Quando quer, Delfim é dos economistas mais lúcidos deste país. Por vezes, porém, é de um sabujismo que passa por cima de qualquer traço de honestidade intelectual. Hoje, no
Valor, pede para os "
críticos impertinentes fazerem justiça à retórica do ministro Guido Mantega", já que ele teria se provado correto quanto à "guerra cambial" promovida pelo Fed.
Ora, a guerra cambial não era uma tentativa de desvalorizar a própria moeda e colocar os vizinhos e parceiros comerciais em má situação? Na conveniência de Delfim, a lógica se inverteu: agora o Fed, ameaçando aumentar os juros, provoca desvalorização nas moedas dos emergentes (curiosamente, não no euro, libra, iene, etc). Não sabemos o que queremos, contra quem estamos lutando, de que lado estamos... mas estamos numa "guerra", e precisamos "lutar". A retórica é de propaganda de cerveja em época de Copa, e a tradição brasileira de tentar distribuir a culpa pelos próprios descaminhos econômicos tem um passado glorioso e um futuro promissor, como diria outro dos grandes tecnocratas da história do país.
Adiante, diz Delfim:
"O que os emergentes têm pela frente, portanto, não é um trilema. É um pobre dilema: impor controle à plena liberdade no movimento dos capitais ou entregar sua política monetária ao banco central americano, o Fed! Sua superação precisa de uma ordem internacional inteligente."
O Fed não é o maior BC do mundo desde anteontem, portanto, ou Delfim está certo, ou só é possível ter política monetária independente com controle de capitais (ignoremos os que têm conseguido fazê-lo). De novo, o inimigo está fora, é grande e não há nada que possamos fazer. Talvez a melhor solução seja mesmo alugar o Brasil (
nós não vamo pagá nada, yeah).