sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vídeo do dia - Hugh Hendry, Simon Schama



Nosso gestor de fundos favorito e o historiador Simon Schama discutem o que está errado com o Reino Unido.

Gráfico do mês - alavancagem e crescimento

Da carta trimestral da GMO que coloquei aí embaixo. Favor encaminhar para senhores Obama, Summers e Bernanke.

Curso Valor de Jornalismo Econômico

Tirando a mania de achar que as pessoas têm que decidir o que querem da vida até os 20 e poucos anos (o curso só aceita formados em 2010 e estudantes dos dois últimos anos de jornalismo, economia e direito), parece uma boa iniciativa. Mais aqui.

Som da Sexta - The Faces

Um dia, antes de se meter a gravar standards e virar músico de elevador e danças de noivos, Rod Stewart foi cantor de rock, dos bons.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quer doar um livro para a FEA-USP?

Pois não. Escolha uma obra da lista de livros desejados (o que implica que os demais são indesejados -- o que diriam se eu aparecesse querendo doar algo como a primeira edição dos Ensaios sobre o princípio da população, do Malthus? Também fica excluída a chance dos alunos se depararem, na biblioteca, com algo contemporâneo além do que os professores querem que eles leiam). A lista tem vários títulos escritos por professores da casa, o que é só uma coincidência. Feito isso, você deposita o valor da tabela e a biblioteca se compromete a comprar a obra. E você pode ter seu nome publicado em uma lista de benfeitores. Bravo!

Nessas condições, será que a famosa biblioteca do professor Delfim Netto vai ter que ser vendida para um sebo? Ou vai parar em uma universidade menos arrogante e mais generosa, da qual ele não seja professor emérito?

Alan Greenspan's Asset Bubble Band

Mais uma brilhante contribuição para a coleção de paródias de uma das capas de disco mais famosas da história.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pensando alto sobre mercados

(leitores com interesses menos mundanos podem aproveitar o tempo que gastariam lendo este texto aqui)

- Parece claro, pelo menos desde a reação dos mercados aos últimos dados do mercado de trabalho americano, que os preços estão sendo guiados pela expectativa de que o Fed pise ainda mais no acelerador na impressão de dinheiro (QE2, para os íntimos).

- No cenário bom para o Fed, mais dólares no mercado conseguiriam segurar os preços nominais enquanto a economia se recupera (se vai se recuperar ou não é outra história). No cenário dos sonhos, a inflação aceleraria um pouco, afastaria o medo de deflação, sustentaria os preços de ações e destruiria parte da poupança aplicada em títulos do governo. Nesse cenário seria esperada uma alta nas taxas de juros de médio / longo prazo. Em ambos os casos o dólar se enfraqueceria, com o aumento da oferta de moeda e juros curtos ainda muito baixos.

- Esse cenário parecia estar sendo corroborado pelos mercados, com o inconveniente de que tanto os juros quanto as expectativas de inflação seguiam muito baixos. Ou seja, havia uma divergência entre os mercados "de risco" e o de títulos: commodities e ações subindo indicariam uma certa inflação (ou pelo menos sucesso temporário na política do Fed de sustentar preços); juros longos baixos podem ser traduzidos por investidores dispostos a aceitar taxas de retorno baixas por muito tempo, sem preocupação com inflação, em busca de alguma segurança. Os recordes no preço do ouro pareciam também concordar com essa visão.

- Teorias à parte, olhemos alguns dados. A impressão de que o Fed estaria disposto a imprimir mais dinheiro teve início em 22 de agosto, no simpósio econômico de Jackson Hole. Desde então, as expectativas de inflação (medidas pela diferença entre o rendmento dos títulos nominais de dez anos e dos títulos indexados para o mesmo prazo) pulou de 1,55% ao ano para 2,17% e o índice S&P 500 subiu 12%. O dólar (DXY) caiu 6,15%. Até aí, sucesso. A divergência incômoda é que os juros das Treasuries de 10 anos seguiram caindo, pelo menos até o último dia 7, quando fizeram a mínima do ano (a 2,38%).Num mundo "normal", valeria o que eu disse acima: juros baixos são sinal de aversão a risco. O paradigma a ser testado é que o Fed de mr. Bernanke conseguiu criar o maravilhoso mundo onde todos os preços de ativos sobem.

- A tese do Maravilhoso Mundo de Bernanke precisa que entre tanto dinheiro no mercado a ponto de haver comprador marginal para todas as classes de ativos, com pouquíssima diferenciação entre taxas de retorno esperadas. Ou pelo menos que o mercado acredite nisso. O problema é que, no caso dos títulos, isso só vale enquanto a inflação não suba e destrua a taxa de retorno fixa. É acreditar que Deus não só não joga dados como está de muito bom humor e trabalha na Constitution Avenue com a rua 20, em Washington, DC.

- Nos últimos dias vimos: i) os mercados de "risco" (bolsas e commodities) caindo, ii) os juros das treasuries subindo, iii) a inflação esperada subindo, iv) o dólar se fortalecendo. Um possível cenário que justificaria esse comportamento é a inflação subindo -- o contraponto é que os juros curtos subiram relativamente pouco. Outra possibilidade é que estamos perto do limite do que os ativos conseguem se apreciar com dinheiro fácil -- de fato, é de se imaginar que o segundo bilhão de estímulo tenha efeito menor do que o primeiro bilhão, e assim por diante. Uma terceira explicação, mais cínica, é que o mercado está tentando empurrar o Fed para um corner cuja saída seria anunciar (na próxima reunião de política monetária, no início da semana que vem) um volume obsceno para o QE2 -- há duas semanas já se falava em algo entre US$ 500 bilhões e 1 trilhão de recompra de títulos, o volume que satisfaria o mercado seria ainda maior.

- A questão que fica é: o que acontecerá quando o Fed falhar na tarefa de manipular os mercados (manter juros baixos e preços de ativos relativamente altos)? Teoricamente não há limites para quanto dinheiro ele pode imprimir, desde que o risco de inflação esteja afastado (estará, para alguns, enquanto o mercado de trabalho permanecer anêmico). Na prática, a economia americana está desesperada por estímulo, e toda a pressão da sociedade e dos políticos parece ser na direção de alguma ação. O Fed não depende do Congresso para agir, e tem sido o instrumento escolhido para fazer todo o trabalho sujo. Resta saber até onde vai a desonestidade intelectual de Bernanke ao seguir fazendo algo que parece no mínimo ineficiente no curto prazo e de potencial destrutivo no futuro. Ou, para não personalizar a questão, quão doente está a maior economia do mundo para ter como única fonte visível de recuperação a ilusão de que dinheiro barato e ridiculamente mal distribuído pode resolver problemas.

P.S. Em homenagem ao mestre Jason Vieira: hoje apareceu uma marca nova de papel sulfite aqui no escritório. Made in Finland. Sim, estamos importando papel da Finlândia. E, conhecendo a turma de compras, deve estar mais barato que o velho e bom Report (da Suzano).

P.P.S. Hoje o Banco Bonsucesso (eu também não conhecia, até semana passada) captou US$ 125 milhões no mercado internacional, pagando juros em dólar de 9,5% ao ano (por dez anos).

P.P.P.S. No dia do aniversário de 65 anos do Nosso Guia (hoje), aparece a história (ainda a ser confirmada) de que o Brasil anunciará em breve a descoberta do segundo maior poço de petróleo do mundo. Como disse um sábio: "50% of life is luck, the other 50 is mazel".

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Leituras do dia

Enquanto este escriba está numa fase de pouca inspiração (e muita preocupação com os mercados), aproveite para ler as opiniões de duas pessoas que provavelmente já esqueceram sobre mercados mais do que eu vou aprender durante a minha vida:

- Paul Tudor Jones e a sabedoria do tratamento de uma fascite plantar.

- Jeremy Grantham declarando, mais uma vez, seu amor pelas políticas do Fed (abaixo)

Luto

Morreu o maior acertador de previsões do mundo. Agora voltamos a depender da econometria (brrrrrrrr).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Gráfico do dia - TIPS

E o mercado está disposto a financiar os EUA por quatro anos e meio a inflação menos 0,55% (via os TIPS). Estamos vivendo tempos interessantes, sem dúvida.

Eu não entendo o Bresser-Pereira

Deve estar além da minha generosidade e capacidade de abstração. Ele costumava elogiar a política econômica da Argentina. Ontem destacou "a coragem e a firmeza" do festival de impressão de dinheiro nos EUA, como se fosse uma medida inovadora e de eficácia pelo menos não duvidosa. Disse que as compras de dívida pelo banco central diminuem a dívida pública -- a fonte pode até ser a mesma (dinheiro impresso pelo governo), mas, não, a dívida pública só diminui quando é paga ou recomprada pelo seu emissor (no caso, o tesouro americano). E chamou "quantitative easing" de "facilitação quantitativa" -- o "easing" do termo vem de "ease", afrouxar, o contrário de "tight"; a tradução que eu acharia mais fiel é "afrouxamento". Mas eu não sou linguista, ele é professor da FGV há mais de 50 anos e ex-Ministro da Fazenda, o problema deve ser comigo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bye, bye, Petrobras

Há duas semanas, enquanto eu estava viajando, vi uma manchete em algum portal brasileiro dizendo que, em 2010, as ações da Petrobras caíram mais do que as da BP (British Petroleum), que teve que enfrentar neste ano o maior vazamento de óleo da história da indústria, a um custo estimado (por enquanto) de US$ 32 bilhões. Enquanto a queda da BP foi violenta (chegou a levantar dúvidas sobre a sobrevivência da companhia) e seguida de uma recuperação, a Petrobras vem sangrando desde o início do processo de capitalização, com os investidores aos poucos abandonando a companhia, sem sinal de interrupção. Hoje, de fato, um dólar investido nas duas empresas no começo do ano valeria mais ou menos os mesmos 70 centavos -- 30% de queda, enquanto o preço do petróleo subiu 1,4%, a Exxon caiu 2,8% e a Chevron subiu 9,8%. Outra observação interessante é que o preço atual das ações da Petrobras, em reais, é menor do que no fatídico 9 de março de 2009, quando o S&P500 tocou o demoníaco e proverbial nível de 666 pontos (hoje opera a 1180).

Mais curioso ainda é observar que toda a história do pré-sal, que inicialmente foi vista como uma bonança irrestrita (tanto para o país quanto para o acionista), vem se mostrando uma fonte imensa de preocupações e incertezas e uma grande história de destruição do valor de uma companhia. Se, quando foi anunciada a descoberta (em 2007), o mundo parecia caminhar para uma prosperidade infinita, alimentada por óleo combustível, cuja oferta, todos sabemos, é limitada e cujo preço, portanto, só poderia subir, hoje o petróleo opera 45% abaixo de sua máxima histórica, aparentemente sem força para entrar em uma nova tendência secular de alta. O fator principal, porém, é a desconfiança sobre a capacidade da Petrobras de investir de forma minimamente racional e eficiente a montanha de dinheiro que levantou na maior oferta de ações da história (curioso como os investimentos que envolvem algo "maior do mundo" costumam ser uma fria para quem coloca dinheiro neles).

A escolha da Petrobras parece ter sido extrair o óleo do pré-sal a qualquer custo, gastando o dinheiro levantado na oferta (e, possivelmente, ainda mais, no futuro), desenvolver o que puder da tecnologia do Brasil, enriquecer um monte de gente pelo caminho e, se tudo der muito certo e sobrar alguma coisa, dar lucro e distribuir para o acionista. Guardadas as proporções e as diferenças entre os mercados, a Petrobras parece ter se tornado uma versão da Eletrobras, cujas ações andam de lado há anos. O eventual retorno da exploração do petroleo parece estar muito distante para gerar alguma pressa no mercado, e isso parece estar começando a se refletir nos preços. Por enquanto a Petrobras ainda é bastante negociada e tem um peso relevante no índice Bovespa, o que gera uma demanda relativamente grande dos investidores passivos (que buscam simplesmente replicar a carteira do índice); caso o desinteresse persista, esse fluxo também deve diminuir, outro fator negativo para as ações.

Caso não tenha ficado claro: o mercado parece estar abandonando a Petrobras. Talvez era exatamente isso que o governo planejava: o petróleo é "nosso", e o investidor, se quiser uma participação, vai ter que aceitar entrar em um jogo onde há diversos interesses a serem atendidos antes do lucro. Pior para quem acreditou no oba-oba de "nunca antes na história deste país", e mais uma amostra de que, muitas vezes, quem está do outro lado do lucro do mercado são os governos.

Som da Sexta - Richard & Linda Thompson

Depois de uma semana difícil, nada melhor que procurar por uma bagunça na sexta à noite. E é difícil não amolecer o coração depois dessa introduçãozinha preguiçosa de guitarra.