quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Tinha esquecido de recomendar...

... a leitura do perfil que a piauí fez do presidente do BNDES, Luciano Coutinho (no site está disponível só para assinantes, vale comprar a revista). Coutinho parece ser daquelas pessoas que se leva tão a sério que acha um desperdício gastar tempo explicando suas posições para jornalistas, e por isso, pela matéria, sabe-se pouco do que ele realmente pensa ou acredita. Em compensação, o texto é um bom resumo das lambanças que o BNDES tem promovido e da crítica que se tem feito à atuação do banco (cita bastante o trabalho do Mansueto Almeida).

P.S. Acabei de ver que o Mansueto colocou um link com a íntegra da matéria aqui.

Analistas x moeda

Mais um exemplo de livro sobre a inutilidade de se fazer previsões no mercado financeiro:


38%. O número 1. O número 2 acertou 27%. Mercados difíceis, sim. Mas para mercados fáceis os clientes das corretoras não precisam de analistas para saber o que fazer, não é mesmo?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Algumas observações desses últimos dias

- Um dos meus escritores favoritos levou o Nobel. E o Chipre tem um ganhador do Nobel antes do Brasil. E o Taleb continua sua cruzada contra o prêmio para economistas.

- Bad news = good news. Os mercados entraram de vez no modo alucinógeno na sexta-feira, depois dos dados do mercado de trabalho americano. O cinismo é absoluto: só vale comprar (qualquer coisa) porque o dinheiro vai ser barato e abundante.

- A campanha do segundo turno por aqui parece ser um concurso de quem se aproxima mais dos ideais da TFP. Progressismo não tem muitos fãs no Brasil, mesmo.

- O National Air and Space Museum me fez rejuvenescer uns 20 anos. Toda criança que cresceu desmontando coisas e apontando para avião no ar deveria fazer uma peregrinação para lá.

- Varicella zoster. Esse é o vírus que eu devo carregar no corpo há décadas e resolveu se manifestar esta semana. Estou no estaleiro por um tempo, então as atualizações aqui devem ser menos frequentes.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ausência (por um bom motivo)

Este escriba estará nós próximos dias na terra de Duke Ellington (também conhecida como Washington, DC), tentando se inflitrar no mundo mágico das finanças internacionais. Até lá, as atualizações devem ser limitadas (para não dizer inexistentes). Caso a imigração não estranhe os carimbos do Líbano e da Síria no meu passaporte e me mande para uma temporada em Guantánamo, volto no próximo dia 13. Até lá!

Apostas para o Nobel de Economia

Richard Thaler e Robert Shiller são os favoritos, segundo o ipredict. Mas vou torcer para o Eugene Fama, só para ver a reação do Taleb.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sinal de loucura do dia - México

O governo do México está emitindo um título com vencimento em 100 anos. E tem gente disposta a comprar. Como está na moda deixar a conta para as próximas gerações, ganha um almoço dos meus futuros netos quem acertar quantas vezes essa dívida vai ser renegociada até 2110.

10 sugestões para desvalorizar o real

Como esperado, o aumento de IOF não desvalorizou o câmbio (opera enquanto escrevo abaixo do fechamento de ontem) e fez com que os juros longos subissem (ainda que menos do que muitos observadores esperavam). Já que o governo parece estar sem criatividade para novas medidas, aí vão algumas sugestões com bom potencial para levar o real de volta a um nível mais, digamos, competitivo:

1. Terceirizar a gestão da política monetária para o Banco Central da República Argentina. Ajuda se também terceirizar o cálculo da inflação para o Indec. Na impossibilidade, colocar o Meirelles para anunciar que é um admirador do modo Bernanke e Banco do Japão de controle da oferta de moeda.

2. Implementar o "Bolsa Disney", garantindo uma renda mínima em dólares para que todo brasileiro possa conhecer o Mickey e o Pateta.

3. Permitir que o BNDES conceda crédito em moeda estrangeira, para que a JBS e a Marfrig comprem todos os frigoríficos do mundo, de Labrador a Vladivostok.

4. Anunciar uma política mais agressiva para a gestão das reservas internacionais: trocar metade dos títulos da dívida dos EUA por papéis que oferecem taxas de retorno maiores, como os da Grécia, Irlanda, Portugal e Paquistão.

5. Transferir a gestão do fundo soberano para a GWI (ajuda se acompanhada de um decreto permitindo que o fundo use alavancagem).

6. Conceder a gestão e exploração das reservas do pré-sal para a PDVSA.

7. Anunciar Tiririca como o próximo Ministro da Fazenda e Paulo Maluf para o BNDES.

8. Trocar a arara da nota de dez reais por uma efígie do Zé Dirceu. Criar a nota de 1000 reais com a cara do Lula (será conhecida como "Lulão").

9. Lastrear o real ao minério de ferro.

10. Anunciar o "Minha Casa, Minha Vida" para a alta renda, financiando com juros subsidiados a aquisição de residências de valor acima de US$ 5 milhões em Dubai, Riviera Francesa, Ilha de Capri e Newport Beach.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mais uma bola fora do governo - IOF para estrangeiros

Seu Mantega avisou hoje que o IOF cobrado de estrangeiros em operações de renda fixa dobrará (passando de 2% para 4%). Isso, segundo ele, fará com que as operações de carry trade sejam menos vantajosas ("Ao invés de ganhar 10,75% [valor da taxa Selic], ele ganha 6,75% (que é menos 4% do IOF). Isso desestimula").

Algumas considerações sobre o assunto:

1) A conta do ministro está errada. Primeiro, o estrangeiro já pagava 2% de IOF. Segundo, o IOF é cobrado do montante da operação, enquanto os juros são cotados em taxas anuais. O aplicador recebe 10.75% (ou qualquer outra taxa da curva de juros) ao ano, e o efeito do IOF é diluído no período em que o dinheiro é mantido aqui.

2) Boa parte das operações de carry trade é de curto prazo, e feita por meio de derivativos (contratos de câmbio futuro e afins), cujos ganhos não são tributados e muitas vezes nem são negociados no mercado local (NDFs). Essas operações vão continuar enquanto o diferencial de juros for atrativo e a volatilidade do mercado continuar baixa o bastante para não assustar o especulador. O governo poderia adicionar volatilidade e equilibrar esse fluxo atuando no mercado futuro (como fez no passado com os swaps cambiais), mas essa opção, aparentemente, não será usada (ainda se fala sobre os questionamentos do TCU sobre os custos desse tipo de operação que, diga-se de passagem, não são muito maiores dos que o de acumular reservas em moeda estrangeira).

3) Do jeito que foi feita, a medida pune o aplicador estrangeiro que tem comprado dívida pública. O fluxo de estrangeiros para renda fixa, num mercado local que ainda é dominado por operações de curto prazo e pela indexação ao CDI / Selic, é um dos fatores que tem ajudado a baixar o custo da dívida de longo prazo do governo (e, por consequência, das empresas), onde muitos dos chamados real money (fundos de pensão, fundos soberanos, etc) concentram seus investimentos. Pode acontecer, portanto, uma piora na qualidade do fluxo de dólares para o país: os ganhos com derivativos e operações de curto prazo seguirão atraindo o hot money, enquanto o dinheiro que estaria disposto a ficar por mais tempo financiando o déficit público é desincentivado. Numa situação em que o país depende da conta financeira para fechar a conta corrente, isso pode ser um fator de desestabilização (e aí, por vias tortas, talvez faça o governo cumprir com o objetivo de desvalorizar o câmbio).

A atitude da Fazenda tem duas possíveis explicações: a equipe desconhece o funcionamento e o mecanismo de formação de preços no mercado de câmbio, ou pensou nisso tudo que escrevi e resolveu tomar a medida assim mesmo, talvez apenas para mostrar que não está assistindo de braços cruzados a valorização da moeda. Novamente fica aquela sensação de que quem está lá não está muito preocupado em tomar as medidas da maneira mais correta, e é guiado ou por ignorância ou pelos holofotes e interesses de alguns setores. Quem sai perdendo, como de costume, é o contribuinte.

Novo figurante dos Simpsons

Quem é?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Este blog vota em...

Eu já prometi evitar falar de política aqui, mas acho justo que o leitor saiba com quem está lidando (diga-me em quem votas e te direi quem és):

Presidente - Serra (PSDB)
Governador - Alckmin (PSDB) - tapando o nariz, mas vai...
Senadores - Ricardo Young (PV) e Aloysio Nunes (PSDB)
Deputado Federal - Alexandre Youssef (PV)
Deputado Estadual - Legenda PSDB

Momento Mãe Dináh: se a economia não estiver bem em 2014, dona Marina Silva vai pras cabeças. E viva nossa democracia.

E o IgNobel vai para... Catbert

Ontem foram concedidos os prêmios IgNobel de 2010. Na categoria "Administração", o vencedor foi um trabalho que demonstra que as organizações seriam mais eficientes caso fizessem as promoções de cargo de maneira aleatória. Tenho certeza que Alessandro Pluchino, Andrea Rapisarda e Cesare Garofalo são pseudônimos do maléfico diretor de RH da empresa do Dilbert.

Valor entrevista Delfim Netto

Quem é assinante lê aqui. Para quem não é, recomendo fortemente gastar os R$ 3,00 na edição de fim de semana do jornal para ler a entrevista da velha raposa. Alguns trechos:


Valor: As economias desenvolvidas continuam frágeis. Isso vai dificultar a vida de quem for eleito?

Delfim Netto: Não podemos pensar que 2011-2014 vai ser igual a 2003-2008. As condições externas serão inferiores às que tivemos e, para manter o crescimento, vamos precisar de um governo mais ágil, eficiente e amigável com o setor privado. Não teremos mais oito anos de crescimento contínuo de preços de matérias-primas e minerais, ainda que a China continue crescendo 6% a 7%. Há uma acomodação dos preços. O próximo governo não vai navegar em mar tranquilo, como navegou Lula. Vai ser um mar complicado, de vento de frente.

Valor: O que isso vai representar para a política econômica?

Delfim: O Brasil tem que se preparar para uma dependência menor do exterior do que teve nesses anos. Temos que sofisticar nossa indústria. É ilusão pensar que um país como o Brasil, com 240 milhões de habitantes em 30 anos, que vai ter que dar emprego de qualidade para 150 milhões de brasileiros, pode fazer isso com atividades agrícola e mineral, poupadoras de mão de obra. Temos que providenciar uma indústria ultrassofisticada e uma economia de serviços que absorva essa mão de obra. Eu fico desesperado quando alguém diz: olhe a Nova Zelândia, a Austrália, como funcionam com commodities.

Valor: Por quê?

Delfim: A Nova Zelândia é menor que São Bernardo. A Austrália é menor que São Paulo. Em 30 anos serão ainda menores. O Brasil precisa ser pensado de novo e cada vez 20 anos à frente.
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Valor: Voltando à economia, o sr. disse que foram os bons ventos externos que beneficiaram Lula...

Delfim: Veja, até hoje somos apenas 1,3% das exportações mundiais. Exatamente o que éramos nos anos 1980. Entre 1980 e 1984 a China exportava igual ao Brasil. Hoje a China tem 10% do mercado mundial. Nós continuamos com 1,3%. Nunca fizemos esforço exportador. O que teve foi esse bônus vindo de fora para dentro. É simples de ver: nos oito anos do FHC as exportações cresceram em média 4%. No período do Lula cresceram 23%. Mas não por estímulos ao setor empresarial, por uma nova política cambial ou nova política de exportação.

Valor: Foi por quê?

Delfim: Por causa dos investimentos que tinham sido feitos na agricultura e na mineração. O mundo expandiu e veio aqui buscar produto agrícola e mineral. E de devedores, viramos credores do FMI, certo?

Valor: E isso diminuiu bastante a vulnerabilidade externa, não?

Delfim: Fizemos o papel direitinho. Acumulamos reservas cambiais, corretamente. Mas não vamos dizer que isso foi produto pensado de uma política econômica. Isso foi produto de um acidente.
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Valor: E qual o papel adequado ao BNDES?

Delfim: O BNDES é fundamental e seu papel seria financiar os investimentos em infraestrutura com taxa de retorno social maior do que a privada. Tem subsídios? Tem, sim senhor. E está aqui no orçamento da União. Pronto. Pode-se questionar, porém, a qualidade dos investimentos feitos.

Valor: Por exemplo?

Delfim: A cartelização do setor pecuário vai dar muita dor de cabeça. A ideia de que dois ou três grandes grupos frigoríficos podem comprimir 4 mil pecuaristas vai terminar muito mal. Temos experiência disso. Esse é um sistema que tem dentro de si um ciclo. Quando você aperta o pecuarista, a impressão é que não há reação nenhuma. Você acorda três anos depois e vê que não há mais boi para abater. Eles comeram as vaquinhas.

Som da Sexta - Di Melo

O disco de 1975 é uma das grandes preciosidades meio escondidas na história da música brasileira. Os arranjos são do Hermeto Pascoal, que hoje e amanhã se apresenta no SESC Pompéia.