sábado, 21 de dezembro de 2024

Os livros de 2024

Hora do post anual que mantém a vida deste humilde blog. Acho que este ano consumi em excesso o que é o meu comfort food literário, a não-ficção bem editada para o público "leigo porém bem educado", como dirira um grande professor. A amostra inteira está no Goodreads.


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Ficção:

'Austerlitz', W.G. Sebald. Um dos clássicos indiscutíveis deste século, nunca o turbulento século XX foi tratado com tanta sutileza e elegância.

'O colibri', Sandro Veronesi. [Alerta de spoiler] O final fica dramalhônico e arrastado demais, mas o resto do livro justificou a fama.

'Seul, São Paulo', Gabriel Mamani Magne. Um olhar sobre a grande e discreta comunidade dos bolivianos que vêm tentar a vida na grande metrópole sul-americana.

'The MANIAC', Benjamín Labatut. Labatut repete a ficção histórica do seu livro anterior, igualmente perdendo o fôlego no quarto final, mas, no caminho, deixando um grande livro. A boa companhia é a biografia do alienígena John von Neumann.

'Dr. No', Percival Everett. Everett dominou a lista de melhores livros deste ano com 'James', que ainda não li. Esta é uma mistura de romance acadêmico com Ian Fleming e altíssima dose de ironia.

'O drible', Sérgio Rodrigues. Só conheci, tardiamente, na edição comemorativa de 10 anos. Vai direto para a seleta prateleira de melhores livros que usam futebol como pano de fundo (estranhamente, há pouquíssimos).


Quadrinhos:

'Patos: dois anos nos campos de petróleo', Kate Beaton. A vida de uma mulher no inferno gelado das areias betuminosas do Canadá.


'Chumbo'
, Matthias Lehmann. Imensa reconstituição da Belo Horizonte dos anos da ditadura, uma obra que deve entrar para a história dos quadrinhos feitos sobre o Brasil.

'Impossible people: a completely average recovery story', Julia Wertz. Acompanhar a obra da Julia Wertz é como assistir a 'Boyhood' ao longo de muitos anos. Torcendo para que ela continue documentando sua vida, agora com a loucura da maternidade.

'Dragon hoops', Gene Luen Yang. Basquete colegial e o triunfo da imigração ainda dão uma esperança para o futuro dos Estados Unidos.


Economia, mercados & afins:

'The rise and fall of the EAST: how exams, autocracy, stability, and technology brought China success, an why they might lead to its decline', Yasheng Huang. Difícil fazer uma resenha melhor que o subtítulo, mas vale ser lido inteiro.

'Material world: the six raw materials that shape modern civilization', Ed Conway. Basta ver quanta energia consome o mundo "digital" da inteligência artificial para nos fazer prestar atenção ao velho mundo da Madonna.

'Edible economics: a hungry economist explains the world', Ha-Joon Chang. Economistas heterodoxos são tudólogos muito melhores que seus pares ortodoxos, temos que lidar com esse trade-off.

'How big things get done: the surprising factors behind every succesful project, from home renovations to space exploration', Bent Flyvbjerg. Keep it simple, stupid.


Outros de não-ficção:

'A fronteira: uma viagem em torno da Rússia', Erika Fatland. Escrito antes da invasão russa de 2022, mostra, com uma mistura de frieza escandinava e profunda empatia, como é difícil a vida de quem deu o azar de compartilhar a fronteira com o pretenso império.

'O país dos privilégios - volume 1: os novos e velhos donos do poder', Bruno Carazza. A mistura de coragem e clareza que Carazza nos traz o coloca quilômetros acima dos habituais pedantismo e puxa-saquismo tupiniquins.

'About time: a history of civilization in twelve clocks', David Rooney. Daqueles livros que só poderiam ter sido escritos por uma ou duas pessoas no mundo.

'A broken hallelujah: rock and roll, redemption, and the life of Leonard Cohen', Liel Leibovitz. 2024 foi o ano de alimentar a obsessão por Leonard Cohen. Leia o livro, veja o fime e ouça as músicas.

'Every man for himself and God against all: a memoir', Werner Herzog. O louco mais perigoso é o louco discreto, funcional e altamente produtivo?


2024 funcionou e mantenho a fé na poderosa virada do calendário, ainda bem. Um grande 2025 a todos.