De ler notícias e ouvir conversas, fiquei com uma impressão que pode ter desdobramentos interessantes (assumindo, claro, que eu não esteja redondamente errado, o que pode perfeitamente acontecer): ao mesmo tempo em que o Brasil tem se tornado mais protecionista para o comércio exterior (tentando manter um câmbio mais depreciado do que o que seria caso o regime fosse flutuante, com medidas tributárias para setores específicos, criando "campeões nacionais", etc), o país está se abrindo e atraindo investimento estrangeiro direto, em diversos setores da economia.
Uma consequência disso é que várias atividades que eram dominadas por players nacionais estão passando ou passarão a ter concorrentes estrangeiros de peso - o que me deu o "clique" foi a notícia de ontem do investimento de Peter Thiel na Oppa, loja virtual de móveis (que já havia sido fundada com capital estrangeiro). Pra pegar esse exemplo aplicado aqui a São Paulo: o mercado que antes era disputado por Casas Bahia e seus dormitórios Bartira, a Marabraz, a Tok & Stok e um monte de pequenos produtores que vendem na rua Teodoro Sampaio terá agora que se adaptar à existência de um novo varejista, possivelmente mais eficiente e disposto a disputar mercado via preços (isso mesmo sem a IKEA ainda não ameaçando aparecer por aqui). As margens devem cair (o que é condizente com a queda nos juros básicos), e o ganhador por excelência é o consumidor, com opções mais abundantes, melhores e mais baratas.
Outros exemplos recentes que me ocorrem (grandes players multinacionais anunciando entrada no mercado brasileiro): Expedia, Financial Times, Amazon, Netflix, GAP... devo estar esquecendo de muitos outros.
Não sei com qual grau de intenção, mas parece que foi criada uma situação em que o comércio exterior ainda é complicado e de pouco crescimento, mas as taxas de retorno (caindo, mas ainda altas quando comparadas ao resto do mundo), o ambiente macroeconômico / institucional e a expectativa de evolução do mercado têm atraído fluxos robustos de investimento estrangeiro direto. Se a tendência permanecer, esses fluxos devem aliviar as contas externas caso os preços de commodities comecem a cair, afastando por mais tempo o problema crônico de crises cambiais no país - isso tem funcionado para a Austrália há mais de 30 anos. Isso gera um efeito reflexivo para o investimento estrangeiro - com o fim do "peso problem", ou risco de uma grande desvalorização súbita do câmbio, mais investidores sentem-se seguros para trazer dinheiro para o país.
Enfim: margens e preços em queda, mais opções para o consumidor, menor risco de crise cambial. Talvez esse seja um caso próspero e otimista para o Brasil dos próximos anos (mais para o consumidor médio do que para os capitalistas, curiosamente). No caminho, muita coisa pode dar errado, mas boas sementes parecem estar sendo plantadas.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Leituras da Semana
- Cortesia do J.P. Morgan Asset Management, um guia para os mercados globais nesse último trimestre do ano.
- PIMCO sobre o impacto da queda dos juros no Brasil.
- A Atlantic Media lançou o Quartz, um projeto ambicioso de jornalismo voltado a alguns temas que surgiram depois da crise de 2007 / 2008. Tem valido a pena acompanhar.
- John Quiggin revisita, 82 anos depois, um dos ensaios clássicos de Keynes, Economic Possibilities for our Grandchildren.
- Um bestiário ilustrado das criaturas que povoam a blogosfera econômica.
- Uma crônica deprimente do escritor Gary Shteyngart sobre a American Airlines.
- O riquíssimo relatório sobre educação da OECD.
- Comparação entre as composições de gastos familiares no Brasil, Índia, China, Rússia, Egito, Turquia, Indonésia e Arábia Saudita.
- "Economists have correctly predicted nine of the last five recessions."
- Ótima matéria da Economist sobre a queda do uso de carros no mundo desenvolvido.
- Como é crescer Gangnam-style.
- 211 anos de mudanças políticas em um GIF animado.
- Dois bons obituários de Eric Hosbawm: no NY Times e na Jacobin.
- Filmes por gênero, de 1908 a 2012.
- Meio atrasado, mas ainda relevante: como a escuridão tem permeado a cultura pop. Trecho brilhante: "These are dark stories about a man in a dark suit driving a dark car through dark streets thinking dark thoughts while darkly fighting dark men doing dark deeds in the dark of night."
- Entrevista com Randall Munroe, do xkcd.
- Zumbis da proatividade, deve ter um perto de você.
- PIMCO sobre o impacto da queda dos juros no Brasil.
- A Atlantic Media lançou o Quartz, um projeto ambicioso de jornalismo voltado a alguns temas que surgiram depois da crise de 2007 / 2008. Tem valido a pena acompanhar.
- John Quiggin revisita, 82 anos depois, um dos ensaios clássicos de Keynes, Economic Possibilities for our Grandchildren.
- Um bestiário ilustrado das criaturas que povoam a blogosfera econômica.
- Uma crônica deprimente do escritor Gary Shteyngart sobre a American Airlines.
- O riquíssimo relatório sobre educação da OECD.
- Comparação entre as composições de gastos familiares no Brasil, Índia, China, Rússia, Egito, Turquia, Indonésia e Arábia Saudita.
- "Economists have correctly predicted nine of the last five recessions."
- Ótima matéria da Economist sobre a queda do uso de carros no mundo desenvolvido.
- Como é crescer Gangnam-style.
- 211 anos de mudanças políticas em um GIF animado.
- Dois bons obituários de Eric Hosbawm: no NY Times e na Jacobin.
- Filmes por gênero, de 1908 a 2012.
- Meio atrasado, mas ainda relevante: como a escuridão tem permeado a cultura pop. Trecho brilhante: "These are dark stories about a man in a dark suit driving a dark car through dark streets thinking dark thoughts while darkly fighting dark men doing dark deeds in the dark of night."
- Entrevista com Randall Munroe, do xkcd.
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segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Frases do Dia - Eric Hobsbawm, RIP
"Os economistas, como os políticos, sempre tendem a atribuir os sucessos à sagacidade de suas políticas, e durante a Era de Ouro, quando mesmo economias fracas como a britânica floresceram e cresceram, pareceu haver bastante espaço para a autocongratulação."
Eric Hobsbawm, em Era dos Extremos.
"We have never quite lost that sense that - as Hobsbawm himself would probably still insist - you cannot fully appreciate the shape of the twentieth century if you did not once share its illusions, and the communist illusion in particular."
Tony Judt, em Thinking the Twentieth Century.
Morreu hoje o grande historiador marxista, nascido em 1917 em Alexandria - que lugar mais apropriado para ter nascido um historiador?
Estava procurando uma entrevista dele para o Roda Viva, mas não achei em lugar nenhum. Existe ou estou delirando?
Eric Hobsbawm, em Era dos Extremos.
"We have never quite lost that sense that - as Hobsbawm himself would probably still insist - you cannot fully appreciate the shape of the twentieth century if you did not once share its illusions, and the communist illusion in particular."
Tony Judt, em Thinking the Twentieth Century.
Morreu hoje o grande historiador marxista, nascido em 1917 em Alexandria - que lugar mais apropriado para ter nascido um historiador?
Estava procurando uma entrevista dele para o Roda Viva, mas não achei em lugar nenhum. Existe ou estou delirando?
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Som da Sexta - Tim Maia, 70
Vivo estivesse, o monumental Sebastião Rodrigues Maia estaria completando 70 anos hoje. O selo Luaka Bop, do talking head David Byrne, está tentando reapresentá-lo ao mundo, lançando uma nova coletânea caprichada e promovendo várias "festas de aniversário" (aqui no Brasil, só em Belo Horizonte).
Aqui, no melhor estilo Isaac Hayes, Tim Maia conta uma historinha com a banda ao fundo antes de soltar a voz num dos melhores desabafos de dor de corno já gravados por aqui. É do terceiro Tim Maia, de 1972.
P.S. Sigam montando o dream team de músicos nascidos em 1942: além de Tim Maia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Ben, Paul McCartney, Isaac Hayes, Lou Reed, Curtis Mayfield, John McLaughlin...
Aqui, no melhor estilo Isaac Hayes, Tim Maia conta uma historinha com a banda ao fundo antes de soltar a voz num dos melhores desabafos de dor de corno já gravados por aqui. É do terceiro Tim Maia, de 1972.
P.S. Sigam montando o dream team de músicos nascidos em 1942: além de Tim Maia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Ben, Paul McCartney, Isaac Hayes, Lou Reed, Curtis Mayfield, John McLaughlin...
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Dados do Dia - Guerra às Drogas
Roubado do Magno Karl. Políticos e a estranha mania de fazer igual (e mais) do que já deu errado...

Também sobre o assunto, o André Barcinski fala de um livro que parece ser muito interessante (Amexica: War Along the Borderline).

Também sobre o assunto, o André Barcinski fala de um livro que parece ser muito interessante (Amexica: War Along the Borderline).
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quarta-feira, 26 de setembro de 2012
O que aprendi sobre a Noruega
- Sim, a Noruega é o Peter Perfeito dos países. Lá, como disse uma vez meu amigo e anfitrião-remoto Henrique, é o zerésimo mundo: tudo funciona, os trens e aviões saem na hora, tem internet wifi em praticamente qualquer lugar, é dos melhores lugares do mundo para se ter filhos (não à toa a taxa de fertilidade é bem maior que a média da Europa - 1,78 filhos por mulher, bem próxima a do Brasil - consta que o governo oferece uma bolsa de algo como US$ 35 mil para cada cidadão que nasce) e onde igualdade de direitos entre os sexos é levada bastante a sério (uma lei polêmica determina que pelo menos 40% dos cargos executivos em empresas deve ser ocupado por mulheres).
- A ministra da cultura da Noruega é uma mulher, muçulmana (família paquistanesa), de 29 anos.
- Nada me preparou para o choque com alguns preços. OK, todo mundo sabe que é dos lugares mais caros desta galáxia, mas nada pode te preparar para entrar num tram em Oslo e paga 50 coroas (quase R$ 18) para andar uns três quilômetros. Por que tudo tão caro (evitando sacar direto o efeito Balassa-Samuelson)? O Seth Kugel, do Frugal Traveler, arrumou a seguinte explicação:
A propósito, ele conseguiu sobreviver na Escandinávia com US$ 125 por dia. Parte da estratégia: passar menos tempo na Noruega e mais entre Suécia, Dinamarca e Finlândia. Blé.
- A paranóia com o consumo de álcool é quase parecida com a da Islândia: supermercados só vendem cerveja, mas até um horário determinado (20h30, se não me engano). Bebidas mais fortes, só nas lojas estatais. Ah, essa cerveja aí embaixo custou, num ferry, algo como 30 reais. Skål!
- O fundo de pensão do governo tem cerca de US$ 560 bilhões em ativos - mais de US$ 100 mil por habitante. É tanto dinheiro que o governo planeja gastar menos do que a taxa de retorno do fundo para não superaquecer a economia. Boa parte do mundo gostaria de ter esse tipo de problema fiscal...
- Ludvig Ravensberg, pintor:
- O Rosenborg, único time de futebol digno de nota no país (tente lembrar de outro) não é da capital: é de Trondheim, terceira maior cidade. O Rosenborg ganhou 16 das últimas 20 edições do fortíssimo campeonato nacional.
- Estou tirando sarro do futebol norueguês, mas nossa seleção de futebol nunca ganhou da deles.
- Trondheim é o lugar em que mais vi clínicas de bronzeamento artificial no mundo. A cidade tem menos de cinco horas diárias de sol no inverno, mas deve haver outra explicação.
- Seasonal affective disorder, existe.
- Isso só eu não sabia, mas vai lá: o Nobel da Paz é decidido por um comitê norueguês, e entregue em Oslo, nesse prédio bonitão:
Update e P.S.:
- A (o?) Steph, nos comentários, pegou a presepada do Lonely Planet (e deste escriba:
- A ministra da cultura da Noruega é uma mulher, muçulmana (família paquistanesa), de 29 anos.
- Nada me preparou para o choque com alguns preços. OK, todo mundo sabe que é dos lugares mais caros desta galáxia, mas nada pode te preparar para entrar num tram em Oslo e paga 50 coroas (quase R$ 18) para andar uns três quilômetros. Por que tudo tão caro (evitando sacar direto o efeito Balassa-Samuelson)? O Seth Kugel, do Frugal Traveler, arrumou a seguinte explicação:
Most people assume Norway costs so much because of its high tax rates. Not so, said Nils Henrik von der Fehr, chairman of the economics department at the University of Oslo. Taxes play a supporting role — there is a 25 percent value-added tax on most products, for example — but the real reasons are labor costs and agricultural protectionism.
“The most important factor is the way our labor market works: centralized bargaining,” Mr. von der Fehr said. “One has made an effort to have an egalitarian wage structure. While people like me are not well paid compared to our colleagues in other countries, people at the lower end earn much more. You don’t have cheap labor in Norway.
“All the things you want as a tourist — hotels, restaurants — are labor-intensive,” he said. “That’s why it’s nice for us to be a tourist in the U.S.: everything you want is cheap because of the abundance of cheap labor.”
Another factor is the high tariffs on agricultural imports that keep Norwegian farms in business: “We have perhaps the most protected agricultural system in the world,” he said. “It’s not a particularly easy place to grow anything. Farms are small and the season is short.”
A propósito, ele conseguiu sobreviver na Escandinávia com US$ 125 por dia. Parte da estratégia: passar menos tempo na Noruega e mais entre Suécia, Dinamarca e Finlândia. Blé.
- A paranóia com o consumo de álcool é quase parecida com a da Islândia: supermercados só vendem cerveja, mas até um horário determinado (20h30, se não me engano). Bebidas mais fortes, só nas lojas estatais. Ah, essa cerveja aí embaixo custou, num ferry, algo como 30 reais. Skål!
- O fundo de pensão do governo tem cerca de US$ 560 bilhões em ativos - mais de US$ 100 mil por habitante. É tanto dinheiro que o governo planeja gastar menos do que a taxa de retorno do fundo para não superaquecer a economia. Boa parte do mundo gostaria de ter esse tipo de problema fiscal...
- Ludvig Ravensberg, pintor:
- O Rosenborg, único time de futebol digno de nota no país (tente lembrar de outro) não é da capital: é de Trondheim, terceira maior cidade. O Rosenborg ganhou 16 das últimas 20 edições do fortíssimo campeonato nacional.
- Estou tirando sarro do futebol norueguês, mas nossa seleção de futebol nunca ganhou da deles.
- Trondheim é o lugar em que mais vi clínicas de bronzeamento artificial no mundo. A cidade tem menos de cinco horas diárias de sol no inverno, mas deve haver outra explicação.
- Seasonal affective disorder, existe.
- Isso só eu não sabia, mas vai lá: o Nobel da Paz é decidido por um comitê norueguês, e entregue em Oslo, nesse prédio bonitão:
Update e P.S.:
- A (o?) Steph, nos comentários, pegou a presepada do Lonely Planet (e deste escriba:
O Nobel da Paz é entregue no salão principal da Prefeitura de Oslo, querido keynesiano ébrio!Esse prédio aí da foto é uma antiga estação de trem, que apenas recentemente foi transformada em museu.Se você não visitou o interior da prefeitura, pode se lamentar: é uma das coisas mais fantásticas que eu fiz em Oslo!- Por lá tem uma revista de futebol chamada Josimar, em homenagem a ele, mesmo, o da Copa de 1986. Parece bacana, pena que não consigo ler em norueguês:
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terça-feira, 25 de setembro de 2012
O que aprendi sobre a Islândia
- A maior cidade fora da "grande Reykjavík" tem 18 mil habitantes (Akureyri). Reykjavik tem 120 mil, mais de um terço da população total do país. E, claro, o país tem mais ovelhas do que pessoas - é possível dirigir dezenas de quilômetros sem ver ninguém, só os bichos peludos, que, aparentemente, cuidam da própria alimentação e se auto-tosquiam na época apropriada.
- Comprar bebida alcoólica por lá é um tormento. Os supermercados só podem vender uma "cerveja light", com no máximo 2,5% de teor alcoólico (e cuja sensação ao tomar é a mesma daquelas tentativas frustradas de quando você é universitário, tem mais pressa do que gosto e tenta compensar a cerveja quente recém comprada com pedras de gelo), e cerveja de verdade (marcas locais: Viking, Thule e Egils) e outras bebidas só são vendidas em lojas estatais - que fecham às 18h30. Bares e restaurantes servem normalmente, desde que se esteja disposto a pagar algo como R$ 20 por uma long neck.
- Talvez para compensar, os islandeses são os maiores consumidores per capita de Coca-Cola no mundo. Também são os que mais leem e vão ao cinema, e a penetração do Facebook no país é a segunda maior do planeta (70% da população, só atrás do Qatar).
- A recuperação econômica por lá depois da crise de 2008 costuma ser elogiada por gente como Paul Krugman, mas os islandeses aparentemente não estão satisfeitos. O desemprego ainda não voltou ao padrão anterior (está em 4,8%, a média na década antes da crise é perto de 2% - mas no auge da crise foi acima de 9%), e há quem ache que a coroa islandesa ainda é muito instável, depende de controle de capitais e afasta investimento estrangeiro. A solução seria adotar o euro. Regimes de câmbio, sempre um tormento...
- Como aqui, a indexação à inflação é bem popular por lá. A maioria das dívidas bancárias (incluindo hipotecas) são indexadas. O Robert Shiller diria que é o desejável; há quem ache que isso é coisa de terceiro mundo.
- Ótimo blog sobre economia da Islândia: Icelandic Economics.
- Finalmente entendi como funcionam os patrônimos - na verdade é bem simples, eu é que nunca tinha tido paciência de me informar. Funciona bem para um país daquele tamanho, acho.
- Alguns trechos da Ring Road, estrada que dá a volta na ilha e principal do país, fazem a BR-116 parecer uma autobahn. Só não é mais complicado porque na maior parte do tempo dirige-se sem nenhum outro carro por perto. Ainda assim, a Islândia é dos países do mundo com mais carros por habitante (724 para cada 1000; no Brasil, são 259 para 1000).
- A Islândia tem um ganhador de Nobel - Halldór Laxness ganhou o prêmio de literatura, em 1955. Comecei a ler seu livro mais famoso, Independent People, mas estou apanhando pra passar da metade.
- (acabei de descobrir, graças ao Wolfram Alpha, que houve um ganhador de Nobel nascido no Brasil - sir Peter Brian Medawar, Nobel de Medicina em 1960, nasceu em Petrópolis, de mãe britânica e pai libanês; é cidadão britânico desde que nasceu, porém.)
- þ e ð se pronunciam mais ou menos como o "th" em inglês, mas são diferentes entre si (OK, não ajudei em nada). Salvo em palavras de origem estrangeira, na Islândia não são usadas as letras C, Q, W e Z.
- O gosto dos islandeses por doces de alcaçuz deve fazer parte da programação genética, como o dos australianos por vegemite. Não pode haver outra explicação.
- Há vida depois da quebra de bancos e calote, claro - mas disso os brasileiros estão cansados de saber.
- Comprar bebida alcoólica por lá é um tormento. Os supermercados só podem vender uma "cerveja light", com no máximo 2,5% de teor alcoólico (e cuja sensação ao tomar é a mesma daquelas tentativas frustradas de quando você é universitário, tem mais pressa do que gosto e tenta compensar a cerveja quente recém comprada com pedras de gelo), e cerveja de verdade (marcas locais: Viking, Thule e Egils) e outras bebidas só são vendidas em lojas estatais - que fecham às 18h30. Bares e restaurantes servem normalmente, desde que se esteja disposto a pagar algo como R$ 20 por uma long neck.
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You can't always get what you want... |
- Talvez para compensar, os islandeses são os maiores consumidores per capita de Coca-Cola no mundo. Também são os que mais leem e vão ao cinema, e a penetração do Facebook no país é a segunda maior do planeta (70% da população, só atrás do Qatar).
- A recuperação econômica por lá depois da crise de 2008 costuma ser elogiada por gente como Paul Krugman, mas os islandeses aparentemente não estão satisfeitos. O desemprego ainda não voltou ao padrão anterior (está em 4,8%, a média na década antes da crise é perto de 2% - mas no auge da crise foi acima de 9%), e há quem ache que a coroa islandesa ainda é muito instável, depende de controle de capitais e afasta investimento estrangeiro. A solução seria adotar o euro. Regimes de câmbio, sempre um tormento...
Demais moedas, OK jogar na água. |
- Como aqui, a indexação à inflação é bem popular por lá. A maioria das dívidas bancárias (incluindo hipotecas) são indexadas. O Robert Shiller diria que é o desejável; há quem ache que isso é coisa de terceiro mundo.
- Ótimo blog sobre economia da Islândia: Icelandic Economics.
- Finalmente entendi como funcionam os patrônimos - na verdade é bem simples, eu é que nunca tinha tido paciência de me informar. Funciona bem para um país daquele tamanho, acho.
- Alguns trechos da Ring Road, estrada que dá a volta na ilha e principal do país, fazem a BR-116 parecer uma autobahn. Só não é mais complicado porque na maior parte do tempo dirige-se sem nenhum outro carro por perto. Ainda assim, a Islândia é dos países do mundo com mais carros por habitante (724 para cada 1000; no Brasil, são 259 para 1000).
- A Islândia tem um ganhador de Nobel - Halldór Laxness ganhou o prêmio de literatura, em 1955. Comecei a ler seu livro mais famoso, Independent People, mas estou apanhando pra passar da metade.
- (acabei de descobrir, graças ao Wolfram Alpha, que houve um ganhador de Nobel nascido no Brasil - sir Peter Brian Medawar, Nobel de Medicina em 1960, nasceu em Petrópolis, de mãe britânica e pai libanês; é cidadão britânico desde que nasceu, porém.)
- þ e ð se pronunciam mais ou menos como o "th" em inglês, mas são diferentes entre si (OK, não ajudei em nada). Salvo em palavras de origem estrangeira, na Islândia não são usadas as letras C, Q, W e Z.
- O gosto dos islandeses por doces de alcaçuz deve fazer parte da programação genética, como o dos australianos por vegemite. Não pode haver outra explicação.
- Há vida depois da quebra de bancos e calote, claro - mas disso os brasileiros estão cansados de saber.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Leituras das últimas semanas
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Good is travel. |
- A dupla do Marginal Revolution está lançando sua própria universidade virtual.
- A Amazon agora tem um blog sobre dinheiro e mercados, vale colocar nos favoritos.
- Os chutes da Reuters para o Nobel (o de Economia é anunciado no próximo dia 15).
- Michael Lewis entrevista Obama para a Vanity Fair e fala sobre a entrevista.
- Longo perfil de Robert Rubin.
- Um resumo da história recente da macroeconomia.
- Ótima entrevista de Kenneth Rogoff para o Globo News.
- Longa conversa de Daron Acemoglu com o Edge.
- Fractais no Google Earth.
- Uma crônica paulistana engraçadíssima para celebrar os cinco anos do Boteco do JB.
- Os livros favoritos de Teju Cole.
- Os passeios de férias oferecidos no mundo de Star Wars.
- 50 percente of life is mazel, the other 50 is luck.
- Um cartoon épico do xkcd, merecia uma parede inteira de um bom museu de arte contemporânea. Quando cansar, o "gabarito" está aqui.
- Os vencedores do Ig Nobel 2012. Destaque absoluto para o prêmio de literatura: The US Government General Accountability Office, for issuing a report about reports about reports that recommends the preparation of a report about the report about reports about reports.
- Um trabalho acadêmico dos mais inspirados.
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sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Mundo piorando?
Alguns gráficos animadores e algo subversivos do (ótimo) último relatório de comércio e desenvolvimento da UNCTAD:
- Desigualdade entre países vêm caindo, de forma mais acelerada desde o início deste século:
- Desigualdade entre homens e mulheres em tendência de queda - mais acelerada na América Latina do que no mundo desenvolvido:
- As impressionantes histórias de sucesso do Japão e Coreia do Sul (da China ainda não dá para dizer o mesmo):
- A maioria dos países da América Latina têm conseguido distribuir renda com a bonança nos termos de troca:
- Desigualdade entre países vêm caindo, de forma mais acelerada desde o início deste século:
- Desigualdade entre homens e mulheres em tendência de queda - mais acelerada na América Latina do que no mundo desenvolvido:
- As impressionantes histórias de sucesso do Japão e Coreia do Sul (da China ainda não dá para dizer o mesmo):
- A maioria dos países da América Latina têm conseguido distribuir renda com a bonança nos termos de troca:
- Para estragar um pouco o tom Poliana: nem a Noruega escapa de queda no imposto de renda para os 1% mais ricos da população.
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Som da Sexta - Roberto Silva
Soube com tristeza esta semana que, durante as minhas férias, morreu Roberto Silva, depois de 92 anos aparentemente muito bem vividos. Fica meu humilde tributo a um dos maiores cantores da nossa história, um dos sambistas que mais tenho prazer em ouvir - aqui "duetando" com a falsa baiana Roberta Sá, que também sabe uma ou duas coisas sobre samba.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Frases de 1968
Nosso Produto Interno Bruto agora ultrapassa 800 bilhões de dólares por ano. Mas nesse PIB estão embutidos a poluição do ar, os comerciais de cigarros e as ambulâncias para limpar nossas carnificinas. Ele inclui fechaduras especiais para nossas portas e prisões para as pessoas que as arrombam. Inclui a destruição de nossas sequoias e a perda de nossas maravilhas naturais em acumulações caóticas de lucro. Inclui as bombas napalm e as ogivas nucleares e os veículos blindados da polícia para combater os tumultos em nossas cidades. Inclui (...) os programas de televisão que estimulam a violência com a finalidade de vender brinquedos a nossas crianças. Entretanto, o PIB não garante a saúde de nossas crianças, a qualidade de sua educação ou alegria de suas brincadeiras. Não inclui a beleza de nossa poesia ou a solidez de nossos casamentos, a inteligência de nossos debates públicos ou a integridade das autoridades de nosso governo. Ele não mensura nosso talento ou nossa coragem, nossa sabedoria ou nosso aprendizado, nossa compaixão ou nossa devoção a nosso país. Ele tem a ver com tudo, em suma, exceto com aquilo que faz com que a vida valha a pena. E ele pode nos dizer tudo sobre os Estados Unidos, exceto o motivo pelo qual temos orgulho de ser americanos.
Robert F. Kennedy, em discurso na Universidade de Kansas em 18 de março de 1968, citado por Michael J. Sandel no ótimo Justiça. Meio populista e moralista, claro, mas bom contraponto para quando parece ser uma prioridade de política econômica apenas voltar a um padrão de crescimento do PIB nominal, sem maiores considerações sobre os efeitos colaterais.
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Incentivos funcionam?
Na porta de um restaurante da linda Bryggen de Bergen, Noruega. Coincidência ou não, não havia crianças por perto.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Voltando...
Aqui estou, tentando me acostumar com a ideia radical de que é necessário acordar cedo todos os dias e ir para o escritório. Logo os posts e tuites voltam à frequência normal; por enquanto, fiquem com algumas tiras do Dilbert das últimas semanas (quase sempre acertam quando tocam no mercado financeiro):
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