segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Livros para o fim do ano

Como de costume, voltei dos EUA com a mala cheia de livros (sim, podia comprar tudo no Kindle, mas ainda prefiro o velho e bom papel - sou um caso clássico de dependência do meio). Entre as coisas que comprei e as que vão ser lançadas até o fim do ano, aí vão algumas que me chamaram a atenção (ainda não li nenhum deles, porém) - talvez em breve sirva como dicas de presente de Natal para quem tiver alguns gostos estranhos e parecidos com os meus:

- The Fractalist: Memoir of a Scientific Maverick, de Benoît Mandelbrot. As memórias póstumas do grande matemático de curiosidade intelectual insaciável. O lançamento oficial é amanhã, e Nassim Taleb já escreveu uma resenha para a Amazon:


"I have never done anything like others", Mandelbrot once said. And indeed these memoirs show it. He really managed to do everything on his own terms. Everything. It was not easy for him, but he end up doing it as he wanted it.

Consider his huge insight about the world around us. "Clouds are not spheres, mountains are not cones, coastlines are not circles, and bark is not smooth, nor does lightning travel in a straight line", wrote Benoit Mandelbrot, contradicting more than 2000 years of misconceptions. Triangles, squares, and circles seem to exist in our textbooks more than reality—and we didn't notice it. Thus was born fractal geometry, a general theory of "roughness". Mandelbrot uncovered simple rules used by nature (and men) that, thanks to repetition, by smaller parts that resemble the whole, generate these seemingly complex and chaotic patterns.

Self-taught and fiercely independent, he thought in images and passed the entrance exam of the top school of mathematics without solving equations; he was both precocious and a late bloomer producing the famous "Mandelbrot set" when he was in his fifties and got tenure at Yale when he was 75. Older mathematicians have resisted his geometric and intuitive method—but the top prize in mathematics was recently given for solving one of his sub-conjectures.

Mandelbrot, while a bit of a loner, had perhaps more cumulative influence than any other single scientist in history, with the only close second Isaac Newton. His contributions affected physics, engineering, arts, medicine (our vessels, lungs, and brains are fractal), biology, etc. But he was unheeded by the very field he started in, economics, where he proved in the 1960s that financial theories vastly underestimate market risk and need total revamping—in spite of the current crisis.

I met him when he was in his late seventies, as he was writing these memoirs long hand. He was the only teacher I ever had, the only person for whom I have had intellectual respect. But there was something else that made him magnetic: he was a raconteur with a profound sense of historical context ... Reading these memoirs put me back in the unusual atmosphere he created around him. The reader is made to feel he are at the center of twentieth century science as it was produced with fields invented almost from scratch: Max Delbrück with molecular biology, Paul Lévy with the mathematics of probability, Robert Oppenheimer with nuclear physics, even Jean Piaget the psychologist for whom Mandelbrot worked as a scientific assistant. And many more.

Finally, the reader will be presented with something that no longer exists in intellectual life: force of character and independence. Enjoy the book.


Para os mais nerds e fãs fieis que passarem por Nova York, recomendo a pequena (porém cheia de conteúdo) exposição sobre a obra de Mandelbrot que está até janeiro na galeria do Bard Graduate Center.

Antifragile: Things That Gain from Disorder, de Nassim Nicholas Taleb. O esperado sucessor de The Black Swan sai no final de novembro. Taleb já tinha compartilhado vários capítulos do livro no Facebook, e a Amazon já publicou algumas resenhas de quem teve acesso antecipado ao livro (ver no link acima).

Market Sense and Nonsense: How the Markets Really Work (and How They Don't), de Jack Schwager. Schwager dedicou décadas de carreira a escrever sobre os mercados de futuros e a entrevistar grandes personagens do mercado (na série Market Wizards), na tentativa de entender o que os separa de nós, meros mortais. Esse livro parece ser uma compilação desse longo tempo de observação e reflexão, de grande valor para quem acha que cuidar de dinheiro é mais arte do que ciência, dependente, portanto, mais de narrativas do que de modelos matemáticos.

Waiting for the Barbarians: Essays from the Classics to Pop Culture, de Daniel Mendelsohn. Nova coleção de ensaios de um dos grandes críticos culturais americanos, falando de Homero a Mad Men. Espero que seja bem melhor do que a capa, tentativa capenga de imitar quadrinhos.

The Routledge Handbook of Major Events in Economic History, editado por Randall E. Parker e Robert M. Whaples. Esse só sai em abril do ano que vem, mas promete ser uma obra abrangente e bastante útil para quem tenta encontrar pistas do que vai acontecer no futuro no passado (ou simplesmente gosta de cultura inútil).

Land of Promise: An Economic History of the United States, de Michael Lind.  Foi lançado em abril; ouvi falar bem, mas não sei o que acha a turma de história econômica (o autor não é acadêmico da área).

The Jazz Standards: A Guide to the Repertoire, de Ted Gioia. Um dos grandes historiadores do jazz dedica pequenos ensaios a cada uma das maiores obras do repertório do gênero. Saiu uma resenha legal na última The Atlantic, lembrando, claro, da morte do jazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...

Building Stories, de Chris Ware. Não é bem um livro, é uma caixa enorme de quase 3kg que ocupou quase metade de uma das minhas malas. Traz quadrinhos em um monte de formas, de cartazes e livretos a um tabuleiro dobrável. Como Jimmy Corrigan, difícil de acompanhar, mas fascinante desde a primeira vista.

How to Tell If Your Cat Is Plotting to Kill You, de Matthew Inman. Para deixar a lista menos pretensiosa, a nova coleção impressa de besteiras (no melhor sentido possível) do autor de The Oatmeal.


Enfim, boa parte disso pode não ser arte, mas a vida continua sendo breve demais para tanta coisa interessante pra ler...

P.S. O Samer acabou de me lembrar da nova biografia de Paul Volcker pelo professor da NYU William L. Silber (Volcker: The Triumph of Persistence), lançada no mês passado.

9 comentários:

Anônimo disse...

"dependente, portanto, mais de narrativas do que de modelos matemáticos"

Taleb não discordaria disso?

Drunkeynesian disse...

Acho que justo o contrário...

Anônimo disse...

Já li o livro do Taleb e, confesso, não gostei tanto assim, talvez porque nunca tenha realmente acreditado tanto assim numa utilização cega do instrumental matemático.

De qualquer forma, como ele é fera e eu não, acredito que eu não tenha captado a mensagem. Como sei que você é fan do sujeito, acho que seria legal ver idéias dele no blog.

abraços

Drunkeynesian disse...

Eu falo bastante do Taleb aqui (mais do que a importância dele, muitos dirão).

Anônimo disse...

Mas Fooled By Randomness parece meio coisa de recalcado pq não conseguiu ganhar dinheiro enquanto outros ganharam

Drunkeynesian disse...

Se ele tinha algum problema de não ter ganhado dinheiro, aparentemente isso acabou em 2008 / 2009...

Anônimo disse...

Exatamente, não conseguiu ganhar dinheiro enquanto os outros ganhavam, ganhou tudo e mais um pouco quando a bolha estourou com todo o resto

Anônimo disse...

Mas o recalque ficou. Freud explica

Drunkeynesian disse...

A humanidade avança de recalque em recalque...