quarta-feira, 9 de maio de 2012

Maravilhas da divisão do trabalho

Via Marginal Revolution. Adam Smith ficaria orgulhoso.

Amazon is so serious about its next big thing that it hired three women to do nothing but try on size 8 shoes for its Web reviews. Full time.

O "next big thing" é o mercado de roupas de luxo. Consta que a Amazon chega ao Brasil em Setembro deste ano; eu estaria muito preocupado se fosse acionista de alguma empresa de varejo na internet.

Gráfico do Dia - o (crescente) clube dos 2%

Em Janeiro, mostrei neste gráfico como juros dos títulos públicos de 10 anos nunca foram tão baixos para vários países - consequência tanto dos juros curtos baixos quanto da demanda de investidores por papéis de baixo risco. Desde então, o movimento de queda dos juros prosseguiu, com títulos de diversos países passando a render menos que 2% ao ano (o último a se juntar ao clube foi a Finlândia, nesta semana). Parece muito ampla a expectativa de inflação baixa no mundo por muito tempo; não seria surpresa se os bancos centrais entendessem esse recado (estando os mercados certos ou não) dos mercados e seguissem com políticas monetárias frouxas (ou mais frouxas).


Também vale repetir a música:



E não é de grande conforto lembrar da regra de bolso que iguala o crescimento nominal do país ao nível de seus juros longos...

P.S. Brasileiros ainda estão reclamando que não estão mais recebendo juros de 1% ao mês?

Uma hipótese para ser testada na Europa: euro fraco

Com o pulo do gato morto da Espanha aparentemente não durando mais que um par de dias (o IBEX testa hoje novamente a mínima de 2009), me ocorre o seguinte:

A ideia (compartilhada com Hugh Hendry) é que o mapa da crise na Europa, em alguns aspectos, é idêntico ao dos EUA: muita alavancagem levando a problemas nos bancos, pacotes de salvação, juros mais baixos e liquidez abundante. Isso nos EUA implicou vários episódios de desvalorização do dólar, parte relevante contra o euro. Assumo que os EUA atualmente estão em condições de aceitar uma moeda mais forte, e que um enfraquecimento do euro seria muito conveniente para a Europa - provavelmente teria como causa uma grande intervenção do BCE (talvez corte de juros), pode gerar um pouco de inflação e ajudaria na competitividade da indústria e na tentativa de roubar alguns pontos de crescimento da Ásia. Parece, também, a linha de menor resistência (mais ainda em tempos de se empurrar problemas com a barriga): ainda que esteja longe de ser a solução preferida pelo Bundesbank, é mais justificável do que emissões de eurobonds ou ter que lidar com uma eventual dissolução da zona do euro nos próximos meses.

Num prazo mais curto: a Espanha vai ser forçada a salvar seus grandes bancos. Assumindo que o dinheiro vem do tesouro espanhol, este terá que emitir mais dívida, o que pioraria a situação já frágil do seu custo de financiamento. Para evitar mais deterioração, o BCE entraria comprando os títulos e forçando os juros para baixo. Isso também deveria contribuir para um euro mais fraco.

O problema de apostar no euro mais fraco é a companhia de quase todo o mercado. Há momentos, porém, em que a regra # 9 de Bob Farrell deve ser desafiada. A Argentina não deixou de calotar a dívida em 2001 porque muitos preços já refletiam isso, e há outros tantos exemplos na história. Um euro substancialmente mais fraco compraria um bom e valioso tempo para o continente (se ao longo dele os problemas vão ser resolvidos é uma história totalmente diferente), e parece ter chegado a hora desse preço ser pago.

P.S. A Grécia parece estar caminhando para novas eleições.

terça-feira, 8 de maio de 2012

IBEX, o pulo do gato (morto?)

O IBEX, principal índice de ações da Espanha, testou semana passada seu nível mínimo nos últimos nove anos. Para os analistas gráficos, pode ter feito um fundo duplo, e agora está corrigindo parte da forte queda dos últimos meses (até agora, subiu 6,25% da mínima).

No campo dos fundamentos, a grande notícia foi a intervenção do governo no Bankia, a "supercaja" criada em Dezembro de 2010 na tentativa de transformar sete "cajas" regionais (Madri, Bancaja, Canarias, Ávila, Laietana, Segovia e Rioja) em um banco grande demais para falir. Por enquanto, a intervenção cobrou a cabeça de Rodrigo Rato, ex-diretor do FMI e presidente do banco por uma injeção de € 7 bilhões em dinheiro público (mais no Expansión). O temor do mercado é que o governo tenha que assumir parte relevante do capital e diluir os acionistas correntes - e, creio, a grande briga dos próximos dias vai ser o Santander e o BBVA tentando salvar-se do mesmo destino. Acompanhemos.


Em tempo: acho o caso dos grandes bancos espanhóis similar ao do Citi; minha aposta é que dificilmente escaparão de (pelo menos) uma grande diluição do capital. Porém, isso ainda pode demorar (talvez mais do que os shorts consigam permanecer solventes).

segunda-feira, 7 de maio de 2012

As revoluções dos juros baixos no Brasil

Pouca coisa deve ter sobrado para ser dita sobre as mudanças nas regras de remuneração da poupança. O Brasil, no momento certo ou não, está fazendo uma tentativa ousada de levar os juros locais para patamares compatíveis com os do resto do mundo. Ainda é cedo para dizer se será possível manter os juros baixos por muito tempo (acho que são boas as chances), mas as consequências em breve serão (ou já estão sendo) sentidas:

- A poupança é o exemplo mais evidente. Há tempos o Brasil deveria ter se mexido para acabar com o direito sagrado do poupador em moeda nacional de receber, sem risco e sem impostos, juros entre os mais altos do mundo (e, tirando os impostos, isso também vale para as LFTs e os fundos DI). O poupador (ou rentista) brasileiro vai precisar se acostumar com a ideia de que o primeiro ponto da curva de juros soberana é o de menor remuneração, e retornos maiores só podem ser obtidos tomando mais risco. É o básico de qualquer teoria de finanças, mas, por muito tempo, pouca coisa foi melhor (retorno ajustado pelo risco) no Brasil do que receber o CDI.

- O problema agora, claro, é o que os poupadores vão fazer com seus recursos, que há tempos deixaram de render o cômodo e habitual 1% mensal. Minha maior preocupação é com os grandes fundos de pensão, que, até alguns meses atrás, conseguiam bater a meta atuarial (algo como inflação mais 6% ao ano) aplicando em NTN-Bs longas e correndo relativamente pouco risco. Os novos fluxos compram esses papéis a taxas de mercado perto de inflação mais 4,5% ao ano, o que vai fazer com que esses fundos sejam levados a tomar mais risco (comprando ações e títulos privados, investindo em fundos multimercado, imóveis, commodities e o que mais passar pela frente) ou reavaliem suas contas atuariais, provavelmente concluindo que o rombo é maior ou virá antes do que se esperava. Correr os riscos mencionados acima não é nenhuma garantia de que a diferença entre a meta atuarial e os retorno dos fundos será preenchida; dependendo da qualidade da gestão, justo o contrário.

- A tendência que parece estar se desenhando é: dinheiro deixando de financiar o setor público para investir no setor privado. No melhor dos casos, finalmente o Brasil conseguirá dar um grande passo no desenvolvimento do mercado de capitais (ações, dívida corporativa, dívida imobiliária, etc), o financiamento da atividade econômica passará a depender menos do governo e a remuneração dos investimentos refletirá uma taxa de mercado, proporcional ao risco tomado; no pior, como no mundo desenvolvido, as más decisões de investimento não serão punidas (investidores salvos pelo governo) e o custo do dinheiro ficará distorcido de outra maneira. Esse, porém, será assunto para daqui a alguns bons anos (mas meu lado Cassandra não pode deixar de achar que cairemos nesse pior caso) .

- A queda nos juros deixa evidente quão ridículas são as taxas cobradas por alguns fundos de baixo risco (ver a Folha de hoje). Também deveria ser uma bonança para fundos multimercado, que buscam retorno absoluto.

- Quedas nos juros, num primeiro momento, são boas para bancos - reduzem o custo de captação e marcam as carteiras de crédito pré-fixado a juros de mercado mais favoráveis. Resta saber qual vai ser a conclusão da suposta "cruzada contra o spread bancário". Sigo com a impressão de que o governo não tem incentivos para atacar os lucros dos bancos privados (nem acho que deveria fazer isso diretamente), mas posso estar enganado. De qualquer maneira, parece claro o aumento do risco para os bancos públicos, que, na prática, vão acabar cedendo créditos piores para reforçar uma postura de política econômica. Podendo, eu aproveitaria o momento para vender ações do Banco do Brasil e comprar Itaú, que foi muito punido pelos mercados no mês passado por ser o primeiro banco a demonstrar mais cautela com o atual ponto no ciclo de crédito.


Na melhor tradição da célebre frase de Rudiger Dornbusch, o cenário para os juros no Brasil está mudando muito mais rápido do que se achava possível. Para quem reclamava de inação, já no segundo ano de mandato a equipe de Dilma está tomando (grandes, dirão alguns) riscos. Tenho pouca dúvida de que as medidas vão na direção correta; saber se o tempo para elas já havia chegado, para quem respeita fatos antes de qualquer teoria, só será possível em alguns meses ou anos.

P.S. Parece que alguém em Brasília tem um certo apego pelo capítulo 24 da Teoria Geral (o da célebre expressão "eutanásia do rentista") - "só" faltaria começar a mexer na estrutura tributária :

Thus we might aim in practice (there being nothing in this which is unattainable) at an increase in the volume of capital until it ceases to be scarce, so that the functionless investor will no longer receive a bonus; and at a scheme of direct taxation which allows the intelligence and determination and executive skill of the financier, the entrepreneur et hoc genus omne (who are certainly so fond of their craft that their labour could be obtained much cheaper than at present), to be harnessed to the service of the community on reasonable terms of reward.

P.P.S. Não tinha visto antes de escrever este post, mas quase toda a edição da revista ValorInveste que acompanha o jornal de hoje (e depois fica à venda nas bancas) é sobre esse tema, num tom mais otimista. Vale a leitura.

Toda faculdade é terrível

Ou: as tentações para virar tudólogo. Via xkcd:


P.S. A referência perdida (para mim, pelo menos) é esta aqui.

domingo, 6 de maio de 2012

Procura-se: nova primeira dama mais bonita do planeta

Life is all about unintended consequences. O povo francês optou por livrar-se de Nicolas Sarkozy (ou "presidente Bling-Bling", como chamou o Krugman), acaba também perdendo a primeira-dama mais bonita do mundo. Procura-se agora uma sucessora para o título deixado por dona Carla Bruni, está aberto o concurso aí embaixo, nos comentários. Durante a semana coloco os resultados aqui.

Je suis irremplaçable

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Índice de Preços da The Economist

Dia desses fui tomar um café no posto de gasolina aqui perto do escritório (isso é São Paulo - o posto é muito mais próximo do que qualquer café das imediações) e, entre as revistas, estava a venda a The Economist - a meros R$ 24,90. O preço de capa é tabelado no mundo todo, e, pelo menos no caso do Brasil, muito mais caro que a assinatura (que custa US$ 270 - ao câmbio atual, pouco mais de R$ 10 por edição). Tirei uma foto (porca) da tabela de preços (abaixo) e resolvi checar se, como vale para muitos outros produtos, a The Economist no Brasil é a mais cara do mundo. Calculei o preço em dólares para cada país e comparei com o preço da revista no Reino Unido - essa é a metodologia que a revista usa para o índice Big Mac, sendo o descolamento entre o preço do sanduíche em cada país e nos EUA uma medida de valorização do câmbio real. No caso da revista, esse indicador não tem tanto valor, já que (creio) a revista é impressa em poucos lugares, com custos de produção (entre insumos e mão de obra) que não variam de acordo com o país onde é vendida. De qualquer forma, os resultados são interessantes:



A tabela inclui só os países para onde a edição "latina" é distribuída - para completar, precisaria das edições distribuídas no resto do mundo (se alguém tiver esses dados e quiser me mandar, agradeço). Uma vez li que a estratégia de preços da The Economist leva em conta a renda dos países onde é distribuída (seria mais barata quanto mais pobre o país), mas isso não tem correspondência nos dados - ou talvez só tenha antes de incluídos os custos de distribuição. O fato é que a revista chega aqui muito cara, mas não só aqui. Que apareçam as teorias que expliquem esses preços (não consigo chegar a nenhuma simples e boa).

Som da Sexta - McCoy Tyner

Aos 73 anos, esse senhor, que fez parte de um dos maiores grupos de jazz da história (com John Coltrane, Jimmy Garrison e Elvin Jones), apresenta-se na Virada Cultural de São Paulo (amanhã, às 19h, palco da Praça da República). A programação musical da Virada este ano está caprichadíssima, vale conferir.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Leituras da Semana

Pago dividendos em ouro, prata e bronze.
- Festival de horrores na Argentina: a Universidade Católica calcula que o governo subestima em 6 milhões o número de pobres no país. O câmbio paralelo já está em 5,20 pesos por dólar (18% de ágio contra o oficial). O índice Big Mac também é manipulado. Os inspetores de impostos estão usando cães para farejar dólares nos aeroportos, portos e rodoviárias. Pelo menos dona Kirchner ainda não vetou a exportação de Catena Malbec para o Brasil. Ainda.

- Análise interessante sobre uniões monetárias: uma união com países começados com "M" seria (em teoria) mais eficiente que o euro, e a América Latina seria uma boa candidata a adotar moeda única (o que dá alguma razão ao Paulo Guedes).

- O que o spread bancário no Brasil tem a ver com o preço de vergalhões de aço.

- Como era a economia de Cuba antes da revolução de 1959.

- As 20 maiores companhias privadas (não listadas em bolsa) dos EUA.

- Novo paper de Reinhart (os dois) & Rogoff, sobre excesso de dívida e como isso prejudica crescimento.

- Barry Eichengreen indica cinco livros sobre o euro.

- Dani Rodrik sobre o poder das ideias.

- Marcus Nunes sobre porque o Brasil não cresce.

- A Pizza Hut mais cara do mundo.

- Warren Buffett revelando uma atleta olímpica (!!!).

- Entrevista de Amartya Sen para a Veja.

- Amy Finkelstein ganhou a medalha John Bates Clark deste ano.

- Um caixa eletrônico em latim - no Vaticano, obviamente.

- Uma das versões (em pastel) de "O Grito", de Munch, foi leiloada ontem na Sotheby's de Nova York por US$ 120 milhões - maior valor obtido por um quadro em um leilão. Na The Economist, os quadros mais caros da história. Nada de crise nesse mercado.

- Hillary Clinton rejeitando um convite para participar da continuação de Forgetting Sarah Marshall.

- Robert Crumb antecipou o Facebook - em 40 anos.

- Os atletas mais bem pagos do mundo em 30 modalidades.

- Roger Ebert revê sua lista dos dez melhores filmes da história, incluindo Árvore da Vida, para alegria do meu amigo Batata.

- O curioso manual para os novos empregados da Valve, criadora de videogames.

- John Rawls argumenta porque beisebol é o melhor esporte.

- Os dez mandamentos do ensino, por Bertrand Russell.

- Se não quiser mais trabalhar em 2012...

Atualizando - alguns fatos subversivos sobre crescimento

Conforme prometido aqui, acrescentei nos gráficos e tabelas do post de 19 de Abril os novos dados da Argentina, calculados pela consultoria Ecolatina. Evidentemente o impacto é maior nas comparações de anos mais recentes, e os novos números não alteram substancialmente as conclusões daquele texto. Na legenda dos gráficos, a notação "ARG*" refere-se aos dados ajustados pela informação da Ecolatina. Clique para aumentar os gráficos que não estiverem muito nítidos.

Pelos dados da Ecolatina, 2009 foi o ano de manipulação mais pesada - o PIB real teria caído 4,1%, contra 0,9% de crescimento publicado pelo INDEC. Ao longo dos cinco anos, a Ecolatina estima que o PIB cresceu 24%, contra 37% nos dados oficiais.





quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ações na Espanha, mínimas importantes

Hoje o IBEX teve o menor nível de fechamento desde 2003, abaixo de onde estava no pânico de Março de 2009 (quando o S&P500, hoje em 1400 pontos, chegou a 666). As ações dos dois maiores bancos do país, Santander e BBVA, caíram, respectivamente, 20% e 25% neste ano. Fala-se que o governo espanhol está perto de separar ativos do setor bancário; a ver. Minha aposta contra o Fabio Kanczuk segue.

Índice IBEX, preço em euros
IBEX / S&P500, preços em dólares
Curiosamente, para a dívida soberana do país os piores dias parecem ter passado - os títulos de 10 anos pagam 5,85%, bem abaixo da máxima dos últimos anos (6,7%). Não me perguntem quem está comprando (não tem sido o BCE).

Frase do Dia - Banqueiros & Economistas

"Antigamente todos os banqueiros eram donos de bancos; depois que se começou a contratar economistas para o cargo, piorou muito"

José Eduardo de Andrade Vieira, ex-presidente do Bamerindus, em entrevista para o Valor. O Bamerindus entrou no PROER em 1994, sofreu intervenção do Banco Central em 1997 e foi vendido no mesmo ano para o HSBC. Ao final de 2009, o Bamerindus ainda devia R$ 2,7 bilhões ao Banco Central.

Obrigado ao Osmar pela frase.