sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Som da Sexta - Jimi Hendrix, 70

Mais um do clube de 1942: Johnny Allen Hendrix teria feito 70 anos na terça-feira. Os solos do final dessa música são das coisas mais bonitas que já foram gravadas, ouço sem parar há uns 15 anos e nunca passei perto de enjoar.

Robert Lucas e a macroeconomia em 2012

Eu tenho uma opinião relativamente pouco informada e ambígua sobre o Robert Lucas: por um lado, acho a hipótese de expectativas racionais extremamente elegante e útil quando não abusada; por outro, acho que ele é uma personificação de "economista autista" que quase ofende meu lado mais prático (a crítica de Lucas, porém, é uma ideia epistemológica ultrapertinente, ainda que não muito original: vejo com uma derivação do "efeito observador" dos físicos). De qualquer maneira, a influência dele ainda é enorme, de forma que sempre vale a pena prestar atenção no que se fala dele e no que ele fala. Esta semana o nome dele apareceu bastante no meu Google Reader:

- Delfim cutucou, na CartaCapital:

"Os economistas já deveriam ter perdido a inocência revelada pelo Prêmio Nobel Robert Lucas, que sonhou ter destruído Keynes quando decretou, em artigo na American Economic Review, que "a macroeconomia foi bem-sucedida: seu problema principal, a prevenção da depressão, está, para todos os fins práticos, resolvido e, de fato, resolvido por muitas décadas."

- A EconomicDynamics publicou uma entrevista, curtinha, com o próprio Lucas, no qual ele minimiza a importância atual da famosa crítica (e este autor lamenta):


"...the models I criticized then have long since been replaced by others that build on their work. I am pleased that my work contributed to this. 
But the term "Lucas critique" has survived, long after that original context has disappeared. It has a life of its own and means different things to different people. Sometimes it is used like a cross you are supposed to use to hold off vampires: Just waving it it an opponent defeats him. Too much of this, no matter what side you are on, becomes just name calling."

- Noah Smith comenta, do ponto de vista de um macroeconomista acadêmico com formação em física.

- Matthew Yglesias usa a entrevista e os comentários de Smith para destacar como dados macroeconômicos são problemáticos, e como isso deveria levar economistas a serem mais humildes.

Enfim, poucas conclusões, mas muito bom material para pensar.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Leituras da Semana

- Analisando as últimas medidas de controle de capitais no Brasil.

- Jack Schwager e a diferença entre volatilidade e risco.

- Entrevista de Michael Mauboussin para a Wired.

- Tim Harford defende a teoria dos mercados eficientes (pelo menos para a grande maioria dos mortais).

- Howard Marks sobre o resultado das eleições americanas.

- A GMO dá adeus a sua carteira de renda fixa.

- Entrevista de Reinhart e Rogoff para a Barron's.

- O último relatório do ótimo Dylan Grice para o Societe Generale.

- Jeffrey Frankel vai a Cuba.

- Ótima entrevista de Felipe González para o Valor.

- Professor, o que o governo pode fazer para promover o crescimento? Partes 1, 2 e 3.

- Robert Solow sobre Hayek e Friedman. Tyler Cowen rebate.

- Ronald Coase (quase 102 anos e bem, obrigado) pedindo pés no chão para os economistas.

- Um debate imaginário entre Michael Sandel e economistas.

- A lista de 100 pensadores globais deste ano da Foreign Policy.

- Cingapura, o país menos emotivo do mundo.

- Começa a temporada de listas de melhores livros do ano: Tyler Cowen (ficção e não-ficção), vários autores para o Guardian, os 100 do New York Times.

- O britânico que visitou, sem usar avião, todos os países do mundo.

- Nova série da ESPN sobre o futebol no Brasil, Chile, Uruguai e Argentina durante as respectivas ditaduras. Parece interessante.

- Ke$ha + Zizek.

- Adeus, Joelmir Beting.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Lei de Benford

Ontem o amigo T. Maia contou que, em um curso de "computational investing" no Coursera, o professor usou uma pesquisa simples entre os alunos (perguntando o primeiro dígito da quantidade de dinheiro que cada um tinha na carteira e o primeiro dígito do número da respectiva casa) para exemplificar a Lei de Benford, da qual nunca tinha ouvido falar e que achei muitíssimo interessante, mais uma sistematização da observação de fractais no mundo. Aqui o Tim Harford fala de uma aplicação da lei para produzir evidências de que o governo da Grécia forjava os números enviados para a agência de estatísticas europeia. Infelizmente dá para imaginar, por variação de outra lei (a de Goodhart) que fraudadores mais sofisticados vão adaptar os dados de forma que pareçam realistas por aquele critério.

P.S. A Lei de Benford é exemplo de outra lei que conheci ontem, a de Stigler.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

É o desenvolvimento, estúpido

Surrupio dois gráficos interessantíssimos da edição de hoje do Valor:

1. O Delfim Netto reproduziu o gráfico abaixo, de um estudo do IPEA. Trata-se de um índice simples de bem-estar social criado pelo grande Amartya Sen, que multiplica a renda média pelo complementar do índice de Gini (de forma a obter um número que é maior quanto menor a desigualdade). Explica o Delfim:


O gráfico abaixo mostra a mudança de situação a partir de 2003, onde o indicador cresce fortemente (quase 5% ao ano), impulsionado por múltiplos fatores: 1) o aprofundamento da política econômica; 2) a colheita da estabilidade monetária e fiscal; 3) o aumento da produtividade produzida pelas privatizações e pequenas reformas estruturais; 4) e, mas não menos importante, pela ênfase à inclusão introduzida nas políticas sociais e consequente redução das distâncias entre a renda dos indivíduos, o que explica por que o governo é popular.


2. O Boston Consulting Group (jamais confundir com o Boston Medical Group - OK, perdão pela piada cretina) calculou, para 150 países, um índice que mede ganhos de bem-estar nos últimos cinco anos. O Brasil foi o primeiro na ampla amostra.



Enfim, os dados não explicam ou justificam a incompetência da oposição, mas mostram que a vida dela não estaria fácil de nenhuma maneira - e não estará enquanto o país conseguir manter esse ritmo de progresso.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Frases do Dia - A Mão Invisível (de Alá)

Foto do amigo talentoso Erico
The prophet Mohammed was an early proponent of property rights. When a famine in Medina brought sharp price increases, people implored him to lessen the hardship by fixing prices. He refused because, having once been a merchant himself, he believed the buyers' and sellers' free choices should not be overriden. "Allah is the only who sets the prices and gives prosperity and poverty", he said. "I would not want to be complained about before Allah by someone whose property or livelihood has been violated."

John McMillan, num capítulo belíssimo sobre direitos de propriedade em Reinventing the Bazaar: a natural history of markets. As citações de Maomé são do Hadith, traduzidas por Muhamet Yildez.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Som da Sexta - Van Morrison

Do disco novo, Born to Sing: No Plan B. Discos do Van Morrison têm sido como filmes recentes do Woody Allen: não trazem nada de novo, mas seguem amplamente satisfatórios.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Gráfico do Dia - dívida local

O gráfico abaixo (cortesia do J.P. Morgan) mostra a rentabilidade que um investidor teria, em dólares, em títulos da dívida local de cada país neste ano. No caso da dívida brasileira, apesar da queda nos juros que fez a alegria dos gestores locais, os estrangeiros não devem ter ficado tão satisfeitos, já que a depreciação do câmbio tomou boa parte desses ganhos.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Leituras das últimas duas semanas

Skål!
- Trabalho interessante do BIS sobre mercados de dívida em moeda local.

- Nova carta de Jeremy Grantham, da GMO, sempre pertinente.

- Uma boa lista de livros sobre história das finanças; outra de filmes sobre mercado financeiro.

- Mark Dow defende Hillary Clinton como próxima secretária do tesouro americano.

- Entrevista com Eugene F. Fama.

- Luiz Felipe de Alencastro acha que a reeleição de Obama é uma vitória do keynesianismo (não sei se concordo).

- John Kay sobre o fetiche da manufatura.

- Nassim Taleb e cinco princípios para uma sociedade antifrágil. A Economist resenhou seu novo livro, que sai nos EUA semana que vem.

- Acemoglu, Robinson e Verdier sobre variedades de capitalismo (ou porque não podemos ser todos nórdicos).

- O fundo soberano da Noruega tornou-se o maior do mundo, ultrapassando o de Abu Dhabi.

- A história da participação de mulheres em trabalhos científicos. Economia é dos campos com menos presença feminina.

- O Santa Fe Institute abriu seu primeiro curso online, gratuito.

- Coisas mais novas que Oscar Niemeyer.

- A história do piso de cacos de lajota das casas paulistas.

- Ganhe um Nobel de Física... e uma torneira com cerveja ilimitada.

- Uma entrevista longa, meio velha e muito boa com João Moreira Salles.

- Cartões de visita dos personagens de Star Wars.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Eletrobras

Eu achando que seria bom comprar semana passada a preços de 2005, voltou a preços de 2002. Sobrou para alguém a conta da energia mais barata.


P.S. Mais no Valor. Parece mesmo exemplo de livro do "starve the beast" dos anos Reagan, que mencionei no post anterior falando da Petrobras. Não canso de me surpreender com a Dilma.


P.P.S. Relatório do Santander sobre a situação da Eletrobras.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Som da Sexta - Paulinho da Viola, 70

O homem mais elegante do Brasil fez 70 anos na segunda-feira. Da colossal obra de Paulinho, aí vai Comprimido, uma história meio soturna em forma de samba.

Presentes de Natal para seu amigo economista brasileiro

Alguns livros interessantes de importantes economistas brasileiros estão chegando às prateleiras, apropriados para presentear aquela pessoa esquisita que, ao invés de ler Cinquenta Tons de Cinza na praia, prefere ficar matutando sobre os problemas do país. Ainda não li nenhum deles, por enquanto a recomendação é só pela fama:

- Belindia 2.0 - Fábulas e Ensaios Sobre o País dos Contrastes, de Edmar Bacha.

- Crescer Não É Fácil, de José Roberto Mendonça de Barros.

- As Leis Secretas da Economia, de Gustavo Franco.





quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Gasolina Brasilis

Entendo bem pouco de energia e do que se passa entre a Petrobras e o governo, portanto interpretem isso mais como um pensamento alto do que uma análise. A preços atuais, consta que a Petrobras está na curiosa situação de que quanto mais vende combustível, mais perde dinheiro. Se vale isso, vale também dizer que os acionistas da Petrobras (o tesouro nacional entre eles, claro) subsidiam quem consome combustíveis - mais um exemplo bem acabado das tantas taxações regressivas do país.

Fora essa consideração: ao longo do tempo, transformar a Petrobras em uma empresa cronicamente perdedora é um tiro no pé. Os acionistas privados, que dividem com governo os riscos do negócio, tendem a abandonar o investimento; a empresa tem um longo cronograma de investimentos dos quais, aparentemente, já é tarde demais para desistir; e há muita dívida para pagar, que depende de uma taxa de retorno do investimento maior que os juros contratados. No fim das contas, se der besteira, quem sobra para tapar os buracos na empresa é o próprio governo.

*Acumulado em 12 meses

A explicação preferida para essa insistência em manter defasado o preço dos combustíveis é o impacto na inflação. Assumindo que isso seja verdade, e considerando que: i) a meta que de inflação que o BC observa é no ano-calendário; ii) faltam 47 dias para acabar este ano, e, nesse período, é muito pouco provável que a inflação estoure o teto da meta, iii) quanto mais esse aumento demorar, mais ficam os efeitos para serem sentidos na inflação do ano que vem; por que raios o governo não autoriza logo o aumento nos preços?

Algumas possíveis teorias:

- Conspiratória - diz um passarinho verde que há um esforço do executivo para controlar a corrupção nas estatais, uma versão tropicalizada do "starve the beast". Essa hipótese apareceu primeiro aplicada a Eletrobras, mas talvez valha também para a Petrobras. Há que ter cuidado, porém, para não matar a besta;

- Especulativa - na onda atual dos governos acharem que sabem tudo e conseguem controlar muitas variáveis, alguém com poder acha que o preço do petróleo vai seguir caindo (o WTI veio de US$100 no meio de setembro para atuais US$85). Assim, a Petrobras completaria o arquétipo de empresa de petróleo do mundo bizarro, que torce para que o produto que extrai caia de preço.

- Tranquilista - tá tudo bem, o aumento vem em breve, a inflação está sob controle e não teremos problemas.

- Idiotista - como diria o meu pai, "esses caras são todos uns imbecis e não têm a menor ideia do que estão fazendo".

Escolha (ou crie) a sua.