terça-feira, 25 de setembro de 2012

O que aprendi sobre a Islândia

- A maior cidade fora da "grande Reykjavík" tem 18 mil habitantes (Akureyri). Reykjavik tem 120 mil, mais de um terço da população total do país. E, claro, o país tem mais ovelhas do que pessoas - é possível dirigir dezenas de quilômetros sem ver ninguém, só os bichos peludos, que, aparentemente, cuidam da própria alimentação e se auto-tosquiam na época apropriada.

- Comprar bebida alcoólica por lá é um tormento. Os supermercados só podem vender uma "cerveja light", com no máximo 2,5% de teor alcoólico (e cuja sensação ao tomar é a mesma daquelas tentativas frustradas de quando você é universitário, tem mais pressa do que gosto e tenta compensar a cerveja quente recém comprada com pedras de gelo), e cerveja de verdade (marcas locais: Viking, Thule e Egils) e outras bebidas só são vendidas em lojas estatais - que fecham às 18h30. Bares e restaurantes servem normalmente, desde que se esteja disposto a pagar algo como R$ 20 por uma long neck.

You can't always get what you want...

- Talvez para compensar, os islandeses são os maiores consumidores per capita de Coca-Cola no mundo. Também são os que mais leem e vão ao cinema, e a penetração do Facebook no país é a segunda maior do planeta (70% da população, só atrás do Qatar).

- A recuperação econômica por lá depois da crise de 2008 costuma ser elogiada por gente como Paul Krugman, mas os islandeses aparentemente não estão satisfeitos. O desemprego ainda não voltou ao padrão anterior (está em 4,8%, a média na década antes da crise é perto de 2% - mas no auge da crise foi acima de 9%), e há quem ache que a coroa islandesa ainda é muito instável, depende de controle de capitais e afasta investimento estrangeiro. A solução seria adotar o euro. Regimes de câmbio, sempre um tormento...

Demais moedas, OK jogar na água.

- Como aqui, a indexação à inflação é bem popular por lá. A maioria das dívidas bancárias (incluindo hipotecas) são indexadas. O Robert Shiller diria que é o desejável; há quem ache que isso é coisa de terceiro mundo.

- Ótimo blog sobre economia da Islândia: Icelandic Economics.

- Finalmente entendi como funcionam os patrônimos - na verdade é bem simples, eu é que nunca tinha tido paciência de me informar. Funciona bem para um país daquele tamanho, acho.

- Alguns trechos da Ring Road, estrada que dá a volta na ilha e principal do país, fazem a BR-116 parecer uma autobahn. Só não é mais complicado porque na maior parte do tempo dirige-se sem nenhum outro carro por perto. Ainda assim, a Islândia é dos países do mundo com mais carros por habitante (724 para cada 1000; no Brasil, são 259 para 1000).

- A Islândia tem um ganhador de Nobel - Halldór Laxness ganhou o prêmio de literatura, em 1955. Comecei a ler seu livro mais famoso, Independent People, mas estou apanhando pra passar da metade.

- (acabei de descobrir, graças ao Wolfram Alpha, que houve um ganhador de Nobel nascido no Brasil - sir Peter Brian Medawar, Nobel de Medicina em 1960, nasceu em Petrópolis, de mãe britânica e pai libanês; é cidadão britânico desde que nasceu, porém.)

- þ e ð se pronunciam mais ou menos como o "th" em inglês, mas são diferentes entre si (OK, não ajudei em nada). Salvo em palavras de origem estrangeira, na Islândia não são usadas as letras C, Q, W e Z.

- O gosto dos islandeses por doces de alcaçuz deve fazer parte da programação genética, como o dos australianos por vegemite. Não pode haver outra explicação.

- Há vida depois da quebra de bancos e calote, claro - mas disso os brasileiros estão cansados de saber.

14 comentários:

Rodrigo, o Soneca, Pontes disse...

Como funcionam os patrônimos?

Drunkeynesian disse...

Hahaha, achei que ia escapar de "explicar". Em resumo, ninguém tem sobrenome, seu nome completo é seu primeiro nome + o nome do seu pai ou da sua mãe (mais o sufixo -son para homens ou - dóttir para mulheres). O João filho do José e da Maria seria João Joseson ou João Mariason (mais raro). A Ana filha do mesmo casal seria Ana Josedóttir ou Ana Mariadóttir.

Delfim Bisnetto disse...

Então, ninguém tem o sobrenome do avô, por exemplo?

Anônimo disse...

þ é o th de "thin", e ð é o th de "the". essas letras existiam no inglês arcaico

Ticão disse...

Deve ser um festival de homônimos.

Isso presumindo uma quantidade "normal" de primeiros nomes, tipo João, Maria, Marcos, Monica, etc...

Ticão

Drunkeynesian disse...

Delfim, não existe sobrenome, mesmo... nunca existiu nome de família. O que parece que acontece é batizar o filho com nome do avô, então ocorre às vezes do neto ter exatamente o mesmo nome.

Ah, os primeiros nomes são meio regulados pelo governo, tem que ser um nome "islandês" e que funcione com as declinações da língua...

Anônimo disse...

NeiDrunkeynesian fale mais sobre os jovens. São pescadores de bacalhau ou phD's em finanças com "novo futuro promissor" no lado afro-europeu da força?
Em que estágio está o preço versus valor dos imóveis?
E a bolsa, lição aprendida?
E as "escandinavas" que te parecen?

Drunkeynesian disse...

Putz, não falei com muitos jovens por lá... mas do que li tive a impressão que eles caíram na realidade, até porque os bancos implodiram, o mercado mudou bastante e não conseguiriam mais fazer as "mágicas" de antes de 2008. Também não vi nada de preços de imóveis. O índice de ações de lá caiu 93% desde a máxima, pelo visto quase tudo virou pó.

Quanto às islandesas... uniformemente lindas, mais do que as norueguesas.

maisvalia disse...

E quanto ao custo de vida? É caro para turista? Pretendo ir o ano que vem para lá. Quando se gasta em média para comer?

Drunkeynesian disse...

É caro igual aos países caros da Europa continental (Alemanha, Holanda, França)... Só hotel que é mais caro, já que na maioria dos lugares não tem opção barata; você acaba ficando em lugares mais ou menos por $200...

maisvalia disse...

OBRIGADO

Frank disse...

mas escuta, não dá para tirar assim uma liçãozinha do tipo "dar calote é bom (ou ruim) para o país" ?

:)

Drunkeynesian disse...

Nesse caso é muito difícil, até porque sempre vai sobrar o argumento "ah, com 300 mil pessoas é fácil fazer qualquer coisa"... mas alguns indicadores dão argumentos fortes nessa direção - acho que sobretudo pela possibilidade de desvalorizar o câmbio. A moeda lá perdeu 50% desde o início da crise, deu um bom gás para turismo e em competitividade...

Frank disse...

a Argentina tb parecia ser um caso se calote relativamente bem-sucedido, até aprofundamento do populismo kirscherista.

novamente, um país perfiférico e pequeno q impede qq generalização (aliás, qq epósdio de calote não autoriza, acho, qq tipo de gerneralização)