O debate entre os economistas que frequentam as colunas dos jornais brasileiros tem se concentrado na elusiva relação entre câmbio e inflação: o Banco Central deve ou não deixar o câmbio se valorizar (mais) para se beneficiar com um suposto impacto benigno nos índices de preços? De um lado estão os ortodoxos, muitos deles ex-diretores do BC (Mário Mesquita, Pérsio Arida, Alexandre Schwartsman), que têm defendido o fim das intervenções no câmbio, para que o real atinja o equilíbrio em um patamar mais valorizado e isso provoque um choque deflacionário na economia. Do outro, a velha guarda que não segue a cartilha neoclássica (Delfim Netto, Belluzzo), dizendo que mais valorização prejudicaria ainda mais a indústria nacional e que parte importante do problema está na diferença entre os juros pagos pelo governo brasileiro e o resto do mundo.
Há algumas perguntas a serem respondidas:
1. Uma valorização adicional do câmbio seria suficiente para causar um efeito notável na inflação? Creio que não. A valorização do real é a correspondência de uma desvalorização global do dólar, e as demais moedas comparáveis à brasileira têm apresentado movimentos de grandezas parecidas. Acreditar que a presença constante do BC no mercado é um fator tão preponderante na formação da taxa de câmbio é ignorar diversos episódios em que atuações agressivas de bancos centrais foram derrotadas. Até agora não vi nenhuma boa estimativa de quanto o câmbio é menos valorizado por conta das compras do BC, mas, acredito levianamente, isso é uma questão de 5% ou 10%, nada que faria com que os preços de importações caíssem a ponto de influenciar decisivamente a trajetória dos índices de preços.
2. O mesmo raciocínio vale para a influência do câmbio na industrialização: dado que o país já aceitou uma valorização nominal de cerca de 25% nos últimos cinco (ou dez) anos, qual o efeito, na margem, de mais, digamos, 5% de valorização? Em todo esse tempo, muito pouco foi feito para melhorar a competitividade da indústria brasileira, seja em investimentos de infraestrutura ou na escolha de setores com potencial para gerar inovação e empregos (preferiu-se criar as "supercampeãs" de commodities, e é melhor não pensar de onde o país vai tirar moeda estrangeira quando o ciclo virar).
3. Continuo sem saber se dona Dilma & seu time têm um projeto de médio / longo prazo para a economia do país. Até agora tudo o que se viu foi um arremedo de corte no orçamento, uma promessa de cortar juros "quando for possível" e alguns tiros de festim na "guerra cambial". É pouco, sobretudo considerando a aura de "potência do século XXI" que já nos foi atribuída.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
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