quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Espanha e os 0,1%, aplicado ao futebol

Anteontem, na premiação da FIFA de melhores de 2012 no futebol, foi escolhida uma seleção mundial - os 11 jogadores mais votados por mais de 50.000 outros jogadores profissionais. Em teoria e descontados alguns vieses, são os melhores jogadores do mundo em suas respectivas posições - ou pelo menos é seguro afirmar que estão entre os três ou cinco primeiros em todos os casos. Chamou-me a atenção que todos, 100%, os 11, jogam em clubes espanhóis - cinco no Real Madrid, cinco no Barcelona e um no Atletico de Madrid.


A Espanha, como sabemos, terminou o ano passado com mais de 25% de desemprego - 56,5% para os jovens com menos de 25 anos. Passou mais da metade dos últimos quatro anos em recessão. Ainda assim, seus clubes têm dinheiro para pagar e manter os onze maiores futebolistas em atividade no mundo. Onde está o erro?

Dá pra falar de vários aspectos desse caso (quer dizer, daria se eu entendesse alguma coisa dos assuntos), todos fascinantes: a capacidade do futebol descolar do ambiente da sede dos clubes, tanto pela transcendência do esporte quanto pelo dinheiro globalizado aplicado nos times grandes; a atual fase do futebol espanhol (mais da metade dos eleitos) e a tendência desses jogadores preferirem jogar no país / clube de origem, mesmo com potenciais ofertas melhores; o efeito "winner takes all" que o atual esquema de receitas alimenta; a enganação que são os "dois melhores laterais do mundo" brasileiros, etc... Vou me concentrar em um que especialmente me incomoda: os subsídios cruzados que ajudam a sustentar o futebol.

Os times da liga espanhola, segundo estudo de um professor da Universidade de Barcelona (mais, muito mais no ótimo The Swiss Ramble) acumulam cerca de €3,5 bilhões em dívidas - Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid, somados, correspondem a quase metade desse valor. Os clubes devem a bancos, outros clubes e ao fisco espanhol (€426 milhões para este). No mundo ideal, essas dívidas um dia seriam devidamente pagas. Clubes de futebol, porém, não estão entre os melhores pagadores, talvez porque não têm grandes incentivos para tal: como executar um grande clube? Decretar sua falência, liquidar e encerrar a história? Quem vai lidar com a pressão popular, ou dos torcedores poderosos (apenas o rei da Espanha, no caso do Real Madrid)? Para piorar, estamos numa conjuntura em que bancos não podem mais quebrar, e suas más decisões de crédito, emprestar a times de futebol entre elas, acabam sendo bancadas pelo contribuinte.

No fim das contas, todos os contribuintes acabam sustentando os clubes - o governo precisa arrecadar de outra maneira os impostos que deixa de cobrar, resgata os bancos que emprestaram aos clubes e, pelo exemplo brasileiro (deve haver muitos outros), resgata os próprios clubes, quando preciso. É um crowdfunding compulsório, tendo como fundo a ideia que clubes de futebol são, ao menos parcialmente, bens públicos. Podem até ser, mas isso deveria ficar mais claro para que os eleitores decidam se é legítimo manter essa casta de multimilionários às custas da população.

O caso específico da Espanha hoje parece particularmente imoral pelo descolamento entre a conjuntura do país e a riqueza da liga de futebol, mas não é o único. Nem é o futebol - o mundo está repleto de negócios que criam milionários indiretamente subsidiados por contribuintes. É ridículo políticos defenderem uma era de austeridade geral  enquanto esses casos não se tornarem explícitos, analisados e repensados.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Conferindo outra aposta do ano passado

Como sabemos, não é possível nadar em dinheiro real...
Em maio do ano passado, quando saiu a oferta inicial de ações do Facebook, propus uma troca virtual da empresa por ações da Danone e da 3M. Hoje a situação seria a seguinte:

Valor de mercado do Facebook: US$62 bilhões
Valor de mercado da 3M: US$66 bilhões
Valor de mercado da Danone: US$24 bilhões

Simplificando, ganhei uma Danone virtual e estou virtualmente bilionário. Troco essa condição por um bom almoço, sabendo que não vai aparecer ninguém para pagar. Segue a vida.

Alugueis em São Paulo e Rio

De ótima matéria no Valor de hoje:


O índice Fipe/Zap, elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo em conjunto com o portal imobiliário Zap, mostra que o "yield", ou seja, o retorno mensal do aluguel em relação ao preço de mercado do imóvel, está no menor nível da série histórica do levantamento, iniciada em 2008. 

Abaixo, os retornos por região em São Paulo e no Rio (como referência, o CDI atual rende algo como 0,56% bruto ao mês - a média do ano passado foi maior - clique na imagem para aumentar).



Para quem coloca na conta do "bom negócio" que "imóvel nunca cai de preço, só sobe", olhe para os EUA dos últimos cinco anos, e boa sorte. Lembrando também que imóveis depreciam com o tempo, e a iliquidez / fricção na hora de comprar ou vender também deveria entrar na conta.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Previsões aleatórias para 2013

Pelo terceiro ano, vou me dedicar à arte de chutar o que acho que vai acontecer durante o ano. Cada vez menos tenho a pretensão de acertar, e acho a conjuntura particularmente ingrata para essa atividade - como exemplo, levemos em conta quantos bons economistas previam a saída da Grécia da zona do euro no ano passado, e os ativos do país terminaram o ano com grandes ganhos para quem apostou no "nada acontece" (e teve estômago para aguentar enquanto algo parecia estar acontecendo). 2012 foi dominado por governos e bancos centrais; por consequência, 2013 começa com esses agentes contando com grande confiança e respaldo. Acredito que governos e bancos centrais vão manipular preços e volatilidade enquanto conseguirem, e isso vai fazer com que o próximo choque na economia global seja muito violento, já que os desequilíbrios vão se acumulando em cenários extremos (aqui tomo emprestada a teoria do Nassim Taleb, claro): está tudo sob controle até alguém gritar que o rei está nu, e aí o que vai estar em jogo é muito mais do que variações de preços.

O problema de acreditar nesse tipo de cenário é que sua aplicação para a vida prática depende de um timing impossível de ser previsto - e, enquanto isso, a maldição de Cassandra se aplica aos pessimistas. Por ora, não vejo motivos para acreditar numa ruptura tão cedo, mas isso pode mudar muito, muito rápido. Como sempre, vale não se levar muito a sério e ser flexível.

Olhando para os mercados hoje, vejo certa euforia, preços caros (mas não absurdos) e tenho pouquíssima clareza de quais serão as tendências que vão valer para os próximos 12 meses. Assim, a maioria das minhas previsões são de natureza contrária / reversão à média, e muitas são apostas em assimetrias: perdas limitadas caso estejam erradas, grandes ganhos caso estejam certas. Vamos a elas:

- O Japão não vai conseguir escapar da deflação via política monetária mais agressiva. O movimento do mercado nos últimas semanas baseia-se na premissa de que a eleição de Shinzo Abe trouxe mudanças de paradigma, não acredito nisso. Dessa forma, a preços atuais, compraria iene (preço de referência contra o dólar: 87,88) e venderia o Nikkei contra o Dow Jones (10.600 / 13.435). Considerando a tendência atual, seria preferível fazer com opções fora do dinheiro, mas vamos simplificar...

- Ações brasileiras andarão melhor que ações mexicanas. Referências: Ibovespa 62.640 / IPC 44.562.

- Com muitos grãos de sal, para sair correndo no primeiro sinal de barbeiragem: Petrobras vai subir mais que o índice Bovespa (PETR4 hoje: 20,52, Ibovespa: 62.640).

- Ações de empresas de educação, estrelas do ano passado, vão andar menos que o Ibovespa (KROT3: 45,09, ESTC3: 39,63).

- Vão começar a ficar mais evidentes os problemas nos balanços dos bancos públicos. Venderia Banco do Brasil e compraria Itaú / Bradesco (BBAS3: 26,03, BBDC4: 37,50, ITUB4: 35,29).

- De novo, acho muito assimétrico comprar CDS do Brasil a 102 b.p.

- Também na linha da assimetria: os franceses que me perdoem, mas a dívida do país não pode pagar só 21 b.p. a mais do que a dívida americana. Vendo OATs, compro Treasuries (2.11% / 1.90%).

- Também parece assimétrico vender Treasuries de cinco anos a 0,81% - pode dobrar caso haja sinais de inflação ou de que o Fed está mesmo disposto a encerrar as compras de títulos antes do que se imaginava.

- Preços de imóveis nos EUA seguem subindo mais do que a inflação.

- Sigo gostando do dólar americano, sou comprador contra uma cesta de EUR, BRL, GBP, AUD, NZD, TRY, HUF, ZAR.

- No preço de agora, dá para comprar VXX (27,55) e acender uma vela para ganhar uns 20%.

- A bolsa da Alemanha não terá outro ano tão glorioso. Venderia DAX (7.740) contra S&P500 (1.466) e Ibovespa (62.640).

- Como regra de bolso, venda ouro e compre petróleo (WTI) toda vez que a razão dos preços for acima de 20.

- Também na teimosia, acho que acabou a liderança da Apple. Venderia contra o S&P500 (527 / 1.466).

- PIB do Brasil cresce mais do que o esperado (3,26% pelo último Focus). O corolário dessa previsão é que aguentaremos o Mantega por pelo menos mais uns 15 meses.

- Selic não sobe este ano.

- Seguirá a multiplicação e difusão de fundos de crédito no Brasil. É impressionante como copiamos, com anos de atraso, exatamente o que acontece no mundo desenvolvido.

- Angela Merkel se reelege na Alemanha (fácil, essa, aparentemente).

- Philip Roth ganha o Nobel de literatura (para compensar a barbada anterior).

- Um time brasileiro ganha a Libertadores (já sabem da torcida, mas vamos evitar a soberba).

- Paulinho da Viola finalmente lança um disco de músicas inéditas. O Brasil comemora.

- A célebre expressão "imagina na Copa" seguirá sendo usada ad nauseam, sobretudo a qualquer presepada que apareça na Copa das Confederações.

- Para os que fazem distinção entre "especulação" e "investimento": se eu recebesse alguns milhões hoje, gastaria 1/3 para comprar uma boa casa em Atlanta ou alguma outra cidade barata nos EUA; daria 1/3 para um gestor de hedge fund de confiança administrar e compraria o terço final em títulos de verdadeiros AAA (Noruega, Canadá, Austrália, Suíça...), usando um pedaço como margem para uma posição vendida em créditos ruins (tem aos montes, nem precisa procurar muito). Essa é uma carteira para muitos anos, porém - apropriada para ficar olhando para o mar sem muita preocupação.

É isso. Divirtam-se tirando sarro ao longo do ano do que não acontecer.

Frases do Dia - Eficiência

"An industrial system which uses forty per cent of the world's resources to supply less than six per cent of the world's population could be called efficient only if it obtained strikingly successful results in terms of human happiness, well-being, culture, peace, and harmony. I do not need to dwell on the fact that the American system fails to do this, or that there are not the slightest prospects that it could do so if only it achieved a higher rate of growth of production."

E.F. Schumacher, Small Is Beautiful, 1973. Citado no Economix, que terminei há pouco. Quanto a este: a primeira metade é excelente, uma introdução à história do pensamento econômico clara, acessível e honesta (o autor realmente leu os livros de que trata). Na segunda, ele assume que o pensamento econômico morreu com o Milton Friedman e começa a contar uma história econômica dos EUA do ponto de vista de luta de classes. Consegue alguns bons insights, mas não escapa do tom panfletário e às vezes descolado da realidade (ou do que é possível ser feito). No saldo, vale muito a leitura.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Som da Sexta - Howler

Parte da trilha sonora do verão (ignore que o vocalista tem, no máximo, 14 anos).

Gráfico do Dia - Salários na Indústria

Do ótimo guia para os mercados trimestral do J.P. Morgan Asset Management:


Restaria ao Brasil competir por qualidade, mas aí... aí fica mais difícil.

Leituras da Semana

- A Pershing Square, de Bill Ackman, aposta grande que a Herbalife é uma fraude histórica. Falando em pirâmides, relembre a incrível história da Albânia em 1996-97.

- Noah Smith sobre Shinzo Abe e as (não) mudanças no Japão.

- Um ótimo guia para os mercados globais neste trimestre.

- Como mudou a geografia da manufatura global nos últimos trinta anos.

- Um índice Big Mac para salários reais.

- Trickle-down economics sobrevive no Banco Mundial.

- 10 colapsos econômicos na história.

- A exploração de mão-de-obra sueca barata - na Noruega, onde mais?

- As "outrageous predictions" para 2013, do Saxo Bank.

- O melhor escrito sobre economia política global no ano passado.

- As 50 piores colunas (nos EUA) de 2012. Alguém precisa fazer uma versão brasileira.

- Uma lista para dominar todas as listas.

- The New Republic malhando Alain de Botton.

- The Economist sobre cartoons na internet.

- Michel Laub sobre viajar.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

100 Things to Watch in 2013

A tradicional lista de uma das maiores agências de publicidade do mundo:


Conferindo as previsões para 2012

Hora do leitor se divertir com a pretensão deste escriba ao imaginar há um ano o que aconteceria nos doze meses seguintes:


- Juros reais no Brasil vão seguir caindo. Investir em NTN-Bs seguirá sendo uma boa opção, o retorno deve superar o CDI por mais um ano.

Comecei com um mega acerto: para a alegria dos fundos multimercados, os juros caíram de forma praticamente ininterrupta durante 2010. Para os detentores de NTN-B, melhor ainda, já que a inflação seguiu relativamente alta. O rendimento anual da NTN-B 2022 caiu de 5,47% para 3,32%, e o índice IMA-B rendeu quase 27% no ano. 1 / 1.

- Juros das Treasuries americanas também cairão, fazendo novas mínimas históricas.

Fato: os juros de 10 anos americanos começaram o ano a 1,95%, terminaram a 1,80%, mas chegaram a 1,39% em julho, menor taxa desde sempre. 1 / 1.

- Juros de 10 anos dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Alemanha começam 2012 mais ou menos nos mesmos níveis (entre 1,9% e 2,0%). Acredito em algumas apostas de divergência, comprando EUA e Canadá e vendendo os outros dois.

A hipótese por trás dessa previsão é que o mercado de renda fixa ia começar a diferenciar ainda mais entre os créditos soberanos; aconteceu justo o contrário: spreads fecharam e os juros tiveram uma nova convergência. No caso da Europa, a decisão da Alemanha de, indiretamente, financiar a dívida da parte "ruim" do continente não só não piorou sua percepção de risco de crédito, mas muito dinheiro entrou no país em busca de segurança. Os juros de EUA, Canadá e Inglaterra terminaram 2012 mais ou menos no mesmo patamar (perto de 1,9%); a Alemanha furou de vez a previsão e encerrou o ano pagando 1,32%. 0 / 1.

- Política monetária segue frouxa no mundo todo. E tome QE3 nos EUA, QEn no Reino Unido, algo parecido na Europa...

Sim, bancos centrais seguiram muito ativos, e a política monetária seguiu bastante frouxa (mais em termos de juros baixos do que em crescimento de balanços - monetaristas vão preferir esta medida). A próxima alta de juros no mundo desenvolvido concorre no futuro distante com a volta do cometa Halley. 1 / 1.

- O real vai seguir se depreciando contra o dólar americano, assim como o rand sul-africano, a lira turca, o peso mexicano e o forint húngaro.

2012 passou longe de ser um ano de fortalecimento geral do dólar. O real e o rand de fato se depreciaram, mas as demais moedas que listei bateram com gosto na minha cara (lira turca +6%, peso mexicano +8,4%, forint +10%). 0,3 / 1.

- Reservas internacionais brasileiras não chegam aos US$ 400 bilhões. Chance não desprezível de começarem a cair. Comprar CDS do Brasil e México a um prêmio de 160 b.p. (50 b.p. mais baixo que o da França) parece uma boa aposta assimétrica.

De novo previsão baseada na ideia de dólar mais forte, ou um aperto na liquidez nesta moeda. Valeu para as reservas do Brasil (terminaram o ano perto de US$380 bilhões, mais ou menos estáveis desde maio), mas os prêmios de CDS seguiram o fechamento dos spreads de renda fixa. Brasil e México começam 2013 com prêmios próximos a 100 b.p. (do ponto de vista de assimetria, a aposta agora é ainda melhor). 0,4 / 1.

- Sigo comprando bancos americanos, vendendo bancos europeus (o short selling está banido na maioria dos mercados na Europa, mas há como montar proxies disso).

A estratégia teria sido muito ganhadora se fosse revertida por volta do meio do ano. Desde então, o pacote de bondades de Mario Draghi e companhia provocou uma forte recuperação nas ações dos bancos europeus. Os índices que representam esses mercados tiveram desempenhos muito parecidos: o S&P500 Financials Index (EUA) subiu 26%; o Stoxx 600 Banks subiu 23,5%. 0,5 / 1.

- Se o crescimento da China ameaçar ir abaixo do esperado, o banco central voltará a desvalorizar o yuan. Acho o payoff dessa aposta muito bom, mesmo num cenário de crescimento inalterado, já que a maioria do mundo acha que o yuan só deveria se valorizar. Outra aposta muito boa em moedas é comprar coroa dinamarquesa contra euro, favorita do Cerebelo Econômico.

É, a maioria do mundo teve razão, e o yuan valorizou 1% contra o dólar durante 2012 (pelo menos confirmou a assimetria da aposta). O peg euro / coroa dinamarquesa seguiu inabalado. 0,2 / 1.

- Preços de imóveis nos EUA já fizeram a mínima; o índice Case-Shiller deve voltar a subir. Em São Paulo e no Rio, creio que estamos perto de uma inflexão. No melhor dos casos, acredito em altas até 10%, e o custo de oportunidade começaria a pesar.

A última leitura do Case-Shiller é do final de outubro; se vale a tendência, de fato, o índice fez uma mínima no final de 2011 e passou a subir. A alta até então era de 5%. Por aqui, o FIPE ZAP subia 13% nos doze meses até o final de novembro - nada perto da exuberância dos últimos anos, mas longe de causar alguma preocupação para os compradores. 0,5 / 1.

- Ações para vender: LinkedIn, Zynga, Groupon, Facebook (depois do IPO). No geral, negócios que dependem de muita fé em crescimento de fluxos de caixa futuros não irão bem (Grupo X?). Vou seguir apostando contra a Apple porque errei no ano passado (péssimo motivo, mas aqui passa).

Nas ações americanas LinkedIn bateu na minha cara (+75%), acertei em cheio as demais (Zynga -75%, Groupon -75%, Facebook caiu 33% do IPO até o final do ano). O ano de fato foi péssimo para os sócios do Eike Batista (OGX -65%, MMX -36%, LLX -25%, OSX -11%), assim como era o motivo para apostar contra a Apple (+33% - ainda que tenha valido a regra de bolso que diz que empresas ainda não conseguiram passar muito tempo com valor de mercado acima de US$500 bilhões). 0,7 / 1.

- Agências de classificação de risco vão continuar o mergulho na direção da irrelevância. Venderia ações da Moody's, por princípio. Possivelmente sofrerão ameaças ou represálias dos governos que tiverem suas notas rebaixadas.

Talvez tenha acertado o princípio (os mercados de dívida soberana pouco reagiram a vários rebaixamentos, sobretudo na Europa), mas o acionista da Moody's teve um grande ano (+47%), provavelmente pela forte atividade de novos emissores. 0,3 / 1.

- Será bom comprar ações no Brasil, mas num preço pelo menos 10% mais baixo do que estão começando o ano. Ainda assim, melhor fazer o mínimo de stock picking do que comprar o índice, temo muito pela combinação de commodities + empresas picaretas que o compõe hoje. Para pegar um caso, bancos grandes devem ir melhor do que o índice. Empresas "parceiras" do BNDES, pior.

10% de queda no Ibovespa coincide (foi sorte, mesmo, não tinha pensado nesses termos) com o melhor suporte para o índice no ano, ao redor dos 52.000 pontos. E de fato o stock picking evitando commodities e picaretas funcionou muito bem, vide o bom desempenho de muitos fundos ativos ou long-short. Houve alguma dispersão entre os bancos grandes (BB e Bradesco melhores, Itaú e Santander piores), e as empresas X e os frigoríficos (pra ficar nos casos mais evidentes) de fato foram pior do que o índice. 0,8 / 1.

- Não gosto de Vale, vai ser dos shorts mais líquidos disponíveis no mercado quando o mundo se der conta de que a China pode, surpresa, não crescer perto de 10% ano após ano.

Vale chegou a cair mais de 20% no ano, teve uma grande recuperação e terminou mais ou menos no 0 x 0. O susto com o minério de ferro passou relativamente rápido, mas foi uma oportunidade para quem soube realizar lucros. 0,4 / 1.

- Bancos médios vão seguir indo mal no Brasil. O modelo de negócios da maioria deles (captar caro no exterior e emprestar ainda mais caro aqui) parece estar se esgotando. O FGC deve ter trabalho.

BVA, Cruzeiro do Sul... as fraudes começaram a aparecer, mas o mercado diferenciou bem o setor, e os demais listados (Indusval, Pine, ABC) tiveram um bom ano. 0,5 / 1.

- Não tenho grandes convicções em commodities, mas se fosse pra comprar algo, seria petróleo.Agrícolas têm cara de que ainda podem cair muito.

Petróleo passou bem pouco tempo acima de onde começou o ano ($103 para o barril de WTI), teria sido péssimo investimento. O índice de agrícolas (DBA) caiu um pouco durante o ano (3%), com grande diferenciação (trigo, soja e milho subiram; açúcar, algodão e café caíram bastante). 0,1 / 1.

- Creio que hedge funds terão outro ano para ser esquecido, com mercados de ações sem tendência e intervenções cada vez maiores dos governos.

De fato, o ano foi muito difícil para hedge funds, que muito provavelmente (dados demoram para serem consolidados) tiveram desempenho pior do que a maioria das estratégias passivas. Ações ficaram mesmo sem tendência durante grande parte do ano, e as intervenções tiveram gatilhos e consequências muito difíceis de serem previstas. 1 / 1.

- Ainda há alguma intenção de concluir a Rodada de Doha, da OMC? Se há, vai falhar.

Não houve, aparentemente o mundo tinha coisas mais importantes para se preocupar. 0 / 0.

- São Paulo vai eleger um prefeito de ruim a muito ruim.

Considerando que estivemos perto de eleger o Rousseau Mano, acho que saímos no lucro. 0,5 / 1.

- Metade das participantes do Big Brother farão capas da Playboy e/ou Sexy.

Não contei, mas essa previsão é quase como dizer que o sol vai nascer amanhã: um dia vai falhar, mas demora... 1 / 1.

- Meryl Streep será, de novo, indicada para um Oscar (dããã).

Não só foi indicada, ganhou o terceiro como a Margaret Thatcher do fraquinho A Dama de Ferro. 1 / 1.

- O Corinthians finalmente vence a Libertadores (PAREM DE RIR!). Lusa se segura na série A.

Preciso recorrer aos grandes irmãos Gershwin para celebrar o maior acerto da história deste blog:


They all laughed at Christopher Columbus 
When he said the world was round 
They all laughed when Edison recorded sound 
They all laughed at Wilbur and his brother 
When they said that man could fly 

They told Marconi 
Wireless was a phony 
It's the same old cry 

(...)


For ho, ho, ho! 
Who's got the last laugh? 
Hee, hee, hee! 
Let's at the past laugh 
Ha, ha, ha! 
Who's got the last laugh now?

E a Lusa bem que tentou cair, mas se segurou entre os grandes. 1,2 / 1.



- Usain Bolt perde os 100m rasos, mas leva os 200m em Londres. Brasil fará novo fiasco, no futebol masculino e no geral.

Bolt foi a Apple dos esportes, impossível apostar contra. Quanto ao Brasil:


0,7 / 1.

- Os filmes argentinos continuarão (muito) melhores que os brasileiros.

Na minha lista de melhores do ano entraram um argentino e um brasileiro, mas não foi um ano em que acompanhei de perto a produção de ambos (leitores, alguma opinião?). Grandes expectativas para O Som ao Redor, que estreia em SP amanhã. 0,5 / 1.

- O megahit Ai Se Eu Te Pego será regravado em Espanhol, Italiano, Romeno, Swahili, Esperanto e Cantonês.

Devem ter gravado até em klingon e algumas das línguas do Tolkien. Algumas amostras aqui. 0,8 / 1.

- O mundo não vai acabar em 21 de Dezembro. Lá pra Novembro eu publico a nova data.

Esqueci de publicar a nova data, mas, aparentemente, sobrevivemos. 1 / 1.

- Vou errar mais previsões do que no ano passado.

Somando meus pontos (se corretamente atribuídos, cornetem nos comentários):

Previsões "sérias" (economia, mercados e afins): 8,5 / 16 = 53%
Previsões aleatórias: 6,9 / 8 = 86%
Total: 15,4 / 24 = 64%

Acertei mais do que ano passado, o que faz esta metaprevisão contar como erro e joga meu desempenho para 62%, um pouco melhor do que um chimpanzé jogando cara ou coroa (pior ainda considerando que o que puxou a média pra cima foram as previsões não relacionadas à economia - aceito ofertas de emprego para comentar entretenimento e esportes).

Numa nota um pouco mais séria: a cada ano que passo trabalhando com gestão de dinheiro, aumenta minha convicção de que acertar previsões tem importância secundária para essa atividade (sorte, flexibilidade, gestão de risco e margem de segurança são muito mais relevantes). Hoje trato-as como hipóteses: boas até serem contrariadas pelos mercados, tendo que ser trocadas ou modificadas a partir daí (como diz um antigo chefe, somos pagos para ganhar dinheiro para os clientes, não para nos provarmos certos). Tendo partido de economista de formação quase totalmente ortodoxa e cheio de convicções, esse tem sido um processo difícil de deseducação, mas que tem facilitado enormemente minha vida. Talvez sirva de conselho para quem quer seguir o mesmo caminho.


Em alguns dias coloco aqui meus chutes para este ano, ainda preciso gastar mais um tempo pensando.

Sinto, mas...

... tive que voltar com o captcha nos comentários, excluir os spams começou de novo a me tomar muito tempo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Grécia e crises do passado

Michael Cembalest, do J.P. Morgan, comparou a atual crise da Grécia com outras tragédias econômicas de após a II Guerra (tabela tirada do Outlook 2013 dele, cuja leitura recomendo):