2012 foi um ano ótimo para dizer que o cinema está em decadência, que Hollywood prefere o comodismo de investir em sequências e filmes de super-heróis (idealmente juntando as duas coisas), que a Europa está quebrada e isso se reflete na produção cinematográfica, etc, etc... Como não acredito muito nisso tudo (e ainda não li o livro novo do David Denby para ter uma opinião mais embasada), só torço para que ao longo do tempo a produção de grandes filmes volte para uma média, e que isso seja indicação de que em 2013 veremos muitos bons filmes por aqui.
O fato é que nada que vi este ano (critério: foi lançado nos cinemas no Brasil) me empolgou tanto quanto os melhores filmes do ano passado (Cisne Negro, Incêndios, Homens e Deuses, Em um Mundo Melhor, A Minha Versão do Amor...). Tenho grandes expectativas, porém, para vários dos filmes que apareceram nos EUA e Europa no segundo semestre e devem ser lançados aqui de forma estabanada, poucas semanas antes do Oscar: os novos de Paul Thomas Anderson, Tarantino, Kathryn Bigelow e Michael Haneke; o Lincoln de Spielberg, etc. Enfim, aí vão os filmes que mais gostei neste ano (em ordem alfabética):
- Argo, Ben Affleck
Abusa dos recursos dramáticos para contar uma história que não precisaria deles; ainda assim, vale ser assistido. Daí a merecer o Oscar (como alguns disseram) há um grande abismo.
- A Chave de Sarah (Elle s'appelait Sarah), Gilles Paquet-Brenner
Vale pela atuação de Kristin Scott Thomas e pela boa história dentro da ocupação nazista na França. Não li o livro, que dizem ser bom, também.
- Deus da Carnificina (Carnage), Roman Polanski
É mais uma peça de teatro gravada do que um filme, mas acho que não teremos muitas oportunidades de ver Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reily juntos num palco, dirigidos pelo Polanski.
- Drive, Nicolas Winding Refn
Ryan Gosling mostrando que é um dos melhores atores da sua geração. Legal também ver Refn (dinamarquês, da ótima série Pusher) entrando de vez no mercado americano.
- Elefante Branco (Elefante Blanco), Pablo Trapero
O melhor argentino que apareceu por aqui. Trapero segue filmando os submundos de Buenos Aires, aqui lembrando um pouco Cidade de Deus (acho que ficou impossível para qualquer cineasta filmar violência em favelas no mundo sem o público lembrar dessa referência).
- Entre o Amor e a Paixão (Take This Waltz), Sarah Polley
Não pode ter erro um filme cujo título toma emprestada uma música do Leonard Cohen, né?
- Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, Beto Brant
Melhor filme brasileiro que vi no ano (OK, a amostra é minúscula). Camila Pitanga se entrega no papel, e as paisagens do Pará ficam lindonas na tela grande (Pará está no topo da lista de lugares que quero conhecer). Ah, o livro do Marçal Aquino também é ótimo.
- O Garoto da Bicicleta (Le gamin au veló), Jean-Pierre e Luc Dardenne
O inferno das boas intenções, para pensar e repensar.
- O Gato do Rabino (Le chat du rabbin), Antoine Delesvaux e Joann Sfar
Aventura delirante de um gato que quer se converter ao judaísmo, numa Argélia que ainda tolerava diversas religiões. Sempre bom constatar que existe vida inteligente nos desenhos animados fora da Pixar.
- Na Estrada (On the Road), Walter Salles
Não tenho nenhuma devoção pelo livro do Kerouac, talvez por isso tenha gostado do filme. A trilha sonora, que mistura bebop com composições atuais do argentino Gustavo Santaolalla, é espetacular.
- O Porto (Le Havre), Aki Kaurismäki
Trata com rara leveza o problema da imigração ilegal da África para a Europa e é lindamente filmado.
- Rota Irlandesa (Route Irish), Ken Loach
O problema da terceirização da segurança no Iraque aos olhos de um simpatizante de longa data dos trabalhadores mais pobres.
- A Separação (Jodaeiye Nader az Simin), Asghar Farhadi
Talvez "o" grande filme do ano, derruba um monte de clichês sobre o Irã e alimenta outros. Desde que vi no cinema estou para rever, acho que é o tipo de filme que vai melhorar a cada vez que é revisitado (por mais nada, é sempre bom ver a Leila Hatami na tela).
- Shame, Steve McQueen
Achei que é mais sobre a solidão numa grande cidade do que sobre o vício em sexo, mas tem bastante deste, também.
- Tudo Pelo Poder (The Ides of March), George Clooney
Clooney repete o bom cinema com tema político de Boa Noite e Boa Sorte. Elenco excelente.
- Weekend, Andrew Haigh
O amor homossexual livre de constrangimento ou clichês, como deveria ser tratado sempre.
Quase apareceram na lista acima: A Toda Prova, Além da Liberdade, Apenas Uma Noite, Os Descendentes, O Exótico Hotel Marigold, Histórias Cruzadas, O Homem Que Mudou o Jogo, Intocáveis, Jovens Adultos, Magic Mike, Precisamos Falar Sobre o Kevin, Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo, Selvagens.
Algumas coisas recentes muito boas que passaram batido pelo cinema aqui (alguns apareceram na Mostra de São Paulo): Chico & Rita, Jiro Dreams of Sushi, Liberal Arts, Margaret (filmaço), Martha Marcy May Marlene, Tiny Furniture.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
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13 comentários:
Eu assisti ao The Ides of March no cinema em SP com legendas. A traducao nas legendas eh horrivel e degradante, extirpa grande parte da inteligencia do filme. Em um dos seus melhores dialogos, o elefante na sala de cristais eh apenas subentendido, mas a incrivel traducao brasileira, que parece supor que a audiencia eh idiota, modificou o dialogo para que fosse explicito.
Não sabia que tinham estragado na tradução, que droga... imagino as barbaridades que não passam nas línguas que não entendemos.
Holy Motors?
Não vi ainda, já ouvi falar muito bem e muito mal. Gostou?
Vale muita a pena ver. É muito bom pra passar a noite sem dormir só pensando no filme.
Eu fico com Holy Motors e O Som ao Redor.
Drive é um dos melhores filmes que vi recentemente. Outro foi o Another Earth. Já viu?
"O Som ao Redor" não estreou aqui, ainda que tenha entrado na lista de melhores do ano do cara do NY Times. Deprimente...
Não vi "Another Earth", do que trata?
OFF: vc viu isso aqui ?
http://blogs.ft.com/beyond-brics/2012/12/24/roussolph-the-red-nosed-reindeer/#axzz2GFhromKK
q maldade...
(desculpe recorrer ao OFF, eu sou ignorante em twitter.)
hahahaha, tinha visto, sim... todos os jornais aqui comentando hoje. O mais legal (para os jornalistas gringos) de tirar sarro do Brasil é o quanto a gente se leva a sério, toda brincadeira desse tipo repercute no governo, é comentada, vira mágoa, etc...
Devorei o post e segui os links. Muito legal alguém fazer um roteiro tão instigante da filmografia contemporânea.
Só uma observação: filmes que foram lançados em São Paulo, não necessariamente em outros lugares do Brasil, onde a coisa é bem mais complicada.
Seleção muito boa. Eu acrescentaria a ela, talvez, Holy Motors (um pouco pretensioso, mas interessante nonetheless), Compliance (não passou por aqui e provavelmente não passará - http://www.rottentomatoes.com/m/compliance_2012/) e The Cabin in the Woods (uma autocrítica deliciosa que Hollywood se permite de vez em quando).
Parabéns pelo blog, Drunkeynesian. Foi uma das minhas melhores descobertas neste ano.
Abs
André, obrigado, e tens razão, tudo isso passou em SP.
Anon, obrigado. Ainda estou pra ver Holy Motors, e anotei o Cabin in the Woods.
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