quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Facebook indo a público

Poucas coisas irritam mais um investidor / especulador do que ver uma bolha inflando sem participar dos lucros. Claro que, no fim, nenhuma era é tão diferente assim, todas as bolhas estouram e aqueles têm sua compensação pelo menos na forma de schadenfreude. Muitas vezes, porém, o processo é mais longo do que se antecipa e faz muita gente rica enquanto se desenrola - e ganhar com o estouro é, provavelmente, tão difícil quanto com a valorização (de um tal George Soros: "a primeira coisa que faço quando vejo uma bolha é comprar"). O mesmo Soros, junto com pelo menos outro investidor lendário (Julian Robertson), tentou antecipar o furo da bolha do Nasdaq, em 2000, por muito tempo, desistindo meses antes do início da queda. E o livro The Big Short, do Michael Lewis, conta várias histórias de brilhantes especuladores que lucraram com o fim da bolha imobiliária nos EUA, não sem antes quase irem a loucura questionando suas convicções ante o comportamento exuberante do mercado.

Dado isso, é compreensível o tom raivoso de muitos corneteiros de mercados (este escriba incluído) ao saber que o Facebook está nos últimos passos para uma oferta pública inicial de ações, que deve levantar algo como US$ 10 bilhões e determinar um valor de mercado entre US$ 75 bilhões e US$ 100 bilhões para a companhia (mais aqui). Para uma ideia das grandezas: uma oferta de US$ 10 bilhões seria cinco vezes maior que o IPO do Google, em 2004, e o terceiro maior da história do mercado de capitais dos EUA. Um investidor com US$ 100 bilhões (por acaso, mais ou menos o que a Apple tem em caixa - chorem, pobres!) poderia escolher entre comprar, grosso modo, 100% do Facebook ou escolher uma entre empresas do porte de: Unilever, Cisco, Verizon, Schlumberger, Pepsico, Sanofi (o Google e seus anos de sucesso valem US$ 190 bilhões no mercado, mais ou menos o mesmo que a Petrobras). Ainda que comparando fluxos e estoques, US$ 100 bilhões equivalem a um ano de PIB do Marrocos.

A questão de vários milhões de patacas é se de fato estamos assistindo aos desenvolvimentos finais de uma estranha nova bolha de tecnologia (ver aqui) ou se, com o tempo, o Facebook vai conseguir gerar os fluxos de caixa / crescimento que justifiquem seu preço em bolsa. Para fazer uma conta de padaria: com um valor de mercado de US$ 100 bilhões e um múltiplo preço / lucro igual ao do Google (20x), o Facebook teria que ser capaz de gerar lucros de US$ 5 bilhões por ano - em 2011, gerou entre zero e US$ 1 bilhão, dependendo da fonte. Para quem compra, mais importante do que acreditar nesse crescimento é se convencer de que o modelo de negócios do Facebook é estável, e que a empresa é de fato o modelo definitivo de rede social - sendo que tantas outras que pareciam promissoras caíram no esquecimento antes de fazer qualquer dinheiro para seus compradores finais. Há opiniões de "especialistas" para todos os lados; eu acho as premissas muito, muito frágeis - mas pelo menos desde que a empresa era avaliada em "apenas" US$ 50 bilhões. Façamos nossas apostas e assistamos a uma das grandes histórias corporativas dos nossos tempos.

P.S. Sim, acho que o Zuckerberg é mais um iludido pelo acaso do que um visionário.

P.P.S. O Wolfram|Alpha está muito bacana pra levantar informações de empresas listadas. Treme, Bloomberg.

2 comentários:

Marcelo Novaes de Oliveira disse...

Ah, agora já não me sinto mais tão isolado por usar o Wolfram... só é uma pena que ele não existia para resolver as minhas listas de cálculo.

Tirando os flippers, vamos ver quem sobra com FB na mão...

Anônimo disse...

O Eike foi encontrar o Zuckerber ! Flipagem internacional e patrocinada pelo BNDES.

MG