quinta-feira, 21 de maio de 2009

No future for you



As agências de classificação de risco, que, há pouco tempo, atribuíram notas AAA (equivalente ao risco mais baixo possível, o do tesouro americano, por exemplo) a títulos indexados à hipotecas que hoje valem pouco mais que um dólar do Zimbábue, deveriam estar entre as entidades mais desmoralizadas após a crise de crédito que vem varrendo o mundo. Entretanto, o pacto de mediocridade entre elas e o mercado continua - elas fingem que fazem uma análise de crédito criteriosa e não-viesada, e o mercado finge que acredita. A notícia que chama atenção hoje é que a Standard & Poor's colocou em revisão o AAA do tesouro britânico, cuja dívida aproxima-se de 100% do PIB do Reino Unido. Colocando esse dado em perspectiva: a relação dívida / PIB do Brasil é de cerca de 37%. A diferença fundamental é que a rainha se financia a 3.65%, enquanto nós, emergentes tupiniquins, temos que pagar 12% de juros anuais para o mesmo prazo (dez anos).

A diferença entre a qualidade dos créditos soberanos e como o mercado os avalia deve ser uma das distorções mais gritantes nos mercados mundiais. Economias perdulárias e decadentes ainda são vistas como bons riscos para o futuro. Como estará a economia britânica em 30 anos? Os prospectos não parecem brilhantes, levando-se em conta que muito da prosperidade dos últimos anos deveu-se ao mercado financeiro, que deve viver anos de mais regulação e supervisão e lucros substancialmente menores. Lá no longo prazo, onde todos estaremos mortos, deve chegar o dia em que o Reino Unido será uma espécie de Portugal, vivendo das glórias e do estoque de riqueza passados e contando com alguma ajuda dos vizinhos ricos que ainda sobrarem.

O caso do Brasil merece uma reflexão mais longa e profunda, mas, para início de conversa, parece que desta vez nem nossos brilhantes políticos conseguiram estragar um considerável salto para a prosperidade. Com taxa de câmbio e inflação estabilizadas, força de trabalho jovem e abundante e dívida e juros em trajetória descendente, reunimos alguns elementos muito importantes para que o velho slogan de "país do futuro" vire uma realidade presente. Mais sobre o tema em breve.

Um comentário:

Danilo Balu disse...

"uma espécie de Portugal, vivendo das glórias e do estoque de riqueza passados e contando com alguma ajuda dos vizinhos ricos que ainda sobrarem"... me relembrou daquela troca de e-mails com o Cão... um dia crio coragem pra fazer uma tese em cima disso rsrsrs
Abrax