quarta-feira, 30 de março de 2011

O "all-in" do Banco Central do Brasil

Do último Relatório Trimestral de Inflação, objeto de fetiche para economistas do mercado financeiro, divulgado há pouco:

No que se refere a projeções de inflação, de acordo com os procedimentos tradicionalmente adotados, e levando-se em conta o conjunto de informações disponível até 11 de março de 2011 (data de corte), o cenário de referência, que pressupõe manutenção da taxa de câmbio constante no horizonte de previsão em R$1,65/US$, e meta para a taxa Selic em 11,75% a.a., projeta inflação de 5,6% em 2011 e de 4,6% em 2012. Para o primeiro trimestre de 2013, a projeção se encontra em 4,5%.
(...)
O Comitê de Política Monetária (Copom) entende que os custos, em termos de nível de atividade, de se evitar que os efeitos primários do choque de oferta deslocassem a inflação, em 2011, para um patamar acima do valor central de 4,5% para a meta seriam demasiado elevados. Por outro lado, está em curso moderação da expansão da demanda doméstica, em ritmo que, apesar de incerto, tende a se acentuar devido a ações de política já implementadas. Além disso, o Comitê pondera que a flexibilidade inerente ao regime de metas para a inflação permite que os efeitos primários do choque sejam acomodados. Dito de outra forma, nas atuais circunstâncias, a boa prática recomenda buscar uma convergência mais suave da inflação para a trajetória de metas, à semelhança de estratégia adotada no passado pelo Banco Central. 
Nesse contexto, então, o Copom ressalta que a estratégia de política monetária será implementada com vistas a conter os efeitos de segunda ordem do choque de oferta e a garantir a convergência da inflação para a meta em 2012. Para tanto, importa destacar que, considerando as perspectivas de desaceleração da atividade doméstica, bem como a complexidade que ora envolve o ambiente internacional, entre outros fatores, a estratégia de política monetária pode eventualmente ser reavaliada, em termos de sua intensidade, de sua distribuição temporal ou de ambos.


Ou seja: acabou, por ora, a era das "porradas" nos juros para conter a inflação. Os ortodoxos vão dizer que o caldo entornou, e que a inflação vai fugir de controle. Eu acho que há uma chance de estar tudo combinado com os russos e que a moderação na política monetária virá acompanhada de uma política fiscal mais contracionista e, com um pouco de fé, algumas medidas de desindexação da economia. Se isso funcionar, estará aberto o espaço para, ao longo dos próximos anos, uma queda nos juros para um nível mais civilizado. Se der errado, os falcões voltarão, e nesse mundo já estamos acostumados a viver. Façam suas apostas.

Update: o BC está deixando o câmbio se valorizar mais fortemente para ajudar a segurar a inflação? Comportamento do dólar / real nos últimos dias:

2 comentários:

Danilo disse...

Pergunta simples: do ponto de vista prático, como desindexar a economia brasileira? Como convencer a classe média-alta de que a correção da tabela do IR não deve ser igual a inflação?, a classe mais pobre de que o salário mínimo não deve necessariamente propagar a inflação?, como convencer as teles, elétricas e todas as concessionárias a não propagar a inflação passada (que os contratos permitem)?,... Enfim, por onde começar? Abs

Drunkeynesian disse...

Tem que ser na canetada, mesmo. Dona Dilma pegar a pastinha, enfiar embaixo do braço e ir pro pau no congresso, gastar o tal do 'capital político'. Concordo que é difícil, mas deveria ser feito.