sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Leituras da Sexta

- Três anos depois, João Moreira Salles, da piauí, voltou a Islândia, balão de ensaio da crise de 2008 e possíveis respostas a ela. Encontrou um país onde os cidadãos e credores foram tratados como adultos, o que, acho, não é pouco para os dias de hoje. Por enquanto está disponível no site só para assinantes; ao longo do mês, a matéria deve ser liberada, como é o bom costume da revista.

- As ações da Apple continuam a escalada (até o céu, dirão alguns): esta semana o valor de mercado da companhia ultrapassou a soma de Google e Microsoft; se a Apple fizesse parte do Dow Jones, o índice estaria em sua máxima histórica; James Altucher, que há cinco anos disse que o Facebook valeria US$ 100 bilhões, acredita que a Apple pode ser a primeira empresa a alcançar US$ 1 trilhão no mercado. Antes disso, precisa testar a heurística que diz que nenhuma companhia aberta valeu por muito tempo mais que US$ 500 bilhões (Petrochina, Exxon e Microsoft tentaram e falharam) - mais nessa fala de Geoffrey West.

- Warren Buffett volta à famosa imagem do cubo de ouro de 21m de aresta para defender o investimento em ações.

- Mais um texto que, indiretamente, alimenta o senso de auto-importância dos economistas ao defender que o paradigma neoclássico causou a crise.

- O que é ser keynesiano hoje em dia? (dica Maurício Santoro)

- Para o zeitgeist americano, ver o comercial que a Chrysler passou no intervalo do Super Bowl, com Clint Eastwood.

- 5.000 pesquisadores já aderiram a um boicote a Elsevier, maiora editora de revistas científicas do mundo. Tyler Cowen decidiu não aderir, e comenta. Aqui no Brasil, costumo pegar no pé da Elsevier / Campus pelos preços extravagantes dos livros que publica - o clássico Desafio aos Deuses, por exemplo, custa aqui R$ 122, contra US$ 12,50 na Amazon. Sim, a qualidade da publicação aqui é melhor e há um problema de escala, mas... seis vezes mais caro?

- Christina Romer discorda de Dani Rodrik e diz que a indústria não deve ter tratamento especial.

- Como desgraça gosta de companhia, apareceu na Grécia um supergerme resistente a antibióticos que causa pneumonia.

- Tyler Cowen sobre o novo livro de Tony Judt (com Timothy Snyder).

- Pensar que tempo = dinheiro é receita para infelicidade, diz um estudo da Universidade de Toronto.

- A The Economist sobre o leilão dos aeroportos brasileiros.

- Uma playlist de Barack Obama, devidamente cornetada.

- Para saudosos da Chiclete com Banana: Angeli e Laerte planejam lançar, juntos, uma nova revista.

- Homenagem, em vida, do Laerte à obra do Wando, aí do lado.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Gráfico do dia - a dura vida dos palpiteiros

Brent Donnelly, do Nomura, resolveu pegar no pé de Nouriel Roubini e David Rosenberg (clique para aumentar):


O relatório completo, cuja leitura recomendo, está aqui.

Acha que estamos em uma nova bolha de tecnologia? Vai tentar vender...

Já devo ter reproduzido aqui uma meia dúzia de vezes a tabela abaixo, que está acompanhando o mercado de ações de internet / tecnologia na medida em que passos da bolha que estourou em 2000 vão sendo repisados com precisão assustadora (clique para aumentar):


Talvez o diagnóstico seja preciso e estejamos mesmo em uma bolha, que, quando estourar, vai deixar os acionistas de algumas companhias com uma pequena fração do que investiram. Porém, como também já escrevi aqui, tentar lucrar antecipando o estouro de uma bolha é das coisas mais ingratas que um especulador pode se dedicar a fazer. Meu amigo Veiga tem o estranho prazer de acompanhar algumas companhias abertas com negócios mais ou menos estranhos baseados na internet. Com a ajuda dele, montei a tabela abaixo, acrescentando o índice Nasdaq e alguns outros casos que considero emblemáticos:


Timing is a bitch... por enquanto, em 2012, ganharam os que identificaram a bolha e, seguindo a máxima de George Soros, compraram e estão surfando. Se a história se repete, teremos, como em 2000, muita gente inteligente perdendo dinheiro mesmo com a visão de médio / longo prazo se provando correta. Esse negócio de tentar ser mais esperto que o mercado é muito, muito difícil.

E os blogueiros se encontram - II Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia

Pois é, este ano, mesmo eu não tendo parado de falar mal da academia, tive a honra de ser convidado para o encontro. A represália, porém, veio de outra forma: os organizadores me enfiaram num painel junto com três PhDs, que provavelmente vão demolir todos meus argumentos pueris sem compaixão e soltar risadinhas sádicas enquanto falo. Pelo menos, como disse o Márcio Laurini, estarei atrás de um biombo e serei poupado de ver a reação do público.

Brincadeiras à parte, realmente fiquei muito feliz com o convite. Vai ser uma grande oportunidade para conhecer pessoalmente outros escribas que admiro, notar como as soluções para a crise mundial são fáceis e só não são implementadas porque políticos são preguiçosos e dar boas risadas. Quem estiver em BH no dia 9 de Março está mais do que convidado a passar por lá. A organização prometeu tábuas de frios e frutos do mar, champanhe Cristal à vontade, strippers e pocket show do Paulinho da Viola durante o intervalo.

A programação está aqui; o cartaz oficial está aí embaixo (clique para aumentar), para quem quiser ajudar a divulgar.


Os culpados são o Cláudio Shikida e o Cristiano Costa, a quem, mais uma vez, agradeço pelo convite.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Blogroll

Dei um tapa no blogroll aí do lado - na verdade só adicionei alguns que tenho acompanhado, ainda falta criar uma categoria "Sarcófago" e colocar os que foram extintos ou estão em hibernação. Quem estiver com tempo sobrando e sair clicando por lá vai encontrar muita coisa boa.

Gráfico do dia - mercados imobiliários

Uma perspectiva de longo prazo interessantíssima, que mostra que, em termos reais, os preços de casas nos EUA estão praticamente no mesmo nível que há 112 anos. Levado a sério esse dado, uma possível conclusão é que a bolha que estourou nos EUA em 2007/2008 era muito mais um problema de alavancagem do que de valorização excessiva desse tipo de ativo. Outra é que os preços atuais podem ser a oportunidade de uma vida.


Tirado do Credit Suisse Global Investments Returns Yearbook 2012, que tem muitos outros insights valiosos (dica: Abnormal Returns).

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Um passeio por bancos centrais pouco falados

1. O Banco Central da Nova Zelândia deve ter batido algum recorde de transparência ao anunciar sua vaga de presidente na seção de procura de executivos na The Economist. Interessados têm até dia 27 de Fevereiro para mandar o currículo.


2. Como opera o Banco de Reserva da Índia.

3. A combinação de moderação e certa imprevisibilidade do banco central da Malásia.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Leilão dos aeroportos - voa, Brasil!

Comecei a colocar opiniões no twitter, mas a limitação dos caracteres deixou tudo muito confuso. Melhor exercitar a verborragia aqui:

- A notícia é esta: o governo vendeu as concessões de três aeroportos (Cumbica, Viracopos e JK - Brasília) por R$ 24,5 bilhões, ágio médio de espantosos 347% - foi de "apenas" 160% no caso de Viracopos e absurdos 673% para Brasília. Esses números já deveriam levar algum observador atento a perguntar se (i) o preço inicial não foi subestimado ou (ii) o valor pago é fora da realidade.

- Para pegar um dos casos e fazer algumas contas de padaria (já me perdoem as simplificações): o aeroporto de Heathrow, em Londres, é o terceiro mais movimentado do mundo em tráfego de passageiros (e primeiro em tráfego internacional. No ano passado, foram transportados em Heathrow quase 69 milhões de passageiros, mais que o dobro do que em Cumbica, e o aeroporto rendeu de lucros para seus concessionários (um consórcio de empresas do Canadá, Cingapura e Espanha) pouco mais que 1 bilhão de libras (R$ 2,7 bilhões, ao câmbio corrente).

- Vamos ser generosos e assumir que a operação no Brasil é espetacularmente lucrativa e promissora, e que Cumbica conseguirá entregar, na média dos 20 anos da concessão, lucros anuais iguais aos de Heathrow (só lembrando que a Infraero apurou lucros, em 2010 - último balanço disponível - de R$ 234 milhões). Ao pagamento de R$ 16,2 bilhões, devem ser somados investimentos previstos de R$ 4,6 bilhões até o fim da concessão, o que implicaria num desembolso total pelo comprador de R$ 20,8 bilhões. Numa dose extra de generosidade, não considerando os custos de oportunidade, o investimento se pagaria em pouco mais de 8 anos. Para tirar a generosidade, basta estimar um tamanho de Cumbica como proporção de Heathrow e isso afetaria o múltiplo de maneira linear (ou assim pode-se assumir, creio). Se considerarmos, por exemplo, que Cumbica vai continuar sendo meio Heathrow, o prazo para que o investimento se pague passa para 16 anos (amigos que trabalham com valuation, tentem conter a vontade de me espancar - como dito, são contas de padaria, só para uma avaliação superficial).

- Por esses múltiplos, eu diria que o governo fez um bom negócio com as vendas (ou pelo menos não vendeu a preços escandalosamente baixos). Ou melhor, teria feito se recebesse tudo em dinheiro do setor privado: no caso de Guarulhos, entre os compradores estão fundos de pensão estatais, que, em teoria, têm recursos próprios, mas certamente serão bancados pelo Tesouro caso tenham problemas de capitalização no futuro. Além disso, o BNDES pode financiar, com juros subsidiados, até 80% dos investimentos a serem feitos pelas concessionárias. Essa mistura de subsídios cruzados com risco moral torna a avaliação muito mais difícil, mas certamente menos favorável para o vendedor. Se o valor fosse efetivamente pago em moeda corrente e tivesse que bancar todos os investimentos, provavelmente o ágio não teria sido tão alto.

- Torço muito para que as concessionárias consigam lucrar e pagar seus acionistas e credores - até porque, caso isso não aconteça, a conta volta para o governo: ou na forma de calote nos empréstimos no BNDES, ou em mais subsídios para que a operação, que não pode parar, se sustente. Voa, Brasil.

P.S. Uma opinião mais embasada, da analista da Merril Lynch, que diz que "as ofertas não foram totalmente irrealistas, mas não deixam margem para erro".

O que é o Facebook

Alguns dados interessantes, via Can Turtles Fly? (clique para aumentar).


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Leituras da Semana

- Stephen King, do HSBC, sobre metas de inflação e porque o Fed chega atrasado ao padrão: "Inflation today is determined increasingly by factors beyond an individual central bank’s control."

- A ética monogâmica e o espírito do capitalismo, ou porque a monogamia ajudou o comércio e o fluxo de ideias. Delfim Netto sobre classe média e sua relação com o desenvolvimento.

- Tal qual Roberto Jefferson para José Dirceu, John Taylor diz para a Grécia: sai daí, rápido!

- Niall Ferguson concede uma derrota para Paul Krugman na questão da sustentabilidade da dívida dos EUA.

- Porque recém formados querem trabalhar em investment banking.

- Moisés Naím sobre húbris e o Brasil em Davos.

- Luis Martins de Souza Dantas, um brasileiro que merecia ser mais conhecido.

- Harold Bloom já matou uma porção de coisas; aqui, uma lista.

- Fantástica série de fotografias sobre carvão. Quem acha que geração de energia nuclear tem que acabar deveria considerar que existe esse tipo de alternativa.

- Esqueça qualquer coisa lida sobre a crise européia, aqui está a explicação definitiva.

- 20 espetaculares livrarias mundo afora, a Livraria da Vila do shopping Cidade Jardim aqui em SP entre elas.

- A irrelevância do Oscar - este ano realmente capricharam, com poucas chances de redenção na premiação.

- Domingo é dia de New England Patriots x New York Giants no Super Bowl. As apostas apontam para favoritismo dos Patriots, e isso pode ser ruim para os mercados (pode não ser, também - dããã). Os shows do intervalo classificados por nível de "macheza", o retorno de Ferris Bueller, uma conta que iguala o preço dos comerciais na TV ao PIB da Alemanha.

Som da Sexta - tUnE-yArDs

Do grande disco de rock do ano passado, w h o k i l l. Muito ouvida e  usada como fonte de inspiração esta semana.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Facebook indo a público

Poucas coisas irritam mais um investidor / especulador do que ver uma bolha inflando sem participar dos lucros. Claro que, no fim, nenhuma era é tão diferente assim, todas as bolhas estouram e aqueles têm sua compensação pelo menos na forma de schadenfreude. Muitas vezes, porém, o processo é mais longo do que se antecipa e faz muita gente rica enquanto se desenrola - e ganhar com o estouro é, provavelmente, tão difícil quanto com a valorização (de um tal George Soros: "a primeira coisa que faço quando vejo uma bolha é comprar"). O mesmo Soros, junto com pelo menos outro investidor lendário (Julian Robertson), tentou antecipar o furo da bolha do Nasdaq, em 2000, por muito tempo, desistindo meses antes do início da queda. E o livro The Big Short, do Michael Lewis, conta várias histórias de brilhantes especuladores que lucraram com o fim da bolha imobiliária nos EUA, não sem antes quase irem a loucura questionando suas convicções ante o comportamento exuberante do mercado.

Dado isso, é compreensível o tom raivoso de muitos corneteiros de mercados (este escriba incluído) ao saber que o Facebook está nos últimos passos para uma oferta pública inicial de ações, que deve levantar algo como US$ 10 bilhões e determinar um valor de mercado entre US$ 75 bilhões e US$ 100 bilhões para a companhia (mais aqui). Para uma ideia das grandezas: uma oferta de US$ 10 bilhões seria cinco vezes maior que o IPO do Google, em 2004, e o terceiro maior da história do mercado de capitais dos EUA. Um investidor com US$ 100 bilhões (por acaso, mais ou menos o que a Apple tem em caixa - chorem, pobres!) poderia escolher entre comprar, grosso modo, 100% do Facebook ou escolher uma entre empresas do porte de: Unilever, Cisco, Verizon, Schlumberger, Pepsico, Sanofi (o Google e seus anos de sucesso valem US$ 190 bilhões no mercado, mais ou menos o mesmo que a Petrobras). Ainda que comparando fluxos e estoques, US$ 100 bilhões equivalem a um ano de PIB do Marrocos.

A questão de vários milhões de patacas é se de fato estamos assistindo aos desenvolvimentos finais de uma estranha nova bolha de tecnologia (ver aqui) ou se, com o tempo, o Facebook vai conseguir gerar os fluxos de caixa / crescimento que justifiquem seu preço em bolsa. Para fazer uma conta de padaria: com um valor de mercado de US$ 100 bilhões e um múltiplo preço / lucro igual ao do Google (20x), o Facebook teria que ser capaz de gerar lucros de US$ 5 bilhões por ano - em 2011, gerou entre zero e US$ 1 bilhão, dependendo da fonte. Para quem compra, mais importante do que acreditar nesse crescimento é se convencer de que o modelo de negócios do Facebook é estável, e que a empresa é de fato o modelo definitivo de rede social - sendo que tantas outras que pareciam promissoras caíram no esquecimento antes de fazer qualquer dinheiro para seus compradores finais. Há opiniões de "especialistas" para todos os lados; eu acho as premissas muito, muito frágeis - mas pelo menos desde que a empresa era avaliada em "apenas" US$ 50 bilhões. Façamos nossas apostas e assistamos a uma das grandes histórias corporativas dos nossos tempos.

P.S. Sim, acho que o Zuckerberg é mais um iludido pelo acaso do que um visionário.

P.P.S. O Wolfram|Alpha está muito bacana pra levantar informações de empresas listadas. Treme, Bloomberg.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Mesmo sem SOPA e PIPA...

Hoje recebi o seguinte e-mail (dado: ao longo de cinco anos, eles removeram dois de dezenas de documentos que subi para o Scribd):



Claro que não dá para extrapolar nada a partir de uma observação e que é só criar outra conta, mas não consigo deixar de pensar que ainda vamos sentir saudades da liberdade de circulação de informação dos últimos anos. Na margem, claro.