—Jones & Olken, de 2005, já é meio clássico: eles usaram episódios de transição política que envolve a morte de líderes como um experimento natural e avaliaram o que ocorre depois com o crescimento do PIB. Encontraram um efeito bastante forte nas autocracias (o exemplo mais evidente é a China depois da morte de Mao), mas não em democracias, o que sugere que nestas outros fatores são mais importantes para explicar variações no crescimento do que a influência de um presidente;
—Easterly & Pennings, de 2014, tenta responder a mesma pergunta de Jones & Olken (líderes importam?) usando uma metodologia diferente, que tenta decompor taxas de crescimento e encontrar, isolando fatores específicos ao país e choques aleatórios, a fração que cabe exclusivamente ao líder político. Os resultados sugerem que líderes explicam muito pouco da variação nas taxas de crescimento. Nas palavras deles: "our results are consistent with plausible views of how even seemingly unconstrained autocratic leaders might find it difficult to exert control over the growth rate of the economy... We find in this paper little reason to believe in “great men” –either benevolent or malevolent – driving the growth process."
—Blinder & Watson, de 2013, compara o crescimento econômico nos EUA com presidentes Democratas e Republicanos após a II Guerra: durantes mandatos Democratas, o crescimento anual do PIB foi, em média, 1,8% maior do que em governos Republicanos. A conclusão, porém, é que tal diferença não é produto de políticas diferentes, mas, mais provavelmente, do acaso: Democratas têm mais sorte com os preços de petróleo, choques de produtividade e se beneficiam de algo de profecia autorrealizável alimentada pelo histórico mais favorável.
—Por fim, mas não menos importante: Carrasco, de Mello & Duarte, de 2014, tentam comparar o desempenho de vários indicadores de desenvolvimento econômico no Brasil de 2003 a 2012 com o que poderia ter sido o Brasil com outro governo, este simulado a partir da composição de um grupo de países com características passadas parecidas. A conclusão é que o desempenho brasileiro, medido pela maioria dos indicadores (crescimento, investimento, inflação, redução de pobreza, etc), foi aquém do grupo de comparação—a importante exceção é o mercado de trabalho.
7 comentários:
Muito do mesmo. Conclusões de baixo grau de credibilidade. Por que a ciência econômica ainda vive num modelo cartesiano, tentando fatiar as variáveis para analisar o todo, mesmo sabendo que na soma os resultados são aqueles totalmente inesperados?
Sem falar no espaço amostral que é estudado. Tais conclusões (inferências) devem ser levadas com muita cautela.
Ex-post somos Deuses, ex-ante apenas prisioneiros da caverna...
Isso não faz muito bem à narrativa das incúrias governamentais da Argentina peronista (ou à contranarrativa que destaca o aumento da pobreza durante El Processo)...
A literatura (não a que você citou) também é unânime em mostrar que guinadas radicais contribuem para reduzir o crescimento de longo prazo da economia.
E quem é que está propondo constituintes ou acha que o Brasil precisa "aprofundar a democracia"?
Não são poucos os partidos com essa plataforma (é a do PT? não sei), acho que se deve ser bastante cauteloso sobre nosso futuro, em um prazo mais longo.
Essa comparação não faz sentido sem levar em conta as alternativas. Nada impede os governos alternativos de serem piores ainda.
Que o Brasil subaproveita seus potenciais já é de conhecimento, saber quem é capaz de subaproveitar menos que é a dificuldade.
Aliás, os autores falando sobre economia política mostram o quanto estão se esforçando pra passar o argumento de que o governo do PT foi ruim, quando o estudo não permite dizer isso. Analisando a reeleição do PT dentro desse quadro como uma "análise de antes e depois" do eleitor.
Quem disse que o eleitor não concluiu simplesmente que o PSDB (a alternativa realista) teria feito pior? O artigo parece supor que com outro governo o Brasil faria melhor.
Alguns comentários:
-Acho complicado identificar numericamente o efeito de um governo, pois há infinitas variáveis que praticamente impossibilita essa análise (PIB Mundial, preço internacional de commodities, alteração na competição de produtos com forte peso no PIB, taxa de natalidade, força opositora, etc e mais etc.);
-Acredito que haja uma aleatoriedade no desempenho econômico, mas muitas vezes pode ser alteração de algum fator... como os citados acima. O livro “O Andar do Bêbado” retrata bem sobre resultados de eventos aleatórios;
-Algumas medidas de gestores, terão impactos na próxima gestão. Um exemplo é a melhoria (ou piora) na qualidade do ensino. Infelizmente a maioria dos governantes não se preocupa com investimentos que colherão frutos futuros (ensino, saneamento básico, tratamento adequado de lixo);
-O termo “herança maldita” é uma cretinice populista sem tamanho. Acho uma mediocridade ficar creditando as dificuldades às gestões passadas, e pior ainda é ficar fazendo comparações. Óbvio que sempre haverá algum dado econômico-social melhor, e pegar isso para desmerecer gestões anteriores é de uma baixeza sem tamanho.
O público que frequenta seu blog é excelente mesmo, todas as boas críticas já feitas.
Só um complemento, ou dois. O primeiro é se limitar ao PIB nessa comparação, a essa altura todos já estão carecas de saber da extrema limitação desse para auferir o bem estar. A segurança fundiária de índios e quilombolas, a promoção da igualdade racial, e a desconcentração de renda têm relação fraca e ambigua com o PIB, mas podem ser grandes fatores de aumento do bem estar.
Um segundo comentário é sobre as escolhas de curto e longo prazo. Um governo que escolhe direcionar os recursos para investimento em capital humano vai ter seus frutos colhidos muito mais tardiamente. A primeira geração livre da insegurança alimentar ainda vai custar um pouco para chegar ao ensino médio. Os governos PT, com todos os seus defeitos, obviamente fizeram escolhas desse tipo (orçamento da saúde, educação, desenvolvimento social, etc. subiram consideravelmente, áreas que não eram prioridades orçamentárias para, digamos, o governo FHC).
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