
Há quem acredite em Papai Noel; há quem acredite em previsões com precisão decimal. Ho, ho, ho!
Escritos (não muito sóbrios) sobre economia, mercado financeiro e afins.

Meu 2009 "útil" chega ao fim hoje. Esses últimos dias devem ser dedicados a coisas menos mundanas do que mercados e economia, como família e amigos. É uma oportunidade quase única no ano de passar um tempo razoável e despreocupado com pessoas queridas, e isso deve compensar o lado menos divertido de obrigações sociais.
Hoje a Moody's rebaixou a nota de crédito da Grécia de "A1" para "A2". Curiosamente, o mercado da dívida soberana grega respirou alividado. Explicação: nas semanas anteriores, as outras duas grandes agências de classificação de risco (Fitch e S&P) haviam rebaixado o país para BBB+, e, caso a Moody's se movesse para esse mesmo patamar (equivalente a Baa1 na sua escala, veja a tabela abaixo para entender melhor e deixe as questões nos comentários), os bancos locais não poderiam mais usar títulos públicos como garantias (colateral) para seus empréstimos junto ao Banco Central Europeu. O resumo da história é que agora o sistema bancário grego depende (caso o BCE não mude as regras) de alguns analistas sentados em um escritório em Londres. Tempos difíceis para os gregos.
"Now what is the message there? The message is that there are known "knowns." There are things we know that we know. There are known unknowns. That is to say there are things that we now know we don't know. But there are also unknown unknowns. There are things we do not know we don't know. So when we do the best we can and we pull all this information together, and we then say well that's basically what we see as the situation, that is really only the known knowns and the known unknowns. And each year, we discover a few more of those unknown unknowns."
"Estou rindo para não chorar."
Aí do lado está uma tabela com a previsão de alguns analistas para a bolsa americana (índice S&P 500) em 2010. No pior dos casos, sobe 2,3% (considerando o preço de hoje como base). No melhor, 19%. Lembrando que o custo de oportunidade lá (o juro de um dia) é próximo a 0%. Lá, como cá, ninguém cogita que o movimento pode ser contrário.
Se vale a teoria de capas de revista como indicadores contrários, a decadência de Ben Bernanke deve estar começando agora (e, como sinal dos tempos, é incrível ver como os americanos querem acreditar e depositar confiança em um banqueiro central tão pouco tempo após relegar Alan Greenspan à condição de um dos culpados pela crise).
Na verdade não é do dia, é de 1989. Mas segue atual:
Lendo uma coletânea de crônicas do Rubem Braga (cuja capa é essa da figura), encontrei, em uma crônica de janeiro de 1942 (História de São Silvestre), esse trecho:
Não achei os dados para o Brasil... mas creio que nas grandes cidades isso tem se tornado um problema cada vez maior. Todos os incentivos para se comprar mais carros e muito pouco investimento em transporte coletivo tem sido a receita do nosso "desenvolvimento".
"Não éramos tão ruins, nem ficamos tão bons."
Não tenho muito a acrescentar ao obituário do New York Times. Só queria levantar uma reflexão sobre dois aspectos do legado de Paul Samuelson: a "exatização" da Economia e a cultura do livro-texto. Ambos são, na minha opinião, negativos, mas não sei se a ponto de anular as contribuições positivas que a imprensa está exaltando (não preciso repetí-las).
... como um empréstimo (que provavelmente será calotado) para a Aerolineas Argentinas contribui para o desenvolvimento econômico e social do país?
Essa é a tal música ultra-sexy que me ajudou a gostar tanto de Um Beijo Roubado (Norah Jones escreveu a música para o próprio papel -- quantas outras cantoras podem fazer isso?). Resista, se puder.
Paul McCartney - This Never Happened Before (Chaos and Creation in the Backyard, 2005)
Deveria ser covardia deixar Paul McCartney participar desse tipo de lista... Esta canção poderia muito bem estar entre as baladas de Revolver (Here, There and Everywhere e For No One).
Radiohead - House of Cards (In Rainbows, 2007)
Radiohead é a maior banda em atividade. Quem os viu no Brasil este ano comprovou que eles têm repertório para um show espetacular de duas horas, e ainda não perderam nada da relevância que atingiram com OK Computer (de 1997). E quando a maior banda em atividade coloca para download grátis o seu útimo disco, o sinal de que algo mudou na indústria musical é inequívoco.
Ray LaMontagne - You Are the Best Thing (Gossip in the Grain, 2008)
Poderia ser um soul dos anos 1960 cantado por um negro de Detroit. É um soul dos anos 2000 cantado por um branquelo do Maine.
Rufus Wainwright - One Man Guy (Poses, 2001)
Nick Hornby, além de livros divertidíssimos, oferece a seus leitores dicas musicais como esta (que faz parte do 31 Songs). Obrigado, Nick.
Esta versão não é das melhores, mas foi o que achei no YouTube.
O IBGE divulgou hoje o PIB do terceiro trimestre, que, na comparação com o mesmo período do ano passado, encolheu 1,2% -- queda maior do que a previsão do analista mais pessimista entre os 38 consultados pela Bloomberg (economistas... não dá para dizer "pobres economistas" porque, no geral, eles são muito bem remunerados para o que fazem). Além disso, a variação do segundo trimestre foi revisada de -1,2% para -1,6%. Com isso, me informa o economista de onde trabalho, o país precisará crescer mais de 5% no quarto trimestre (também contra o mesmo período de 2008) para registrar algum crescimento positivo (algum - beeeeeeeeeem longe da bravata do senhor Mantega de crescer 4%). Não crescer num mundo onde a maioria dos países vai fechar o ano em situação pior não é ruim, mas é longe do "novo milagre" que tem sido propagandeado.
Na falta de notícia melhor...
Um amigo me informou hoje que o Brasil levou para a Conferência Climática da ONU uma delegação modesta, de 720 pessoas, ao custo de R$ 30 milhões (de onde qualquer calculadora pode concluir que o gasto médio por representante da nossa pátria amada, idolatrada, foi de R$ 41,7 mil - belas férias, não?). Tudo isso com a nobilíssima intenção de salvar o país e o mundo do aquecimento global (não vamos considerar que o Ministro do Ambiente ainda não entrou em acordo com os diplomatas sobre o que o Brasil vai pedir na conferência).
Há cerca de 14 meses, o índice S&P 500 (de ações americanas) estava mais ou menos no mesmo nível em que está hoje. O Ibovespa valia 46 mil pontos (hoje vale quase 69 mil). Brasil, todo mundo acredita.
Mais uma daquelas listas para arrancar os cabelos pensando em quanta coisa interessante deixamos de ler durante o ano.
Melhor comentário até agora:
A capa do Valor de hoje traz algumas previsões para o crescimento do PIB brasileiro no ano que vem. Tem gente projetando aumento de 20% nos investimentos e crescimento total de 6,5%. Tudo isso com juros baixos, para fechar a conta de uma projeção de Ibovespa acima de 80 mil pontos. Acredite quem quiser.
A lista da revista Foreign Policy é encabeçada por Ben Bernanke e inclui Larry Summers e Dick Cheney. Acho que resume bem o espírito do ano: nada mudou, business as usual. A leitura subliminar é que os problemas continuam os mesmos, e sem nenhum sopro de renovação para resolvê-los.
Woody Allen dirigiu exatamente dez longas durante a década (teria tido uma regularidade ainda mais impressionante se não tivesse passado em branco por 2004 e compensado lançando dois títulos em 2005). Uma sequência fraca (para padrões Woody Allen, claro) nos primeiros cinco anos foi interrompida por este filme, o melhor dos anos 00 e um dos melhores da carreira de Allen. Match Point volta aos temas de culpa e moralidade do genial Crimes e Pecados (1989), constrói uma versão século XXI para a obra prima de Dostoiévski Crime e Castigo e introduz a visão do diretor, cínica e realista, sobre o papel da sorte na vida. Nas mãos de alguém menos hábil, tal combinação poderia resultar em um filme árido e sonolento; nas mãos do mestre, virou uma história de suspense, temperada com bom humor e Scarlett Johansson.
Eu imagino qual teria sido o impacto desse filme em mim se eu tivesse a mesma idade dos protagonistas – algo como vinte e poucos anos em 1995, quando foi lançado o primeiro filme (Antes do Amanhecer) e mais perto dos 30 em 2004. De qualquer maneira, como só fui ver os dois em uma idade intermediária, me identifiquei com as duas situações. O passado, romântico e bastante ingênuo; e o futuro breve, mais difícil, mas não menos fascinante. Talvez por este filme ter tido participação dos dois atores principais (Ethan Hawke e Julie Delpy) no roteiro, ele às vezes parece um documentário, mas não deixa de alimentar um pouco do ideal romântico de Antes do Amanhecer.
Denys Arcand traz de volta os mesmos personagens de O Declínio do Império Americano (1986): intelectuais da parte francófona do Canadá, inteligentes, céticos, beberrões, sarcásticos e meio tarados. As Invasões Bárbaras é sobre a despedida de um deles, Rémy, da vida, e traz uma reflexão honesta e realista sobre família, amigos e a morte.
Fui assistir a esse filme esperando absolutamente nada, já que tinha achado muito chato o único filme (In the Mood for Love, não lembro como ficou o título em Português) que havia visto do diretor. Dada a posição dele na lista, não preciso falar quão boa foi a surpresa ao terminar a sessão. As histórias dos personagens de Norah Jones (grata surpresa como atriz), Jude Law, David Strathairn, Rachel Weisz (não dá para entender como ela ganhou o Oscar por O Jardineiro Fiel e não por este papel) e Natalie Portman são envolventes e profunamente humanas. E a música (The Story) composta por Norah Jones para a trilha é das coisas mais sensuais que já foram gravadas. Aliás, a trilha toda (Cat Power, Cassandra Wilson, Otis Redding, Ruth Brown) é tão boa quanto o filme.
Cidade de Deus deve ser quase uma unanimidade nessas listas de Top 10 da década. Há muito tempo um filme brasileiro não era tão reconhecido, e hoje é uma influência visível para histórias filmadas sobre países subdesenvolvidos (vide Quem Quer Ser um Milionário?, talvez o filme mais superestimado da década).
Antiherói Americano mistura cinema, quadrinhos e documentário para contar a história de Harvey Pekar, um americano ranzinza, funcionário público e viciado em jazz. Esse vício levou-o a conhecer o grande desenhista Robert Crumb, e a amizade dos dois transformou-se numa parceria onde Pekar contava seus “causos” e pensamentos e Crumb transformava-os em histórias em quadrinhos. Brilhante interpretação de Paul Giamatti, e uma cena comovente usando a interpretação de John Coltrane para My Favorite Things como trilha sonora.
“Tarantino é doente”, foi o consenso que eu e os amigos cinéfilos conseguimos chegar após ver Bastardos Inglórios. Felizmente sua doença é canalizada para filmes brilhantes e delirantes como este, o melhor desde Pulp Fiction. E se há alguma justiça no Oscar, Christoph Waltz sai da premiação do ano que vem com uma estatueta pelo papel do coronel poliglota Hans Landa.
A idéia do conto de F.S. Fitzgerald é tão boa que é de se estranhar que tenha levado tanto tempo para ser adaptada para o cinema. Felizmente a espera foi recompensada, e ganhamos um ótimo filme de um dos diretores mais interessantes da atualidade. Infelizmente, o filme teve que concorrer com a febre Quem Quer Ser um Milionário?, e não levou nada no Oscar. Acho as cenas em que Brad Pitt e Tilda Swinton contracenam, no segmento em que Button está em Murmansk, uma aula sobre como mulheres gostam, sobretudo, de serem ouvidas.
Valeria só pelas cenas com a Eva Green, mas, como mulher pelada não é o critério da lista, esse filme é um dos motivos que me fazem ter vontade de ter vivido os anos 1960. Ou melhor, ser um estudante americano morando em Paris em 1968 e tendo um caso com a Eva Green.
Closer é o contraponto à esperança de Antes do Amanhecer, e condensa, embora de forma menos bem humorada, o pensamento de Woody Allen sobre relacionamentos no final de Annie Hall: "I thought of that old joke, y'know, the, this... this guy goes to a psychiatrist and says, "Doc, uh, my brother's crazy; he thinks he's a chicken." And, uh, the doctor says, "Well, why don't you turn him in?" The guy says, "I would, but I need the eggs." Well, I guess that's pretty much now how I feel about relationships; y'know, they're totally irrational, and crazy, and absurd, and... but, uh, I guess we keep goin' through it because, uh, most of us... need the eggs”
Da Bloomberg:
O ano vai acabando, a liquidez dos mercados vai minguando, e os assuntos sobre mercado financeiro e economia vão ficando cada vez mais batidos. Todos estão felizes com o brilhante ano que o mercado de ações teve (Bovespa +83% por enquanto - era só ter comprado, infiéis), e o abismo parece ter sido empurrado para 2010.
Michael Jackson, pelo Google Zeitgeist. Barack Obama, como dizem lá, is sooooooooo 2008...
Acabou de passar por aqui:
Nassim Taleb tira uma folga da mídia, após considerar que o reapontamento de Ben Bernanke para a presidência do Fed é demais para aguentar. Para ele, o mundo nunca esteve tão frágil.
Não vá ao shopping! Ou vá de transporte público. Ou procure vaga na rua, e sofra com os odiosos flanelinhas.
Aproveite para fazer o seu puxadinho e mobiliar com um dormitório Bartira:
É a clássica história da formiga e da cigarra aplicada aos Emirados Árabes Unidos: enquanto a formiga Abu Dhabi poupava a receita do petróleo e montava o maior fundo soberano do mundo, a cigarra Dubai, cuja receita do petróleo já acabou há algum tempo, se endividava para construir o prédio mais alto do mundo, um hotel seis estrelas, um condominío de ilhas em forma de palmeira, etc. Na crise, a cigarra foi pedir abrigo para a formiga, e Abu Dhabi injetou dinheiro em Dubai para que esta não quebrasse. Agora, com o mundo inundado em liquidez, aparece a prova de quão frágil é a situação na terra "onde o sol nunca se põe": a Dubai World, uma das companhias estatais, tenta negociar o pagamento de títulos que vencem no próximo dia 14. O mundo parece não querer financiar Dubai; o que vai acontecer quando a formiga resolver não abrir a porta?
A cara de pau de políticos não têm limites. Veja o Brasil, bonito por natureza e dotado do maior potencial de geração hidroelétrica do mundo: um acaso da natureza agora faz com que o país possa alardear que tem a energia mais limpa do mundo, e leva o nosso Ministro de Minas e Energia a apontar o dedo para os americanos, que dependem do carvão para gerar 50% da energia que consomem. Esse tipo de bravata não custa ao consumidor, pelo menos. O caso do Ministério da Fazenda é mais grave: a causa verde ("Brasil está muito preocupado com meio ambiente", proclamou o çábio Mantega) está sendo usada como justificativa para subsidiar, via isenções e corte de impostos, indústrias com boa influência no governo. Paga a conta, como sempre, o contribuinte. Já havia sido anunciada uma isenção para geladeiras que tivessem um "selo verde". Hoje foi a vez da indústria automotiva: foi mantido o IPI reduzido de 3% para carros flex 1.0 até março do ano que vem (o plano inicial era voltar, gradualmente, a alíquota aos 7% pré-crise). Segundo a Fazenda, tal medida vai custar R$ 1,3 bilhão às contas públicas.
Continuando a nossa série... por enquanto, ninguém prevê nada diferente da continuação do movimento.
Hoje o Valor nos informa que, durante a "marolinha" de outubro do ano passado, o Banco do Brasil jogou uma bóia de R$ 5,8 bilhões para os bancos Votorantim, Alfa e Safra. Na época, tivemos de ouvir bravatas por todos os lados, que diziam, entre outras barbaridades, que a crise financeira era coisa de "banqueiro loiro de olhos azuis". Infelizmente, passado o calor do momento, pouca gente vai prestar atenção na história que começa a aparecer. Infelizmente porque seria um bom aprendizado e exercício de humildade, pelo menos. Mas chegaremos no ano de eleição com a imagem de que temos um banco central infalível e um presidente onisciente. Pior para o país.