sexta-feira, 22 de maio de 2009

Dr Doom no Brasil


"Um economista deve ser capaz de prever o que vai acontecer em uma semana, um mês e um ano, e depois ser capaz de explicar porque não aconteceu"
Sir Winston Churchil

O guru da vez atende pelo nome de Nouriel Roubini, e está no Brasil esta semana para um seminário promovido pela revista Carta Capital. Doutor em economia por Harvard, nasceu em Istambul, morou no Irã, Israel e Itália antes de se estabelecer nos EUA. Reflexo de suas idas e vindas dignas de espião da CIA, fala Inglês com um sotaque que lembra Teddy KGB, o personagem de John Malkovich em Cartas na Mesa. Antes restrito ao mercado financeiro e à academia (ele é sócio de uma consultoria econômica e professor da NYU), Roubini ganhou status de celebridade no ano passado, ao ser "o único economista" que previu a crise econômica na qual estamos enfiados.

O grande Yogi Berra já disse que é muito difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro. Um dos corolários deste pensamento é que devemos desconfiar de gurus. Sobre este, tenho uma história a la Forrest Gump para contar (eu também apostei que o Ronaldo ia ser artilheiro da Copa de 2002 uns seis meses antes dele voltar a jogar e vi o homem mais alto do mundo na rua, em Londres, mas nessas ninguém vai acreditar, mesmo):

Como convidado do Ibmec, Nouriel Roubini veio ao Brasil em Agosto de 2007. Eu estava na palestra, na qual, após ter passado anos fazendo previsões extremamente pessimistas sobre a economia americana (e ter visto, poucos dias antes, a bolsa americana fechar na máxima histórica), ele admitiu que, talvez, suas projeções estivessem muito pessimistas e que, só talvez, houvesse algum problema no mercado imobiliário dos EUA, mas sem maiores consequências para os outros países. Um pouco dessa visão está nesta reportagem da época. Eu tinha a apresentação dele em Powerpoint, mas não consegui encontrar para mostrar, então tenho que ficar só com a minha memória. O que a história mostrou depois, todos sabemos: começou a crise do subprime, que virou uma grande crise de crédito, ele (e o resto do mundo) esqueceu essa ligeira mudança de opinião e hoje Roubini embolsa US$ 15 milhões por ano na função de oráculo.

A história de Roubini é um ótimo exemplo da confusão que muitas vezes se faz entre sorte e competência. Esse tema foi muito bem explorado por Nassim Nicholas Taleb em seus dois livros não-técnicos, Fooled by Randomness ("Iludido pelo Acaso", na tradução) e The Black Swan ("A Lógica do Cisne Negro"). Taleb argumenta que, numa amostra grande de pessoas tentando fazer previsões, sempre vai haver algum acerto - muitas vezes em diversas ocasiões consecutivas. Nem sempre esses acertos são devidos à alguma qualidade de quem os previu, podendo ser frutos do mero acaso. Roubini parece ser um desses sortudos - e, notem, não estou questionando sua capacidade técnica (provavelmente muito grande) - só quero voltar ao ponto de Yogi Berra (e do próprio Taleb): tentar prever o futuro é um exercício ingrato e muito sujeito a erros e aleatoriedade (curiosamente, Taleb, que também virou um dos heróis por alertar sobre a crise, tornou-se amigo de Roubini. Amizade não depende mesmo de total concordância - na foto acima, os dois, lado a lado na CNBC).

Roubini pode seguir acertando e sendo ainda mais endeusado. Ou pode ser surpreendido e desmoralizado, como foram os que previam a "grande moderação". Isso pouco importa: o que não podemos é deixar de exercitar nosso senso crítico e humildade, aceitando que o mundo em que vivemos é muito mais complexo do que algumas pessoas nos fazem acreditar.

Taleb sobre Roubini: http://www.fooledbyrandomness.com/notebook.htm, ver a nota 108.

2 comentários:

Danilo Balu disse...

Boa! Sorte é tudo na vida! hahaha
Vc sabe que estou sendo irônico...

Anônimo disse...

Também houve outros economistas que preveram a crise como Peter Schiff e Gerald Celente.