segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ibovespa x Realidade (ou vice-versa)

Dia bom para pensar sobre o mercado de ações por aqui - sexta-feira foi feriado em São Paulo, o S&P500 fechou acima de 1,500 e hoje tem uma pequena correção. Em condições "normais", seria um bom dia para ações brasileiras. No mundo real, o Ibovespa cai 2%, para o nível mais baixo neste ano.

Minha percepção é que é muito grande o pessimismo com a economia brasileira - sobretudo com sua condução pelo governo. Para comprovar isso basta abrir o caderno de economia de algum jornal brasileiro em um dia aleatório dos últimos meses e contar quantas notícias negativas sobre o país aparecem para cada uma positiva. Lá fora, o Brasil deixou de ser o Cristo Redentor decolando e os problemas (que nunca deixaram de existir) voltaram às manchetes.

Minha heurística para lidar com cenários desse tipo é lembrar da frase do professor Eduardo Giannetti que tantas vezes citei aqui: não éramos tão ruins, nem nos tornamos tão bons. O dilema agora é: acreditar nisso e achar que há valor no Ibovespa, que o mercado está exagerando no pessimismo; ou há uma mensagem mais forte dos mercados, que de fato o Brasil está se afundando na estagflação e isso vai ser refletido em mais um ano ruim para as companhias listadas?

Ainda fico com a primeira opção, pela heurística e pelo meu viés contrário: muito pessimismo está embutido no preço relativo Ibovespa abaixo de 60,000 / S&P500 acima de 1,500 (para não falar do IPC mexicano na máxima histórica). Acredito que estamos vendo uma capitulação de velhos detentores de ações, estas sendo trocadas de mãos que as recebem a preços mais atrativos, visão clara de que o Brasil não é nenhum milagre de potencial de lucros e mais disposição a aguentar as eventuais barbeiragens do governo e das companhias. Muito dinheiro entrou no Brasil nos últimos anos com expectativas irreais de retornos; agora, aparentemente, o mercado volta à realidade, e quem fez as apostas erradas está reconhecendo o prejuízo e deixando os ativos para quem tem disposição de carregá-los por mais tempo ou por retornos menores.

Há dois grandes riscos aqui: o primeiro, claro, é esse diagnóstico estar errado e o Ibovespa, com os problemas que já levantei, ter se tornado um imenso value trap, com as principais companhias passando anos sem entregar lucros e os aparentes preços atrativos mostrarem-se, em retrospecto, altos demais. O segundo é estar certo muito cedo, e, por algum tempo, a tendência dos últimos meses prevalecer antes que a ideia gere algum lucro.

Outra possibilidade é o Ibovespa ser o "canário na mina" para o crescimento da China, com sua alta concentração em empresas ligadas a commodities servindo como indicador de problemas em breve, o que não parece estar no preço de alguns outros mercados.

Qualquer que seja a realidade, essa divergência é interessantíssima em um ambiente geral de grande otimismo (ou pelo menos ausência de pessimismo concreto), e deve se resolver nos próximos meses. Em resumo, minha aposta, contra o consenso, é numa recuperação relativa do Ibovespa. Façam as suas.

12 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo artigo.

Osmar Camilo disse...

E não é que esse rapaz escreve bem, mesmo!?
Tô com você DK!!
Algum prognóstico para HRT?

JGould disse...

Boa análise como de costume mas, não há como não inferir o estrago que este governo fez no mercado. Primeiro, a capitalização da PETR, depois o "takeover" sobre a Vale, mais adiante, o uso de bancos públicos para derrubar juros(dizem que será o "greatest shorting ever") e "last but not least", o setor elétrico, tido como um tipo de "consol". Fora inflação e etc. Estamos como naquele seriado mexicano. "E agora? Quem poderá nos salvar?" Minha resposta, Xi Jinping!!!

abs

Anônimo disse...

Os investidores pessoa física praticamente já saíram da bolsa no final do ano passado e no início do presente o investidor estrangeiro é que movimento a bolsa. Os recursos dos dividendos que ainda movimentavam a bolsa vem diminuindo com a redução dos lucros. Hoje vale anuncio o pagamento de dividendos inferior a do ano passado, talvez a razão da queda de hoje.

É um cenário muito desanimador no mercado. Para um respiro só se ocorresse a diminuição do sócio governo mas é algo improvável. governo d

Anônimo disse...

Olá,

Concordo com a idéia de que o País vai sobreviver ao desgoverno.

Minha questão é em qual setor investir: vejo o setor de consumo supervalorizado, tendo em vista o risco de endividamento; o setor elétrico, ainda arriscado; a Petrobrás, mal conduzida, a Vale, sob risco China.

Chamou minha atenção no ano passado os ganhos da dupla FIBRIA / USIMINAS. Crença no apoio do governo ou valor intrínseco das empresas?

Enfim, para alguém que também crê que a bolsa ainda possa gerar ganhos, sobretudo em ambiente de juros baixos, qual estratégia seguir?

Abraços a todos

Drunkeynesian disse...

hahahaha, não acompanho casos individuais, muito menos HRT... e mal sei apontar a Namíbia no mapa.

Mercado onde pessoas físicas desistiram é bom, geralmente são as mãos mais fracas.

Último anon, a estratégia que acho que tem mais chance de funcionar é comprar o que você conhece... não tem fórmula mágica, e comprar o índice é aceitar que você está comprando um monte de empresas de história difícil.

Anônimo disse...

O gringo tem feito os movimentos da bolsa mesmo e o call recorrente é que o Brasil vem perdendo algumas características que eram interessantes, quando na análise relativa: perspectiva de crescimento razoável e estabilidade de regras micro. O crescimento da demanda, carro chefe da alta das ações no Brasil nos últimos anos, tem produzido inadimplência e inflação. Os dados do mês de dezembro ainda não mostraram melhora. Se estamos assim com o mundo melhor (rebar na máxima), imagina só o cenário alternativo!
Mas isso é passado e acho realmente que estamos gerando um espaço para um catch up!
Maradona

Anônimo disse...

Não éramos tão ruins, mas estamos ficando mais ruins do que poderíamos imaginar!

Anônimo disse...

Resta saber se não mataram a galinha dos ovos de ouro com a enxurrada de ipos em 2006-2007 e com a capitalização da petrobrás para transferência dos recursos para o tesouro nacional e com os acionistas possivelmete transferindo os recursos da renda variável para imóveis com aquisições supervalorizadas e financiamentos por 30 anos.

Aí vai faltar vaca para tanto brejo.

anonimo investidor

Anônimo disse...

falaram dos bancos, mas BBDC andou batendo na máxima histórica dias desses...

Anônimo disse...

Um aspecto a ser considerado, inclusive considerando o artigo do mão visível hoje (o nome do blog é mais fácil que o do autor), é que o prazo para reversão da política econômica passou. Esclareço: não dá mais tempo para o governo implantar uma política de médio prazo de ajuste da economia; a eleição já é no ano que vem. Isso teria que ter sido feito em 2011. Assim, de alguma forma, o governo teria que manter as políticas atuais, aprofundando os desajustes.

Isso modifica de alguma maneira as suas conclusões?

Abraços

Drunkeynesian disse...

Anon, concordo de alguma maneira, já que, de fato, no ano da eleição a tendência é que o governo faça de tudo para acelerar o crescimento. Isso não muda minha conclusão, que é mais de curto prazo: não acho a bolsa brasileira estruturalmente boa; acho, sim, que o mercado está levado por uma onda de pessimismo e atribuindo um valor muito descontado às ações.