quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Paradigmas quebrados
E o Banco Central do Brasil promoveu um cavalo de pau nos juros, mais radical do que o mercado esperava (depois do já radical ajuste de expectativas ocorrido durante agosto). Esqueçamos a história de banco central independente, de metas de inflação, de função de reação, de conservadorismo... Acabamos de nos juntar ao "pós-modernismo" em política monetária, e, ao que parece, a história de dona Dilma levar os juros reais a 2% no final do mandato começa a ser tentada. Os do mercado financeiro podem apertar os cintos, será uma longa e estranha jornada. No mundo real, por enquanto, nada de novo, mas se de fato estivermos assistindo ao início de uma mudança brutal no patamar dos juros, muita coisa nos preços absolutos e relativos de ativos vai mudar. Mais sobre o tema, ad nauseam, nos próximos dias, meses, anos...
Ações para Punks
A fabulosa cervejaria escocesa Brew Dog está levantando capital - de forma pouco convencional, como não poderia deixar de ser para uma companhia que alega ser a cura para um mercado doente e que lançou, para o casamento do príncipe William, a Royal Virility Performance, uma India Pale Ale reforçada com 1/3 de comprimido de Viagra por garrafa. A oferta deve levantar pouco mais de 2 milhões de libras, e, infelizmente, é limitada para residentes do Reino Unido.
Breve comentário sobre o Copom de hoje e os juros no Brasil
O governo brasileiro segue se comportando como um fundo macro: agora resolveu prever uma recessão mundial e, mais do que isso, agir com base nessa premissa. Promoveu uma nova rodada de ajuste fiscal, que, em sua essência, simplesmente reconhece que a arrecadação deste ano foi melhor do que a esperada e que a meta anterior seria atingida em setembro ou outubro - o excedente, que depende de pouco ou nenhum esforço adicional, foi acrescido à "nova meta". Os compromissos para o futuro distante ficam para serem testados, até porque se, de fato aparecer uma recessão, a política deveria voltar a ser expansionista (anticíclica). Avisados os russos, o Banco Central deve hoje incorporar no seu discurso e na sua intenção de política monetária futura o "aperto" equivalente ao novo "esforço" fiscal, e sinalizar não só o fim do ciclo atual de altas nos juros, mas um novo ciclo na direção oposta. De alguma forma, todos torcem para um novo choque deflacionista, como o de 2008.
Mais curiosa do que esses desenvolvimentos foi a reação do mercado que, avisado ou não, resolveu por um tempo deixar de lado a inflação rodando a 7.2% ao ano (esse provavelmente será o IPCA acumulado nos doze meses que terminam em agosto) e promoveu Mantega & sua trupe da condição de "gastadores" para a de "fiscalistas". Os juros futuros desabaram, e é esperado que sigam caindo.
Algum leitor mais atento, antecipando uma crítica e lembrando das inúmeras vezes em que pedi coragem do país para baixar os juros, deve estar estranhando o tom deste texto, com alguma razão. Eu imaginava uma convergência por outros meios: ou com a inflação caindo (por algum choque) e algumas medidas de desindexação acompanhando, ou, em caso de uma nova recessão mundial, com cortes mais ousados do que os de 2008, partindo de um patamar inicial mais baixo. O fato é que, durante agosto, nada disso aconteceu (sim, os mercados ensaiaram um pânico, mas nos últimos dias este parece ter se afastado), e mercado e governo passaram a compartilhar a mesma visão de futuro, algo muito raro por aqui.
É possível que de fato estejamos presenciando o início de uma revolução, e toda revolução, como bem lembra o Tony Judt, tem vencedores e derrotados: teriam perdido os que apostam que "desta vez nunca é diferente" e ganhariam os visionários ou insiders - estes aparentemente presentes em grandes volumes. Também é possível que em mais algumas semanas acabe o affair do mercado com o governo, e muitos passem a questionar a viabilidade do "plano Dilma". No fundo, o que me parece certo e difícil de admitir para alguns é que, possivelmente com erros de timing, a previsão de uma nova recessão global vai se mostrar acertada, e que, ao seu estilo atrapalhado, o Brasil parece ter dado alguns passos irreversíveis na direção de juros compatíveis com o resto do mundo. É tolo contar história antes do acontecido e previsões são, geralmente, atiradas ao lixo em pouco tempo. Ainda assim, acredito que, nos finais dos próximos anos, os juros por aqui estarão mais baixos do que começaram, e Dilma e sua equipe poderão ostentar esse mérito por muito tempo.
P.S. Com juros sensivelmente mais baixos e o PIB nominal crescendo a, digamos, 7% ao ano, a trajetória da dívida / PIB é escandalosamente cadente, o que alimentaria juros mais baixos.
P.P.S. Ontem o Gustavo Franco disse que a situação fiscal do Brasil é parecida com a da Grécia. Descartando a possibilidade de um ex-presidente do Banco Central e doutor por Harvard ser burro, sobra a hipótese de uma má fé retórica. A Grécia daria umas duas ou três ilhas para ter a possibilidade de emitir dívida em moeda local e a capacidade de arrecadação e crescimento do Brasil.
P.P.P.S. Este era para ser um texto de um parágrafo. Churchill: "Perdoe pela carta longa, não tive tempo de escrever uma curta."
Mais curiosa do que esses desenvolvimentos foi a reação do mercado que, avisado ou não, resolveu por um tempo deixar de lado a inflação rodando a 7.2% ao ano (esse provavelmente será o IPCA acumulado nos doze meses que terminam em agosto) e promoveu Mantega & sua trupe da condição de "gastadores" para a de "fiscalistas". Os juros futuros desabaram, e é esperado que sigam caindo.
Algum leitor mais atento, antecipando uma crítica e lembrando das inúmeras vezes em que pedi coragem do país para baixar os juros, deve estar estranhando o tom deste texto, com alguma razão. Eu imaginava uma convergência por outros meios: ou com a inflação caindo (por algum choque) e algumas medidas de desindexação acompanhando, ou, em caso de uma nova recessão mundial, com cortes mais ousados do que os de 2008, partindo de um patamar inicial mais baixo. O fato é que, durante agosto, nada disso aconteceu (sim, os mercados ensaiaram um pânico, mas nos últimos dias este parece ter se afastado), e mercado e governo passaram a compartilhar a mesma visão de futuro, algo muito raro por aqui.
É possível que de fato estejamos presenciando o início de uma revolução, e toda revolução, como bem lembra o Tony Judt, tem vencedores e derrotados: teriam perdido os que apostam que "desta vez nunca é diferente" e ganhariam os visionários ou insiders - estes aparentemente presentes em grandes volumes. Também é possível que em mais algumas semanas acabe o affair do mercado com o governo, e muitos passem a questionar a viabilidade do "plano Dilma". No fundo, o que me parece certo e difícil de admitir para alguns é que, possivelmente com erros de timing, a previsão de uma nova recessão global vai se mostrar acertada, e que, ao seu estilo atrapalhado, o Brasil parece ter dado alguns passos irreversíveis na direção de juros compatíveis com o resto do mundo. É tolo contar história antes do acontecido e previsões são, geralmente, atiradas ao lixo em pouco tempo. Ainda assim, acredito que, nos finais dos próximos anos, os juros por aqui estarão mais baixos do que começaram, e Dilma e sua equipe poderão ostentar esse mérito por muito tempo.
P.S. Com juros sensivelmente mais baixos e o PIB nominal crescendo a, digamos, 7% ao ano, a trajetória da dívida / PIB é escandalosamente cadente, o que alimentaria juros mais baixos.
P.P.S. Ontem o Gustavo Franco disse que a situação fiscal do Brasil é parecida com a da Grécia. Descartando a possibilidade de um ex-presidente do Banco Central e doutor por Harvard ser burro, sobra a hipótese de uma má fé retórica. A Grécia daria umas duas ou três ilhas para ter a possibilidade de emitir dívida em moeda local e a capacidade de arrecadação e crescimento do Brasil.
P.P.P.S. Este era para ser um texto de um parágrafo. Churchill: "Perdoe pela carta longa, não tive tempo de escrever uma curta."
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Paros, Naxos e Ios por um fiscal igual ao do Brasil. |
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segunda-feira, 29 de agosto de 2011
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Som da Sexta - Hiromi Uehara
Descoberta (só pra mim, claro - ela já tem quase 10 anos de carreira) do Newport Jazz, uma pianista japonesa, protegida do Ahamd Jamal em Berklee.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Gráfico do dia - os donos da cerveja
Do professor Philip H. Howard, da Michigan State University. Dica do Balu. No link tem uma versão com mais zoom.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
De volta
Voltando para um mundo financeiro que parece mais realista. Ah, a GWI aprontou de novo - não vou conseguir segurar um "eu já sabia". Dadas as dificuldades intrínsecas de uma volta ao trabalho depois de 20 dias de férias, o movimento por aqui deve ser lento esta semana, mas ao poucos o ritmo normal se reestabelece.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Paul Krugman, estrela do cinema
Paul Krugman fez um cameo na comédia Get Him to the Greek (por aqui, O Pior Trabalho do Mundo), de 2010. Ele contracena com Jonah Hill, o famoso gordinho de Superbad. Vale ver o filme inteiro, o personagem de Russell Brand, Aldous Snow, é excelente, e a dupla rende boas risadas.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Como o exército dos EUA transmite informação
Dentre outros meios, com apresentações em PowerPoint escritas em Comic Sans. Mais no Gizmodo. Se Edward Tufte, Gustavo Franco e a turma do Anti PowerPoint Party passarem por aqui, podem começar a bater a cabeça na quina da mesa.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Economia é pop
Alguns meses atrás, Yann Giraud, do History of Economics Playground, investigou a aparição de um livro de economia no seriado Cold Case. Um amigo dele pensou tratar-se do clássico Economics, do Paul Samuelson, mas ele foi ver o episódio e descobriu que, na verdade, a aparição ilustre era de um livro chamado Essential Economics, de um tal A. Smith Pond. Nos comentários, eu observei que a obra do Samuelson aparece na capa do disco Rah, do cantor de jazz Mark Murphy:
Economics, como diz o post do Yann, é um ícone da cultura americana: segundo a Wikipedia, está em sua 19ª edição, tendo vendido algo como 4 milhões de cópias, em 40 línguas.
Mark Murphy é um ótimo cantor que, ainda que não muito conhecido, está na estrada há mais de 50 anos, ainda na ativa. Do Rah, uma versão de My Favorite Things:
Economics, como diz o post do Yann, é um ícone da cultura americana: segundo a Wikipedia, está em sua 19ª edição, tendo vendido algo como 4 milhões de cópias, em 40 línguas.
Mark Murphy é um ótimo cantor que, ainda que não muito conhecido, está na estrada há mais de 50 anos, ainda na ativa. Do Rah, uma versão de My Favorite Things:
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segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Margin Call, o filme
Para quem ainda aguenta filmes sobre a crise, esse parece bom. Estréia em 21 de outubro, nos EUA.
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