quarta-feira, 31 de outubro de 2012
O Fed, por Linus van Pelt
Aviso que as ideias desse post são descaradamente copiadas dos e-mails do amigo C.R., a quem agradeço.
Noite de Halloween. Linus van Pelt, o melhor amigo do Charlie Brown, espera a aparição da Grande Abóbora, concorrente menos popular do Papai Noel. Antes do Halloween, Linus sempre escreve para a Grande Abóbora. Para melhor entendimento pelas gerações mais novas de economistas, podemos imaginá-lo como um operador de mercado ou banqueiro, e substituir "Grande Abóbora" por "Fed":
Dear Great Pumpkin, I am looking forward to your arrival on Halloween night. I hope you will bring me lots of presents. You must get discouraged because more people believe in Santa Claus than in you. Well, let’s face it; Santa Claus has had more publicity, but being #2, perhaps you try harder. Everyone tells me you are a fake, but I believe in you.
P.S.: If you really are a fake, don’t tell me. I don’t wanna know.
E, a essa altura, não acreditar na Grande Abóbora Fed sai caro:
Esse Charles Schulz sabia das coisas. Boa Noite da Abóbora a todos.
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terça-feira, 30 de outubro de 2012
Conheça Christopher Cole
Se você acompanha mercados financeiros globais e tem alguma familiaridade com o conceito de volatilidade e afins (elementos na intersecção desse conjunto com o de leitores do blog: aproximadamente 2), não deixe de conhecer o trabalho de Christopher Cole. Cole passou anos na Merrill Lynch estruturando transações com derivativos e dívida, e hoje dirige a Artemis Capital Management, gestora independente focada em operações que envolvem opções e outros derivativos.
Cole é o "pensador" de mercados mais original que conheci desde Hugh Hendry - daqueles caras de cujas conclusões pode-se concordar ou discordar, mas geralmente vai trazer um jeito diferente de olhar para as coisas. Os relatórios dele (o mais recente aqui) são recheados de muitos dados não-triviais derivados de preços de mercado e referências à arte. Ele é o tipo do cara que paga um artista para fazer uma versão alusiva a economia dos nossos tempos do famoso Waterfall, de M. C. Escher (para ele, o capitalismo de hoje também é um objeto impossível - e essa ilustração daria uma bela capa de livro):
Outra sacada artística muito bacana foi essa representação das economias do mundo como barcos, entre o fogo da inflação e o abismo da deflação - a manobra para escapar de um extremo pode levar a outro (notem onde está a nau brasileira):
No início do ano, ele tinha produzido esse vídeo, ilustrando os diferentes regimes de volatilidade das ações americanas nas últimas duas décadas:
Ele também é bom de frases. Do último relatório que ele escreveu:
Cole é o "pensador" de mercados mais original que conheci desde Hugh Hendry - daqueles caras de cujas conclusões pode-se concordar ou discordar, mas geralmente vai trazer um jeito diferente de olhar para as coisas. Os relatórios dele (o mais recente aqui) são recheados de muitos dados não-triviais derivados de preços de mercado e referências à arte. Ele é o tipo do cara que paga um artista para fazer uma versão alusiva a economia dos nossos tempos do famoso Waterfall, de M. C. Escher (para ele, o capitalismo de hoje também é um objeto impossível - e essa ilustração daria uma bela capa de livro):
Outra sacada artística muito bacana foi essa representação das economias do mundo como barcos, entre o fogo da inflação e o abismo da deflação - a manobra para escapar de um extremo pode levar a outro (notem onde está a nau brasileira):
No início do ano, ele tinha produzido esse vídeo, ilustrando os diferentes regimes de volatilidade das ações americanas nas últimas duas décadas:
Ele também é bom de frases. Do último relatório que ele escreveu:
A "black swan" is not dying because your parachute didn't open while skydiving... it is dying because the guy whose parachute didn't open landed on you while you were golfing.E uma que pesquei de orelha numa conferência em que fui e ele estava falando:
Acreditar que é impossível um governo calotar a dívida interna porque sempre pode emitir moeda para pagar é o mesmo que acreditar que sua casa nunca pode ser vítima de um roubo, porque sempre há a opção de atear fogo na casa com tudo dentro.Enfim: acompanhem o cara, tem valido a pena.
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segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Livros para o fim do ano
Como de costume, voltei dos EUA com a mala cheia de livros (sim, podia comprar tudo no Kindle, mas ainda prefiro o velho e bom papel - sou um caso clássico de dependência do meio). Entre as coisas que comprei e as que vão ser lançadas até o fim do ano, aí vão algumas que me chamaram a atenção (ainda não li nenhum deles, porém) - talvez em breve sirva como dicas de presente de Natal para quem tiver alguns gostos estranhos e parecidos com os meus:
- The Fractalist: Memoir of a Scientific Maverick, de Benoît Mandelbrot. As memórias póstumas do grande matemático de curiosidade intelectual insaciável. O lançamento oficial é amanhã, e Nassim Taleb já escreveu uma resenha para a Amazon:
"I have never done anything like others", Mandelbrot once said. And indeed these memoirs show it. He really managed to do everything on his own terms. Everything. It was not easy for him, but he end up doing it as he wanted it.
Consider his huge insight about the world around us. "Clouds are not spheres, mountains are not cones, coastlines are not circles, and bark is not smooth, nor does lightning travel in a straight line", wrote Benoit Mandelbrot, contradicting more than 2000 years of misconceptions. Triangles, squares, and circles seem to exist in our textbooks more than reality—and we didn't notice it. Thus was born fractal geometry, a general theory of "roughness". Mandelbrot uncovered simple rules used by nature (and men) that, thanks to repetition, by smaller parts that resemble the whole, generate these seemingly complex and chaotic patterns.
Self-taught and fiercely independent, he thought in images and passed the entrance exam of the top school of mathematics without solving equations; he was both precocious and a late bloomer producing the famous "Mandelbrot set" when he was in his fifties and got tenure at Yale when he was 75. Older mathematicians have resisted his geometric and intuitive method—but the top prize in mathematics was recently given for solving one of his sub-conjectures.
Mandelbrot, while a bit of a loner, had perhaps more cumulative influence than any other single scientist in history, with the only close second Isaac Newton. His contributions affected physics, engineering, arts, medicine (our vessels, lungs, and brains are fractal), biology, etc. But he was unheeded by the very field he started in, economics, where he proved in the 1960s that financial theories vastly underestimate market risk and need total revamping—in spite of the current crisis.
I met him when he was in his late seventies, as he was writing these memoirs long hand. He was the only teacher I ever had, the only person for whom I have had intellectual respect. But there was something else that made him magnetic: he was a raconteur with a profound sense of historical context ... Reading these memoirs put me back in the unusual atmosphere he created around him. The reader is made to feel he are at the center of twentieth century science as it was produced with fields invented almost from scratch: Max Delbrück with molecular biology, Paul Lévy with the mathematics of probability, Robert Oppenheimer with nuclear physics, even Jean Piaget the psychologist for whom Mandelbrot worked as a scientific assistant. And many more.
Finally, the reader will be presented with something that no longer exists in intellectual life: force of character and independence. Enjoy the book.
Para os mais nerds e fãs fieis que passarem por Nova York, recomendo a pequena (porém cheia de conteúdo) exposição sobre a obra de Mandelbrot que está até janeiro na galeria do Bard Graduate Center.
- Antifragile: Things That Gain from Disorder, de Nassim Nicholas Taleb. O esperado sucessor de The Black Swan sai no final de novembro. Taleb já tinha compartilhado vários capítulos do livro no Facebook, e a Amazon já publicou algumas resenhas de quem teve acesso antecipado ao livro (ver no link acima).
- Market Sense and Nonsense: How the Markets Really Work (and How They Don't), de Jack Schwager. Schwager dedicou décadas de carreira a escrever sobre os mercados de futuros e a entrevistar grandes personagens do mercado (na série Market Wizards), na tentativa de entender o que os separa de nós, meros mortais. Esse livro parece ser uma compilação desse longo tempo de observação e reflexão, de grande valor para quem acha que cuidar de dinheiro é mais arte do que ciência, dependente, portanto, mais de narrativas do que de modelos matemáticos.
- Waiting for the Barbarians: Essays from the Classics to Pop Culture, de Daniel Mendelsohn. Nova coleção de ensaios de um dos grandes críticos culturais americanos, falando de Homero a Mad Men. Espero que seja bem melhor do que a capa, tentativa capenga de imitar quadrinhos.
- The Routledge Handbook of Major Events in Economic History, editado por Randall E. Parker e Robert M. Whaples. Esse só sai em abril do ano que vem, mas promete ser uma obra abrangente e bastante útil para quem tenta encontrar pistas do que vai acontecer no futuro no passado (ou simplesmente gosta de cultura inútil).
- Land of Promise: An Economic History of the United States, de Michael Lind. Foi lançado em abril; ouvi falar bem, mas não sei o que acha a turma de história econômica (o autor não é acadêmico da área).
- The Jazz Standards: A Guide to the Repertoire, de Ted Gioia. Um dos grandes historiadores do jazz dedica pequenos ensaios a cada uma das maiores obras do repertório do gênero. Saiu uma resenha legal na última The Atlantic, lembrando, claro, da morte do jazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...
- Building Stories, de Chris Ware. Não é bem um livro, é uma caixa enorme de quase 3kg que ocupou quase metade de uma das minhas malas. Traz quadrinhos em um monte de formas, de cartazes e livretos a um tabuleiro dobrável. Como Jimmy Corrigan, difícil de acompanhar, mas fascinante desde a primeira vista.
- How to Tell If Your Cat Is Plotting to Kill You, de Matthew Inman. Para deixar a lista menos pretensiosa, a nova coleção impressa de besteiras (no melhor sentido possível) do autor de The Oatmeal.
Enfim, boa parte disso pode não ser arte, mas a vida continua sendo breve demais para tanta coisa interessante pra ler...
P.S. O Samer acabou de me lembrar da nova biografia de Paul Volcker pelo professor da NYU William L. Silber (Volcker: The Triumph of Persistence), lançada no mês passado.
- The Fractalist: Memoir of a Scientific Maverick, de Benoît Mandelbrot. As memórias póstumas do grande matemático de curiosidade intelectual insaciável. O lançamento oficial é amanhã, e Nassim Taleb já escreveu uma resenha para a Amazon:
"I have never done anything like others", Mandelbrot once said. And indeed these memoirs show it. He really managed to do everything on his own terms. Everything. It was not easy for him, but he end up doing it as he wanted it.
Consider his huge insight about the world around us. "Clouds are not spheres, mountains are not cones, coastlines are not circles, and bark is not smooth, nor does lightning travel in a straight line", wrote Benoit Mandelbrot, contradicting more than 2000 years of misconceptions. Triangles, squares, and circles seem to exist in our textbooks more than reality—and we didn't notice it. Thus was born fractal geometry, a general theory of "roughness". Mandelbrot uncovered simple rules used by nature (and men) that, thanks to repetition, by smaller parts that resemble the whole, generate these seemingly complex and chaotic patterns.
Self-taught and fiercely independent, he thought in images and passed the entrance exam of the top school of mathematics without solving equations; he was both precocious and a late bloomer producing the famous "Mandelbrot set" when he was in his fifties and got tenure at Yale when he was 75. Older mathematicians have resisted his geometric and intuitive method—but the top prize in mathematics was recently given for solving one of his sub-conjectures.
Mandelbrot, while a bit of a loner, had perhaps more cumulative influence than any other single scientist in history, with the only close second Isaac Newton. His contributions affected physics, engineering, arts, medicine (our vessels, lungs, and brains are fractal), biology, etc. But he was unheeded by the very field he started in, economics, where he proved in the 1960s that financial theories vastly underestimate market risk and need total revamping—in spite of the current crisis.
I met him when he was in his late seventies, as he was writing these memoirs long hand. He was the only teacher I ever had, the only person for whom I have had intellectual respect. But there was something else that made him magnetic: he was a raconteur with a profound sense of historical context ... Reading these memoirs put me back in the unusual atmosphere he created around him. The reader is made to feel he are at the center of twentieth century science as it was produced with fields invented almost from scratch: Max Delbrück with molecular biology, Paul Lévy with the mathematics of probability, Robert Oppenheimer with nuclear physics, even Jean Piaget the psychologist for whom Mandelbrot worked as a scientific assistant. And many more.
Finally, the reader will be presented with something that no longer exists in intellectual life: force of character and independence. Enjoy the book.
Para os mais nerds e fãs fieis que passarem por Nova York, recomendo a pequena (porém cheia de conteúdo) exposição sobre a obra de Mandelbrot que está até janeiro na galeria do Bard Graduate Center.
- Antifragile: Things That Gain from Disorder, de Nassim Nicholas Taleb. O esperado sucessor de The Black Swan sai no final de novembro. Taleb já tinha compartilhado vários capítulos do livro no Facebook, e a Amazon já publicou algumas resenhas de quem teve acesso antecipado ao livro (ver no link acima).
- Market Sense and Nonsense: How the Markets Really Work (and How They Don't), de Jack Schwager. Schwager dedicou décadas de carreira a escrever sobre os mercados de futuros e a entrevistar grandes personagens do mercado (na série Market Wizards), na tentativa de entender o que os separa de nós, meros mortais. Esse livro parece ser uma compilação desse longo tempo de observação e reflexão, de grande valor para quem acha que cuidar de dinheiro é mais arte do que ciência, dependente, portanto, mais de narrativas do que de modelos matemáticos.
- Waiting for the Barbarians: Essays from the Classics to Pop Culture, de Daniel Mendelsohn. Nova coleção de ensaios de um dos grandes críticos culturais americanos, falando de Homero a Mad Men. Espero que seja bem melhor do que a capa, tentativa capenga de imitar quadrinhos.
- The Routledge Handbook of Major Events in Economic History, editado por Randall E. Parker e Robert M. Whaples. Esse só sai em abril do ano que vem, mas promete ser uma obra abrangente e bastante útil para quem tenta encontrar pistas do que vai acontecer no futuro no passado (ou simplesmente gosta de cultura inútil).
- Land of Promise: An Economic History of the United States, de Michael Lind. Foi lançado em abril; ouvi falar bem, mas não sei o que acha a turma de história econômica (o autor não é acadêmico da área).
- The Jazz Standards: A Guide to the Repertoire, de Ted Gioia. Um dos grandes historiadores do jazz dedica pequenos ensaios a cada uma das maiores obras do repertório do gênero. Saiu uma resenha legal na última The Atlantic, lembrando, claro, da morte do jazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...
- Building Stories, de Chris Ware. Não é bem um livro, é uma caixa enorme de quase 3kg que ocupou quase metade de uma das minhas malas. Traz quadrinhos em um monte de formas, de cartazes e livretos a um tabuleiro dobrável. Como Jimmy Corrigan, difícil de acompanhar, mas fascinante desde a primeira vista.
- How to Tell If Your Cat Is Plotting to Kill You, de Matthew Inman. Para deixar a lista menos pretensiosa, a nova coleção impressa de besteiras (no melhor sentido possível) do autor de The Oatmeal.
Enfim, boa parte disso pode não ser arte, mas a vida continua sendo breve demais para tanta coisa interessante pra ler...
P.S. O Samer acabou de me lembrar da nova biografia de Paul Volcker pelo professor da NYU William L. Silber (Volcker: The Triumph of Persistence), lançada no mês passado.
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Ouvido por aí
CENÁRIO: trem de Nova York para Boston.
PERSONAGENS: MOSHE, um general aposentado do exército de Israel; JOE NOT THE PLUMBER, ad(e)vogado e incorporador de imóveis em Connecticut; RUTH, esposa de Moshe; um OUVINTE abelhudo.
JOE NOT THE PLUMBER observa uma foto de Obama no jornal, e pede a MOSHE que diga para os judeus que encontrar votarem em Romney.
JOE NOT THE PLUMBER: A política externa do Obama é um desastre. Não podemos aguentar mais quatro anos desse cara.
MOSHE: A política externa do Obama tem sido boa pra Israel, talvez não do jeito que se imaginava.
JOE NOT THE PLUMBER: Muçulmanos precisam ser contidos, fazem mal para o mundo e para os EUA.
MOSHE: Muçulmanos não são maus; muçulmanos radicais fazem mal para o mundo. A maioria dos muçulmanos só quer viver em paz. O radicalismo só vai acabar com uma guerra dentro do próprio Islã, com os moderados se dando conta de quanto são atrapalhados pelos radicais.
OUVINTE: Hmmmmmmm...
FIM
PERSONAGENS: MOSHE, um general aposentado do exército de Israel; JOE NOT THE PLUMBER, ad(e)vogado e incorporador de imóveis em Connecticut; RUTH, esposa de Moshe; um OUVINTE abelhudo.
JOE NOT THE PLUMBER observa uma foto de Obama no jornal, e pede a MOSHE que diga para os judeus que encontrar votarem em Romney.
JOE NOT THE PLUMBER: A política externa do Obama é um desastre. Não podemos aguentar mais quatro anos desse cara.
MOSHE: A política externa do Obama tem sido boa pra Israel, talvez não do jeito que se imaginava.
JOE NOT THE PLUMBER: Muçulmanos precisam ser contidos, fazem mal para o mundo e para os EUA.
MOSHE: Muçulmanos não são maus; muçulmanos radicais fazem mal para o mundo. A maioria dos muçulmanos só quer viver em paz. O radicalismo só vai acabar com uma guerra dentro do próprio Islã, com os moderados se dando conta de quanto são atrapalhados pelos radicais.
OUVINTE: Hmmmmmmm...
FIM
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
US and A
Estou esta semana, como dizem os amigos "a trabalho" por aqui. Não sei se vou ter tempo de escrever; em todo caso, domingo que vem estou de volta à normalidade.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Som da Sexta - Raça Negra Indie (?!?!)
E aí você descobre que: 1) conhece todas as músicas do Raça Negra; 2) reavalia as composições e conclui que algumas são bastante boas. Mais sobre o tributo aqui; abaixo, a melhor, de longe, é a versão de Lulina (com delicioso sotaque pernambucano) para Cigana.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Juros reais neutros na América Latina
Um novo trabalho do FMI, dos pesquisadores Nicolas E. Magud e Evridiki Tsounta, usou sete diferentes metodologias para tentar estimar a elusiva taxa de juros real neutra para vários países da América Latina. A tabela e os gráficos abaixo resumem o que encontraram:
Interessante ver que vários dos fatores listados vêm mudando (caindo parcela de dívida indexada a Selic, tentativas de reduzir a indexação, fim do piso para os juros da poupança, aumento dos prazos dos contratos, etc).
O trabalho também fala do efeito das chamadas medidas macroprudenciais na política monetária, mas não vou me alongar mais - se você se interessa pelo assunto, vale ir direto na fonte.
Os autores também reúnem respostas para a eterna questão do juro real neutro alto para o Brasil:
While the Brazilian neutral real interest rate (NRIR) has declined considerably over time, it still remains high by international standards. Various hypotheses have been formulated for this high neutral real interest rate level:
- Fiscal considerations. Brazilian public debt, at around 65 percent of GDP in gross terms, is high by regional standards. Moreover, there is a strong endogeneity between the level of the policy rate—the SELIC—and the level of public debt, given that about half of the domestic public debt is indexed to the SELIC. This restricts the degrees of freedom for monetary policy and feeds back into a higher than otherwise SELIC, and thus NRIR (World Bank, 2006). Similarly, Rogoff (2005) argues that Brazil incurs a significant default risk premium due to its inflationary history; an argument reinforced empirically by World Bank (2006).
- Low domestic savings. Brazil’s low domestic savings, and thus investment, is also cited as a reason for a higher NRIR (Fraga, 2005; Miranda and Muinhos; 2003; Hausmann, 2008; and Segura, 2012). However, Segura (2012) finds that low domestic savings cannot adequately explain the cross-country discrepancy.
- Institutional factors. Weak creditor rights and contractual enforcement have been cited as possible explanations for a higher NRIR (Arida et al., 2004; Rogoff, 2005). Lack of full central bank independence is also used to explain the high NRIR, though Nahon and Meuer (2009) find no changes in central bank’s credibility due to recent changes in its Board of Directors.
- Widespread financial indexation. There is strong inertia due to the indexation of financial contracts to the overnight interest rate (World Bank, 2006). While this indexation has maintained financial intermediation in Reais, it has created a system of unusually short duration financial contracts. The legacy of indexation to the overnight interest rate has created institutional and psychological inertia, and a path-dependency that has been difficult to dislodge. It has also made inflation less responsive to interest rate changes.
- Other Brazil-specific factors. Subsidized lending has resulted in credit market segmentation, pushing up market-determined interest rates. Other factors that might keep the nominal neutral interest rate high include an inflation target that is higher than in other emerging market economies and the minimum remuneration requirements in saving accounts (see Segura (2012) and Central Bank of Brazil (2012) for details).
Interessante ver que vários dos fatores listados vêm mudando (caindo parcela de dívida indexada a Selic, tentativas de reduzir a indexação, fim do piso para os juros da poupança, aumento dos prazos dos contratos, etc).
O trabalho também fala do efeito das chamadas medidas macroprudenciais na política monetária, mas não vou me alongar mais - se você se interessa pelo assunto, vale ir direto na fonte.
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Leituras da Semana
- Perfil de Glenn Hubbard, de Columbia, o principal assessor econômico de Mitt Romney.
- A importância do minério de ferro.
- Boa apresentação de David Rosenberg.
- Como evoluíram as exportações de alguns países da América Latina.
- Entrevista de Armínio Fraga para a Folha.
- As consequências econômicas de Hugo Chávez.
- O investimento estrangeiro direto está chegando: aqui e aqui.
- Reinhart & Rogoff sobre a velocidade (perfeitamente de acordo com o padrão histórico) da recuperação da economia dos EUA.
- Um livro sobre a história da contabilidade.
- Uma reflexão sobre o papel da pesquisa econômica no entendimento do mundo.
- A importância do minério de ferro.
- Boa apresentação de David Rosenberg.
- Como evoluíram as exportações de alguns países da América Latina.
- Entrevista de Armínio Fraga para a Folha.
- As consequências econômicas de Hugo Chávez.
- O investimento estrangeiro direto está chegando: aqui e aqui.
- Reinhart & Rogoff sobre a velocidade (perfeitamente de acordo com o padrão histórico) da recuperação da economia dos EUA.
- Um livro sobre a história da contabilidade.
- Uma reflexão sobre o papel da pesquisa econômica no entendimento do mundo.
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Rio
"Quando alguém está cansado do Rio, está cansado da vida" (Clarice Lispector*)
O Monge e o Executivo |
Foi um grande prazer comparecer ao Global Economic Symposium, muito obrigado a Bertelsmann Foundation pelo convite. Estou rumo a São Paulo, amanhã voltamos à programação normal.
* A citação é apócrifa, claro.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Gráfico do Dia - Desigualdade de Oportunidades
A reportagem especial da última The Economist, sobre economia mundial e com grande ênfase em desigualdade, está muito boa. Nela conheci esse índice de igualdade de oportunidades, criado pelo pesquisador brasileiro do Banco Mundial Francisco H. G. Ferreira. Ele se propõe a medir quanto da desigualdade de renda deve-se a condições de partida - ou seja, da renda da família quando a pessoa nasceu. Na matéria diz que é calculado para 40 países, mas não consegui achar a base completa (alguém vai achar e colocar nos comentários, claro), então aí vai o gráfico da própria The Economist, com o Brasil tendo a maior proporção de desigualdade de oportunidades na desigualdade total:
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012
E o Nobel de Economia 2012 vai para...
Alvin E. Roth (Harvard, 60 anos) e Lloyd Shapley (UCLA, 89 anos) dividem o Nobel de Economia de 2012, pela "teoria de alocações estáveis e a prática de desenho de mercado". Eu quase tive que ficar um semestre a mais na graduação justamente por teoria dos jogos, e tenho, portanto, zero moral para opinar. Esse resumo do próprio comitê da Real Academia Sueca de Ciências é ótimo como introdução, e tem vários links para quem quiser se aprofundar no trabalho dos dois.
P.S. O atento Lucas Teixeira acabou de observar que a professora Marilda Sotomayor, da FEA-USP, foi coautora do Alvin E. Roth. O IDEAS lista dois trabalhos: um capítulo de um manual de teoria dos jogos e um paper publicado no Journal of Economic Theory. Grande moral para a minha alma mater (não fui aluno da Marilda, ela só lecionava no período da manhã...).
P.S. O atento Lucas Teixeira acabou de observar que a professora Marilda Sotomayor, da FEA-USP, foi coautora do Alvin E. Roth. O IDEAS lista dois trabalhos: um capítulo de um manual de teoria dos jogos e um paper publicado no Journal of Economic Theory. Grande moral para a minha alma mater (não fui aluno da Marilda, ela só lecionava no período da manhã...).
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Global Economic Symposium 2012
Embarco hoje para o Rio para o Global Economic Symposium. Sou um dos responsáveis pelo blog do evento, cobrirei o que for dito sobre bancos centrais, estabilidade monetária e, sobrando tempo, o que mais me interessar. Volto aqui na quinta-feira.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Som da Sexta - Neil Young & Crazy Horse
Épico bem ao estilo do cavalo doido, do disco novo que sai no fim do mês.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Leituras da Semana
- Fabio Giambiagi sobre o impacto da queda dos juros nos fundos de pensão brasileiros.
- Olivier Blanchard sobre o multiplicador fiscal.
- Um ótimo trabalho do Banco da Inglaterra defendendo mais simplicidade na regulação bancária, fortemente inspirado nas ideias do psicólogo alemão Gerd Gigerenzer.
- Aritmética simples aplicada a preços pode ser muito cruel.
- Um paper sobre o aumento do uso de equações e ferramentas econométricas nos trabalhos de economia. Essa figura é de lá (via Justin Wolfers):
- A última edição da Foreign Policy, sobre economia global, está muito boa: quem ganhou na Grande Recessão, repensando os BRICS e alguns pensamentos de Nassim Taleb.
- Noah Smith divaga sobre as consequências de blogar sobre economia.
- A relação (ou não) entre centros financeiros e centros de arte.
- A Suécia leva a sério essa história de igualidade.
- Ótimo texto sobre parte da geração que chega agora aos 20 e alguns anos, seu egocentrismo e problemas em lidar com o mundo fora da faculdade (acho que em larga medida vale também para a minha geração, dos 30 e poucos). Dica: Marcio Guilherme.
- Small Demons, um site que lista referências culturais em livros e vai te tomar muitas e muitas horas.
- Olivier Blanchard sobre o multiplicador fiscal.
- Um ótimo trabalho do Banco da Inglaterra defendendo mais simplicidade na regulação bancária, fortemente inspirado nas ideias do psicólogo alemão Gerd Gigerenzer.
- Aritmética simples aplicada a preços pode ser muito cruel.
- Um paper sobre o aumento do uso de equações e ferramentas econométricas nos trabalhos de economia. Essa figura é de lá (via Justin Wolfers):
- A última edição da Foreign Policy, sobre economia global, está muito boa: quem ganhou na Grande Recessão, repensando os BRICS e alguns pensamentos de Nassim Taleb.
- Noah Smith divaga sobre as consequências de blogar sobre economia.
- A relação (ou não) entre centros financeiros e centros de arte.
- A Suécia leva a sério essa história de igualidade.
- Ótimo texto sobre parte da geração que chega agora aos 20 e alguns anos, seu egocentrismo e problemas em lidar com o mundo fora da faculdade (acho que em larga medida vale também para a minha geração, dos 30 e poucos). Dica: Marcio Guilherme.
- Small Demons, um site que lista referências culturais em livros e vai te tomar muitas e muitas horas.
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quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Há exatos 10 anos pagava-se 4 reais por 1 dólar
Há exatos 10 anos eu era estagiário com pouco mais de um ano no mercado financeiro, e a taxa de câmbio dólar / real, no surto do mercado ainda não convencido do "Lulinha-paz-e-amor", foi a 4. O Valor lembrou da ocasião; abaixo está um gráfico da taxa de câmbio desde então e de uma conta que fiz de qual seria o câmbio equivalente que levasse em conta o diferencial de juros (CDI - Fed Fund, eu sei que é uma aproximação algo imperfeita, mas não longe da realidade) - ou seja, quem vendeu dólares e comprou reais em 10 de outubro de 2002 teria hoje um ganho equivalente a um movimento do câmbio de 4 reais / dólar para 0,64 centavos de real / dólar.
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terça-feira, 9 de outubro de 2012
Fluxos estrangeiros: pare com o mimimi e use regulação
Essa é a mensagem de Barry Eichengreen sobre como o Brasil e outros países devem lidar com os fluxos originados por juros muito baixos no mundo. Nas palavras dele para o Caixin - China Economics & Finance:
What should Brazil and China do? Neither has much room to fight fire with fire. Chinese consumer prices rose 2 percent year-on-year in August, and food prices climbed 3.4 percent. Brazilian inflation in the year through mid-September was 5.3 percent, and there too food prices are a problem. Both the Brazilian Central Bank and People's Bank of China have already loosened significantly. Given inflationary pressures, it is not clear that they can do more.
Tightening fiscal policy is another standard way of leaning against an appreciating exchange rate, but with growth so weak this too is off the table.
The best way of dealing with the impact of cheap foreign money, under the circumstances, is with regulatory policy. Both Brazil and China have regulatory restrictions on hot money inflows. If advanced-country policy threatens to augment those flows, now is the time to tighten those rules and restrictions.
And Brazil, for its part, should emulate China and abandon its public criticism of advanced-country quantitative easing. Low interest rates in the advanced countries may be uncomfortable for emerging markets. But recession throughout the advanced country world, which would result from central bank inaction, would be even worse. As the Chinese proverb says, "there is no wisdom like silence."
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Frases do Dia - Tales de Mileto, especulação e "fuck you money"
[...] as pessoas diziam a ele, em tom de reprovação, que a filosofia era inútil, pois o tornara pobre. Mas ele, fazendo deduções a partir do conhecimento das estrelas de que haveria uma boa safra de azeitonas ainda no inverno, usou o pouco dinheiro que tinha para comprar todas as prensas de óleo em Mileto e em Chios, assegurando, assim, que seriam alugadas. Isto lhe custou pouco dinheiro, pois não havia outros interessados. Quando chegou a época da colheita, houve uma demanda repentina e simultânea por prensas de óleo, e ele as alugou pelo preço que queria. Ganhou muito dinheiro e, assim, demonstrou que era fácil para os filósofos enriquecerem, se quisessem; mas esse não era seu objetivo na vida.
Aristóteles sobre Tales de Mileto, em Política, livro I - citado por John Kay em A Beleza da Ação Indireta. Para o conceito de "fuck you money", ver aqui.
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sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Banco Imobiliário x Fed x Física Quântica
Das regras do Monopoly (vulgo Banco Imobiliário) - via TheTrader:
Do Fed de St. Louis, citado por L. Randall Wray:
Sempre acho que o que o grande físico dinamarquês Niels Bohr disse da teoria quântica também se aplica ao sistema de moeda fiduciária:
Do Fed de St. Louis, citado por L. Randall Wray:
"As the sole manufacturer of dollars, whose debt is denominated in dollars, the U.S. government can never become insolvent, i.e., unable to pay its bills. In this sense, the government is not dependent on credit markets to remain operational. Moreover, there will always be a market for U.S. government debt at home because the U.S. government has the only means of creating risk-free dollar-denominated assets.“
Sempre acho que o que o grande físico dinamarquês Niels Bohr disse da teoria quântica também se aplica ao sistema de moeda fiduciária:
"Anyone who is not shocked by quantum theory has not understood it."
E eis um post sem absolutamente nenhuma ideia original.
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Som da Sexta - aquela bandinha de Liverpool
Há exatos 50 anos saia o single Love Me Do / P.S. I Love You, etc...
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Um Brasil do futuro: bom para o consumidor, pior para os capitalistas
De ler notícias e ouvir conversas, fiquei com uma impressão que pode ter desdobramentos interessantes (assumindo, claro, que eu não esteja redondamente errado, o que pode perfeitamente acontecer): ao mesmo tempo em que o Brasil tem se tornado mais protecionista para o comércio exterior (tentando manter um câmbio mais depreciado do que o que seria caso o regime fosse flutuante, com medidas tributárias para setores específicos, criando "campeões nacionais", etc), o país está se abrindo e atraindo investimento estrangeiro direto, em diversos setores da economia.
Uma consequência disso é que várias atividades que eram dominadas por players nacionais estão passando ou passarão a ter concorrentes estrangeiros de peso - o que me deu o "clique" foi a notícia de ontem do investimento de Peter Thiel na Oppa, loja virtual de móveis (que já havia sido fundada com capital estrangeiro). Pra pegar esse exemplo aplicado aqui a São Paulo: o mercado que antes era disputado por Casas Bahia e seus dormitórios Bartira, a Marabraz, a Tok & Stok e um monte de pequenos produtores que vendem na rua Teodoro Sampaio terá agora que se adaptar à existência de um novo varejista, possivelmente mais eficiente e disposto a disputar mercado via preços (isso mesmo sem a IKEA ainda não ameaçando aparecer por aqui). As margens devem cair (o que é condizente com a queda nos juros básicos), e o ganhador por excelência é o consumidor, com opções mais abundantes, melhores e mais baratas.
Outros exemplos recentes que me ocorrem (grandes players multinacionais anunciando entrada no mercado brasileiro): Expedia, Financial Times, Amazon, Netflix, GAP... devo estar esquecendo de muitos outros.
Não sei com qual grau de intenção, mas parece que foi criada uma situação em que o comércio exterior ainda é complicado e de pouco crescimento, mas as taxas de retorno (caindo, mas ainda altas quando comparadas ao resto do mundo), o ambiente macroeconômico / institucional e a expectativa de evolução do mercado têm atraído fluxos robustos de investimento estrangeiro direto. Se a tendência permanecer, esses fluxos devem aliviar as contas externas caso os preços de commodities comecem a cair, afastando por mais tempo o problema crônico de crises cambiais no país - isso tem funcionado para a Austrália há mais de 30 anos. Isso gera um efeito reflexivo para o investimento estrangeiro - com o fim do "peso problem", ou risco de uma grande desvalorização súbita do câmbio, mais investidores sentem-se seguros para trazer dinheiro para o país.
Enfim: margens e preços em queda, mais opções para o consumidor, menor risco de crise cambial. Talvez esse seja um caso próspero e otimista para o Brasil dos próximos anos (mais para o consumidor médio do que para os capitalistas, curiosamente). No caminho, muita coisa pode dar errado, mas boas sementes parecem estar sendo plantadas.
Uma consequência disso é que várias atividades que eram dominadas por players nacionais estão passando ou passarão a ter concorrentes estrangeiros de peso - o que me deu o "clique" foi a notícia de ontem do investimento de Peter Thiel na Oppa, loja virtual de móveis (que já havia sido fundada com capital estrangeiro). Pra pegar esse exemplo aplicado aqui a São Paulo: o mercado que antes era disputado por Casas Bahia e seus dormitórios Bartira, a Marabraz, a Tok & Stok e um monte de pequenos produtores que vendem na rua Teodoro Sampaio terá agora que se adaptar à existência de um novo varejista, possivelmente mais eficiente e disposto a disputar mercado via preços (isso mesmo sem a IKEA ainda não ameaçando aparecer por aqui). As margens devem cair (o que é condizente com a queda nos juros básicos), e o ganhador por excelência é o consumidor, com opções mais abundantes, melhores e mais baratas.
Outros exemplos recentes que me ocorrem (grandes players multinacionais anunciando entrada no mercado brasileiro): Expedia, Financial Times, Amazon, Netflix, GAP... devo estar esquecendo de muitos outros.
Não sei com qual grau de intenção, mas parece que foi criada uma situação em que o comércio exterior ainda é complicado e de pouco crescimento, mas as taxas de retorno (caindo, mas ainda altas quando comparadas ao resto do mundo), o ambiente macroeconômico / institucional e a expectativa de evolução do mercado têm atraído fluxos robustos de investimento estrangeiro direto. Se a tendência permanecer, esses fluxos devem aliviar as contas externas caso os preços de commodities comecem a cair, afastando por mais tempo o problema crônico de crises cambiais no país - isso tem funcionado para a Austrália há mais de 30 anos. Isso gera um efeito reflexivo para o investimento estrangeiro - com o fim do "peso problem", ou risco de uma grande desvalorização súbita do câmbio, mais investidores sentem-se seguros para trazer dinheiro para o país.
Enfim: margens e preços em queda, mais opções para o consumidor, menor risco de crise cambial. Talvez esse seja um caso próspero e otimista para o Brasil dos próximos anos (mais para o consumidor médio do que para os capitalistas, curiosamente). No caminho, muita coisa pode dar errado, mas boas sementes parecem estar sendo plantadas.
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terça-feira, 2 de outubro de 2012
Leituras da Semana
- Cortesia do J.P. Morgan Asset Management, um guia para os mercados globais nesse último trimestre do ano.
- PIMCO sobre o impacto da queda dos juros no Brasil.
- A Atlantic Media lançou o Quartz, um projeto ambicioso de jornalismo voltado a alguns temas que surgiram depois da crise de 2007 / 2008. Tem valido a pena acompanhar.
- John Quiggin revisita, 82 anos depois, um dos ensaios clássicos de Keynes, Economic Possibilities for our Grandchildren.
- Um bestiário ilustrado das criaturas que povoam a blogosfera econômica.
- Uma crônica deprimente do escritor Gary Shteyngart sobre a American Airlines.
- O riquíssimo relatório sobre educação da OECD.
- Comparação entre as composições de gastos familiares no Brasil, Índia, China, Rússia, Egito, Turquia, Indonésia e Arábia Saudita.
- "Economists have correctly predicted nine of the last five recessions."
- Ótima matéria da Economist sobre a queda do uso de carros no mundo desenvolvido.
- Como é crescer Gangnam-style.
- 211 anos de mudanças políticas em um GIF animado.
- Dois bons obituários de Eric Hosbawm: no NY Times e na Jacobin.
- Filmes por gênero, de 1908 a 2012.
- Meio atrasado, mas ainda relevante: como a escuridão tem permeado a cultura pop. Trecho brilhante: "These are dark stories about a man in a dark suit driving a dark car through dark streets thinking dark thoughts while darkly fighting dark men doing dark deeds in the dark of night."
- Entrevista com Randall Munroe, do xkcd.
- Zumbis da proatividade, deve ter um perto de você.
- PIMCO sobre o impacto da queda dos juros no Brasil.
- A Atlantic Media lançou o Quartz, um projeto ambicioso de jornalismo voltado a alguns temas que surgiram depois da crise de 2007 / 2008. Tem valido a pena acompanhar.
- John Quiggin revisita, 82 anos depois, um dos ensaios clássicos de Keynes, Economic Possibilities for our Grandchildren.
- Um bestiário ilustrado das criaturas que povoam a blogosfera econômica.
- Uma crônica deprimente do escritor Gary Shteyngart sobre a American Airlines.
- O riquíssimo relatório sobre educação da OECD.
- Comparação entre as composições de gastos familiares no Brasil, Índia, China, Rússia, Egito, Turquia, Indonésia e Arábia Saudita.
- "Economists have correctly predicted nine of the last five recessions."
- Ótima matéria da Economist sobre a queda do uso de carros no mundo desenvolvido.
- Como é crescer Gangnam-style.
- 211 anos de mudanças políticas em um GIF animado.
- Dois bons obituários de Eric Hosbawm: no NY Times e na Jacobin.
- Filmes por gênero, de 1908 a 2012.
- Meio atrasado, mas ainda relevante: como a escuridão tem permeado a cultura pop. Trecho brilhante: "These are dark stories about a man in a dark suit driving a dark car through dark streets thinking dark thoughts while darkly fighting dark men doing dark deeds in the dark of night."
- Entrevista com Randall Munroe, do xkcd.
- Zumbis da proatividade, deve ter um perto de você.
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segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Frases do Dia - Eric Hobsbawm, RIP
"Os economistas, como os políticos, sempre tendem a atribuir os sucessos à sagacidade de suas políticas, e durante a Era de Ouro, quando mesmo economias fracas como a britânica floresceram e cresceram, pareceu haver bastante espaço para a autocongratulação."
Eric Hobsbawm, em Era dos Extremos.
"We have never quite lost that sense that - as Hobsbawm himself would probably still insist - you cannot fully appreciate the shape of the twentieth century if you did not once share its illusions, and the communist illusion in particular."
Tony Judt, em Thinking the Twentieth Century.
Morreu hoje o grande historiador marxista, nascido em 1917 em Alexandria - que lugar mais apropriado para ter nascido um historiador?
Estava procurando uma entrevista dele para o Roda Viva, mas não achei em lugar nenhum. Existe ou estou delirando?
Eric Hobsbawm, em Era dos Extremos.
"We have never quite lost that sense that - as Hobsbawm himself would probably still insist - you cannot fully appreciate the shape of the twentieth century if you did not once share its illusions, and the communist illusion in particular."
Tony Judt, em Thinking the Twentieth Century.
Morreu hoje o grande historiador marxista, nascido em 1917 em Alexandria - que lugar mais apropriado para ter nascido um historiador?
Estava procurando uma entrevista dele para o Roda Viva, mas não achei em lugar nenhum. Existe ou estou delirando?
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