Ah, o corporativismo... Ah, o autoelogio... Deve servir para impressionar os estudantes, recém-formados e afins; na vida real, como em quase todas as atividades humanas, o falso glamour vai pelo ralo rapidamente para qualquer um que tenha um mínimo de autocrítica.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
terça-feira, 7 de junho de 2011
Taxa de câmbio, essa desconhecida
Confesso que há tempos não lia um paper de macroeconomia inteiro. Feito esse aviso, gostei bastante do último trabalho do Sebastian Edwards (UCLA), que faz uma boa revisão da literatura sobre taxa de câmbio e levanta, dessa literatura e de alguns testes econométricos feitos por ele mesmo e alguns colegas, algumas regularidades observadas no comportamento das taxas de câmbio da América Latina e do leste asiático. Vale ler o trabalho inteiro; para os mais preguiçosos, aí estão as regularidades. A lista é bem útil para debater com tudólogos e chutadores de plantão (quem trabalha em uma mesa de operações sabe bem do que estou falando):
1. Crises cambiais são muito caras (em termos de desaceleração no crescimento, aumento do desemprego e inflação mais alta).
2. Países com taxas de câmbio mais flexíveis tendem a crescer mais rápido no longo prazo do que países com câmbio fixo.
3. Países dolarizados não têm melhor desempenho (em termos de crescimento mais rápido do PIB e menor volatilidade desta medida) do que países com moeda própria.
4. Países com regimes de câmbio flexíveis são capazes de acomodar choques externos melhor que países com taxas fixas.
5. Com mobilidade de capital e cãmbio fixo, não há espaço para política monetária completamente independente.
6. Ajustes na taxa de câmbio baseados em diferenciais de infllação resultam numa perda de ancoragem e em instabilidade macroeconômica.
7. Programas de estabilização baseados na taxa de câmbio são perigosos, e frequentemente geraram supervalorização da moeda.
8. Desalinhamento de taxa de câmbio real pode ser muito custoso; intervenções do banco central podem se justificar, mesmo sob um regime de câmbio flexível.
9. Há uma assimetria entre supervalorização e subvalorização (sobrevalorizações podem ser mais persistentes).
10. Mesmo sob regime de câmbio flexível, a extensão para política monetária independente é limitada.
11. Houve uma importante quebra estrutural no relacionamento entre a taxa de câmbio real efetiva do dólar americano e a taxa de câmbio real efetiva dos exportadores de commodities.
1. Crises cambiais são muito caras (em termos de desaceleração no crescimento, aumento do desemprego e inflação mais alta).
2. Países com taxas de câmbio mais flexíveis tendem a crescer mais rápido no longo prazo do que países com câmbio fixo.
3. Países dolarizados não têm melhor desempenho (em termos de crescimento mais rápido do PIB e menor volatilidade desta medida) do que países com moeda própria.
4. Países com regimes de câmbio flexíveis são capazes de acomodar choques externos melhor que países com taxas fixas.
5. Com mobilidade de capital e cãmbio fixo, não há espaço para política monetária completamente independente.
6. Ajustes na taxa de câmbio baseados em diferenciais de infllação resultam numa perda de ancoragem e em instabilidade macroeconômica.
7. Programas de estabilização baseados na taxa de câmbio são perigosos, e frequentemente geraram supervalorização da moeda.
8. Desalinhamento de taxa de câmbio real pode ser muito custoso; intervenções do banco central podem se justificar, mesmo sob um regime de câmbio flexível.
9. Há uma assimetria entre supervalorização e subvalorização (sobrevalorizações podem ser mais persistentes).
10. Mesmo sob regime de câmbio flexível, a extensão para política monetária independente é limitada.
11. Houve uma importante quebra estrutural no relacionamento entre a taxa de câmbio real efetiva do dólar americano e a taxa de câmbio real efetiva dos exportadores de commodities.
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segunda-feira, 6 de junho de 2011
Investimentos públicos, lucros privados
Acabou de sair no Bloomberg que o BNDES aprovou um empréstimo de R$ 2,7 bilhões para uma tal Eldorado Celulose. Poupando o trabalho do leitor de recorrer ao Google: a Eldorado Celulose é um "sonho" dos irmãos Batista, da JBS -- outra favorita do BNDES -- e um outro sócio, Mario Celso Lopes (mais aqui). Dos R$ 4,8 bilhões programados para o investimento, a banca pública adiantou mais do que a metade - assim funciona tomar risco no Brasil.
O BNDES vive dizendo que tem critérios técnicos e bem estabelecidos para conceder crédito, mas duvido que qualquer banco comercial com um comitê de crédito minimamente responsável permitiria a concentração dos empréstimos em tantos empreendimentos ligados a commodities ou alocaria tantos recursos para um mesmo credor. Já cansei de escrever sobre isso aqui, a mensagem segue a mesma: se o Brasil quer criar "supercampeãs" de commodities, que declare isso como parte de uma estratégia de política econômica e faça com que o Estado tenha tanto as responsabilidades como os possíveis benefícios. Fazer isso dissimuladamente, via empréstimos a juros subsidiados para empresários "amigos" do governo, que lucrarão caso o investimento prove-se acertado ou renegociarão / deixarão de pagar a dívdia caso algo adverso aconteça deveria pelo menos fazer com que a oposição esperneie, antes que a conta chegue.
O BNDES vive dizendo que tem critérios técnicos e bem estabelecidos para conceder crédito, mas duvido que qualquer banco comercial com um comitê de crédito minimamente responsável permitiria a concentração dos empréstimos em tantos empreendimentos ligados a commodities ou alocaria tantos recursos para um mesmo credor. Já cansei de escrever sobre isso aqui, a mensagem segue a mesma: se o Brasil quer criar "supercampeãs" de commodities, que declare isso como parte de uma estratégia de política econômica e faça com que o Estado tenha tanto as responsabilidades como os possíveis benefícios. Fazer isso dissimuladamente, via empréstimos a juros subsidiados para empresários "amigos" do governo, que lucrarão caso o investimento prove-se acertado ou renegociarão / deixarão de pagar a dívdia caso algo adverso aconteça deveria pelo menos fazer com que a oposição esperneie, antes que a conta chegue.
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51 minutos bem gastos
Vale gastar o maior pedaço de uma hora para ouvir Geoffrey West, professor do Santa Fe Institute, falando para o Edge sobre propriedades fractais aplicadas à biologia e ciências sociais: porque cidades podem crescer indefinidamente (mas com o risco de colapso), porque companhias se assemelham à animais (com limitação de tamanho e um ciclo de vida bem definido) e, extrapolando um pouco, porque pode ser uma boa estratégia vender ações sempre que alguma companhia atingir um valor de mercado próximo a US$ 500 bilhões (a Microsoft atingiu essa marca pouco antes do estouro da bolha de internet / tecnologia, em 2000 e, no final de 2007, tanto a Petrochina quanto a Exxon Mobil chegaram a valer mais do que US$ 500 bilhões). Fascinante.
Para os que preferem ler, no mesmo link tem uma transcrição completa do vídeo.
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Humala e os mercados
Aparentemente a turma do mercado não gostou muito do resultado das eleições no Peru... o principal índice da bolsa de Lima cai 11% hoje.
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Foto do dia - Vantagens Comparativas
E chegamos no ponto em que o Brasil importa carvão para churrasco... do Paraguai! É sinal de desenvolvimento ou (mais um) de câmbio supervalorizado?
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domingo, 5 de junho de 2011
Edição de domingo - Palocci, estrategista de câmbio (dos bons)
Da entrevista que saiu ontem na Folha:
Fácil acreditar, né? Se a Aracruz e a Sadia tivessem ouvido ele...
Update: Palocci, titã do capitalismo
O sr. poderia detalhar como era o trabalho de consultoria?
Na época da crise econômica, em 2008, havia no mercado muitas empresas contratando créditos com cláusula cambial, contratos em dólar. Isso eu conversei com praticamente todas as empresas com que eu tinha contratos. Dado que tinha uma crise, sugeri a essas empresas que elas estavam correndo muito risco fazendo contrato de câmbio na medida em que, com a evolução da crise, os níveis cambiais poderiam ficar muito voláteis.
Seus clientes seguiram suas recomendações? Algum teve dificuldades naquela época?
Nesse campo, não. Acredito que tenha ajudado elas a decidir deixar esses contratos. Você sabe quanto esses contratos custaram para as dívidas das empresas nos meses seguintes. Na época não sabiam que haveria a crise com o Lehman Brothers.
O sr. teme que seus adversários digam que o sr. teve acesso a informações do governo sobre a política cambial para orientar seus clientes?
Entre julho e agosto de 2008, havia vários analistas prevendo várias tendências para o câmbio. O que eu dizia para as empresas não é de quanto seria o câmbio futuro. O que fiz foi avaliar para as empresas que havia muito risco de volatilidade cambial, dado que estávamos entrando em uma crise internacional. É essa avaliação, o risco de volatilidade dos contratos de câmbio. Não se trata de informação privilegiada, primeiro porque nem mesmo as autoridades têm informação de quanto será o câmbio futuro. Segundo porque no mercado você encontra todo dia avaliações sobre isso. Eu fiz uma avaliação e poderia ter errado. Naquele momento, eu acertei a tendência.
Fácil acreditar, né? Se a Aracruz e a Sadia tivessem ouvido ele...
Update: Palocci, titã do capitalismo
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Frase do dia - everybody hates the US dollar
"I strongly believe that the days of the U.S. dollar as the world's reserve currency are numbered. There is need for us to begin thinking seriously and urgently about introducing a gold-backed Zimbabwean currency which will not only be stable but internationally acceptable."
Gideon Gono, presidente do Zimbabwe Reserve Bank e ganhador do prêmio Ig Nobel de Matemática em 2009, com toda a confiança de quem contribuiu para que a economia local tivesse uma inflação de 5.000.000.000% ao ano, que só terminou quando o país desistiu de ter uma moeda própria. Um sinal contrário (para comprar o dólar) mais claro que esse, impossível.
Gráfico do dia - novas máximas
E agora, seu Bernanke? Sugestão: colocar em prática o plano de despejar dinheiro com helicópteros. Além do estímulo monetário, haveria contratações nos fabricantes e de pilotos para as novas máquinas.
Mais no Zero Hedge.
Mais no Zero Hedge.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Niall Ferguson sobre a Europa
A Bloomberg tem uma boa entrevista com o historiador Niall Ferguson sobre a última tentativa de salvar a união monetária na Europa: a proposta do presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, da criação de um ministério das finanças unificado.
Na minha opinião, o gráfico abaixo é uma boa fotografia estilizada do que está ocorrendo na Europa: enquanto a Alemanha conta com uma moeda mais desvalorizada do que seria um marco alemão para crescer e levar sua economia para a menor taxa de desemprego dos últimos anos, países como a Espanha sofrem com falta de competitividade e o adiamento de um ajuste dos excessos dos últimos anos, com mais de 1/5 da população economicamente ativa sem emprego. Uma consolidação fiscal completa, como ressalta Ferguson, parece ser totalmente inviável do ponto de vista político, e nos resta seguir esperando o momento em que o que parece óbvio -- que a mesma política monetária, cambial e fiscal não serve para uma região com economias tão distintas -- seja reconhecido pelos políticos e pelos mercados.
Na minha opinião, o gráfico abaixo é uma boa fotografia estilizada do que está ocorrendo na Europa: enquanto a Alemanha conta com uma moeda mais desvalorizada do que seria um marco alemão para crescer e levar sua economia para a menor taxa de desemprego dos últimos anos, países como a Espanha sofrem com falta de competitividade e o adiamento de um ajuste dos excessos dos últimos anos, com mais de 1/5 da população economicamente ativa sem emprego. Uma consolidação fiscal completa, como ressalta Ferguson, parece ser totalmente inviável do ponto de vista político, e nos resta seguir esperando o momento em que o que parece óbvio -- que a mesma política monetária, cambial e fiscal não serve para uma região com economias tão distintas -- seja reconhecido pelos políticos e pelos mercados.
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Frases do dia - gestão de dinheiro e física
Da última carta do fundo Eclectica, de Hugh Hendry:
Mais no FT.
I was reading something recently about the Nobel Prize winner Richard Feynman that made me think that money management was perhaps similar to physics in that you advance by accepting absurdities. The history of physics, he claimed, is one of unbelievable ideas proving to be true. "Our imagination is stretched to the utmost not, as in fiction, to imagine things which are not really there, but just to comprehend those which are".
Mais no FT.
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quarta-feira, 1 de junho de 2011
Mercados se preparando para o double dip
Taxa dos títulos americanos de 10 anos caindo 0,10%. Bolsas ao redor do mundo caindo 1%. Franco suíço renovando as máximas históricas contra o dólar e contra o euro. Ouro subindo rumo a um novo recorde. Aparentemente, a economia mundial não terá um segundo semestre muito brilhante. Você, brasileiro mediano, dê-se por satisfeito por poder aplicar em um bom crédito que paga mais de 6% ao ano de juros reais.
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