Vamos ao tradicional (fui contar agora, é o 13º!) post anual que ainda mantém este blog vivo. Tudo que li está no Goodreads. Os livros não estão em nenhuma ordem particular, tudo listado aqui é recomendável.
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Ficção:
'Too Loud a Solitude', Bohumil Hrabal. Uma novela curta ambientada na Checoslováquia comunista. O protagonista é um operário responsável por uma enorme prensa hidráulica que transforma livros e outros papeis menos nobres em enormes blocos de papel para reciclagem. Hrabal usa essa premissa inusitada para falar de literatura, censura, autoritarismo, e, meu tema favorito aqui, a relação entre trabalhadores e seus ofícios.
'Chess', Stefan Zweig. Outra novela curta e alegórica, que Zweig escreveu no final da vida, já no Brasil. Li em inglês, mas há uma linda edição brasileira recente da Fósforo.
'Saint Peter's Snow', Leo Perutz. Perutz foi uma recomendação do 'Exact Thinking in Demented
Times' (abaixo). Uma história que se passa nesses "tempos dementes", cheios de fanatismo e descobertas científicas.'Lessons', Ian McEwan. A história de uma vida desde o pós-guerra, que, não por coincidência, acompanha a trajetória do autor, desde a Líbia no pôr do sol do imperialismo até a pandemia de covid-19.
'Kudos', Rachel Cusk. Último livro de uma trilogia estranha e difícil de classificar. Leia a crítica da Sally Rooney para a Slate, muito melhor do que qualquer coisa que eu consiga elaborar.
'Norwegian Wood', Haruki Murakami. O romance de formação de Murakami, uma delícia de ler (ao menos para quem compartilha de paixões por relacionamentos complicados, meio platônicos e jazz).
'Sagarana', João Guimarães Rosa. Mais especial ainda ter lido durante uma viagem a Minas e encontrar no livro a imagem escrita daquela terra tão bonita e cheia de histórias.
'The Door', Magda Szabó. Parando agora pra olhar a lista, este foi o meu ano de romances da Europa Central. Aqui Emerence, uma governanta irascível, personifica a história da Hungria que emergiu da ocupação nazista e do comunismo.
'When We Cease to Understand the World', Benjamín Labatut. Este foi tão lido e comentado este ano que só deixo o registro.
Quadrinhos:
'Paul Has a Summer Job', Michel Rabagliati. Primeiro que leio da série do autor de Quebec. Leve, doce e divertido, sobre um daqueles períodos em que a vida, de repente, acelera e nunca volta ao que era.
'The Structure Is Rotten, Comrade', Viken Berberian e Yann Kebbi. Um passeio delirante pela arquitetura do século XX, via uma Yerevan distópica.
'Crônicas da Juventude', Guy Delisle. Deslile mantém a forma, aqui em uma viagem a seu passado como trabalhador temporário em uma fábrica de papel no Canadá. Se falta o olhar de descoberta de lugares "exóticos" como Pyongyang, Jerusalém ou Shenzhen, a sensibilidade e humor de sempre continuam presentes, além dos desenhos econômicos e precisos.
'Gourmet', Masayuki Kusumi. Cada refeição do protagonista solitário e faminto é um haiku, uma homenagem à grandeza infinita da cozinha japonesa e à diversidade e o anonimato proporcionado pelas grandes cidades.
'Uncomfortably Happy', Yeon-Sik Hong. Parece uma graphic novel sobre um lockdown durante a pandemia, mas é de 2017 e mostra a vida em isolamento por opção durante um longuíssimo inverno.
'Efficiently Inefficient: How Smart Money Invests and Market Prices Are Determined', Lasse Heje Pedersen. Deveria ser leitura obrigatória para qualquer um envolvido na gestão de ativos líquidos. Pedersen é o raro autor que consegue combinar profunidade acadêmica com a prática, além de uma lista de conexões impressionante (Soros, John Paulson, Scholes, etc.) que ilustra os capítulos dedicados a cada tipo de estratégia.
'The Technology Trap: Capital, Labor, and Power in the Age of Automation', Carl Benedikt Frey. Frey nos guia pela história do relacionamento entre automação e empregos, mostrando que a adoção de novas tecnologias está longe de ser automática e passar ao largo de ações de governos.
Outros de não-ficção:
'Energy and Civilization: A History', Vaclav Smil. Longe de ser um livro de aeroporto, como sugere o blurb do Bill Gates. Smil tenta quantificar os fluxos de energia globais desde a idade da pedra para oferecer um painel magistral de como a humanidade tem os usado (de forma pouquíssimo eficiente) para chegar onde chegou. Aprende-se algo novo em praticamente todas as páginas.
'Vento Vadio: As crônicas de Antônio Maria'. Excelente edição da Todavia, que junta, pela primeira vez, o melhor da produção de um dos menos lembrados dos nossos grandes cronistas.
'Major Labels: A History of Popular Music in Seven Genres', Kelefa Sanneh. Uma mistura de crítica, história e relato pessoal por um ouvinte atento e sem preconceitos, que tenta evitar julgamentos contemporâneos sobre fenômenos culturahis passados.
'Exact Thinking in Demented Times: The Vienna Circle and the Epic Quest for the Foundations of Science', Karl Sigmund. Um desses raros livros que são produto de uma vida: Sigmund é um vienense apaixonado e professor na mesma uniersidade que gerou o famoso Círculo de Viena. Aqui ele leva o leitor para um tour pelas ideias e personalidades de um grupo de pensadores que moldaram o que entendemos hoje por ciência. Foi ótimo lê-lo depois de 'When We Cease To Understand the World'; a não-ficção meticulosamente pesquisada aqui lembra as fantasias de Labatut, e vice-versa.
'História da música popular brasileira sem preconceitos, vol. 1'', Rodrigo Faour. Faour fez um enorme esforço para incluir, nesta obra enciclopédica, ritmos e artistas que, geralmente, são esquecidos por livros do tipo. Evidentemente, é impossível fazer isso sem perda de profundidade, mas o resultado ainda é muito bom, ao menos como ponto de partida para outras explorações. Impossível não ficar de queixo caído com a riqueza do tema coberto.