quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O que aprendi sobre a Noruega

- Sim, a Noruega é o Peter Perfeito dos países. Lá, como disse uma vez meu amigo e anfitrião-remoto Henrique, é o zerésimo mundo: tudo funciona, os trens e aviões saem na hora, tem internet wifi em praticamente qualquer lugar, é dos melhores lugares do mundo para se ter filhos (não à toa a taxa de fertilidade é bem maior que a média da Europa - 1,78 filhos por mulher, bem próxima a do Brasil - consta que o governo oferece uma bolsa de algo como US$ 35 mil para cada cidadão que nasce) e onde igualdade de direitos entre os sexos é levada bastante a sério (uma lei polêmica determina que pelo menos 40% dos cargos executivos em empresas deve ser ocupado por mulheres).

- A ministra da cultura da Noruega é uma mulher, muçulmana (família paquistanesa), de 29 anos.

- Nada me preparou para o choque com alguns preços. OK, todo mundo sabe que é dos lugares mais caros desta galáxia, mas nada pode te preparar para entrar num tram em Oslo e paga 50 coroas (quase R$ 18) para andar uns três quilômetros. Por que tudo tão caro (evitando sacar direto o efeito Balassa-Samuelson)? O Seth Kugel, do Frugal Traveler, arrumou a seguinte explicação:


Most people assume Norway costs so much because of its high tax rates. Not so, said Nils Henrik von der Fehr, chairman of the economics department at the University of Oslo. Taxes play a supporting role — there is a 25 percent value-added tax on most products, for example — but the real reasons are labor costs and agricultural protectionism.
“The most important factor is the way our labor market works: centralized bargaining,” Mr. von der Fehr said. “One has made an effort to have an egalitarian wage structure. While people like me are not well paid compared to our colleagues in other countries, people at the lower end earn much more. You don’t have cheap labor in Norway.
“All the things you want as a tourist — hotels, restaurants — are labor-intensive,” he said. “That’s why it’s nice for us to be a tourist in the U.S.: everything you want is cheap because of the abundance of cheap labor.”
Another factor is the high tariffs on agricultural imports that keep Norwegian farms in business: “We have perhaps the most protected agricultural system in the world,” he said. “It’s not a particularly easy place to grow anything. Farms are small and the season is short.”


A propósito, ele conseguiu sobreviver na Escandinávia com US$ 125 por dia. Parte da estratégia: passar menos tempo na Noruega e mais entre Suécia, Dinamarca e Finlândia. Blé.

- A paranóia com o consumo de álcool é quase parecida com a da Islândia: supermercados só vendem cerveja, mas até um horário determinado (20h30, se não me engano). Bebidas mais fortes, só nas lojas estatais. Ah, essa cerveja aí embaixo custou, num ferry, algo como 30 reais. Skål!


- O fundo de pensão do governo tem cerca de US$ 560 bilhões em ativos - mais de US$ 100 mil por habitante. É tanto dinheiro que o governo planeja gastar menos do que a taxa de retorno do fundo para não superaquecer a economia. Boa parte do mundo gostaria de ter esse tipo de problema fiscal...

- Ludvig Ravensberg, pintor:



- O Rosenborg, único time de futebol digno de nota no país (tente lembrar de outro) não é da capital: é de Trondheim, terceira maior cidade. O Rosenborg ganhou 16 das últimas 20 edições do fortíssimo campeonato nacional.

- Estou tirando sarro do futebol norueguês, mas nossa seleção de futebol nunca ganhou da deles.

- Trondheim é o lugar em que mais vi clínicas de bronzeamento artificial no mundo. A cidade tem menos de cinco horas diárias de sol no inverno, mas deve haver outra explicação.

- Seasonal affective disorder, existe.

- Isso só eu não sabia, mas vai lá: o Nobel da Paz é decidido por um comitê norueguês, e entregue em Oslo, nesse prédio bonitão:


Update e P.S.:

- A (o?) Steph, nos comentários, pegou a presepada do Lonely Planet (e deste escriba:
O Nobel da Paz é entregue no salão principal da Prefeitura de Oslo, querido keynesiano ébrio!Esse prédio aí da foto é uma antiga estação de trem, que apenas recentemente foi transformada em museu.Se você não visitou o interior da prefeitura, pode se lamentar: é uma das coisas mais fantásticas que eu fiz em Oslo!
- Por lá tem uma revista de futebol chamada Josimar, em homenagem a ele, mesmo, o da Copa de 1986. Parece bacana, pena que não consigo ler em norueguês:


8 comentários:

Danilo Balu disse...

Lá o leite (aquele que vc toma no café da manhã) é fabricado por uma única estatal...

Meu café da manhã lá era peixe com mostrada... país sensacional!!

aiaiai disse...

Adoro a Noruega. Só consegui sobreviver lá porque nas 3 viagens que fiz tinha muitos amigos. Nunca fiquei em hotel e eles não deixavam eu pagar nada. kkkkkkkkkkkk Foi ótimo!

E é um país bonito pra caramba.
A gente ia na Suécia comprar cerveja no supermercado, bem mais barato.

que saudade.

Drunkeynesian disse...

Pô, devia ter me apresentado esses amigos :P

Steph disse...

O Nobel da Paz é entregue no salão principal da Prefeitura de Oslo, querido keynesiano ébrio!
Esse prédio aí da foto é uma antiga estação de trem, que apenas recentemente foi transformada em museu.
Se você não visitou o interior da prefeitura, pode se lamentar: é uma das coisas mais fantásticas que eu fiz em Oslo!

Drunkeynesian disse...

Olha só, fui engambelado pelo Lonely Planet!

Não visitei o interior da prefeitura, mais um item pra listinha do que fazer quando voltar a Noruega (item 1: visitar o Henrique enquanto ele estiver lá).

Anônimo disse...

Eu suspeitei dessa explicação do custo puxado pela mão de obra. Um bom comparativo é pegar o funcionamento daqueles ônibus sightseeing. Enquanto na Europa Ocidental o passe diário funciona de 10 a 12 horas, na Suécia e na Noruega só funcionam por 6! Provavelmente para evitar pagar outro turno. Não vou nem falar nos 2 euros que paguei em uma banana na estação central para não passar raiva rsrs. Fora isso, a casa de ópera e um passeiozinho pela Karl Johansen fazem valer a viagem :). Fizeste o passeio dos fiordes?

Drunkeynesian disse...

Isso, a maioria das lojas fecha às 17h, etc...

Fiz, sim, o tempo não ajudou, mas ainda assim valeu a pena.

Anônimo disse...

Pô... Deu vontade de ir a Noruega de novo...

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(É que me deu essa mesma vontade na semana passada)