terça-feira, 10 de novembro de 2009

Os eleitos do BNDES

Esse é o título da matéria de capa da Isto É Dinheiro desta semana, bastante recomendável (principalmente sabendo que quem financia os "eleitos" é você, contribuinte) e acessível. Entre outras informações relevantes, mostra que o BNDES tornou-se o maior banco de fomento do mundo, um mamute que já emprestou US$ 73 bilhões nos últimos doze meses, com critérios no mínimo discutíveis. A revista traz também uma entrevista com o presidente da instituição, Luciano Coutinho, que pretende estender os tentáculos do banco para o possível fundo soberano nacional.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Schadenfreude

E não é que há alguém compilando sistematicamente as previsões de mercado de Nouriel Roubini? O resultado, desapontador, está no gráfico ao lado. O guru de hoje é o motivo de piada de amanhã, e esse negócio de fazer previsões é, de fato, muito difícil e ingrato.

Frase(s) do dia - Loucura

"Quem poderia imaginar que o mundo entraria em crise?"

"Como, de uma hora para outra, eu posso ter virado um louco, um irresponsável?"


Adriano Ferreira, ex-diretor financeiro da Sadia, na crônica que a piauí faz, um ano depois, sobre como uma combinação de incompetência, ganância, negligência e, sim, irresponsabilidade, afundou a empresa. A reportagem traz os bastidores e detalhes da história que contei, na época, aqui.

A covardia do G-20

O grupo dos sábios ministros das finanças das 20 nações mais importantes do mundo reuniu-se neste final de semana na Escócia, provavelmente para chegar à conclusão de quão sagazes e providenciais eles foram ao tirar o mundo da beira do abismo em que se encontrava entre o final do ano passado e início deste. "Abismo que cavaste com teus pés", diria o mestre Angenor de Oliveira: as ações (ou falta delas) desses mesmos políticos levaram, em grande medida, àquela situação. Fora o eventual autoelogio, mais nada saiu da tal reunião: o mundo já saiu da recessão, dizem, mas, mesmo assim, ainda não é hora de começar a retirada dos maiores pacotes de estímulo monetário e fiscal que se tem notícia -- algo como dar alta a um doente e mantê-lo sedado, só por via das dúvidas. Assim, o mundo continua em uma situação de prosperidade artificial, comprada com os recursos das próximas gerações, que ainda não têm poder político ou econômico para contestar.

Outra inação do grupo foi se recusar a fazer qualquer menção à taxas de câmbio, sobretudo da moeda chinesa contra o dólar. Mais um ajuste que ficará para um dia qualquer no futuro, já que, como a China é o grande salvador da humanidade, consumidor, investidor e poupador de todas as instâncias, sua política econômica não pode ser contestada -- e se eles se irritam e resolvem parar de comprar nossa dívida, nosso minério, nosso petróleo, de nos fornecer iPods e tênis de corrida a custos baixos?

Os primeiros resultados já estão sendo vistos nos mercados: as bolsas devem voltar para as máximas do ano, com a promessa da perpetuação da pedra filosofal criada com dinheiro grátis - volta do crescimento - ausência de risco deflacionário. No mercado de câmbio, todas as moedas relevantes do mundo se valorizam contra o dólar: como o câmbio chinês segue fixo e desvalorizado, algum ajuste de fluxo de conta corrente global é feito dessa forma distorcida, que, no limite, levaria para um mundo de apenas um produtor. Felizmente esse "limite" provavelmente não chegará: se a história ensinou algo é que todo regime de câmbio fixo um dia ruiu. Quanto mais tarde, maiores as distorções acumuladas que vão se converter em turbulência no momento do ajuste. Mas, novamente, parecemos estar em um momento em que há pouca preocupação com o futuro -- ainda o legado de uma era de excessos, que políticos teimam em tentar legitimar e provar que não há nada de errado com a idéia de consumir além do que se pode pagar. Covardia e uma profunda falta de respeito com as próximas gerações, estes ainda são os nomes do jogo.

domingo, 8 de novembro de 2009

Exploda, Uniban

Que continue dando títulos de bacharel para os homens das cavernas. E a sociedade brasileira mostra, mais uma vez, sua verdadeira cara: conservadora e, sobretudo, extremamente hipócrita. Para quem é minimamente liberal, resta boicotar tal """universidade""" e os profissionais formados por ela. Afinal, é tudo uma questão de escolhas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Som da Sexta - Sarah Vaughan

Dum-dum-dum-dum-dum-dum-dum-dum... Quando uma linha instrumental famosíssima e grudenta encontra uma das vozes com mais swing na história do jazz, dá nisso. Para terminar uma das semanas mais chatas dos últimos tempos, Sarah Vaughan e uma versão irresistível do Peter Gunn Theme, de Henry Mancini.

Gráfico do Dia - Desemprego nos EUA



E com o dado de hoje, o desemprego nos EUA passa dos 10% pela primeira vez desde 1983. Com a diferença que, naquela época, os Fed Funds rodavam a 9% -- ou seja, havia muito espaço para estímulo monetário. Já hoje...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Gráfico do Dia - Economistas

É o que resta de um dia bem pouco inspirado (clique para aumentar).

Via IKN.

Lula no Financial Times

Quem não achar bizarro demais uma entrevista em Português dublada em Inglês (clique na imagem para assistir), poderá ver que nosso presidente molusco está passando da fase "nunca antes na história deste país" para "nunca antes na história do mundo" (esta semana ele já havia soltado que iria propor a Obama a criação de um SUS americano). Assustador...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Os caçadores de bolhas

Pois agora a moda dos políticos, principalmente daqueles não eleitos, é caçar bolhas no mercado financeiro. Seu Meirelles falou que o tema vai ser discutido na próxima reunião do G20, e o Financial Times nota que tanto membros do Banco Mundial quanto do FMI já estão preocupados com eventuais bolhas por conta dos juros baixos mundo afora. Se por um lado é evidente que, na maioria do mundo, os juros estão abaixo de uma taxa de equilíbrio (se é que isso existe) e isso incentiva tomada de riscos (nem sempre de forma responsável), por outro é preocupante ver "autoridades" que sempre estão atrasadas nas suas ações e diagnósticos unirem esforços para tentar "suavizar" alguns movimentos do mercado financeiro.

Bolhas são um dos temas mais estudados e discutidos na literatura de finanças, mas nem por isso surgiu, até hoje, um método eficaz e objetivo para identificá-las e prever seu fim. Se houvesse, bolhas não existiriam ou seriam de outra natureza, já que o mercado financeiro, de posse da informação, começaria a especular na direção do estouro, antecipando-o até o ponto em que o pico da bolha ficaria misturado com os movimentos "normais" do mercado.

Todos esses anos (centenas! As primeiras manias especulativas registradas por Charles Kindleberger no clássico Manias, pânicos e crashes são do século XVII) de observação e estudo não foram em vão, e serviram para destacar dois fatos, talvez óbvios, mas não por isso irrelevantes: bolhas são da natureza dos mercados e da psicologia de massas; e bolhas sempre estouram. Se, portanto, considerarmos bolhas como partes indissociáveis dos mercados, como furacões e maremotos são da natureza, a solução mais inteligente seria, ao invés de tentar combatê-las, blindar o sistema contra seus efeitos. Isso passaria por acabar com instituições "grandes demais para quebrarem", regular o nível de alavancagem de empresas e fundos e deixar que o investidor e sócio, não o contribuinte, sofra com os custos de quem, por azar ou incompetência, for pego no estouro de uma bolha.
Curiosamente, nada ou muito pouco está sendo feito nesse sentido. Ao contrário, a tentativa de "caçar bolhas" deve criar mais distorções nos mercados "escolhidos": mais poder estará sendo dado a burocratas com nenhuma legitimidade e pouco conhecmiento prático comprovado; e sempre teremos o problema de insider, de pessoas que sabem antecipadamente das medidas vendendo a informação ou atuando diretamente nos mercados. É mais uma tentativa de mudança sem passar pelas bases. Na melhor das hipóteses, será ineficiente e gerará mais um problema para o futuro, que tem sido tão negligenciado em favor de uma falsa prosperidade de curto prazo.

Que pena, Unibanco...

Não era uma fusão?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Copa do Mundo, varejo e produção industrial

O Financial Times cita um estudo da Merrill Lynch que compara algumas variáveis econômicas antes, durante e depois das últimas Copas do Mundo de futebol. A conclusão é que o evento é benéfico para turismo (dãããã...), varejo e consumo, mas atrapalha a produção industrial -- supostamente pelo efeito dos trabalhadores pararem para assistir aos jogos. Imaginem como vai ser no "país do futebol"...

Parabéns, contribuinte brasileiro

Você está prestes a se tornar sócio compulsório de cooperativas de reciclagem. Seu Lula anunciou ontem que o BNDES vai liberar uma linha de crédito de R$ 225 milhões para fomentar essa atividade.

Não tenho absolutamente nada contra reciclagem e cooperativas. Nessa história, dois problemas me afligem: primeiro, que um banco, mesmo estatal, deveria levar em conta o retorno das atividades que está financiando, na esperança de que essas consigam gerar o caixa para pagar os empréstimos, mais os juros (ainda que subsidiados). Segundo, que tal banco deveria incentivar desenvolvimento. Os ecologistas que me desculpem, mas não vejo como reciclagem pode ser um motor de desenvolvimento no sentido de gerar inovação, empregos, etc (e me vem à mente a frase de um amigo, que dizia que se Bill Gates tivesse nascido no Rio de Janeiro e montado uma empresa numa garagem, estaria vendendo CDs piratas no Largo do Machado). Se o governo quer transferir dinheiro para esses setores, que faça via um programa social, sem o engano de que está alimentando algum benefício de longo prazo para a sociedade. Fazendo isso via BNDES, a impressão que se tem é que qualquer atividade é elegível a um financiamento com juros camaradas -- basta contar uma história bonita e ter um bom lobby no governo. A moda agora é pintar de verde os interesses dos vários setores com bom trânsito no governo, e assim cobrir de boas intenções financiamentos, isenções, incentivos, etc. Já aconteceu com a tal "linha branca", está acontecendo com as usinas de reciclagem, e podemos aguardar mais e mais.