quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Essa tal taxa de câmbio...

"A inflação aleija, mas o câmbio mata", é a famosa frase do Mario Henrique Simonsen que sempre vem à cabeça quando começam a aparecer evidências de que a taxa de câmbio está fugindo do seu controverso equilíbrio. Recomendo dois bons textos sobre o tema: uma análise do Dani Rodrik sobre como a política mercantilista da China tem afetado os exportadores de commodities (segundo ele, isso cria uma dependência no setor externo do preço das commodities e não estimula uma diversificação da economia que poderia promover aumentos de produtividade). E no beyondbrics do Financial Times, Jonathan Wheatley fala sobre a nova pernada de valorização do real na expectativa da entrada dos dólares para a capitalização da Petrobras.

Frase do dia - antes tarde do que nunca?

Jeffrey Goldberg, correspondente da revista americana The Atlantic, esteve em Cuba e alega ter ouvido da boca do Comandante en Jefe Fidel Castro, quando perguntou se ele acreditava que o modelo cubano valia a pena ser exportado:

"The Cuban model doesn't even work for us anymore."

A matéria completa está aqui, e narra também uma bizarra visita do repórter a um show de golfinhos, na companhia de Fidel e da filha de Che Guevara.

Gráfico do dia - o inferno da comutação

Andei procurando dados a respeito disso há um tempo, e achei uma fonte por acaso, folheando a SuperInteressante. A IBM realizou uma Commuter Pain Survey, entrevistando 8,192 motoristas em 20 cidades espalhadas pelo mundo, e criou um Commuter Pain Index, composto por 10 critérios (mais no site da IBM). O resultado foi o seguinte:


Na SuperInteressante há algumas aberturas desse índice: os paulistanos levam, em média, 33 minutos para chegar ao trabalho (o sexto maior tempo, atrás de Moscou, Nova Delhi, Pequim, Cidade do Mèxico e Joanesburgo). Estão, porém, entre os que saem mais cedo de casa (junto com os motoristas de Joanesburgo), entre 6 e 7 da manhã, talvez para que os 33 minutos não se transformem em horas.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Trend is (indeed) your friend

Gavyn Davies (do Financial Times) olha para um experimento feito por um economista do Banco da Inglaterra que consiste simplesmente em seguir o último movimento do mercado em um determinado período de tempo (comprando quando o mercado sobe e vendendo quando cai). Os resultados são intrigantes, sobretudo para quem acredita na hipótese dos mercados eficientes.

O gráfico ao lado é do preço do ouro nos últimos trinta anos, que fechou hoje em uma nova máxima histórica. Os bárbaros seguem com força.

Frase do dia - estourando bolhas

"No dia em que achar que as minhas companhias estão [super] avaliadas, com preços inflados na bolsa, eu mesmo enfio o dedo nessa bolha."
Eike Batista, em entrevista para a ValorInveste deste mês. Esperamos sentados, então.

75 anos do Monopoly

Este ano o Monopoly, que deu origem ao nosso Banco Imobiliário, completa 75 anos de seu lançamento pela Parker Brothers. No livro The Ascent of Money (lançado aqui como A Ascensão do Dinheiro), o historiador britânico Niall Ferguson usa a história do jogo para ilustrar como os anglo-saxões desenvolveram o culto de adquirir imóveis. Segundo Ferguson, a primeira versão do jogo foi criada em 1903 por Lizzie Phillips, e tinha a intenção de "mostrar a desigualdade de um sistema social no qual uma pequena minoria de donos de terra lucravam com os aluguéis recolhidos de seus inquilinos". Essa versão mostrou-se complexa demais para o gosto do público, mas foi simplificada por dois professores (um de Wharton, outro de Columbia) e transformada de vez em um produto comercial por um engenheiro chamado Charles Darrow, que vendeu o jogo para a Parker Brothers. Ao contrário do que imaginava Lizzie Philips, a moral do jogo transformou-se em "quanto mais você tem [propriedades], mas dinheiro você ganha", e isso ajudou a formar a noção na sociedade (fortemente abalada nos últimos anos) de que não há melhor investimento que imóveis.

No Brasil, a Estrela deteve por muitos anos o licenciamento do jogo em Português (com os clássicos endereços do Rio e São Paulo -- naquele tempo, a avenida Faria Lima valia muito menos que Morumbi). Em 2008, a Hasbro (da qual a Parker Brothers é subsidiária) decidiu se instalar no Brasil e lançar o jogo com seu nome original, enquanto a Estrela seguiu produzindo o Banco Imobiliário em diferentes versões (com cartão de crédito, versão "sustentável", etc), não sei se ainda pagando royalties para a Hasbro.

O tabuleiro aí do lado está numa galeria de 50 versões do jogo que o Damn Cool Pics fez.

P.S. O Banco Imobiliário é o tema de uma crônica genial do Pedro Ivo Resende (O Amigo Socialista), que escrevia, pelos idos de 2000, o Loser, primeiro blog que me lembro de acompanhar.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Enquanto isso, no iPhone do Obama...




FUBAR = fucked up beyond all/any repair/recognition. Aprendi mais um tesouro da língua de Shakespeare.

Som da Sexta Especial - as 5 melhores sequências de álbuns da história do pop / rock

(em ordem alfabética, claro)

1. The Beatles

Help (1965), Rubber Soul (1965), Revolver (1966), Sgt. Pepper's (1967), Magical Mystery Tour (1967), White Album (1968). Daria para estender até Abbey Road (1969) e Let It Be (1970) se ignorarmos a trilha do Yellow Submarine, que não foi exatamente pensada como um álbum.



2. David Bowie

Space Oddity (1969), The Man Who Sold the World (1970), Hunky Dory (1971), The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1971), Aladdin Sane (1973). Demorei pra aprender a gostar de David Bowie, que perda de tempo...



3. Led Zeppelin

Led Zeppelin (1969), Led Zeppelin II (1969), Led Zeppelin III (1970), Led Zeppelin IV (1971), Houses of the Holy (1973), Physical Graffiti (1975). A qualidade da música é inversamente proporcional à criatividade no nome dos quatro primeiros discos.



4. The Rolling Stones

Beggars Banquet (1968), Let it Bleed (1969), Get Yer Ya-Ya's Out! (1970), Sticky Fingers (1971), Exile on Main St. (1972). Não dava mesmo para competir com os Beatles, o auge dos Stones foi alguns anos depois do sonho ter acabado.




5. Stevie Wonder

Where I'm Coming From (1971), Music of My Mind (1972), Talking Book (1972), Innvervisions (1973), Fulfillingness' First Finale (1974), Songs in the Key of Life (1976). Depois de tudo isso, ele tinha só 26 anos. Vai ter talento assim...



Etiópia desvaloriza

A Etiópia vai começar o ano novo (no calendário etíope, 2003 começa no próximo dia 11) com sua moeda, o birr, 20% desvalorizada (soube pelo Chris Blattman). A medida seria uma tentativa de copiar o "modelo chinês", mantendo uma moeda muito desvalorizada para estimular exportações e substituição de importações.

As principais exportações da Etiópia são o café (é o quinto maior produtor mundial) e o qat, uma planta que é usada como narcótico e é onipresente na parte muçulmana do chife da África e no Iêmen. Seus produtores devem estar muito satisfeitos com a nova medida; o outro lado é que as importações vão ficar mais caras, e desconfio que para muitos produtos não há substitutos produzidos localmente -- a indústria da Etiópia é praticamente inexistente, resultado de séculos de isolamento, seguidos de um regime comunista e uma pseudo-democracia também voltada para o controle estatal da economia. Eu estive na Etiópia em fevereiro (sim, há quem passe férias na Etiópia - recomendo), e um dos meus muitos choques foi passear nos supermercados de Addis Abeba e constatar que quase todos os produtos industrializados eram importados: havia biscoitos da Bauducco (!!!), farinha de trigo da Arábia Saudita, café solúvel egípcio, e por aí vai. Evidentemente a maior parte da população nem sonha em ter acesso a esse tipo de bem, mas o que vale para os supérfluos deve valer também para insumos agrícolas e medicamentos, por exemplo.

O câmbio desvalorizado pode aumentar a atração de capital chinês, que tem sido responsável por boa parte das obras de infraestrutura nos últimos anos, e acelerar o desenvolvimento do país. Pode também ter sido apenas um arranjo em favor de alguns produtores agrícolas, em detrimento do resto da população. Espero que o futuro confirme a primeira opção.

P.S. As notas de birr são das mais bonitas que já vi.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Piada de português

Portugal emite dívida a mais para impressionar investidores

Eu achava que PAGAR dívida impressionasse investidores... Brave new world!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

As novidades da Apple

Ainda não foi dessa vez que as ações da Apple falharam em subir depois de um anúncio de novos produtos (sobem 2,5%, ajuda os índices subirem mais ou menos isso, também). Desta leva estão saindo: um novo sistema operacional para o iPad e o iPhone, uma nova linha de iPods (sem o iPod Classic, preferido dos dementes como eu e o Ed Motta, que gostam de carregar no bolso uma audioteca gigante -- acho que vou comprar alguns para quando o meu quebrar), um novo iTunes (que inclui uma rede social de música parecida com o last.fm) e, ufa, uma nova Apple TV. Mais no Gizmodo.

Krugman está errado?

O Na Prática a Teoria é Outra lançou a discussão, e eu respondi o seguinte lá (vale conferir os outros comentários, estão muito bons):

Vai ter quem diga que ele [Krugman] está errado por definição, só pela Newsweek ter feito uma capa com ele. Mas vamos partir do princípio que o Krugman não é nem lunático, nem burro. O argumento central dele é que os EUA precisam continuar com os estímulos fiscais e monetários para que a economia não arrisque entrar numa depressão brava. Os gastos do governo substituiriam o crescimento "perdido" com a retração no consumo e a desalavancagem, e funcionariam como uma muleta até que a economia consiga andar com as próprias pernas.

Acho que não tem como colocar essa questão em termos de "certo" ou "errado", cada vez mais eu acho que política econômica é um negócio de tentativa e erro, e o que funcionou para um país pode não funcionar para outro (e vice-versa). Eu vejo as seguintes possíveis falhas na visão dele:

- A primeira, e mais óbvia, é o custo dos estímulos, que é convertido em dívida pública que um dia tem que ser paga (ou rolada). Como os EUA emitem dívida em moeda local, é muito baixa a probabilidade de um dia eles repudiarem essa dívida, mas pode ocorrer do custo dela ficar muito alto (o mercado subir os juros por achar que seu volume é exagerado), o esforço fiscal para pagar não ser suficiente e ela ter que ser monetizada. Na cabeça dos monetaristas, isso gera inflação instantaneamente, mas não é o que a evidência histórica (Japão) mostrou, por enquanto.

- Um segundo risco é os EUA repetirem o script do Japão nos últimos 20 anos - não faltou dinheiro na economia, isso não se traduziu em inflação, mas a economia perdeu totalmente o dinamismo e o governo tem que sustentar ad eternum montes de companhias "zumbis". Não vejo esse cenário como horroroso, uma vez que os japoneses têm passado longe de empobrecer ou de piorar radicalmente a qualidade de vida, mas para chegar nele os mercados ainda teriam que passar por uma fase de reconhecimento que pode ser bastante turbulenta.

- Outro problema é a questão dos incentivos: deixar todo o crescimento por conta do Estado vai gerar corrupção, um "agent problem" gigantesco, desincentivo à inovação...

Dito isso tudo, eu acho que, a essa altura (o sistema financeiro já não implodiu, os mesmos erros de 1929 não foram cometidos), o suporte do governo é uma tentativa desesperada de comprar tempo e uma sacanagem imensa com as próximas gerações. A questão fundamental é que, nos últimos anos, boa parte do crescimento, da valorização dos ativos, do lucro das empresas, do aumento de prosperidade de parte da população, etc, foram ilusórios, baseados, grosso modo, em tomadas de crédito que nunca serão pagas. Creio que enquanto isso não for reconhecido e os devidos ajustes forem feitos, a economia não volta a funcionar nos moldes capitalistas que conhecemos. O problema é que isso parece não ser de interesse da geração que tem poder (político e econômico), que está envelhecendo e quer saber de garantir um futuro razoavelmente tranquilo; enquanto a próxima geração não tiver "constituency" para mudar as coisas ou o sistema não travar de vez, a solução para qualquer problema vai ser imprimir dinheiro.

Sport Club Corinthians Paulista, 100

Embora cada vez eu tenha mais vergonha de acompanhar futebol, isso AINDA não consegue apagar 100 anos de história. Parabéns a todos os sofredores mundo afora.