quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A tal da taxa de juros de equilíbrio

Taxa de juros de equilíbrio é algo assim como aura: tem gente que acredita, outros afirmam que conseguem enxergá-la e até que ela muda de cor (ou de nível). No seu relatório de inflação do terceiro trimestre, os economistas do Banco Central tentam atacar esse problema esotérico, que tem sido alvo de muitas discussões desde que o Copom parou de subir os juros básicos, no início deste mês.

O BC faz uma revisão bastante abrangente da literatura, e chega na seguinte tabela para diversos países (clique para aumentar):


Interessante ver que há estimativas de -2% para a Zona do Euro (ouch...) e que no Peru o modesto intervalo é entre 6% e 17% (como o país está sobrevivendo - ousadia! - com juros reais perto de 1% é outro mistério). Seria desnecessário dizer, mas para todos os demais emergentes listados os juros de equilíbrio são menores que os praticados no Brasil (entre 6% e 8%, dependendo da conta que se faz).

O melhor do estudo, e que deixaria o Edward Tufte se roendo caso ele ligasse pra essas coisas mundanas, é o gráfico a seguir:


Na melhor tradição Rubens Ricupero, esqueceram o eixo vertical. Ou seja: a taxa de equilíbrio no Brasil, vejam, está caindo. Mas, pra não assutar ou constranger ninguém, melhor não falar em níveis ("superiores às observadas na maioria dos países listados na Tabela 1", diz o BC). Logo mais descobrem na marra que o país não explode em uma orgia de consumo se o juro não for 5 pontos percentuais acima da média mundial, e os modelos vão atrás.

E o dia não começou muito bem para os espanhóis...

Na Bloomberg:

Spain's Credit Rating Is Downgraded by Moody's to Aa1, Outlook Is Stable

Na ESPN:

Contador Tests Positive For Banned Substance


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Orientação vocacional

Minha escolha de profissão teria sido bem mais fácil se eu tivesse isso na época...


Recebi por e-mail. Se alguém souber quem criou, puxe a minha orelha pra eu dar o devido crédito.

Frase(s) do dia - Tony Judt

Considerem uma caneca de café norte-americano. Pode ser encontrada em qualquer lugar. Pode ser fabricada por qualquer um. É barata -- e a reposição, gratuita. Como o café não tem quase gosto, pode ser diluído à vontade. O que lhe falta em encanto é compensado pelo tamanho. Trata-se do método mais democrático jamais inventado para introduzir cafeína em seres humanos. Agora pensem numa xícara de café expresso italiano. Exige equipamento caro. O preço pelo volume obtido é chocante, sugerindo indiferença ao consumidor e ignorância do mercado. A satisfação estética que acompanha a bebida supera em muito seu impacto metabólico. Não é uma bebida, é um artefato.

Tony Judt, historiador britânico que morreu no último 6 de agosto, ilustrando as diferenças entre Estados Unidos e Europa em um dos ensaios do magistral Reflexões sobre um século esquecido.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A última consequência econômica da paz

A Alemanha fará no próximo dia 3 o último pagamento (€ 56 milhões) das reparações pela I Guerra Mundial, 91 anos depois do Tratado de Versalhes. Seu Keynes pode descansar em paz.

Mais no Der Spiegel.

Crescimento x democracia

Bill Easterly olha para o mistério abaixo:


Gráfico do dia - ciclos





Uma nota sobre progressismo

O Mansueto Almeida soltou uma provocação muito interessante na semana passada, ao comentar sobre uma matéria que o Valor fez com Maria da Conceição Tavares. Vou estendê-la para as possíveis políticas econômicas dos três principais candidatos à presidência. Nenhum deles ousa propor qualquer mudança na santíssima trindade (o tal "tripé de estabilidade" dos últimos anos) metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. Não vejo nada errado nas ferramentas per se, mas do jeito que elas são defendidas parece que o Brasil encontrou o santo graal da estabilidade e do crescimento. O curioso é analisá-las olhando para o resto do mundo. Metas de inflação estão virando rapidamente uma curiosidade histórica: os países desenvolvidos provavelmente vão encontrar dificuldades para estabilizar os preços nominais nos próximos anos, e pelo jeito só vai haver inflação nos países onde alimentos têm um peso grande nos índices de preço -- inflação cíclica e com grande influência do acaso, pouco influenciada por política monetária. Câmbio flutuante também está ficando fora de moda, com o mundo todo aderindo à flutuação "suja" (com forte interferência dos bancos centrais) e o caso de crescimento mais festejado desta geração (China) acontecendo com uma taxa fixa (e notoriamente depreciada) de câmbio. A responsabilidade fiscal é menos "atacável", mas nem o governo brasileiro tem levado tão a sério (disfarçando parte da gastança via empréstimos do BNDES), nem o mundo anda punindo quem soltou um pouco a mão nos últimos anos.

É compreensível que, numa eleição onde o governo tem 80% de aprovação, seja difícil propor qualquer mudança ao modelo em curso. Mas chegamos no ponto em que até as aberrações devem ser mantidas, em nome de uma suposta manutenção da prosperidade: aparentemente ninguém vê problemas em seguir pagando juros de dois dígitos quando até a Turquia (inflação média de 8,7% ao ano nos últimos cinco anos) consegue se financiar em moeda local a menos de 9%. Onde está o progressismo? O Brasil alcançou um relativo sucesso com uma dose de sorte e algumas políticas acertadas; precisamos começar a pensar no próximo passo (é desnecessário listar quanta coisa ainda precisa ser arrumada por aqui), ou pelo menos no que faremos quando a tal sorte virar. Curiosamente, ao mesmo tempo em que o Brasil é um caso de sucesso, o mundo está numa fase tão maluca que pouca coisa seria vista como extravagância; não consigo pensar em momento melhor para experimentar pelo menos conviver com uma taxa de juros compatível com este planeta.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

UK Press ♥ Brazil

Dois artigos de dois grandes jornais britânicos no fim de semana:

No The Independent:


Estão falando da Dilma, claro -- dizendo que a eleição da próxima semana marcará a demolição da influência dos governos conservadores da Europa e dos EUA sobre o Brasil, que limitava a democracia e as reformas. Menos, né? Se tem algum interesse que trava as reformas por aqui é o dos empresários brasileiros, que, surpresa!, financiam a eleição dos políticos.

No The Guardian:

Lula hails Brazil's oil-fuelled '30-year boom'

Mais confete para Lula, a Petrobras, Eike Batista... O futuro chegou, e ele é cor-de-rosa, seja pela mistura de vermelho e branco do PT ou por uma nova combinação: preto (do petróleo) + verde (dos dólares que vão seguir entrando aqui, sem parar).

Bronca do dia - Folha

Mesmo reconhecendo no texto que:

Correlação, vale lembrar, é um conceito traiçoeiro. Quando duas variáveis estão correlacionadas, tanto é possível que qualquer uma delas seja a causa da outra como também que ambas sejam efeitos de outros fatores.

A Folha tascou no título da matéria que fala sobre uma pesquisa do Gallup em 114 países:

Quanto mais religioso, mais pobre tende a ser um país

Liberais ateus / agnósticos e religiosos de qualquer orientação devem reclamar da leviandade...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tio Sam e Keynes

Impagável. Via The Big Picture.


Capitalização da Petrobras - quem ganhou?

Considerando a euforia com o parto da maior oferta de ações da história (passamos para o "nunca antes na história da humanidade" e entramos no maior delírio de grandeza do país desde o "milagre" dos anos 1970), muita gente -- políticos, fornecedores, banqueiros de investimento, a lista segue. O mero mortal acionista, entretanto, por enquanto aguarda um desfecho favorável para uma sequência de eventos cercados por incerteza (já falei sobre isso aqui). Nessa condição, só teve chance de garantir algum ganho quem tinha os papéis e vendeu antes do mercado derrubar os preços nos meses que antecederam a operação -- entre outros possíveis, surge, inevitavelmente, o nome de George Soros.

O Soros Fund havia comprado US$ 811 milhões em ações da Petrobras negociadas em Nova York (ADRs) durante o segundo trimestre de 2008. Reduziu a posição um ano depois e saiu completamente do investimento entre abril e junho deste ano. Passou longe de ser uma aposta brilhante (o preço médio no período em que ele comprou foi de US$ 107,5, e, durante as vendas US$ 79,4 e US$ 69,9, respectivamente), mas poderia ser ainda pior caso tivesse insistido no erro -- hoje os papéis operam a US$ 35,5. Claro que a história poderia ser outra, mas vai ser mais uma para alimentar a aura do maior especulador dos nossos tempos.

Este blog aplaude...

... a iniciativa do diretor de política monetária do Banco Central Aldo Mendes, que, com a circular 3506, vai acabar com (ou pelo menos reduzir drasticamente) a possibilidade de manipulação da PTAX (taxa média de câmbio apurada pelo BC). Parece apenas um rodapé da legislação, mas fez a fortuna de muito operador de banco às custas dos outros participantes do mercado. Bravo, sr Aldo.