quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Leituras da Semana

Not-so-dismal art
- Reinhart & Rogoff disponibilizaram as bases de dados do This Time Is Different.

- O verdadeiro custo do salvamento da AIG.

- A moda México.

- Uma breve história da macroeconomia.

- Charles Goodhart e Vincent Reinhart contra metas pra PIB nominal.

- Resenha da biografia de Paul Volcker. Preciso comprar. O novo livro de Alan S. Blinder, sobre a crise.

- Edward Chancellor e Mike Monnelly sobre a vulnerabilidade do sistema de crédito da China.

- Um "teste de significância" para Davos.

- Debate imaginário entre Keynes, Marx, Lagarde e Schumacher.

- O que economistas sabem sobre imigração.

- Conheça a "Great Gatsby Curve".

- Uma briga (com classe) entre Tim Harford e Gideon Rachman, economista x historiador.

- Boa história sobre o possível fim das empregadas domésticas no Brasil.

- Provavelmente o gráfico econômico mais cool da história.

- A população mundial por latitude e longitude.

- André Lara Resende sobre otimismo.

- Uma entrevista com Edward Tufte.

- Uma visita a Pyongyang.

- 102 grandes artigos do ano passado.

- 38 mil (!!!) livros gratuitos para Kindle. A baixa margem de lucro da Amazon.

- Para os músicos amadores, um ótimo site com partituras dos Real Book.

- Richard Linklater sobre a sequência de Antes de Anoitecer, que estreou no festival de Sundance.

Gráficos do Dia - envelheça, se endivide

Seguindo minha busca por uma grande teoria para ganhar o Nobel, fui testar se há uma relação entre a idade média (mediana, na verdade) da população de um país e seu endividamento. Abaixo os resultados.



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Operando ações no Planeta Bizarro

Reunião do conselho da Petrobras
Pois bem: partamos do princípio que economia com forte crescimento é positivo para o mercado de ações: as companhais lucram mais, pagam mais dividendos, investem mais, aumenta a confiança no futuro, etc...

Como inútil exercício de pensamento, imaginemos um Brasil que cresça os sonhados 4,5% do Mantega neste ano. Se isso aconteceu, uma das causas pode ter sido uma economia global mais forte, o que levaria o preço do petróleo a subir - digamos, para US$110 por barril. O câmbio, também pelos sonhos do ministro, fica onde está hoje, no nível "cachinhos dourados", nem muito apreciado, nem muito depreciado.

Pelas contas que estão no Valor hoje, a Petrobras perde R$1,2 bilhão por mês ao vender gasolina no mercado local por menos do que adquire no mercado internacional. Se o cenário acima se concretizar e os preços da gasolina seguirem o do petróleo, esse prejuízo aumenta em 12%. No Planeta Bizarro, quanto mais gasolina a distribuidora de combustível vende, mais dinheiro perde - e é seguro assumir que, com a economia aquecida, aumentam o consumo e, consequentemente, a importação. No ano passado, com o crescimento do PIB perto de 1%, o padrão mensal de importação de gasolina foi multiplicado por cinco (de 5 para 25 milhões de barris por mês). Ainda que não faça sentido extrapolar esse movimento parabólico, a importação provavelmente seguiria aumentando - e com ela o prejuízo da Petrobras.

As ações da Petrobras representam aproximadamente 10% do Ibovespa. Com o cenário descrito, pensemos novamente no princípio da primeira linha: economia forte é boa para o mercado de ações brasileiro?

Parafraseando um velho mestre, mercado financeiro é legal porque é difícil...

Gráficos do Dia - PIB nominal

Fiz esses gráficos há pouco, para uma discussão no trabalho. Acho que não trazem nenhum insight relevante , servem como curiosidade (olhando os dados, uma conclusão é que os grandes crescimentos de PIB nominal estão fortemente correlacionados com alta inflação, mas não necessariamente os menores correlacionam com deflação).



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Gráfico do Dia - Petrobras x Ecopetrol

A preços de mercado atuais, tanto a Petrobras quanto a colombiana Ecopetrol valem algo como US$128 bilhões - com a Petrobras produzindo três vezes mais óleo e gás e tendo enterprise value quase 50% maior. Possíveis explicações no beyondbrics; o gráfico abaixo (tirado do post) mostra a espantosa divergência entre os preços das ações (normalizados para 100 em 2008):

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ibovespa x Realidade (ou vice-versa)

Dia bom para pensar sobre o mercado de ações por aqui - sexta-feira foi feriado em São Paulo, o S&P500 fechou acima de 1,500 e hoje tem uma pequena correção. Em condições "normais", seria um bom dia para ações brasileiras. No mundo real, o Ibovespa cai 2%, para o nível mais baixo neste ano.

Minha percepção é que é muito grande o pessimismo com a economia brasileira - sobretudo com sua condução pelo governo. Para comprovar isso basta abrir o caderno de economia de algum jornal brasileiro em um dia aleatório dos últimos meses e contar quantas notícias negativas sobre o país aparecem para cada uma positiva. Lá fora, o Brasil deixou de ser o Cristo Redentor decolando e os problemas (que nunca deixaram de existir) voltaram às manchetes.

Minha heurística para lidar com cenários desse tipo é lembrar da frase do professor Eduardo Giannetti que tantas vezes citei aqui: não éramos tão ruins, nem nos tornamos tão bons. O dilema agora é: acreditar nisso e achar que há valor no Ibovespa, que o mercado está exagerando no pessimismo; ou há uma mensagem mais forte dos mercados, que de fato o Brasil está se afundando na estagflação e isso vai ser refletido em mais um ano ruim para as companhias listadas?

Ainda fico com a primeira opção, pela heurística e pelo meu viés contrário: muito pessimismo está embutido no preço relativo Ibovespa abaixo de 60,000 / S&P500 acima de 1,500 (para não falar do IPC mexicano na máxima histórica). Acredito que estamos vendo uma capitulação de velhos detentores de ações, estas sendo trocadas de mãos que as recebem a preços mais atrativos, visão clara de que o Brasil não é nenhum milagre de potencial de lucros e mais disposição a aguentar as eventuais barbeiragens do governo e das companhias. Muito dinheiro entrou no Brasil nos últimos anos com expectativas irreais de retornos; agora, aparentemente, o mercado volta à realidade, e quem fez as apostas erradas está reconhecendo o prejuízo e deixando os ativos para quem tem disposição de carregá-los por mais tempo ou por retornos menores.

Há dois grandes riscos aqui: o primeiro, claro, é esse diagnóstico estar errado e o Ibovespa, com os problemas que já levantei, ter se tornado um imenso value trap, com as principais companhias passando anos sem entregar lucros e os aparentes preços atrativos mostrarem-se, em retrospecto, altos demais. O segundo é estar certo muito cedo, e, por algum tempo, a tendência dos últimos meses prevalecer antes que a ideia gere algum lucro.

Outra possibilidade é o Ibovespa ser o "canário na mina" para o crescimento da China, com sua alta concentração em empresas ligadas a commodities servindo como indicador de problemas em breve, o que não parece estar no preço de alguns outros mercados.

Qualquer que seja a realidade, essa divergência é interessantíssima em um ambiente geral de grande otimismo (ou pelo menos ausência de pessimismo concreto), e deve se resolver nos próximos meses. Em resumo, minha aposta, contra o consenso, é numa recuperação relativa do Ibovespa. Façam as suas.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Gráficos do Dia - Moneyball

Do último relatório Football Money League, da Deloitte. O glorioso alvinegro paulistano foi o time com maiores receitas fora da Europa, mas atrás de potências como Fulham, Sunderland e Valencia.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

David Einhorn: mais um ilustre pessimista com minério de ferro

David Einhorn junta-se a Jim Chanos ao prever dias difíceis para as mineradoras:


Mais na última carta trimestral da Greenlight Capital.

Gráfico do Dia - vergalhão de aço no Brasil

Por indicação do Samer, cheguei nesse trabalho de dois pesquisadores da PUC-RJ, que estuda a cartelização do mercado de vergalhões de aço no Brasil. Esse gráfico é produto de um dos quatro métodos utilizados no trabalho para calcular o sobrepreço.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O que vale quanto pesa no Ibovespa

Acho que podemos incluir o Ibovespa na longa lista de "jabuticabas": é um índice onde o peso dos papeis é definido por um pseudocientífico "índice de negociabilidade", que pode ser uma alternativa aos problemas dos índices ponderados por valor de mercado mas está longe de ser ideal (para pensar em um aspecto: papeis mais especulativos, com muito giro, tendem a ter peso maior do que blue chips que são detidas por muito tempo). Abaixo amostras das divergências entre os pesos no índice e o tamanho das empresas - o caso da Ambev é a maior aberração. Leve isso em conta antes de comprar um ETF ou um fundo que tenta perseguir de perto o índice.



sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

10 coisas que não entendo da política econômica de Dilma

Como os leitores habituais já devem ter percebido, estou longe de ser crítico incondicional do que se faz na condução da política econômica no Brasil - não acho, por exemplo, que a ortodoxia irrestrita é nossa salvação, nem que os ministérios são dominados por completos imbecis. Ainda assim, pelo meio de mandato de dona Dilma, muita coisa me escapa a compreensão, e, honestamente, algumas delas não sei se por estupidez de quem as determina ou falha no meu entendimento. Abaixo compartilho parte dessa reflexão em 10 pontos (fui listando e cheguei em nove, obviamente acrescentei mais um por razões de marketing):

1. Comunicação e estratégia do Banco Central

Eu espumo de raiva toda vez que leio algum comunicado do BC. Primeiro a convergência para o centro da meta de inflação é "não-linear", depois essa menção desaparece; uma hora eles se metem a emitir comunicados oficiais sobre o que sai na imprensa, mas cansaram, ao longo do ano passado, de "mandar recados" por vários diretores antes das reuniões de política monetária. Achei totalmente legítima a tentativa de buscar um novo equilíbrio para a taxa Selic, mas há algum tempo o juro real é menor do que o que Dilma prometeu no início do mandato (2%) e tenho a impressão de que eles passam os dias torcendo por algum choque deflacionário (algo como a torcida para que chova nos rios que alimenta hidrelétricas) para que a inflação ceda um pouco.

Uma possibilidade é que está tudo combinado com os russos, ou seja, o governo vai trabalhar para, como no ano passado, tirar alguns pontos da inflação com desonerações, subsídios, etc - o que nos leva a...

2. Não atacar a indexação da economia

Aqui penso especificamente na regra de reajuste do salário mínimo (pelo crescimento do PIB + inflação). Já ouvi o Nelson Barbosa dizer com todas as palavras que a regra foi pensada para atacar distribuição de renda; ocorre que os efeitos secundários começam a aparecer na forma de inflação persistentemente alta (que atrapalha muito mais quem não tem ganhos indexados) e uma compressão de margens de lucro que acaba por sufocar os "espíritos animais" e o investimento. Meu problema aqui, notem, é com privilégios adquiridos, não com a ideia de que os empresários precisam de defesa ou que é ilegítimo tentar distribuir renda.

3. Mania de microgerenciamento

Esse é o caso geral em que caem outros pontos abaixo e as tentativas de influenciar a inflação de um mês para o outro (como se isso fosse fazer grande diferença), acertar a taxa de câmbio em um intervalo de cinco centavos (idem), lançar pacotes com medidas cujo impacto é totalmente marginal, etc... Parece tolice, ou tentativa de disfarçar incapacidade de mexer no que realmente importa.

4. Tentativas de enganar todos, o tempo todo

A sabedoria de Abraham Lincoln diz que isso é uma impossibilidade, o que não impede tentativas por aqui. O exemplo mais recente é das amalucadas manobras contábeis para cumpri a meta de superávit fiscal do ano passado - aos olhos do governo, isso é preferível do que assumir que o ano foi difícil, o crescimento foi baixo e a meta não foi cumprida; ou, como defendeu o Delfim, definir uma nova meta, compatível com os juros mais baixos e que seguiria garantindo uma dinâmica muito boa para a dívida. Dizem as "fontes" que esse caso específico gerou uma briga entre as secretarias de política econômica e do tesouro; pior que tenha vencido a que optou pelo truque, sancionado pelo ministro e a presidenta.

5. Por que não aumentar o preço do combustível?

Pela inflação, claro. Ou porque há uma percepção de que é necessário subsidiar esses preços, às custas da arrecadação de impostos e da saúde financeira da Petrobras, que fica na incrível situação de perder mais dinheiro quanto mais gasolina vender. Ou porque alguém defende que o preço do petróleo vai cair no mercado internacional ao longo do tempo.

Como a meta de inflação vale para o ano-calendário, o governo perdeu uma ótima chance de dar o aumento no final do ano passado, sabendo que a inflação não estouraria o teto da meta e deixaria 2013 menos pressionado. E o acionista minoritário da Petrobras não pode ser destruído - a empresa precisa atrair dinheiro privado para dividir os riscos da exploração do pré-sal (a opção a isso seria fazer todo o investimento pelo tesouro, e dar mais passos na direção de re-estatização da empresa).

6. Não permitir ajustes no mercado de trabalho

Esse ponto é bastante polêmico, já que manter uma taxa de desemprego baixa é um dos melhores objetivos de política econômica que posso imaginar. Há, porém, as tradicionais consequências de suprimir um movimento que seria feito naturalmente no mercado: adiar o ajuste possivelmente atrasa a recuperação do investimento (forçando empresas a terem, por algum tempo, retornos mais baixos), dificulta a vida de quem não está empregado (e estaria disposto a trabalhar por menos do que o salário de mercado) e acumula desequilíbrios para um ponto, no futuro, em que vai ser inevitável atacá-los.

Para este ponto, pensei na relação do governo com as montadoras, mas talvez isso seja menos relevante e de fato estejamos numa situação de mudança estrutural nos preços da mão-de-obra, que deveria levar a uma revisão de planos de negócios, e, com o tempo, a demissões.

7. Falta de ambição com reformas

Talvez, contra a intuição, tempos de bonança não sejam favoráveis a reformas, que só são feitas com a corda no pescoço. De qualquer jeito, é desanimador ver um executivo com ampla base de apoio popular e no legislativo ousar tão pouco.

8. A estratégia do BNDES

cansei de falar disso aqui, mas ainda não entendi (ou não quero entender) o que leva o BNDES a investir tanto em empresas tão pouco promissoras e promover um modelo de empreendedor que toma poucos riscos, tem acesso a financiamento subsidiado e torna-se bilionário antes de suas empresas retornarem o investimento.

9. O "heroísmo" dos bancos públicos

Banco do Brasil e Caixa resolveram compensar a queda na disposição dos bancos privados emprestarem, seja porque os juros ficaram menos atrativas ou as taxas de inadimplência começaram a preocupar (ou uma combinação dos dois fatores). O Jorge Browne, nos comentários, disse que isso pode ser uma aposta numa mudança de paradigma que o setor privado não enxerga - que os ganhos na renda sustentaram uma alta no padrão de endividamento que beneficiará quem mais conceder crédito agora. Pode até ser verdade, só não acho que cabe aos bancos públicos tomarem esse risco (de novo, se der errado, todos os contribuintes pagam a conta, criando a situação em que o trouxa é quem não tomou crédito e teve que pagar pelos que tomaram de qualquer jeito).

10. Guido Mantega

Bem, no fim das contas, ele é groovy.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Frases do Dia - não existe amor em Copenhague

"...our language is one of the most ugly and limited around. You can't seduce anyone in Danish; it sounds like you are throwing up."

Sidse Babett Knudsen, a primeira-ministra Birgitte Nyborg da extraordinária série dinamarquesa Borgen, em entrevista para o Guardian. Está numa matéria da New Yorker sobre o sucesso recente da TV escandinava.