... que decidiu ontem que um diploma de graduação em jornalismo não é necessário para exercer a profissão e, por consequência, vetou uma tentativa ridícula de criar uma reserva de mercado para a profissão. Elio Gaspari não tem diploma de jornalismo, nem Paulo Francis tinha, nem Ryszard Kapuściński, nem Norman Mailer. Fazer bom jornalismo é muito mais difícil do que simplesmente completar uma faculdade, e, para esse tipo de seleção, podemos contar com o velho e bom mercado.

3 comentários:

Annie disse...

Discordo com absoluta veemência. Estes senhores citados no post entraram no mercado de trabalho em outros tempos. Você não mencionou João Ubaldo Ribeiro, realmente admirável, formado em direito e que também trabalhou com jornalismo.

Mas são apenas exemplos de profissionais competentes (tente conhecer um pouco sobre David Nasser, por exemplo, e verá que nem sempre nomes conhecidos são, necessariamente, acima de qualquer suspeita). Se você for estudar a história da imprensa brasileira, vai ver que este tipo de migração era comum. Pudera: as escolas de comunicação, como a UFRJ e a ECA, só surgiram no final da década de 1960/início de 1970. E o primeiro prelo chegou ao Brasil com a família real portuguesa, láááá em 1808.

Portanto, natural que conheçamos hoje jornalistas sem diploma. No entanto, essas pessoas foram aprendendo dentro de uma redação, quando a estrutura era muito menor. O repórter bom era aquele que escrevia bem, sim, mas tinha influência política, conhecia pessoas... É claro que estas características são bem vistas hoje, também, mas um jovem repórter deve saber mexer no InDesign, utilizar mídias sociais, saber impostar a voz numa gravação de áudio (mesmo que você não trabalhe em rádio, os podcasts estão aí), ter noções de lide, pirâmide invertida, e todas as teorias comuns a qualquer área.

Mais do que aspectos meramente técnicos, o jornalista hoje precisa saber analisar o mercado e entender por qual razão as pessoas se comunicam (e porque deste jeito ou daquele). E isso só uma bela aula de sociologia e antropologia pode suprir.

Ah, e fica uma última observação neste post já demasiadamente longo: alguns veículos, como a Folha, já contratam há muito tempo profissionais sem diploma. Basta ver o anúncio de emprego daquele horrível jornal - eles procuram "talentos", e não jornalistas.

Abraço.

Drunkeynesian disse...

Oi Anne. Primeiro, obrigado pelo comentário, bem ilustrado, mas sigo com a minha posição.

Minha birra com essa história de regulamentação é mais ideológica, embora o caso do jornalismo seja emblemático. Eu não duvido que se aprenda bastante em uma faculdade de jornalismo, mas, novamente, não acho que isso seja nem necessário nem suficiente para formar um bom jornalista (o mesmo vale para uma faculdade de economia, por exemplo). Você pode ter uma bela aula de sociologia e antropologia em praticamente qualquer curso de humanas, por exemplo. Ou pode ser autodidata. Ou pode cursar uma faculdade horrível, não aprender nada bem e, ainda assim, ter o diploma de jornalista. Não vai valer de muita coisa se o mercado não quiser te contratar, mas, num mundo regulamentado, te colocaria na frente de um monte de gente melhor para exercer a profissão.

Você acha que a Folha seria melhor se só contratasse jornalistas com diploma? Talvez o tipo de "talento" que eles buscam não seja adequado para fazer um bom jornal, mas não tenho como discordar do conceito. Talento é a mercadoria escassa, e não diplomas.

Abraço.

Annie disse...

Mais uma vez, devo discordar de você. As aulas de sociologia/antropologia/filosofia e outros "ias" voltados à comunicação são completamente diferentes daquelas ministradas em outros cursos de humanas. Digo isso com absoluta certeza - cursei duas, direito e jornalismo. Fiz questão de repetir as tais matérias. Em alguns casos, como filosofia, me arrependi. Já em sociologia... Sociologia do direito é completamente diferente da sociologia da comunicação. Enquanto nessa parte de embasamento teórico a pergunta no direito é "por quê o homem precisa de leis?", no jornalismo a pergunta é "por quê o homem se comunica?". E aí podemos exemplificar outras questões bem diversas, como o sistema prisional aqui e no exterior e tripartição dos poderes (no direito), ou editorialização da notícia ou os limites entre a notícia e a privacidade, no jornalismo.
Quando você fala que a faculdade pode ser horrível, comete um erro comum a quase todo mundo que critica a exigência de diploma. O que está em questão aqui não é qualidade do ensino no Brasil. Esse todos nós sabemos que é péssimo. Ainda há excelentes faculdades (felizmente fiz duas bem posicionadas no mercado, nunca me contentei com burrice), mas novas salas de aula proliferaram como gremlins. E a qualidade não acompanhou.
Quanto ao tal jornal... não acho errado se esta busca por profissionais não-jornalistas for feita pelos motivos certos. Como advogada, já vi muitos coleguinhas jornalistas falarem grandes bobagens. Uma muito comum é achar que o Ministério Público faz parte do Poder Judiciário, quando na verdade é do Executivo. Isso pra citar só uma bobagem recorrente. Se eles tivessem um advogado na redação pra ler toda essa besteira, seria melhor.
O problema é que muitas vezes as pessoas fazem outros cursos e se encantam com algumas "facilidades" do trabalho em um veículo. Como o cara tecnicamente não é repórter, não tem MTB e não tem piso salarial. E o salário, ó...