Mapa roubado do Inca Kola News. O amigo Mineiro indicou, na mesma linha, este site.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Leituras da Semana
- Entrevista de André Lara Resende no Valor. Entrevista de Gustavo Franco no Estado.
- Teoria dos jogos aplicada à guerra cambial. O grande Ariel Rubinstein: "after nearly 40 years of engaging in this field [game theory], I have yet to encounter even a single application of game theory in my daily life."
- Perfil de Janet Yellen no NY Times.
- George Akerlof sobre o futuro da macroeconomia aplicada.
- Como 37 bancos se transformaram nos quatro gigantes americanos.
- A carta de despedida de Jim O'Neill.
- Brian Eno inicia uma troca de cartas com Nassim Taleb.
- Daron Acemoglu Facts e Stuff Keynes Said.
- A melhor carreira para recém-formados nos EUA é... engenharia!
- Stephen Wolfram brincando com dados de usuários do Facebook.
- O projeto mais alucinado da ditadura brasileira?
- Como mudou o mapa da Europa desde os tempos do Império Romano.
- Para quem gosta de listas: 65 pensadores globais e as 500 pessoas mais poderosas do mundo.
- 17 segredos de comissários de voo.
- Teoria dos jogos aplicada à guerra cambial. O grande Ariel Rubinstein: "after nearly 40 years of engaging in this field [game theory], I have yet to encounter even a single application of game theory in my daily life."
- Perfil de Janet Yellen no NY Times.
- George Akerlof sobre o futuro da macroeconomia aplicada.
- Como 37 bancos se transformaram nos quatro gigantes americanos.
- A carta de despedida de Jim O'Neill.
- Brian Eno inicia uma troca de cartas com Nassim Taleb.
- Daron Acemoglu Facts e Stuff Keynes Said.
- A melhor carreira para recém-formados nos EUA é... engenharia!
- Stephen Wolfram brincando com dados de usuários do Facebook.
- O projeto mais alucinado da ditadura brasileira?
- Como mudou o mapa da Europa desde os tempos do Império Romano.
- Para quem gosta de listas: 65 pensadores globais e as 500 pessoas mais poderosas do mundo.
- 17 segredos de comissários de voo.
Marcadores:
academia,
bancos,
bancos centrais,
Brasil,
dados,
EUA,
Fed,
macroeconomia,
mapas,
microeconomia,
Nassim Taleb,
off topic,
teoria econômica
terça-feira, 30 de abril de 2013
Uma nova série de preços de imóveis no Brasil
O Banco Central passou a publicar uma série de preços de imóveis. Do site do BC:
Essa é a cara da série:
Seria legal se o BC abrisse a composição dessas séries (provavelmente ainda vão fazer isso), mas é um ótimo começo para um mercado ainda muito carente de dados confiáveis.
O Banco Central publica a partir de hoje, no Sistema Gerenciador de Séries Temporais, a série nº 21.340, que contém o Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R). Divulgado na última edição do Relatório de Estabilidade Financeira (REF), o IVG-R foi analisado em termos de variação anual real, isto é, a variação entre um mês e o mesmo mês do ano anterior, deflacionada pelo IPCA. Para a série temporal, a divulgação será realizada em número índice (iniciando em março de 2001 com valor igual a 100 e acumulando as variações nominais a partir daquela data), portanto, sem ajuste a qualquer índice de preços, o que permitirá maior liberdade de análise. O IVG-R será atualizado mensalmente, até 90 dias após o fim do mês de referência. O último valor disponível na primeira atualização é janeiro de 2013. Maiores detalhes estão disponíveis nos metadados da série.
Essa é a cara da série:
Seria legal se o BC abrisse a composição dessas séries (provavelmente ainda vão fazer isso), mas é um ótimo começo para um mercado ainda muito carente de dados confiáveis.
Marcadores:
bancos centrais,
dados,
mercado imobiliário
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Paulo Vanzolini, 1923-2013
Morreu ontem Paulo Vanzolini, poucos dias depois de completar 90 anos. Era um doutor por Harvard que fazia samba. Ou melhor, não era qualquer doutor por Harvard, nem qualquer sambista. Como pesquisador, foi um grande herpetologista, responsável por coletar mais de 200 mil exemplares para a coleção de répteis do Museu de Zoologia da USP e homenageado com mais de 10 novas espécies que têm o descritor vanzolinii no nome científico. Como compositor, não tenho nenhuma dúvida em colocá-lo entre os maiores da história da música brasileira, não devendo nada a outro gigantes mais reconhecidos.
Enfiava-se no interior do Brasil e anunciava que estava "comprando bicho", para levar ao museu. Numa dessas viagens, trouxe também Cuitelinho, de autoria desconhecida e das mais belas canções da nossa língua.
Parou de fazer samba porque, segundo ele, "às vezes ficava uma semana pra resolver uma rima". Com a zoologia, porém, continuou mesmo depois de se aposentar da USP. Quem conviveu com ele no museu dizia que era casca grossa no primeiro contato, mas de uma generosidade imensa depois de quebrada essa barreira.
Cantava mal pra burro (era o primeiro a reconhecer que não sabia a diferença entre tom maior e tom menor), mas tinha grande intuição da sonoridade das palavras e da métrica que um bom samba requer, e sempre soube se cercar de bons músicos.
Um pecado que tenha ficado conhecido só por Ronda e Volta por Cima. Menos pecado que a gravadora Biscoito Fino tenha, em 2002, reunido grande parte de suas composições, interpretadas por cantores famosos (Paulinho da Viola, Chico Buarque, Martinho da Vila...) e colaboradores habituais (sua mulher Ana Bernardo, Carlinhos Vergueiro, Márcia), em Acerto de Contas de Paulo Vanzolini, caixa impecável de 4 CDs e melhor homenagem que ele poderia ter recebido em vida. Aliás, pessoal que vai editar essas homenagens póstumas da TV: ele detestava a versão de Maria Bethânia para Ronda. Gostava mesmo é de Inezita Barroso ("aquele vozeirão, aquele senso de samba") e Cristina Buarque ("afinada que só ela").
No ano passado fui ver uma homenagem a Vanzolini no SESC Pompéia, com presença do próprio. Entrou no palco com dificuldade para andar, sentou-se numa mesa e tomou uma cerveja atrás da outra, ouvindo suas composições, contando "causos" entre elas e brindando com o público. No final, ovacionado, levantou-se chorando, como se depois de tanto tempo ainda não tivesse se acostumado com o reconhecimento da grandeza de sua obra. Um colosso.
Aqui uma ótima entrevista de Drauzio Varella com Vanzolini, mais sobre ciência do que samba. Aqui a íntegra do documentário Paulo Vanzolini: um homem de moral, de Ricardo Dias. Aqui dá pra ouvir todas as faixas do Acerto de Contas.
Enfiava-se no interior do Brasil e anunciava que estava "comprando bicho", para levar ao museu. Numa dessas viagens, trouxe também Cuitelinho, de autoria desconhecida e das mais belas canções da nossa língua.
Parou de fazer samba porque, segundo ele, "às vezes ficava uma semana pra resolver uma rima". Com a zoologia, porém, continuou mesmo depois de se aposentar da USP. Quem conviveu com ele no museu dizia que era casca grossa no primeiro contato, mas de uma generosidade imensa depois de quebrada essa barreira.
Cantava mal pra burro (era o primeiro a reconhecer que não sabia a diferença entre tom maior e tom menor), mas tinha grande intuição da sonoridade das palavras e da métrica que um bom samba requer, e sempre soube se cercar de bons músicos.
Um pecado que tenha ficado conhecido só por Ronda e Volta por Cima. Menos pecado que a gravadora Biscoito Fino tenha, em 2002, reunido grande parte de suas composições, interpretadas por cantores famosos (Paulinho da Viola, Chico Buarque, Martinho da Vila...) e colaboradores habituais (sua mulher Ana Bernardo, Carlinhos Vergueiro, Márcia), em Acerto de Contas de Paulo Vanzolini, caixa impecável de 4 CDs e melhor homenagem que ele poderia ter recebido em vida. Aliás, pessoal que vai editar essas homenagens póstumas da TV: ele detestava a versão de Maria Bethânia para Ronda. Gostava mesmo é de Inezita Barroso ("aquele vozeirão, aquele senso de samba") e Cristina Buarque ("afinada que só ela").
No ano passado fui ver uma homenagem a Vanzolini no SESC Pompéia, com presença do próprio. Entrou no palco com dificuldade para andar, sentou-se numa mesa e tomou uma cerveja atrás da outra, ouvindo suas composições, contando "causos" entre elas e brindando com o público. No final, ovacionado, levantou-se chorando, como se depois de tanto tempo ainda não tivesse se acostumado com o reconhecimento da grandeza de sua obra. Um colosso.
Aqui uma ótima entrevista de Drauzio Varella com Vanzolini, mais sobre ciência do que samba. Aqui a íntegra do documentário Paulo Vanzolini: um homem de moral, de Ricardo Dias. Aqui dá pra ouvir todas as faixas do Acerto de Contas.
"Sou um homem em paz. Feliz? Não sei qual foi o filósofo, se Sólon ou Thales, que disse só ser possível julgar se uma pessoa foi feliz ou não, depois de sua morte, porque é imprescindível ter uma morte feliz também."
sexta-feira, 26 de abril de 2013
I Like Eike
Na verdade, não, nem perto disso. Segue valendo o que escrevi no ano passado. Ocorre que talvez tenha chegado o ponto em que toda's as notícias ruins conhecidas já estão incorporadas às ações do "Grupo X", e que os preços já caíram tanto que ficaram atrativos para novos investidores, mais realistas e com mais margem de segurança. Alguns sinais contrários são gritantes:
1. Muitos dos analistas que recomendavam compra das ações a preços muito mais altos (tenho uma coleção de relatórios com preço-alvo de OGXP3 a R$20, R$30...) tornaram-se pessimistas, agora "prevendo" cotações muito baixas (a mesma OGXP3 a R$2, R$1,20, R$0,80...). Acho que vão se provar errados tanto na ida quanto na volta. Além disso, não entendo a motivação de um analista para recomendar venda de um papel que caiu 95%, por mais que tenha convicção que a empresa não vale nada. Em preços de liquidação forçada (o que parece ter sido o caso para algumas empresas), a assimetria e a margem de segurança estão para o lado oposto (sem contar o aumento da importância de insiders, pessoas familiarizadas com as possíveis negociações para salvar o grupo). Parece uma obediência cega ao modelo de fluxo de caixa descontado, como se este cobrisse todos os fatores que influenciam o preço de uma ação...
2. O sempre atento Arthur M. apontou para a capa da última edição da Exame. Não é um indicador tão bom quanto a capa da Veja, mas vem em hora oportuna.
Se não ficou claro: não gosto das empresas, da gestão, dos negócios. Só acho que há uma oportunidade altamente especulativa, algo como comprar um bilhete de loteria com algum viés a seu favor. Qualquer investimento nessas empresas deve ser feito considerando que há chance não desprezível dele valer, em alguns meses, zero; acredito, porém, que há uma probabilidade maior de que esses preços dobrem ou tripliquem. Caveat emptor.
P.S. E essa é a capa da Época desta semana:
1. Muitos dos analistas que recomendavam compra das ações a preços muito mais altos (tenho uma coleção de relatórios com preço-alvo de OGXP3 a R$20, R$30...) tornaram-se pessimistas, agora "prevendo" cotações muito baixas (a mesma OGXP3 a R$2, R$1,20, R$0,80...). Acho que vão se provar errados tanto na ida quanto na volta. Além disso, não entendo a motivação de um analista para recomendar venda de um papel que caiu 95%, por mais que tenha convicção que a empresa não vale nada. Em preços de liquidação forçada (o que parece ter sido o caso para algumas empresas), a assimetria e a margem de segurança estão para o lado oposto (sem contar o aumento da importância de insiders, pessoas familiarizadas com as possíveis negociações para salvar o grupo). Parece uma obediência cega ao modelo de fluxo de caixa descontado, como se este cobrisse todos os fatores que influenciam o preço de uma ação...
2. O sempre atento Arthur M. apontou para a capa da última edição da Exame. Não é um indicador tão bom quanto a capa da Veja, mas vem em hora oportuna.
Se não ficou claro: não gosto das empresas, da gestão, dos negócios. Só acho que há uma oportunidade altamente especulativa, algo como comprar um bilhete de loteria com algum viés a seu favor. Qualquer investimento nessas empresas deve ser feito considerando que há chance não desprezível dele valer, em alguns meses, zero; acredito, porém, que há uma probabilidade maior de que esses preços dobrem ou tripliquem. Caveat emptor.
P.S. E essa é a capa da Época desta semana:
Marcadores:
ações,
Brasil,
commodities,
contrário,
Eike Batista,
energia,
mercado financeiro,
risco
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Leituras da Semana
- Bom resumo de toda a polêmica Reinhart / Rogoff.
- Uma (longa) lista de livros sobre finanças quantitativas.
- Boa apresentação sobre crises financeiras e mecanismos de propagação.
- Entrevista com Olivier Blanchard, no Valor.
- Entrevista com Nate Silver.
- Entrevista (de 2010) com James Montier.
- Apresentação de Jim Chanos sobre a China.
- Quanto US$5 compram em comida pelo mundo.
- John Gray sobre Karl Marx.
- Hitler, Trotsky, Tito, Freud, Stalin: vizinhos.
- Philip Roth sobre um velho professor.
- Como o captcha realmente funciona.
- Uma nova função matemática.
- Uma (longa) lista de livros sobre finanças quantitativas.
- Boa apresentação sobre crises financeiras e mecanismos de propagação.
- Entrevista com Olivier Blanchard, no Valor.
- Entrevista com Nate Silver.
- Entrevista (de 2010) com James Montier.
- Apresentação de Jim Chanos sobre a China.
- Quanto US$5 compram em comida pelo mundo.
- John Gray sobre Karl Marx.
- Hitler, Trotsky, Tito, Freud, Stalin: vizinhos.
- Philip Roth sobre um velho professor.
- Como o captcha realmente funciona.
- Uma nova função matemática.
Marcadores:
academia,
China,
crise,
história,
Jim Chanos,
livros,
Marx,
mercado financeiro,
off topic,
preços
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Pensando alto sobre mercados
Esse é daqueles posts que faço pra organizar minha cabeça. Não deve ser de interesse para quem não se interessa por mercados ou futurologia gratuita (devem sobrar dois leitores).
Depois dos problemas com o sistema bancário do Chipre, passei a trabalhar com a possibilidade que poderíamos voltar a ver sombras de uma crise bancária generalizada sobre a Europa. Por um tempo essa tese encontrou correspondência nos mercados: as bolsas do continente, no geral, tiveram desempenho pior do que as dos EUA; e, dentre essas bolsas, sofreram mais as de países com grande peso de bancos no índice e maior percepção de fragilidade (Espanha, França, Itália). Há mais ou menos dez dias esses movimentos se intensificaram, com bolsas americanas também caindo e alguns movimentos violentos em commodities dando indicações de uma mini-crise deflacionária.
Em algum momento da semana passada, isso mudou, com os movimentos descritos acima sendo descontinuados: bolsas europeias passaram a subir, deixando EUA para trás; entre essas bolsas, os maiores ralis foram nos países mais frágeis. O ouro começou a se recuperar de um movimento particularmente agudo e o iene voltou a se depreciar contra a maioria das outras moedas. O dólar seguiu se fortalecendo e os juros de títulos longos em parte do mundo desenvolvido fizeram novas mínimas.
Como fundo a isso, vejo duas possibilidades:
i. Uma recuperação técnica, já que alguns dos índices europeus estavam testando suportes importantes, que, se respeitados, levariam a uma correção da queda e possível formação de um intervalo bem definido para os próximos meses;
ii. Indicação de corte de juros pelo Banco Central Europeu - isso seria compatível com as indicações de atividade mais fraca na Alemanha, o movimento das bolsas, dos títulos e do euro. Também estaria em linha com o tema geral de iniciativa dos bancos centrais, que deixaram de reagir a choques e passaram a tomar iniciativas para tentar promover crescimento.
Se (ii) estiver correto, poderemos ver bolsas fazendo novas máximas para o ano e, eventualmente, o euro encontrando um novo patamar, mais perto de US$1,20. Com o dólar relativamente forte, é mais difícil para commodities encontrarem espaço para subir, o que daria continuidade à fraqueza relativa de moedas de produtores e suas respectivas bolsas.
Ontem outro fato me convenceu de que provavelmente estamos no início de um período de recuperação das bolsas da Europa com relação às dos EUA: a Apple, que foi claramente a líder dos índices americanos no ano passado, anunciou recompra de ações e aumento de dividendos. Creio que a mensagem é que a companhia perdeu, ao menos temporariamente, a capacidade de gerar lucros com base em inovação, e está gastando caixa para agradar acionistas e comprar tempo (e tomando um risco de cross-border grande, já que o caixa da companhia está no exterior e ela tomará empréstimos nos EUA para pagar as recompras e dividendos). Isso pode ser bom para os preços das ações no curto prazo, mas me parece um sinal claro de que a companhia está num momento de inflexão (como se não bastasse o movimento dos preços). Evidentemente tudo pode mudar com o lançamento de novos produtos, mas não é bom contar com isso (o que também ficou evidenciado desde o ano passado, quando muitos analistas citavam a "capacidade infinita de inovar" da empresa como justificativa para preços-alvo ao redor de $1,000). Se a Apple não lidera, os candidatos naturais são os bancos, novamente registrando lucros recorde. Porém, se é esse o tema dominante, há muito mais espaço para recuperação na Europa, a preços mais descontados e possibilidade de aumento de lucros com juros mais baixos e outras possíveis benesses do BCE.
No médio / longo prazo, é importante notar que quase toda a recuperação dos mercados estará fundada em ideias no mínimo duvidosas: que bancos centrais podem influenciar decisivamente os níveis de atividade e preços, que ações de bancos com problemas graves de balanço podem valer alguma coisa e que bancos são os melhores instrumentos para distribuir dinheiro público para toda a economia. Isso faz com que os níveis atuais sejam extremamente frágeis, já que não parece haver melhora significativa em fundamentos (justo o contrário, em alguns casos). Porém, talvez o confronto com a realidade demore a acontecer, e também é possível que a primeira indicação (dados do Japão neste ano) apontem para a direção oposta, de sucesso da iniciativa de expansão monetária. O "sucesso" levaria, claro, a mais incentivos para repetição desse tipo de política, inflando ainda mais preços e deixando cada vez menos opções à disposição dos governos.
Em resumo, creio que tudo vai acabar em lágrimas, mas provavelmente estamos num período de euforia para alguns mercados, até que um novo esqueleto saia do armário (não são poucos enfiados nos balanços de bancos na Europa). Na dúvida, compre dólares.
Depois dos problemas com o sistema bancário do Chipre, passei a trabalhar com a possibilidade que poderíamos voltar a ver sombras de uma crise bancária generalizada sobre a Europa. Por um tempo essa tese encontrou correspondência nos mercados: as bolsas do continente, no geral, tiveram desempenho pior do que as dos EUA; e, dentre essas bolsas, sofreram mais as de países com grande peso de bancos no índice e maior percepção de fragilidade (Espanha, França, Itália). Há mais ou menos dez dias esses movimentos se intensificaram, com bolsas americanas também caindo e alguns movimentos violentos em commodities dando indicações de uma mini-crise deflacionária.
Em algum momento da semana passada, isso mudou, com os movimentos descritos acima sendo descontinuados: bolsas europeias passaram a subir, deixando EUA para trás; entre essas bolsas, os maiores ralis foram nos países mais frágeis. O ouro começou a se recuperar de um movimento particularmente agudo e o iene voltou a se depreciar contra a maioria das outras moedas. O dólar seguiu se fortalecendo e os juros de títulos longos em parte do mundo desenvolvido fizeram novas mínimas.
Como fundo a isso, vejo duas possibilidades:
i. Uma recuperação técnica, já que alguns dos índices europeus estavam testando suportes importantes, que, se respeitados, levariam a uma correção da queda e possível formação de um intervalo bem definido para os próximos meses;
ii. Indicação de corte de juros pelo Banco Central Europeu - isso seria compatível com as indicações de atividade mais fraca na Alemanha, o movimento das bolsas, dos títulos e do euro. Também estaria em linha com o tema geral de iniciativa dos bancos centrais, que deixaram de reagir a choques e passaram a tomar iniciativas para tentar promover crescimento.
Se (ii) estiver correto, poderemos ver bolsas fazendo novas máximas para o ano e, eventualmente, o euro encontrando um novo patamar, mais perto de US$1,20. Com o dólar relativamente forte, é mais difícil para commodities encontrarem espaço para subir, o que daria continuidade à fraqueza relativa de moedas de produtores e suas respectivas bolsas.
Ontem outro fato me convenceu de que provavelmente estamos no início de um período de recuperação das bolsas da Europa com relação às dos EUA: a Apple, que foi claramente a líder dos índices americanos no ano passado, anunciou recompra de ações e aumento de dividendos. Creio que a mensagem é que a companhia perdeu, ao menos temporariamente, a capacidade de gerar lucros com base em inovação, e está gastando caixa para agradar acionistas e comprar tempo (e tomando um risco de cross-border grande, já que o caixa da companhia está no exterior e ela tomará empréstimos nos EUA para pagar as recompras e dividendos). Isso pode ser bom para os preços das ações no curto prazo, mas me parece um sinal claro de que a companhia está num momento de inflexão (como se não bastasse o movimento dos preços). Evidentemente tudo pode mudar com o lançamento de novos produtos, mas não é bom contar com isso (o que também ficou evidenciado desde o ano passado, quando muitos analistas citavam a "capacidade infinita de inovar" da empresa como justificativa para preços-alvo ao redor de $1,000). Se a Apple não lidera, os candidatos naturais são os bancos, novamente registrando lucros recorde. Porém, se é esse o tema dominante, há muito mais espaço para recuperação na Europa, a preços mais descontados e possibilidade de aumento de lucros com juros mais baixos e outras possíveis benesses do BCE.
No médio / longo prazo, é importante notar que quase toda a recuperação dos mercados estará fundada em ideias no mínimo duvidosas: que bancos centrais podem influenciar decisivamente os níveis de atividade e preços, que ações de bancos com problemas graves de balanço podem valer alguma coisa e que bancos são os melhores instrumentos para distribuir dinheiro público para toda a economia. Isso faz com que os níveis atuais sejam extremamente frágeis, já que não parece haver melhora significativa em fundamentos (justo o contrário, em alguns casos). Porém, talvez o confronto com a realidade demore a acontecer, e também é possível que a primeira indicação (dados do Japão neste ano) apontem para a direção oposta, de sucesso da iniciativa de expansão monetária. O "sucesso" levaria, claro, a mais incentivos para repetição desse tipo de política, inflando ainda mais preços e deixando cada vez menos opções à disposição dos governos.
Em resumo, creio que tudo vai acabar em lágrimas, mas provavelmente estamos num período de euforia para alguns mercados, até que um novo esqueleto saia do armário (não são poucos enfiados nos balanços de bancos na Europa). Na dúvida, compre dólares.
Marcadores:
ações,
Ásia,
câmbio,
crise,
EUA,
Europa,
mercado financeiro,
renda fixa
terça-feira, 23 de abril de 2013
Frases do Dia - Risco
And if you bundled together the middle-aged schoolteachers and strictly private dentists with the unemployed single parents and moonlighting plasterers, then sliced the bundles into high-, medium- and low-risk tranches, you could persuade the credit rating agencies like Fitch, Moody's and Standard & Poor's to award the top tranches a triple A. After all, even though the risk is pretty high that there'll be one or two defaults on those NINJA mortgages (No Income No Job No Assets - what the hell did they expect?) they're not all going to default, are they?
He smiles. It's at times like this that you need a sense of irony.
People are so stupid. They don't understand about risk. They let themselves be dazzled by returns of 7 per cent, 8 per cent, 9 per cent. Whoever is going to pay you that kind of money unless there's a reason? Then the Government started laying down the law, saying it wasn't their job to bail out reckless gamblers. Too right. But they bailed them out anyway, because they realised they had no choice. As Chicken so brilliantly put it, 'If I owe the bank £10,000, I've got problems. But if I owe it £10 million, the bank's got problems. Ha ha.'
Marina Lewycka, em Various Pets Alive and Dead.
Marcadores:
citações,
crise,
derivativos,
livros,
risco
segunda-feira, 22 de abril de 2013
A união monetária ideal para a Alemanha
Michael Cembalest, do J.P. Morgan, estimou (com base em 22 fatores de competitividade) quais seriam os países mais similares a Alemanha, que, em teoria, formariam uma união monetária melhor que a atual (clique para aumentar):
sexta-feira, 19 de abril de 2013
A teoria Scarlett O'Hara de finanças
The Maastricht Treaty stipulated that no member government could run a deficit of more than 3 percent in any one year. The French, in order to abide by the contract, were the first to institute phony bookkeeping. We will not pay our pension obligations this year, we will pay them next year, they decided. This year things will look good, next year things will look worse, but next year is next year and we are not going to worry about that. It is the Scarlett O'Hara theory of finance: "After all ... tomorrow is another day." The move was seen as pretty outrageous. Even the Italians, who had been using phony bookkeeping for decades - for centuries, in fact - were shocked. After pulling themselves up off the floor, they proceeded to emulate the French, going with their own time-honored recipe for cooking the books.
A versão de Jim Rogers para a adequação de alguns países às regras do Tratado de Maastricht. Está na biografia dele, que já citei aqui.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Leituras da Semana
- UBS sobre o comportamento dos mercados de ações em períodos de fortalecimento do dólar.
- Duas versões da Lei de Goodhart.
- 200 anos de energia nos EUA em quatro gráficos.
- Lawrence Summers resenha o livro de Mark Blythe sobre austeridade.
- Olivier Blanchard e as três velocidades de recuperação da economia mundial.
- O que precisa ser lido sobre a polêmica do erro de cálculo em um trabalho de Reinhart & Rogoff.
- Os vários valores do euro.
- Entrevista da Folha com Marcos Lisboa.
- Edward Glaeser sobre a resiliência de cidades após ataques terroristas.
- Novo paper sobre o efeito de especulação nos preços de commodities.
- TIM x Helen Joyce (a correspondente da The Economist no Brasil).
- Fundamental Units, exposição com fotos em altíssima definição das moedas de menor denominação de 166 países.
- Longa entrevista do Guardian com Jeremy Grantham.
- Se os líderes europeus fossem personagens de The Wire...
- Os "metallectuals", estudiosos e grandes respeitadores do metal.
- A apresentação de vendas do Facebook, em 2004.
- Como impostos ajudaram a mudar a cara do jazz nos anos 1940.
- Como mudou a venda de música ao longo do tempo.
- Um projeto para desenhar todos (!!!) os prédios de Nova York.
- Duas versões da Lei de Goodhart.
- 200 anos de energia nos EUA em quatro gráficos.
- Lawrence Summers resenha o livro de Mark Blythe sobre austeridade.
- Olivier Blanchard e as três velocidades de recuperação da economia mundial.
- O que precisa ser lido sobre a polêmica do erro de cálculo em um trabalho de Reinhart & Rogoff.
- Os vários valores do euro.
- Entrevista da Folha com Marcos Lisboa.
- Edward Glaeser sobre a resiliência de cidades após ataques terroristas.
- Novo paper sobre o efeito de especulação nos preços de commodities.
- TIM x Helen Joyce (a correspondente da The Economist no Brasil).
- Fundamental Units, exposição com fotos em altíssima definição das moedas de menor denominação de 166 países.
- Longa entrevista do Guardian com Jeremy Grantham.
- Se os líderes europeus fossem personagens de The Wire...
- Os "metallectuals", estudiosos e grandes respeitadores do metal.
- A apresentação de vendas do Facebook, em 2004.
- Como impostos ajudaram a mudar a cara do jazz nos anos 1940.
- Como mudou a venda de música ao longo do tempo.
- Um projeto para desenhar todos (!!!) os prédios de Nova York.
Marcadores:
academia,
ações,
Brasil,
commodities,
energia,
EUA,
euro,
internet,
Jeremy Grantham,
livros,
mercado financeiro,
off topic
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)