sábado, 25 de novembro de 2017

O que os estados brasileiros exportam, afinal?

O mapa abaixo, que coloquei no Twitter esta semana, gerou muita curiosidade. Aqui o gabarito de algumas das perguntas que apareceram por lá:



  • O Acre exporta para o Peru madeira (30% do total) algo na categoria de cocos, castanha do Brasil e castanha de caju (27%).
  • Roraima exporta arroz e açúcar para a Venezuela. Jan Tinbergen e discípulos devem ter algo a dizer dos casos de Acre e Roraima, também.
  • 99% do que o Maranhão exporta para o Canadá é óxido de alumínio e derivados (como coríndon).
  • Rondônia exporta carne bovina para Hong Kong.
  • Sergipe, nos últimos 12 meses, exportou mais de 21 mil toneladas de suco de frutas para a Holanda.
  • Nesse mesmo período, Amazonas exportou quase US$ 100 milhões em motocicletas para a Argentina.
  • Desde outubro passado, Pernambuco (provavelmente a fábrica da FCA) exportou mais de meio bilhão de reais em automóveis para a Argentina.
  • O Distrito Federal exporta para o mundo, além de táticas de corrupção e dinheiro para ser lavado, soja e carne de frango.

domingo, 12 de novembro de 2017

Custo de vida e renda no Brasil: ganhe em Brasília, gaste no Piauí

Semana passada o FMI publicou esse paper do Carlos Góes e Izabela Karpowicz que, entre outras coisas, estimou diferenças de poder de compra entre os estados brasileiros (vale ler o trabalho inteiro, que faz ótimo uso dos microdados da PNAD). Com os dados, o Thomas Conti fez o mapa abaixo, que ganhou certa fama nas redes:

Pegando carona na fama do Thomas, cruzei os dados de poder de compra com os de PIB per capita para tentar medir a "affordability", nada mais do que a relação entre renda e custo de vida. Deu nesses gráficos (clique para aumentar):



No primeiro gráfico, as médias para cada variável define quatro quadrantes: os estados mais caros, com renda abaixo da média (pobre Amapá), estados caros, mas relativamente ricos (SP, RJ e DF, sobretudo), estados relativamente ricos e baratos (por esse critério, o melhor lugar do Brasil para se morar é o Espírito Santo) e os estados relativamente pobres e baratos. Neste grupo, há grande variação de custo de vida -- para uma renda parecida, o Piauí é muito mais barato que Rondônia, e Pernambuco é bem mais caro que os vizinhos Alagoas e Paraíba. Ah, e na média o efeito Balassa-Samuelson funciona para os dados (não esqueça de cortar o cabelo quando for ao Piauí, diria o mestre Jeffrey Frankel).

No segundo, tentei montar um índice de "affordability", dividindo o PIB estadual per capita pelo índice de custo de vida e indexando a 100, a média nacional. Aqui, o PIB per capita domina o efeito do custo de vida, e, no geral, os estados mais ricos (e caros) parecem mais atrativos.

Em resumo: trabalhe em Brasília e gaste no Piauí -- ou mude-se para o Espírito Santo.

P.S. Enquanto preparava esse post, o Thomas, com os mesmos dados, fez esse gráfico, muito mais sofisticado:

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Os (enormes) subsídios para crédito direcionado

Publicado originalmente no Acredito, em 23 de maio.

Em meio à polêmica da JBS, empresa que se beneficiou da ajuda do BNDES, vale aprofundarmos o debate sobre a alocação de crédito subsidiado no país.

Um recente trabalho para discussão do Banco Mundial estimou que, em 2015, o Brasil gastou 1,5% do PIB (R$ 86,5 bilhões) em subsídios para crédito direcionado. Isso corresponde a mais de 80% de todo o resultado (déficit) fiscal primário naquele ano, ou a três anos de Bolsa Família.
Além do valor em si, chama a atenção a potencial mal alocação dos recursos: os autores avaliam que empresas que tipicamente se beneficiam de juros subsidiados são grandes, antigas, não usam o crédito barato para investir mais e podem se beneficiar de “arbitragem financeira” -- simplesmente aplicando os recursos recebidos a taxas maiores no mercado financeiro, sem risco.

Como tem sido usado no Brasil, o crédito subsidiado é uma barreira à igualdade de oportunidades e ao crescimento econômico. O alto volume de recursos direcionados aumenta as taxas de juros de mercado, inibindo empreendedorismo, e pode contribuir para o aumento da desigualdade de renda. A solução, na nossa visão, não passa necessariamente pela eliminação imediata de todos os subsídios, mas começa por uma prestação de contas mais clara de custos e benefícios. A Instituição Fiscal Independente, criada no final de 2016, pode ter um papel importante na padronização e disseminação desse tipo de informações.

Clique para aumentar o gráfico.


The reports of my death have been grossly exaggerated

Mas, vergonhosamente, eu ainda não havia postado nada no ano da graça de 2017.

Continuo não conseguindo produzir material original pra colocar aqui, mas vou aproveitar para requentar algumas coisas que escrevi para o Acredito e pro trabalho.