quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O exemplo de Lula para a Grécia (not!)

Um dos editoriais do Financial Times de hoje tem como título "Brazilian fiscal lessons for Greece", e tenta comparar a situação atual da Grécia com a do Brasil em 2002, quando o companheiro Lula foi eleito. Para o autor, a Grécia deveria se inspirar no Brasil, que evitou um calote da dívida e adotou uma meta agressiva de ajuste fiscal. Não é bem por aí. Como o próprio artigo reconhece:

Brazil had the benefit of selling into a strongly recovering world economy and rising commodity prices. Uncompetitive Greece, with low productivity and high unit costs, disastrously locked into the euro, is trying to sell into a stuttering global recovery.

Além disso, Lula assumiu a presidência, em 2003, com os juros básicos a 25% e o câmbio a R$ 3,54 / US$ (flutuante, ao contrário da Grécia) -- daí era mais fácil melhorar (repita o mantra: Lula sortudo). Cabe também lembrar que a meta fiscal só foi atingida porque o PIB e, por consequência, a arrecadação de impostos, entraram numa fase de crescimento forte. Não foi feito nenhum grande esforço para conter despesas, que é o caminho que a Grécia tem tentado seguir.

Se há algum exemplo histórico para o qual a Grécia deveria olhar (e, por consequência, tentar sair correndo do euro) é o dos anos 1930, quando os países que abandonaram o regime de câmbio fixo primeiro sofreram menos com a recessão (sobre o assunto, há uma resenha na The Economist desta semana de um trabalho novo de Barry Eichengreen e Peter Temin).

Nenhum comentário: