quinta-feira, 31 de março de 2011

Interrompemos nossa programação...

... para uma pequena propaganda (não remunerada, claro). Um grande amigo trabalha no Instituto Azzi, uma organização dedicada a fomentar a filantropia no Brasil. O vídeo abaixo é uma apresentação do instituto, e traz alguns dados muito interessantes sobre a desigualdade no nosso país e quanto a filantropia ainda é incipiente por aqui. Mais informações no http://www.institutoazzi.org.br/ .



Instituto Azzi - Filantropia Inteligente from Instituto Azzi on Vimeo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Territórios ultramarinos, passado e futuro

A turma do Financial Times discute a deliciosa provocação feita no final da semana passada (clique na imagem para abrir o vídeo):

Here is an out-of-the-box way to deal with the situation: annexation by Portuguese-speaking Brazil (a decade of 4 per cent annual GDP growth, much higher recently). Portugal would be a big province, but far from dominant: 5 per cent of the population and 10 per cent of GDP.

Deveríamos pelo menos exigir o monopólio no comércio de cortiça, azeitonas e vinho verde. Sic transit gloria mundi.

O "all-in" do Banco Central do Brasil

Do último Relatório Trimestral de Inflação, objeto de fetiche para economistas do mercado financeiro, divulgado há pouco:

No que se refere a projeções de inflação, de acordo com os procedimentos tradicionalmente adotados, e levando-se em conta o conjunto de informações disponível até 11 de março de 2011 (data de corte), o cenário de referência, que pressupõe manutenção da taxa de câmbio constante no horizonte de previsão em R$1,65/US$, e meta para a taxa Selic em 11,75% a.a., projeta inflação de 5,6% em 2011 e de 4,6% em 2012. Para o primeiro trimestre de 2013, a projeção se encontra em 4,5%.
(...)
O Comitê de Política Monetária (Copom) entende que os custos, em termos de nível de atividade, de se evitar que os efeitos primários do choque de oferta deslocassem a inflação, em 2011, para um patamar acima do valor central de 4,5% para a meta seriam demasiado elevados. Por outro lado, está em curso moderação da expansão da demanda doméstica, em ritmo que, apesar de incerto, tende a se acentuar devido a ações de política já implementadas. Além disso, o Comitê pondera que a flexibilidade inerente ao regime de metas para a inflação permite que os efeitos primários do choque sejam acomodados. Dito de outra forma, nas atuais circunstâncias, a boa prática recomenda buscar uma convergência mais suave da inflação para a trajetória de metas, à semelhança de estratégia adotada no passado pelo Banco Central. 
Nesse contexto, então, o Copom ressalta que a estratégia de política monetária será implementada com vistas a conter os efeitos de segunda ordem do choque de oferta e a garantir a convergência da inflação para a meta em 2012. Para tanto, importa destacar que, considerando as perspectivas de desaceleração da atividade doméstica, bem como a complexidade que ora envolve o ambiente internacional, entre outros fatores, a estratégia de política monetária pode eventualmente ser reavaliada, em termos de sua intensidade, de sua distribuição temporal ou de ambos.


Ou seja: acabou, por ora, a era das "porradas" nos juros para conter a inflação. Os ortodoxos vão dizer que o caldo entornou, e que a inflação vai fugir de controle. Eu acho que há uma chance de estar tudo combinado com os russos e que a moderação na política monetária virá acompanhada de uma política fiscal mais contracionista e, com um pouco de fé, algumas medidas de desindexação da economia. Se isso funcionar, estará aberto o espaço para, ao longo dos próximos anos, uma queda nos juros para um nível mais civilizado. Se der errado, os falcões voltarão, e nesse mundo já estamos acostumados a viver. Façam suas apostas.

Update: o BC está deixando o câmbio se valorizar mais fortemente para ajudar a segurar a inflação? Comportamento do dólar / real nos últimos dias:

terça-feira, 29 de março de 2011

Um índice de responsabilidade fiscal

O Freegman Spogli Institute for International Studies, de Stanford, lançou na semana passada um índice interessante para tentar medir o grau de responsabilidade fiscal dos países. O ranking da medida agregada é o seguinte:

Nada de sinais da 'irresponsabilidade fiscal' do governo aqui. Mais detalhes e a metodologia no documento abaixo.

Stanford's Sovereign Fiscal Responsibility Index

segunda-feira, 28 de março de 2011

Minha crítica para Trabalho Interno

Finalmente venci a preguiça e assisti a Trabalho Interno (Inside Job), o documentário sobre a crise de 2007-2009 que levou o Oscar da categoria este ano. Para quem acompanhou a crise pela imprensa na medida em que ela ia se desenrolando, o filme não tem absolutamente nada de novo. Do ponto de vista de mostrar fatos, o mérito é colocar diversos acontecimentos em uma linha do tempo e oferecer a (ainda estreita) perspectiva que os anos que passaram forneceram. A história é contada de forma a demonizar o mercado financeiro (incluindo a já clássica e manjada menção ao consumo de cocaína e prostitutas - tão anos 80, mas ainda eficiente), os reguladores e alguns políticos - nesse sentido, os minutos finais, mostrando que, em Washington, absolutamente nada essencial mudou, são os mais importantes do longa. Qualquer esperança de reforma com a eleição de Obama foi sepultada quando a equipe econômica foi anunciada e Ben Bernanke reapontado para o Fed. Hoje isso parece muito claro, e o que se vê hoje são fogos de artifício, conservadorismo (no pior sentido possível) e uma montanha de hipocrisia.

O que me impediu de compartilhar a opinião média e achar o filme 'espetacular':

- Algumas figuras cruciais da história não foram entrevistadas, e nessa lista estão: Hank Paulson (tesouro e Goldman Sachs), Tim Geithner (Fed de NY e tesouro), Alan Greenspan (Fed), Warren Buffett (Berkshire Hathaway), Ben Bernanke (Fed), Larry Summers (Harvard e diversos cargos em Washington), Dick Fuld (Lehman Brothers), Vikram Pandit (Citi), Stan O'Neal (Merrill Lynch), Joe Cassano (AIG), Lloyd Blankfein (Goldman Sachs), Meredith Whitney (Oppenheimer), Angelo Mozilo (Countrywide), John Paulson (Paulson & Co)... É claro que em um filme de duas horas não daria para ouvir todo mundo e que muitos deles foram convidados e se recusaram a falar; mas qualquer história da crise que ignore o ponto de vista dessas figuras é pelo menos incompleta (para não dizer parcial). O único ex-oficial do Fed entrevistado é Frederic Mishkin, famoso por atestar a estabilidade do sistema financeiro da Islândia em 2006. Pelo mostrado no filme, é inevitável pensar que ele é um completo imbecil - pode ser que ele apenas tenha dificuldades para falar para uma câmera, pode ser que ele seja mesmo um imbecil; neste caso, certamente não é o único dessa história.

- Ainda que os autores tenham feito um tremendo e louvável esforço para explicar ao público como funcionam alguns produtos financeiros relativamente complexos (CDS, CDO), a conclusão que emerge é que derivativos são perigosos por natureza, invenções do mercado financeiro para lesar seus clientes. A humanidade opera derivativos há algumas centenas de anos (milhares, segundo algumas fontes), e não há registro de que eles tenham sido responsáveis pela extinção dos dodôs, o aquecimento global ou mesmo pelas inúmeras crises financeiras e econômicas ao longo da história. Derivativos são instrumentos que, como a fissão atômica ou um simples automóvel, são mais ou menos úteis ou arriscados de acordo com o conhecimento e índole de quem os usa; errado por princípio é usar dinheiro público para resgatar empresas que os utilizaram de forma irresponsável.

- Os congressistas e os juízes saem relativamente ilesos da história. Cabe perguntar onde eles estavam enquanto as fraudes, supostamente dentro da lei, eram construídas. Ou porque, passado o tempo, tanta conivência com acontecimentos que parecem ter fugido da lei. Por outro lado, os acadêmicos são massacrados: John Y. Campbell (Harvard), Glenn Hubbard (Columbia) e Martin Feldstein (Harvard) passam vergonha, menos por qualquer aspecto relacionado às suas pesquisas e opiniões e mais pela promiscuidade em suas relações com o governo e o mundo corporativo. É curioso também notar a aura de autoridade e relativa competência dos franceses Christine Lagarde e Dominique Strauss-Kahn, como se o sistema financeiro francês fosse um exemplo de solidez e imunidade à fraudes e o FMI tivesse agido decisivamente para evitar a crise.


Tudo isso considerado, o filme me deixou com uma certa sensação de desespero, e deveria fazer o mesmo com quem ainda considera os EUA como o exemplo melhor acabado de dinamismo e triunfo do liberalismo. Há tempos a força política e econômica do status quo não era tão grande, e chegamos a uma situação em que o indicador mais importante da 'saúde' da economia é a pontuação do índice de ações. Não há quem pense em recuperar o dinamismo perdido nos anos em que se assistia, sem maiores preocupações, aos preços dos imóveis e outros ativos subirem, criando uma riqueza tão ilusória que acabou em um estoque de dívida colossal, ruim para quem tentou surfar a bolha e ainda pior para os prudentes e mais pobres, que, como todos os contribuintes, arcaram com os seus custos. Trabalho Interno mostra a faceta mais evidente dessa sociedade; ainda há tantas outras para serem exploradas pelos documentaristas.

Eu pensei em escrever mais alguns parágrafos sobre o crescimento do sistema financeiro nas últimas décadas, mas isso tem pouco a ver com o filme e vai ficar para um próximo texto. Trabalho Interno é um bom filme e tem um papel de divulgação muito importante, mas, no fim das contas, contribui muito pouco para a história da crise e seu entendimento. Serviu para levar um Oscar e fazer o grande público saber um pouco mais do festival de conflitos de interesse que virou a relação entre Wall Street, a academia e o governo americano, mas, creio, vai ter pouco valor para os historiadores do futuro. Se algum cineasta ler isso aqui (o que deve ter a mesma probabilidade do partido novo do Kassab ser um divisor de águas na política brasileira), uma boa pedida seria fazer um filme tomando por base o livro The Big Short, do Michael Lewis, uma história de relativamente poucos personagens e muito ilustrativa do que aconteceu.

São Paulo, 1943

Vídeo muito interessante sobre São Paulo, feito durante a II Guerra pelos EUA.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Som da Sexta - Paul Horn

Em homenagem à partida de Elizabeth Taylor, a leitura da trilha de Cleopatra pelo flautista Paul Horn - famoso por já ter gravado no Taj Mahal, na pirâmide de Gizé e no Palácio de Potala, no Tibete.

Grandezas

- Portugal diz que precisa de uma linha de salvamento de € 70 bilhões -- algo como € 6,500 por cada prudente português. A conta da Irlanda foi de € 18,500 por bebedor de Guinness perdulário.Se, por algum infortúnio do destino, a Espanha precisar de ajuda, dá para imaginar algo entre € 300 bilhões e € 800 bilhões. Isso deve machucar.

- James Grant observou que um texto da France-Presse mencionou apenas no quarto parágrafo o tamanho da injeção de dinheiro feita pelo Banco do Japão após o terremoto: 39 trilhões de ienes, ou US$ 481 bilhões. Palavras dele: "When the materialization of nearly a half-trillion dollars in a fortnight's time stops astounding the reporters, it's past time for a monetary reappraisal."

Os governos acham que podem.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O fluxo do dinheiro, ilustrado

Belíssima ilustração de Jim Flora para a revista Fortune de dezembro de 1964. Não conhecia o trabalho de Flora, que, descobri há pouco, é uma grande inspiração para o Shag. Via The Big Picture.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Leituras do dia da república do Paquistão

- O indicador contrário de capa de revista aponta para um mercado em alta. (The Art of Contrarian Trading)

- Robert Shiller acha que há uma bolha inflando no mercado de terra nos EUA e no Reino Unido. (Project Syndicate)

- Por que a Finlândia é tão rica? (Marginal Revolution)

- Entrevista com Hans Rosling. (Think Quarterly)

- Uma arma que custa mais que a Austrália (?!?): a indústria de defesa nos EUA segue exuberante em meio à austeridade geral. (The Atlantic)

- Robert Skidelsky critica a nova série de TV de Niall Ferguson. (Project Syndicate)

- A cultura da indexação de preços no Brasil tem um passado brilhante e um futuro promissor. (Folha)

- Revolução científica: apertar botão do andar insistentemente não acelera elevador. (Sensacionalista)

- Muita elegância e sutileza nas 10 maiores pérolas do cinema nacional (YouTube)

Mais uma para a série "vergonha de ser economista"

Para quem estiver sem nada melhor para fazer no dia do aniversário do golpe de 1964:


Alguma chance da tal ASSECONE não receber dinheiro público?

terça-feira, 22 de março de 2011

Mais um para a lista de crimes do capitalismo

Da Reuters:

Chávez diz que capitalismo por ter acabado com a vida em Marte

Se fosse o bolivarianismo que tivesse passado por lá, certamente Marte seria o Éden que é a Venezuela de hoje em dia.

Dica do Osmar.

A inflação brasileira, por especialistas

No vídeo, aprendemos que:

- A vontade desenfreada do brasileiro de se endividar e consumir é responsável pelo aumento na inflação (o porquê de países mais alavancados e que consomem mais não terem inflação é desconhecido);
- É possível combater a inflação boicotando produtos cujo preço sobe demais.



Da pesquisa do Datafolha, é interessante notar a fé do brasileiro na indexação: a maioria acha que a inflação vai seguir alta, sem que isso implique em queda no poder de compra.