quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Gráfico do dia - corrida para o fundo (ou: virando japonês)

Nunca antes na história da humanidade foi tão barato para alguns governos financiarem suas dívidas (e, para provar que esse negócio de economia e mercados é esquisito, nunca o estoque de dívida foi tão grande - títulos públicos são bens de Giffen?). Este ano, partem de patamares muito parecidos EUA, Alemanha, Canadá e Reino Unido - créditos de qualidades e moedas muito distintas entre si. Outro fato interessante é que os juros na Suíça já são menores que no Japão - também dois países em situações bastante diferentes.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Leituras do começo de ano

- Já que está na moda criar novas doutrinas econômicas ou revisitar antigas (semana passada aprendi o que é chartalismo, por exemplo), com esta notícia fica oficialmente criado o drunkeynesianismo, que defende estímulos governamentais para produção e consumo de bebidas alcoólicas. Saúde!

- Paper novo (com ideias antigas) do Nassim Taleb, sobre limites da probabilidade. Seu novo livro, Antifragility, está quase pronto e sai ainda este ano pela Penguin.

- Gavyn Davies sobre as consequências da expansão dos balanços dos bancos centrais.

- Bob "The Bear" Janjuah continua... pessimista.

- Hungria: um texto anedótico que foi lido por 5% da população do país (obrigado, MK); um bom resumo da situação do país.

- Uma triste crônica de parte da academia econômica brasileira.

- Na Itália, a arte de ter uma Lamborghini declarando renda de 20 mil euros / ano.

- A série de textos do primeiro Estado do ano, com muita gente boa falando sobre a economia em 2012 (cortesia do Mansueto Almeida).

- Cinco livros sobre História Econômica.

- Moeda que vale para alguma coisa: uma das moedas de 50 pence comemorativas das Olimpíadas de Londres explica a regra do impedimento.

- Tyler Cowen tem uma nova conta no twitter para falar de comida (tema de seu próximo livro).

- 2011 foi o ano mais seguro da história da aviação.

- Uma defesa dos cursos de graduação em humanas, nos EUA.

- Como você colocaria um elefante numa geladeira? Perguntas pouco usuais feitas em entrevistas de emprego no ano passado.

- As belas capas dos livros da editora Civilização Brasileira, entre 1959 e 1970.

- Cartuns da campanha presidencial de F.D. Roosevelt, em 1933.

- A vida imita o The Onion.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Breve nota sobre mercados neste início de ano

Quem acompanha este escriba no twitter possivelmente percebeu que comecei o ano mais otimista com os mercados (ou com "risco", como a imprensa tem gostado de chamar). Os motivos são os seguintes:

- Generalização do pessimismo no último trimestre do ano passado - todo comentarista econômico e mais seu cachorro resolveram alertar para o fim do euro, a insolvência dos PIIGS, o balanço dos bancos e o controle do Irã sobre o estreito de Hormuz. Regra # 9 do seu Bob Farrell.

- Mercados pararam de reagir a certas notícias pessimistas. Para pegar um caso, as ações do UniCredit, maior banco da Itália, já caíram mais de 40% este ano, e os índices dos principais mercados estão entre levemente negativos e positivos.

- Retomada da iniciativa dos governos. Fiquei com a impressão de que os governos e bancos centrais deixaram de ser reativos, e parecem agora antecipar minimamente a resolução (ou enrolação) dos problemas fundamentais. Ajuda também o fato de os EUA estarem em ano eleitoral: semana passada havia rumores de que Obama anunciaria um megaplano de renegociação de hipotecas; ainda que não seja exatamente essa a medida, é difícil acreditar que os incumbentes do poder não farão uso dessa vantagem e tentarão estimular a economia via política monetária e/ou fiscal. Também é ano de eleições presidenciais na França.

- Sazonalidade - mercados eficientes ou não, a história mostra que Janeiro é um bom mês para bolsas. Ver aqui.

- Fluxos - quando ouvir de algum analista de mercado que ações subiram ou caíram por "fluxos", desconfie, porque trata-se de uma explicação tautológica (ainda que correta): o mercado cai quando há mais vendedores que compradores e sobe na situação oposta. Feita a ressalva: o mercado parece sub-alocado em ações, e creio que vai ganhar força o tema de deslocar parte do dinheiro que era investido em governos (títulos públicos) para ações de empresas sólidas e boas pagadoras de dividendos.

O ambiente econômico, quase desnecessário dizer, segue ruim. Ocorre que conjuntura não dita a direção dos mercados, que, por natureza, tentam antecipá-la. Para resumir, muito pessimismo já está precificado, e talvez seja hora de uma certa correção. Nada que vá garantir um ano brilhante, mas talvez o suficiente para dispersar um pouco a manada de ursos que andou se formando.

P.S. Prestem muita atenção na Hungria.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sobre o IPCA 2011

Não queria falar do IPCA de Dezembro, divulgado hoje (0,5% no mês, acumulou 6,50% no ano, exatamente o teto da meta do BC), mas tem tanta gente perguntando que um post vai facilitar minha vida:

- A inflação é alta, claro. É inaceitável? Não sei. A alternativa ortodoxa seria ter levado os juros ano passado para, sei lá, 15%, e torcer pela eficácia do instrumento. Achei estranho que, nesse ambiente, o BC tenha cortado juros, mas o gradualismo ou a preferência por medidas alternativas às altas de juros me agradam. Na minha opinião, a grande pisada de bola foi dona Dilma não ter usado o tal capital político do primeiro ano de mandato para comandar uma blitz contra a indexação de contratos, tarifas, etc. O custo disso, creio, vão ser alguns anos de inflação mais alta do que poderia ser, mas, ao contrário de muita gente de opinião respeitável, não acredito num descontrole. Na dúvida, claro, é sempre bom ter parte da poupança em NTN-Bs.

- A outra discussão levantada pelo número redondinho é se o IBGE não teria, digamos, enfeitado o resultado para o BC ficar bem na foto e não ter que escrever cartinha explicando o estouro da meta (já não teria caso fosse 6,53%, foi o combinado; claro que 0,03% de inflação pra lá ou pra cá, na prática, fazem muito pouca diferença na vida do brasileiro).

Eu não gosto de teorias conspiratórias porque não são falsificáveis: toda evidência é a favor da teoria e toda evidência contra é prova da "conspiração" tentando esconder. Para pegar esse caso, reconheço que o IBGE não tem sido exatamente um exemplo de lisura (vide os meses de vazamento do índice no site antes do horário oficial de divulgação, troca de presidente) e que a região (América Latina) tem um histórico não muito bom de transparência com a inflação. Por outro lado, acho que a inflação do Brasil é das mais acompanhadas do mundo: tem divulgação de índice praticamente todo dia e, sem exagero, centenas de pessoas acompanham isso de muito perto na iniciativa privada (bancos, fundos, corretoras, consultorias, etc), com todo interesse em que de fato o índice reflita o comportamento dos preços (afinal, boa parte do estoque da dívida pública carregada por esses agentes é remunerado por esses índices). Enfim, reconheço a probabilidade (relativamente baixa, creio) do IBGE ter limado um pouco o número para não caracterizar o estouro da meta, mas não acredito em nenhum desvio realmente significativo da realidade. Quando e se isso acontecer, creio que seria rapidamente percebido.

- Alguém tinha perguntado nos comentários do post anterior: o estoque de NTN-B em poder do público é algo como R$ 450 bilhões; portanto, uma diferença de 1 ponto-base (0,01%) no IPCA tem impacto de R$ 45 milhões no custo para o Tesouro.

Som da Sexta - Caro Emerald

Comprei o disco dessa cantora holandesa apenas pela capa, no aeroporto de Amsterdã. Funciona muito bem para o nosso verão.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Frase do dia - Moto contínuo

"Amazingly, Italian banks are now issuing state guaranteed paper to obtain funds from the European Central Bank (ECB) and then reinvesting the proceeds into Italian bonds, which is QE by any definition and near Ponzi by another."

Bill Gross, da PIMCO, em seu mais recente Investment Outlook, que saúda a chegada do mundo "paranormal" para os investimentos.

Criando incentivos para crianças

Via The Perry Bible Fellowship (a coletânea das tiras é brilhante, recomendo). Clique para aumentar.


P.S. Isso me lembra um texto que dizia que US$ 20 é o "suborno universal" (não estou achando o link). Será que ainda vale ou já inflacionou?

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Frases do dia - como anda a política (lá nos EUA)

Nowadays, a [Republican] candidate must believe not just some but all of the following things: that abortion should be illegal in all cases; that gay marriage must be banned even in states that want it; that the 12m illegal immigrants, even those who have lived in America for decades, must all be sent home; that the 46m people who lack health insurance have only themselves to blame; that global warming is a conspiracy; that any form of gun control is unconstitutional; that any form of tax increase must be vetoed, even if the increase is only the cancelling of an expensive and market-distorting perk; that Israel can do no wrong and the “so-called Palestinians”, to use Mr Gingrich’s term, can do no right; that the Environmental Protection Agency, the Department of Education and others whose names you do not have to remember should be abolished.

Da última The Economist. Ainda que exagerado, parece um bom pretexto para torcer pela releição do Obama; a conferir se vai ser esse mesmo o rumo. A charge também é de lá.

O Atlas de Complexidade Econômica

Por algum motivo, no final do ano passado deixei passar um dos trabalhos mais interessantes e criativos que já vi em economia: o Atlas de Complexidade Econômica, obra conjunta de Ricardo Hausmann (Harvard, Venezuelano), César A. Hidalgo (MIT, Chileno - América Latina dominando) e outros seis pesquisadores. O grupo tentou medir o nível de desenvolvimento dos países pelo nível de complexidade de suas relações econômicas (produzir e exportar maquinaria pesada, por exemplo, é mais complexo do que extrair e exportar ouro), tentando, com isso, estimar "a quantidade de conhecimento produtivo que cada país possui". Não vou entrar aqui em mais detalhes da metodologia, mas a quantidade de dados tratada é absolutamente impressionante, assim como o modo de apresentar os resultados. A "cara" da economia do Brasil, por exemplo, é esta:


Claro que uma interpretação mais refinada requer alguma familiarização com a notação usada; uma vez feito isso, não é difícil perceber padrões e identificar potenciais pontos fortes e fracos de cada país.

Os resultados ainda devem ser objeto de bastante estudo entre a turma do desenvolvimento, mas o trabalho original mostra várias correlações fortes entre o Índice de Complexidade Econômica calculado e diversas outras variáveis que indicam desenvolvimento (com os tradicionais problemas de econometria, claro, como o quê explica o quê). Curiosidade: o Brasil está entre os países cujo tal índice mais cresceu entre 1964 e 2008 - atrás de Maurício, alguns países do Sudeste Asiático (Tailândia, Malásia, Cingapura e Indonésia) e Uganda.

Para quem tiver um tempo e/ou interesse, recomendo uma boa olhada no site do projeto (que tem o trabalho em pdf e algumas visualizações interativas que permitem, por exemplo, visualizar como evoluíram no tempo as exportações de um determinado país). Para os preguiçosos ocupados, o Free Exchange fez um resumo do trabalho quando foi lançado.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

JWT: 100 Things to Watch in 2012

Claro que em 100 chutes eles sempre vão acertar cinco ou seis, mas é divertido olhar tudo:

JWT: 100 Things to Watch in 2012

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Previsões aleatórias para 2012

Vai chutar...
No mesmo estilo do ano passado, aí vão os meus palpites para o que acho que vai acontecer neste ano. Como bem disse ontem o Ultimi Barbarorum, entre os participantes de mercado hoje em dia falta confiança em qualquer coisa, especialmente neles próprios. Não tenho como discordar, já que 2011 foi uma tragédia (no índice de acerto, não no que diz respeito à remuneração dos chutadores) para a maioria dos que dependem de previsões e, neste ano, os preços de mercado previstos por qualquer cenário podem divergir significativamente caso aconteça alguma ruptura na Europa ou em algum outro canto do mundo (problemas na China, guerra no Irã, etc). E, claro, para quem prevê cenários de ruptura, a não concretização deles é garantia de um rótulo de Cassandra, pelo menos por algum tempo. Enfim, vou tentar me concentrar no que acho que vai acontecer, não dependendo de cisnes de qualquer plumagem:

- Juros reais no Brasil vão seguir caindo. Investir em NTN-Bs seguirá sendo uma boa opção, o retorno deve superar o CDI por mais um ano.

- Juros das Treasuries americanas também cairão, fazendo novas mínimas históricas.

- Juros de 10 anos dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Alemanha começam 2012 mais ou menos nos mesmos níveis (entre 1,9% e 2,0%). Acredito em algumas apostas de divergência, comprando EUA e Canadá e vendendo os outros dois.

- Política monetária segue frouxa no mundo todo. E tome QE3 nos EUA, QEn no Reino Unido, algo parecido na Europa...

- O real vai seguir se depreciando contra o dólar americano, assim como o rand sul-africano, a lira turca, o peso mexicano e o forint húngaro.

- Reservas internacionais brasileiras não chegam aos US$ 400 bilhões. Chance não desprezível de começarem a cair. Comprar CDS do Brasil e México a um prêmio de 160 b.p. (50 b.p. mais baixo que o da França) parece uma boa aposta assimétrica.

- Sigo comprando bancos americanos, vendendo bancos europeus (o short selling está banido na maioria dos mercados na Europa, mas há como montar proxies disso).

- Se o crescimento da China ameaçar ir abaixo do esperado, o banco central voltará a desvalorizar o yuan. Acho o payoff dessa aposta muito bom, mesmo num cenário de crescimento inalterado, já que a maioria do mundo acha que o yuan só deveria se valorizar. Outra aposta muito boa em moedas é comprar coroa dinamarquesa contra euro, favorita do Cerebelo Econômico.

- Preços de imóveis nos EUA já fizeram a mínima; o índice Case-Shiller deve voltar a subir. Em São Paulo e no Rio, creio que estamos perto de uma inflexão. No melhor dos casos, acredito em altas até 10%, e o custo de oportunidade começaria a pesar.

- Ações para vender: Linkedin, Zynga, Groupon, Facebook (depois do IPO). No geral, negócios que dependem de muita fé em crescimento de fluxos de caixa futuros não irão bem (Grupo X?). Vou seguir apostando contra a Apple porque errei no ano passado (péssimo motivo, mas aqui passa).

- Agências de classificação de risco vão continuar o mergulho na direção da irrelevância. Venderia ações da Moody's, por princípio. Possivelmente sofrerão ameaças ou represálias dos governos que tiverem suas notas rebaixadas.

- Será bom comprar ações no Brasil, mas num preço pelo menos 10% mais baixo do que estão começando o ano. Ainda assim, melhor fazer o mínimo de stock picking do que comprar o índice, temo muito pela combinação de commodities + empresas picaretas que o compõe hoje. Para pegar um caso, bancos grandes devem ir melhor do que o índice. Empresas "parceiras" do BNDES, pior.

- Não gosto de Vale, vai ser dos shorts mais líquidos disponíveis no mercado quando o mundo se der conta de que a China pode, surpresa, não crescer perto de 10% ano após ano.

- Bancos médios vão seguir indo mal no Brasil. O modelo de negócios da maioria deles (captar caro no exterior e emprestar ainda mais caro aqui) parece estar se esgotando. O FGC deve ter trabalho.

- Não tenho grandes convicções em commodities, mas se fosse pra comprar algo, seria petróleo.Agrícolas têm cara de que ainda podem cair muito.

- Creio que hedge funds terão outro ano para ser esquecido, com mercados de ações sem tendência e intervenções cada vez maiores dos governos.

- Ainda há alguma intenção de concluir a Rodada de Doha, da OMC? Se há, vai falhar.

- São Paulo vai eleger um prefeito de ruim a muito ruim.

- Metade das participantes do Big Brother farão capas da Playboy e/ou Sexy.

- Meryl Streep será, de novo, indicada para um Oscar (dããã).

- O Corinthians finalmente vence a Libertadores (PAREM DE RIR!). Lusa se segura na série A.

- Usain Bolt perde os 100m rasos, mas leva os 200m em Londres. Brasil fará novo fiasco, no futebol masculino e no geral.

- Os filmes argentinos continuarão (muito) melhores que os brasileiros.

- O megahit Ai Se Eu Te Pego será regravado em Espanhol, Italiano, Romeno, Swahili, Esperanto e Cantonês.

- O mundo não vai acabar em 21 de Dezembro. Lá pra Novembro eu publico a nova data.

- Vou errar mais previsões do que no ano passado.

O leitor mais atento vai notar que não fiz previsões para nenhuma das questões que realmente vão definir o ano: sobrevivência do euro, possibilidade de hard landing na China; eleições na França, EUA, Madagascar e outros países relevantes; ataques de Israel ao Irã; e por aí vai. Para alguns desses eventos, não tenho a menor ideia do desfecho (não que tenha muita para os previstos); para outros, creio que as probabilidades são balanceadas. Resta manter a humildade, apegar-se aos fatos e mudar a cabeça conforme eles aparecerem. Essa dica de investimento é mais valiosa que qualquer uma das barbaridades que listei acima.

Outras boas listas de (anti) previsões para o ano:

- Bristlemouth: 10 Stock Market Predictions for 2012

- Abnormal Returns: 5 reasons to ignore top 10 stock lists

- Saxo Bank: Outrageous Predictions 2012

- The Economist

- globo.com 2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Olá, 2012

Estou de volta, ainda meio devagar. Logo coloco minhas previsões para o ano e sigo com a rotina. Um grande começo de ano a todos nós.