terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Os livros de 2023

Hora de parar para olhar para a lista de leituras do ano, separar o que achei mais legal e lembrar como é bom escrever um blog (obviamente não estou perto de voltar com regularidade, talvez a periodicidade anual seja de fato a mais conveniente). A amostra inteira está no Goodreads.

Edições anteriores: 20222021 / 2020 / 2019 / 2018 / 2017 / 2016 / 2015 / 2014 / 2013 / 2012 / 2011 / 2010

Ficção:

'O nervo óptico', María Gainza. É ficção? As histórias parecem bater com o pouco que descobri da biografia da autora, as muitas obras de arte mencionadas parecem existir... Isso importa? Só aumenta o charme deste 'Ways of Seeing' com sotaque portenho.


'The Divorce', César Aira.
O outro argentino notável da lista, também curtinho, o primeiro que leio do autor – que, aparentemente, tem vários outros pequenos romances de imaginação borgesiana.

'Sul da fronteira, oeste do sol', 'Sono' e 'Primeira pessoa do singular', Haruki Murakami. Respectivamente, o Murakami de que mais gostei, uma novela-quase-conto-ilustrada e o livro de contos mais recente. Jazz, Japão e relacionamentos meio platônicos sempre vão me pegar.

'Ghost Town', Kevin Chen. Um romance de realismo fantástico sulamericano do século XX, só que lançado em 2022 e ambientado em Taiwan.

'Trust', Hernan Diaz. Uma ficção histórica altamente convincente (e bem escrita), num formato desafiador e engenhoso. Parece ter merecido o Pulitzer que levou (e mais um argentino na lista...).

'The Road', Cormac McCarthy. Uma das experiências mais aterradoras que a literatura já me proporcionou.


Quadrinhos:

'Afirma Pereira', Pierre-Henry Gomont. Linda versão do essencial romance antifascista de Antonio Tabucchi.

'Verões Felizes', Zidrou & Jordi Lafebre. Nem todo bom livro precisa ser sobre famílias infelizes e distintas. 

'The Secret to Superhuman Strength', Alison Bechdel. Bechdel continua sendo uma personagem tão irritante quanto quadrinista talentosa, aqui usando como pano de fundo sua obsessão de décadas com atividade física.


Economia, mercado e afins:

'The Chile Project: The Story of the Chicago Boys and the Downfall of Neoliberalism', Sebastian Edwards. Edwards foi muito criticado (talvez justamente) pela certa complacência com muitos colaboradores de um regime psicopata. Ao mesmo tempo, o livro não existiria se não fosse sua proximidade com esses personagens. De qualquer maneira, pouca gente poderia contar a história econômica do Chile nos últimos 50 anos de forma tão competente.

'Slouching Towards Utopia: An Economic History of the Twentieth Century', J. Bradford DeLong. Polanyi e Hayek como os 'economistas defuntos' que escravizaram tantos homens práticos no longo século XX.

'Status and Culture: How Our Desire for Social Rank Creates Taste, Identity, Art, Fashion, and Constant Change`, W. David Marx. O nome deve ajudar na agudeza da observação social
multidisciplinar.

`The Fund`, Rob Copeland. Delenda Dalio.


Outros de não-ficção:

'Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele', Rafael Soares. Um livro de enorme coragem, com o tipo de trabalho jornalístico que está morrendo na era da informação rasa e "gratuita". Vale ler junto com a 'Vale o Escrito', da Globoplay.

'How the World Really Works: The Science Behind How We Got Here and Where We're Going', Vaclav Smil. Cause we are living (and will keep living) in a material world.

'Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business', Neil Postman. Postman morreu sem ver o estrago que a internet e redes sociais fizeram na política, o que tornou sua análise ainda mais pertinente e atual.

'Sovietistão', Erika Fatland. Um olhar de antropóloga, mas livre de academicismos, sobre as esquisitices da Ásia Central.


Se der tempo antes do ano acabar, ainda coloco outras listas (de filmes e músicas) no Twitter. Que todos vivam muitas alegrias neste finalzinho de 2023 e comecem 2024 com a ilusão sincera de que as coisas sempre podem ser melhores.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Os livros de 2022

Vamos ao tradicional (fui contar agora, é o 13º!) post anual que ainda mantém este blog vivo. Tudo que li está no Goodreads. Os livros não estão em nenhuma ordem particular, tudo listado aqui é recomendável.

Edições anteriores: 2021 / 2020 / 2019 / 2018 / 2017 / 2016 / 2015 / 2014 / 2013 / 2012 / 2011 / 2010


Ficção:

'Too Loud a Solitude', Bohumil Hrabal. Uma novela curta ambientada na Checoslováquia comunista. O protagonista é um operário responsável por uma enorme prensa hidráulica que transforma livros e outros papeis menos nobres em enormes blocos de papel para reciclagem. Hrabal usa essa premissa inusitada para falar de literatura, censura, autoritarismo, e, meu tema favorito aqui, a relação entre trabalhadores e seus ofícios.

'Chess', Stefan Zweig. Outra novela curta e alegórica, que Zweig escreveu no final da vida, já no Brasil. Li em inglês, mas há uma linda edição brasileira recente da Fósforo.

'Saint Peter's Snow', Leo Perutz. Perutz foi uma recomendação do 'Exact Thinking in Demented

Times' (abaixo). Uma história que se passa nesses "tempos dementes", cheios de fanatismo e descobertas científicas.

'Lessons', Ian McEwan. A história de uma vida desde o pós-guerra, que, não por coincidência, acompanha a trajetória do autor, desde a Líbia no pôr do sol do imperialismo até a pandemia de covid-19.

'Kudos', Rachel Cusk. Último livro de uma trilogia estranha e difícil de classificar. Leia a crítica da Sally Rooney para a Slate, muito melhor do que qualquer coisa que eu consiga elaborar.

'Norwegian Wood', Haruki Murakami. O romance de formação de Murakami, uma delícia de ler (ao menos para quem compartilha de paixões por relacionamentos complicados, meio platônicos e jazz).

'Sagarana', João Guimarães Rosa. Mais especial ainda ter lido durante uma viagem a Minas e encontrar no livro a imagem escrita daquela terra tão bonita e cheia de histórias.

'The Door', Magda Szabó. Parando agora pra olhar a lista, este foi o meu ano de romances da Europa Central. Aqui Emerence, uma governanta irascível, personifica a história da Hungria que emergiu da ocupação nazista e do comunismo.

'When We Cease to Understand the World', Benjamín Labatut. Este foi tão lido e comentado este ano que só deixo o registro.


Quadrinhos:


'Paul Has a Summer Job'
, Michel Rabagliati. Primeiro que leio da série do autor de Quebec. Leve, doce e divertido, sobre um daqueles períodos em que a vida, de repente, acelera e nunca volta ao que era.

'The Structure Is Rotten, Comrade', Viken Berberian e Yann Kebbi. Um passeio delirante pela arquitetura do século XX, via uma Yerevan distópica.

'Crônicas da Juventude', Guy Delisle. Deslile mantém a forma, aqui em uma viagem a seu passado como trabalhador temporário em uma fábrica de papel no Canadá. Se falta o olhar de descoberta de lugares "exóticos" como Pyongyang, Jerusalém ou Shenzhen, a sensibilidade e humor de sempre continuam presentes, além dos desenhos econômicos e precisos.

'Gourmet', Masayuki Kusumi. Cada refeição do protagonista solitário e faminto é um haiku, uma homenagem à grandeza infinita da cozinha japonesa e à diversidade e o anonimato proporcionado pelas grandes cidades.

'Uncomfortably Happy', Yeon-Sik Hong. Parece uma graphic novel sobre um lockdown durante a pandemia, mas é de 2017 e mostra a vida em isolamento por opção durante um longuíssimo inverno.


Economia, mercados e afins:

'Efficiently Inefficient: How Smart Money Invests and Market Prices Are Determined', Lasse Heje Pedersen. Deveria ser leitura obrigatória para qualquer um envolvido na gestão de ativos líquidos. Pedersen é o raro autor que consegue combinar profunidade acadêmica com a prática, além de uma lista de conexões impressionante (Soros, John Paulson, Scholes, etc.) que ilustra os capítulos dedicados a cada tipo de estratégia.

'The Technology Trap: Capital, Labor, and Power in the Age of Automation', Carl Benedikt Frey. Frey nos guia pela história do relacionamento entre automação e empregos, mostrando que a adoção de novas tecnologias está longe de ser automática e passar ao largo de ações de governos.


Outros de não-ficção:

'Energy and Civilization: A History', Vaclav Smil. Longe de ser um livro de aeroporto, como sugere o blurb do Bill Gates. Smil tenta quantificar os fluxos de energia globais desde a idade da pedra para oferecer um painel magistral de como a humanidade tem os usado (de forma pouquíssimo eficiente) para chegar onde chegou. Aprende-se algo novo em praticamente todas as páginas.

'Vento Vadio: As crônicas de Antônio Maria'. Excelente edição da Todavia, que junta, pela primeira vez, o melhor da produção de um dos menos lembrados dos nossos grandes cronistas.

'Major Labels: A History of Popular Music in Seven Genres', Kelefa Sanneh. Uma mistura de crítica, história e relato pessoal por um ouvinte atento e sem preconceitos, que tenta evitar julgamentos contemporâneos sobre fenômenos culturahis passados.

'Exact Thinking in Demented Times: The Vienna Circle and the Epic Quest for the Foundations of Science', Karl Sigmund. Um desses raros livros que são produto de uma vida: Sigmund é um vienense apaixonado e professor na mesma uniersidade que gerou o famoso Círculo de Viena. Aqui ele leva o leitor para um tour pelas ideias e personalidades de um grupo de pensadores que moldaram o que entendemos hoje por ciência. Foi ótimo lê-lo depois de 'When We Cease To Understand the World'; a não-ficção meticulosamente pesquisada aqui lembra as fantasias de Labatut, e vice-versa.

'História da música popular brasileira sem preconceitos, vol. 1'', Rodrigo Faour. Faour fez um enorme esforço para incluir, nesta obra enciclopédica, ritmos e artistas que, geralmente, são esquecidos por livros do tipo. Evidentemente, é impossível fazer isso sem perda de profundidade, mas o resultado ainda é muito bom, ao menos como ponto de partida para outras explorações. Impossível não ficar de queixo caído com a riqueza do tema coberto.

'The Man in the Red Coat', Julian Barnes. Barnes usa a vida de Samuel Pozzi, um extraordinário ginecologista e bon-vivant francês, para ir e vir entre fofocas, histórias e personagens da Belle Époque.


A quem chegou até aqui, desejo um excelente 2023, cheio de tempo para passarmos fazendo o que gostamos e com quem amamos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Os livros de 2021

 Mantendo ao menos a tradição do post anual, vamos lá (tudo que li está no Goodreads, este ano tentei fazer, lá mesmo, uma pequena resenha do que fui registrando). A maioria dos romances que li este ano desapontou (incluindo o novo da Sally Rooney), então a lista ficou carregada em não-ficção. Para o nobre de propósito de achar o que dar de presente, recomendo também a lista dos livros que foram presenteados no amigo secreto do clube de leitura do qual participo, a curadoria ali é de alto nível.

Ficção:

'Outline' e 'Transit', Rachel Cusk. Cusk parece ser uma boa companhia para um daqueles cafés que dura horas, emendando uma história na outra. Ainda não li o volume final da trilogia ('Kudos'), então não tenho um veredito final. Gostei bem mais de 'Outline' do que do seguinte, o que pode só demonstrar que é muito mais fácil gostar de algo ambientado no verão da Grécia do que no inverno de Londres.

'Sabbath's Theater', Philip Roth. O melhor Roth que li, devasso e sem freios morais. Certamente teria dificuldades para ser publicado hoje.


'Diomedes'
, Lourenço Mutarelli. Enorme graphic novel, criativa e delirante. Demorei demais pra me lançar no Mutarelli.

'Livro do Desassossego', Fernando Pessoa. Uma bíblia pagã. Para ler continuamente pro resto da vida.

'Serotonina', Michel Houellebecq. Bem menos irritante que 'Submissão', talvez ainda mais incômodo.

'A Odisseia de Hakim', Fabien Toulmé. Em três volumes. Talvez a obra que mais me tocou este ano. Simplesmente narrando, em quadrinhos, a trajetória de um refugiado sírio de Damasco até conseguir chegar na Provença (seria um voo direto de pouco mais de três horas, me diz o WolframAlpha), Toulmé escancara o absurdo que é o tratamento dado pelo mundo a refugiados.

'A Noiva do Tradutor', João Reis. Divertidíssima atualização das andanças por Lisboa de uma versão menos angustiada e mais raivosa do Bernardo Soares de Pessoa.

'Luster: a novel', Raven Leilani. Ainda terminando, dos poucos lançamentos recentes que parece valer o hype. 


Não-ficção:

'Scale', Geoffrey West. Livros com "teorias gerais de tudo" são sempre fadados a falhar, mas este, aos olhos da física, acaba explicando de forma muito clara e pouco intuitiva muitos fenômenos econômicos e sociais.

'Why Bother with Elections?', Adam Przeworski. Przeworski destila décadas de estudo e reflexão nesse livrinho, que mostra como eleições devem ser, ao mesmo tempo, objeto de pouca esperança e fundamentais. Saiu este ano em Português, também.

'A Canção no Tempo', Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. Em dois volumes, à altura da monumental obra de que trata.

'How Asia Works', Joe Studwell. Ásia aqui são os três países extremamente bem-sucedidos economicamente do leste do continente, Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Em comum tiveram a distribuição em massa de propriedades rurais, incentivos à agricultura familiar e a combinação pouco usual de protecionismo seguido de "disciplina de exportação". Parece algo fácil de ser seguido, mas, como sabemos, a estrada para o inferno está pavimentada de boas intenções de governos desenvolvimentistas. A China continental parece estar seguindo os passos.

'Why the Germans do it Better', John Kampfner. Aqui, outro arranjo institucional impressionante que emergiu da Segunda Guerra. Ótimo para acompanhar a despedida de frau Merkel.

'The Ends of the Earth', Robert D. Kaplan. Relato de uma viagem de Kaplan (em 1994) em países que pareciam bastante fodidos de maneiras distintas entre eles. Interessante (e animador) ver que, quase 30 anos depois, a grande maioria deles melhorou substancialmente a vida dos seus habitantes: se não enriqueceram, melhoraram substancialmente dois indicadores básicos de saúde pública, mortalidade infantil e taxa de fertilidade. Ia fazer um post sobre isso, mas deu preguiça; tem um monte de gráficos prontos aqui.

'The World for Sale', Javier Blas e Jack Farchy. Belo trabalho para descrever como funcionam empresas das quais, até bem pouco tempo atrás, não se sabia muita coisa (as trades de commodities, no


caso).

'Numbers Don't Lie', Vaclav Smil. Primeiro livro que pego pra ler do prolífico heroi intelectual do Bill Gates. Smil parece ser um mestre nas estimativas de Fermi, além de, claro, saber tudo sobre produção e consumo de energia. Lerei outros.

'Bad Science', Ben Goldacre. Indicação do Tim Harford, grandes capítulos sobre placebos, os incentivos para publicação científica e, claro, vacinas.

'The Swerve', Stephen Greenblatt. O argumento central é meio forçado e furado, mas nunca gostei tanto de um livro que se passa na Idade Média (talvez porque o principal protagonista é um maníaco por livros).

'Range: Why Generalists Triumph in a Specialized World', David Epstein. Peguei esperando um livro de negócios típico (e para exercitar meu viés de confirmação), encontrei uma combinação muitíssimo bem feita de resumo da literatura e boas histórias. 

'Murakami T: The T-Shirts I Love', Haruki Murakami. Os pontos de vista esquisitos, originais e divertidos de Murakami sobre sua enorme coleção de camisetas.


Um grande 2022 pra vocês, com mais humanidade e menos máscaras.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Os livros de 2020

O blog segue agonizando, mas teima em não morrer. Aí vai o post anual de costume (todo o resto está no Goodreads):

Ficção:


'Tiempos Recios', Mario Vargas Llosa. O melhor Vargas Llosa desde 'Travessuras da Menina Má', retomando a verve e alguns personagens de 'A Festa do Bode' para contar a história do golpe militar de 1954 na Guatemala.

´Sobre os Ossos dos Mortos', Olga Tokarczuk. Foi propagandeado como um panfleto ambientalista, mas também pode ser lido como uma história de detetive tragicômica contada por uma narradora sem nenhuma credibilidade.

'A Vida Invisível de Eurídice Gusmão', Martha Batalha. Um dos melhores romances contemporâneos que já li, muito mais leve e divertido que a versão em filme.

'A Peste', Albert Camus. Releitura inevitável do ano, felizmente muito mais otimista do que eu lembrava ser.

'Segredos', Domenico Starnone. Ainda não apareceu o livro do Starnone que li e não gostei.

'Biografia Involuntária dos Amantes', João Tordo. Viagem sentimental atormentada pela Galícia, Canadá e Londres.

'The Nickel Boys', Colson Whitehead. Vale o hype do Pulitzer.

'Torto Arado', Itamar Vieira Junior. Um livro que vai passando e deixando uma legião de pessoas que o recomendam entusiasmadamente. Em breve numa lista de leituras para o vestibular. A grande leitura do ano, sem dúvidas.

'The Vegetarian', Han Kang. Para quem conhece um pouco de cinema coreano e nada da literatura, é exatamente o que se espera.

'The Loser', Thomas Bernhard. Você era o melhor pianista do mundo, mas deu azar de ser colega de sala de Glenn Gould. Loser.

'Perto do Coração Selvagem' e 'A Hora da Estrela', Clarice Lispector. Efemérides servem como uma cutucada para correr atrás dos buracos na formação. 


Não-ficção:

'Em Busca da Alma Brasileira: Biografia de Mário de Andrade', Jason Tércio. Biografia à altura do incansável biografado.

'This Is Not Propaganda: Adventures in the War Against Reality', Peter Pomerantsev. Um mergulho no submundo digital onde habitam bots, extremistas e governos inescrupulosos.

'The Story of Art', E.H. Gombrich e 'The Great Movies', Roger Ebert. Dois grandes produtos da mistura imbatível de paixão e erudição, dois guias para mundos que pedem uma vida de exploração.

'Crônicas de Jerusalém', Guy Delisle. Delisle usa como poucos os quadrinhos para fazer rir e pensar na mesma obra.

'Shah of Shahs', Ryszard Kapuscinski. Kapuscinski é dos autores que leio aos poucos para que a obra não acabe tão rápido.

'The Narrow Corridor: States, Societies, and the Fate of Liberty', Daron Acemoglu e James A.
Robinson. O ímpeto de querer encaixar todas as sociedades de todos os tempos na tese central às vezes irrita, mas vale insistir. 

'A Organizaçao', Malu Gaspar. Malu é a melhor repórter investigativa do Brasil. Impressionante reconstrução de décadas de escândalos que deveriam continuar nos chocando.


P.S. Para recomendações boas mesmo, recomendo olhar a lista de livros presenteados no amigo secreto do incrível grupo de leitura do qual tenho a alegria de participar. Não há melhor curadoria.

Um grande 2021 a todos, merecemos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

As 50 Melhores Músicas da Década - Um Compilado de Listas

Fiz um catadão de listas de melhores da década de vários sites/publicações que cobrem pop/rock (12, ao todo -- Pitchfork, New Musical Express, Billboard, Paste, Rolling Stone, NPR, Time, Insider, Vanity Fair, Associated Press, Elle e Q). O critério de classificação é o mais simples possível: contagem de quantas vezes cada música apareceu entre as listas. Para desempate, fiz uma média da posição nos rankings (para listas sem ordem específica, atribuí um ranking médio igual para todas as músicas). "Dancing On My Own" ganhou de lavada -- só não apareceu em uma lista, foi a #1 em quatro e top 3 em outras três. A lista toda está abaixo.

1. Robyn: "Dancing On My Own"
2. Lorde: "Royals"
3. Beyoncé: "Formation"
4. Adele: "Rolling In The Deep"
5. Kendrick Lamar: "Alright"
6. Lil Nas X: "Old Town Road"
7. Taylor Swift: "All Too Well"
8. Kanye West: "Runaway"
9. Azealia Banks: "212"
10. Grimes: "Oblivion"
11. M.I.A.: "Bad Girls"
12. M83: "Midnight City"
13. Bon Iver: "Holocene"
14. Mark Ronson: "Uptown Funk (feat. Bruno Mars)"
15. Cardi B: "Bodak Yellow"
16. Billie Eilish: "bad guy"
17. Daft Punk: "Get Lucky (Featuring Pharrell Williams)"
18. Katy Perry: "Teenage Dream"
19. Drake: "Hotline Bling"
20. Nicki Minaj: "Super Bass"
21. Lana Del Rey: "Video Games"
22. Mitski: "Your Best American Girl"
23. Frank Ocean: "Thinkin Bout You"
24. Ariana Grande: "thank u, next"
25. Frank Ocean: "Pyramids"
26. Childish Gambino: "This Is America"
27. Disclosure: "Latch (Album Version)"
28. Justin Bieber: "Sorry"
29. Travis Scott: "Sicko Mode feat. Drake"
30. Rihanna: "We Found Love (ft. Calvin Harris)"
31. LCD Soundsystem: "Dance Yrself Clean"
32. The 1975: "Love It If We Made It"
33. Alabama Shakes: "Hold On"
34. Rihanna: "Work"
35. Carly Rae Jepsen: "Run Away With Me"
36. Carly Rae Jepsen: "Call Me Maybe"
37. Sky Ferreira: "Everything Is Embarrassing"
38. Jay-Z & Kanye West: "Ni**as In Paris"
39. SZA: "The Weekend"
40. Future Islands: "Seasons (Waiting On You)"
41. Phoebe Bridgers: "Motion Sickness"
42. FKA Twigs: "Two Weeks"
43. Luis Fonsi feat. Daddy Yankee: "Despacito"
44. Rosalía: "Malamente (Cap.1: Augurio)"
45. Sia: "Chandelier"
46. Tyler, The Creator: "Yonkers"
47. Solange: "Cranes in the Sky"
48. Lucy Dacus: "Night Shift"
49. Beyoncé: "Love on Top"
50. Arctic Monkeys: "Do I Wanna Know?"


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Os livros de 2019

De novo chegou aquela época do ano. Abaixo o que mais gostei de ler em 2019 (isso e todo o resto está no Goodreads):

Ficção:

‘First Execution’, Domenico Starnone. Terceiro Starnone que leio, terceiro muito bom (ainda que inferior a ‘Laços’ e ‘Assombrações’). Este é o melhor trecho.

‘Os Enamoramentos’ e ‘Assim Começa o Mal’, Javier Marías. Marías ainda vai ganhar um Nobel, podem anotar. Acho que ‘Assim Começa o Mal’ é o melhor romance contemporâneo que li este ano.

‘Anna Karenina’, Leo Tolstoy, ‘Great Expectations’, Charles Dickens e ‘Herzog’, Saul Bellow. Esses caras não entraram pra história por acaso.

‘The Year of the Hare’, Arto Paasilinna. “Um jornalista solitário e uma lebre do barulho vão aprontar altas confusões”, diria a chamada da Sessão da Tarde.

‘Conversation with Friends’, Sally Rooney. Ninguém escreveu recentemente tão bem sobre
enroscos amorosos quanto Sally Rooney. Também li ‘Normal People’, que não me empolgou tanto.

‘Bluebeard’, Kurt Vonnegut. Vonnegut é diversão garantida, sempre.

‘A Honra Perdida de Katharina Blum’, Henrich Böll. Bela redescoberta da Carambaia, uma porradaça em tabloides sensacionalistas.


Não-ficção:

‘Red Notice: A True Story of High Finance, Murder, and One Man’s Fight for Justice’, Bill Browder. “Russian stories never have happy endings.”

‘Do Rock ao Clássico – Cem Crônicas Afetivas sobre Música’, Arthur Dapieve. Legal acompanhar a trajetória de ouvinte de um cara com bom gosto (leia: parecido com o meu), do punk ao jazz ao erudito.

‘Vozes de Tchernóbil’, Svetlana Alexeievich. A série da HBO é ótima e, provavelmente, deve muito a esta grande obra.

‘Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X’, Malu Gaspar. Ótimo relembrar as loucuras que o mercado já comprou como “revolucionárias”.


‘The Monk of Mokha’, Dave Eggers. Você vai devorando e, quando se deu conta, aprendeu um monte sobre café, San Francisco, empreendedorismo e o Iêmen.

‘China’s Economy: What Everyone Needs to Know’, Arthur Kroeber. Ótimo para quem não sabe nada sobre o assunto (era o meu caso).

‘The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion’, Jonathan Haidt. De onde vêm as preferências políticas, e porque temos muito menos controle sobre elas do que imaginamos.


Quadrinhos:

‘Melody: Story of a Nude Dancer”, Sylvie Rancourt. Desenhos quase infantis funcionando muito bem para contar a história de uma stripper.

‘Blackbird Days’, Manuele Fior e ‘Fun”, Paolo Bacilieri. Duas grandes graphic novels italianas – os desenhos de ‘Blackbird Days’ são um desbunde.

‘Pyongyang: A Journey in North Korea’, Guy Delisle. Aprenda que há uma indústria de animação na Coreia do Norte e tantas outras coisas.

sábado, 14 de dezembro de 2019

As 101 Melhores Músicas dos 2010s

Resolvi tirar o blog da hibernação para satisfazer minha mania de fazer listas. Esta é das 101 melhores músicas (pop e afins, instrumental é outro bicho, ainda que tenha algo de jazz vocal aqui), na minha imodesta opinião, da década que está acabando. Entre elas, 17 são as favoritas entre as favoritas:

Andrew Bird: "Pulaski at Night"
Bedouine: "Dusty Eyes"
Belle & Sebastian: "Little Lou, Ugly Jack, Prophet John"
Benjamin Clementine: "Condolence"
Charles Pasi: "Farewell My Love (feat. Archie Shepp)"
David Bowie: "Sue (Or in a Season of Crime)"
Janelle Monáe: "Make Me Feel"
Lucy Dacus: "Night Shift"
Neil Young: "Ramada Inn"
Plan B: "She Said"
Rumo: "Livro Aberto"
Selena Gomez: "Bad Liar"
Sting: "The Night The Pugilist Learned How To Dance"
Sumi Jo, BBC Concert Orchestra: "Simple Song #3"
Sun Kil Moon: "I Watched The Film The Song Remains The Same"
The High Llamas: "Woven and Rolled"
tUnE-yArDs: "Powa"

E as outras 84:

Alabama Shakes: "Hold On"
Alex Turner: "Piledriver Waltz"
Amy Winehouse: "Valerie (68 Version)"
Amy Winehouse: "Will You Still Love Me Tomorrow (2011)"
Andrea Motis: "BLI-BLIP"
Angel Olsen: "Shut Up Kiss Me"
Arcade Fire: "The Suburbs"
Bárbara Eugênia: "Por Que Brigamos (I Am... I Said)"
Battles: "Ice Cream (Featuring Matias Aguayo)"
Beck: "Looking For A Sign"
Bedouin Soundclash: "Brutal Hearts (feat. Coeur De Pirate)"
Beyoncé: "Love on Top"
Bloc Party: "The Love Within"
Brandi Carlile: "The Joke"
Brittany Howard: "Stay High"
Bruce Springsteen: "Dream Baby Dream"
Caro Emerald: "Stuck"
Cecile McLorin Salvant: "Jitterbug Waltz"
Charles Bradley: "Why Is It So Hard"
Chet Faker: "Gold"
College: "A Real Hero (feat. Electric Youth)"
Courtney Barnett: "Elevator Operator"
Craig Finn: "God in Chicago"
Daft Punk: "Get Lucky (Featuring Pharrell Williams)"
D'Angelo and The Vanguard: "Really Love"
D'Angelo and The Vanguard: "Sugah Daddy"
David Bowie: "Blackstar"
David Bowie: "Lazarus"
Dirty Projectors: "Break-Thru"
DNCE feat. Nicki Minaj: "Kissing Strangers"
Eddie Vedder: "Better Days"
Father John Misty: "Chateau Lobby 4 (in C for Two Virgins)"
Fleet Foxes: "Helplessness Blues"
George Ezra: "Budapest"
George Ezra: "Shotgun"
Gilberto Gil: "Aos Pés da Cruz"
Gregory Porter: "No Love Dying"
Harry Styles: "Sign of the Times"
Jack White: "Lazaretto"
Janelle Monáe: "Tightrope (Feat. Big Boi)"
John Legend & The Roots: "Compared to What"
John Legend & The Roots: "I Wish I Knew How It Would Feel to Be Free"
JR JR: "Gone"
Justin Bieber: "Sorry"
Katie Herzig: "Hey Na Na"
Kevin Morby: "City Music"
Kirk Ross, Tyra Juliette, Steven Wolf, David Delhomme & Jeff Thall: "I Shall Be Released"
Leonard Cohen: "Almost Like Blues"
Leonard Cohen: "Slow"
Leonard Cohen: "You Want It Darker"
Los Cuates de Sinaloa: "Negro y Azul: Ballad of Heisenberg"
Macklemore & Ryan Lewis: "Downtown"
Mark Ronson: "Uptown Funk (feat. Bruno Mars)"
Michael Kiwanuka: "Cold Little Heart"
Michael Kiwanuka: "Light"
Milton Nascimento: "Adivinha O Que"
Mitski: "Nobody"
Neil Young: "Olden Days"
Nils Landgren, Michael Wollny, Lars Danielsson & Wolfgang Haffner: "Just the Way You Are"
Nils Landgren, Michael Wollny, Lars Danielsson & Wolfgang Haffner: "She's Always a Woman"
Noisettes: "That Girl"
Paul McCartney: "My Valentine"
Perfume Genius: "Slip Away"
Pharrell Williams: "Happy (From "Despicable Me 2")"
Portugal. The Man: "Feel It Still"
Quincy Jones: "It's my Party feat Amy Winehouse"
Rhiannon Giddens: "Tomorrow Is My Turn"
Robin Thicke: "Blurred Lines (feat. T.I. & Pharrell)"
Robyn: "Dancing On My Own"
Rufus Wainwright: "Rashida"
Sara Bareilles: "Little Black Dress"
Stevie Wonder: "Faith (feat. Ariana Grande)"
Tame Impala: "The Less I Know The Better"
Temples: "Shelter Song"
The Black Keys: "Ten Cent Pistol"
The Book Of Mormon Cast: "Hello!"
The Magnetic Fields: "Andrew in Drag"
The xx: "Angels"
Trombone Shorty: "Do To Me (Feat. Jeff Beck)"
Tulipa Ruiz: "Víbora"
Ty Segall: "Manipulator"
Vampire Weekend: "Harmony Hall"
Vampire Weekend: "Holiday"
Vitor Ramil: "Campos Neutrais"

Tirando a dos Noisettes, dá pra ouvir tudo no Spotify. Até o fim do ano devo colocar mais umas listas por aqui.





sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Os livros de 2018

Este blog está convergindo para uma publicação anual, justamente esta. Aqui o que li de interessante em 2018, em nenhuma ordem particular (a amostra toda está no Goodreads).

Ficção:

'Dias de Abandono', Elena Ferrante. Recomendo muitíssimo ler seguido de 'Laços', do Starnone, o suposto marido da grande dama. Este artigo explora a conexão.

'Pachinko', Min Jin Lee. Novelaça que segue três gerações de uma família coreana que fugiu para o Japão. Talvez o livro que mais gostei de ter lido este ano.

'Nocturnes: Five Stories of Music and Nightfall', Kazuo Ishiguro. Cinco contos que têm música como tema de fundo, bons pra aquecer o coração.

'It Can't Happen Here', Sinclair Lewis. Livraço de história alternativa, escrito no calor da ascendência do nazifascismo.

'Pssica', Edyr Augusto. Policial amazônico em ritmo alucinante, pra ler em uma sentada e ficar pensando numa adaptação porreta pra cinema.

'Total Chaos', Jean-Claude Izzo. Grande hino de amor a Marselha em forma de romance policial.

'Ruins', Peter Kuper. HQ lindíssima, vai fazer você querer marcar as próximas férias para conhecer Oaxaca.

'4 3 2 1', Paul Auster. Leitura muito mais rápida e prazerosa que o tamanho sugere.

'Feast Days', Ian MacKenzie. Uma história de expatriados em São Paulo durante os dias estranhos de 2013-14.
"A gauze of pale light stretched around buildings after the rain. It was a city of liquor bottles, soccer matches, cheap motorcycles, boys in the road, businessmen. Sometimes it was beautiful."
'Trick', Domenico Starnone. Um degrau abaixo de 'Laços', mas ainda grande.

'Órfãos do Eldorado', Milton Hatoum. Outra história amazônica pra ler em uma sentada.

Não-Ficção:

'Democracy for Realists: Why Elections Do Not Produce Responsive Government', Christopher H. Achen e Larry Bartels. As virtudes da democracia não incluem premiar bons governos, e o acaso (sempre ele) tem papel no resultado de eleições maior do que se costuma supor.

'Holidays in Hell', P.J. O'Rourke. Da época em que chamar um lugar de 'shithole' não causava uma crise diplomática.

'Microeconomics: a Very Short Introduction', Avinash K. Dixit. Dixit é um dos grandes didatas da ciência lúgubre.

'Other People's Trades', Primo Levi. Levi também foi um grande cronista, além de tudo mais.

'História da Riqueza no Brasil', Jorge Caldeira. Muito concentrado no pré-república, mas grande referência.

'Factfulness', Hans Rosling. O último legado do grande Rosling, que nos deixou em 2017. Deveria ser leitura obrigatória em qualquer curso de introdução ao desenvolvimento internacional.

'País Mal Educado: por que se aprende tão pouco nas escolas brasileiras?', Daniel Barros e 'São Paulo nas Alturas', Raul Juste Lores. Dois livros brasileiros não-técnicos de história/assuntos correntes à altura do que é feito de melhor fora daqui.

'Jorge Amado: Uma Biografia', Josélia Aguiar. Biografia à altura do enorme personagem.

'Playing Changes: Jazz for the New Century', Nate Chinen. O jazz está em uma das melhores fases da história, não é difícil se convencer.

Infantil:

'Islandborn', Junot Díaz e Leo Espinosa. História linda sobre identidade e imigração.



Um ótimo 2019 a todos e um muito obrigado para a turma do clube do livro mensal, com quem tive o grande prazer de compartilhar e discutir boa parte desssas leituras (não teria chegado a muitas delas sem as recomendações do grupo). Participar de um grupo de leitura é das coisas mais legais que descobri nos últimos tempos, recomendo muito.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Brazil 2018 General Elections – The Parties

This is the second post in the series. The first one is Brazil 2018 Presidential Elections – Potential Candidates.

Brazil has currently 35 registered parties, constituting what is probably the most shattered political system in the world. It has currently 14 effective parties in the Lower House (see Figure 1), and its three last congress elections (2006, 2010, and 2014) produced some of the most fragmented legislatures among 1,167 elections in 137 countries (see Figure 2).

Figure 1: Effective number of parties in Brazil's Lower House (source: Jairo Nicolau)
Figure 2: Effective number of parties in the Legislative (y-axis) and in the elections (x-axis) for 1,167 elections – last seven Brazilian elections are represented as triangles. Source: Nicolau (2017)
The table below tries to summarize the main characteristics of all currently registered parties in Brazil:



Power Index

How the sausage is made (source)

The Power Index is a quick and dirty measure I developed to evaluate the relative strength of the parties. I simply added, with equal weights, the share of each party in five arbitrary dimensions: membership (as of October 2017); mayors and mayors of state capitals (as elected in 2016); state governors, federal deputies, and senators (as elected in 2014). I normalized the sums so the highest value obtained is 100 and the others are simple proportions of it. Results are below.

Brazilian parties in the political spectrum

To avoid (much) controversy, I chose to label the parties preferentially as per their own reported ideological positions in a 2016 survey made by O Globo newspaper (results in Figure 3). For the parties that didn't answer it, I picked the modal position in a survey of other studies made in 2013 by Gabriel da Silva Tarouco and Rafael Machado Madeira (Figure 4). The latest round of the Brazilian Legislative Survey, coordinated by Timothy J. Power and César Zucco and partially released a few weeks ago by BBC Brazil, compiles those perceptions from interviews with lawmakers (Figure 5). I once wrote a PhD research proposal that included using machine learning to derive the average ideological position ("learned" from a sample of canonical publications from each "side") of a given party from the transcriptions of speeches delivered by their elected representatives. That would be cool, wouldn't it?

Figure 3: O Globo 2016 survey on parties' ideologies

Figure 4: Table from Tarouco & Oliveira (2013)
Figure 5: Results from the Brazilian Legislative Survey

Where do the parties come from?

This is a nice timeline, made by G1 in 2014 (click to enlarge):



References not linked above:

Nicolau, Jairo. Representantes de quem? Os (des)caminhos do seu voto da urna à Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Brazil 2018 Presidential Elections – Potential Candidates

Desculpas aos leitores habituais em Português, mas vou usar este espaço para ir divulgando algumas partes de um projeto que desenvolvi em Inglês e acabou não virando. Espero que também aproveitem!

Brazil's 2018 general elections take place next October. During the lead-up to the voting day, I'll be posting information and analyses that may be useful for foreign investors or anyone interested in this major event. This is the first part: an extensive (but not exhaustive) list of the main potential presidential candidates – official candidacy registration starts only in July; so far we have many so-called self-declared "pre-candidates" and especulation about some names.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Quando o acaso atropela talento e esforço

Do alto da minha arrogância de vestibulando de engenharia (17 anos, inteligentinho, estudando 8 horas por dia em um bom cursinho), eu ficava irritado quando, antes de alguma prova, alguém me desejava "boa sorte". Ora, na minha mente adolescente, todo o meu preparo e dedicação eliminavam qualquer papel do acaso, e o resultado do vestibular estava dado dias antes de eu sentar para fazer a prova, pela soma do tempo gasto na preparação. Sorte era pra quem não tinha estudado direito, obrigado.

Hoje, 20 anos depois, considero um indicador claro de amadurecimento perceber que quem estava certo memo era Nelson Rodrigues – que, além de aconselhar escrotinhos de 17 anos a envelhecer, dizia que "sem sorte não se chupa nem um Chicabon. Você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha." Meritocracia só opera (quando opera) depois que uma série de possíveis azares, de difícil ou nenhum controle, são superados. Cada história de sucesso é um pequeno milagre probabilístico. Ou, como gosta de dizer um amigo, de forma mais eloquente e elegante, "o acaso é foda."

Em um livrinho que mistura histórias pessoais, estatística e propostas de reforma tributária, Robert H. Frank, professor de Cornell, propõe um experimento computacional relativamente simples (pode ser replicado no Excel, por exemplo): pegue 1.000 (ou 10.000, ou 100.000) pessoas, definidas por três atributos, distribuídos aleatoriamente pela amostra: habilidade, esforço e sorte. Cada atributo tem uma pontuação, de 0 a 100. Dê pesos iguais para habilidade e esforço, e atribua o restante – um peso relativamente pequeno, de 1% a 20% – à sorte. Use a composição desses atributos para definir o único vencedor de mil de torneios entre essas pessoas, e observe com qual frequência o resultado desvia da maior soma de habilidade e esforço – ou seja, quantas vezes o competidor mais habilidoso e esforçado deixa de vencer. Algum chute?


O produto de uma simulação está no gráfico acima. A direção dos resultados é intuitiva: quanto maior o peso da sorte, maior a probabilidade do vencedor não ser o que tem a melhor combinação de habilidade e esforço. E, dentro do mesmo nível de sorte, quanto maior a amostra, maior o peso da sorte – maior a probabilidade de um embate entre dois competidores com níveis equivalentes de habilidade + esforço ser decidida pela sorte. O que surpreende é quão frequente a parada é resolvida pelo acaso: em torneios com 100.000 participantes, em pelo menos 68% dos casos o vencedor não será o mais habilidoso/esforçado. Essa proporção sobe para mais de 90% quando a sorte determina apenas 10% do resultado na maior amostra testada. 

Mais recentemente, três pesquisadores italianos (dois físicos e um economista), partindo de uma ideia semelhante, propuseram um modelo ainda mais sofisticado e realista: para uma população de 1.000 pessoas dotadas de 10 unidades, distribuídas aleatoriamente (seguindo uma normal), de "talento", simularam uma carreira de 40 anos. A cada seis meses, cada pessoa é exposta, também aleatoriamente, a eventos de sorte ou azar, que, respectivamente, dobram ou reduzem pela metade, como proporção ao talento, uma medida de sucesso (também configurada inicialmente com 10 unidades). 


Passados os 40 anos, eis os resultados: primeiro, a distribuição de sucesso deixa de ser normal (concentrada em torno da média e com poucos resultados muito divergentes) e passa a seguir uma lei de Pareto, com alta desigualdade (ver a figura abaixo). Menos de metade da população termina com mais que os 10 "sucessos" iniciais, e os 20 indivíduos mais bem-sucedidos concentram 44% do sucesso total. Segundo, como nas simulações de Frank, raramente os mais talentosos terminam melhor. O acaso atropela as condições iniciais com frequência.

Pluchino, Biondo e Rapisarda ainda fazem outros simulações para avaliar a eficiência de diversas estratégias de financiamento e a influência do ambiente em termos de oportunidades para os indivíduos, também com resultados interessantes, mas não quero me alongar (mais) aqui. Minha conclusão é que, sobretudo em ambientes complexos e altamente competitivos, onde muitas pessoas qualificadas disputam algo, devemos aplicar uma alta dose de compaixão. A diferença entre quem é lembrado e quem é esquecido e deixado para trás pode ser nada mais que um atraso por conta do trânsito, uma dor de estômago, uma briga com o marido, uma chuva que fez um avião não decolar na hora esperada, uma folha de respostas de vestibular perdida num assalto.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Faz sentido pensar em auditoria da dívida?

São Tufte chora
Só pra começar o ano por aqui e requentar um texto que saiu no ano passado no Acredito e no Brasil Economia e Governo. Logo volto.

domingo, 31 de dezembro de 2017

O Mito do 'Quality Time'

Há quase 20 anos passo a virada de ano com um grupo de amigos, geralmente na praia. Este ano traduzi esse artigo do Frank Bruni para ler antes da ceia. Feliz 2018!


O Mito do ‘Quality Time’
Frank Bruni (New York Times, 5 de Setembro de 2015)


Todo verão, por muitos anos, minha família tem obedecido ao nosso ritual. Todos nós 20 – meus irmãos, meu pai, nossos companheiros, minhas sobrinhas e sobrinhos – procuramos uma casa de praia grande o bastante para caber todo o clã caótico. Nós viajamos de nossos diferentes estados e fusos horários. Nós dividimos os quartos sob tensão, tentando lembrar quem se deu bem ou mal na viagem anterior. E nós nos jogamos uns aos outros por sete dias e sete noites.

É isso: uma semana inteira. Isso é parte de um ritual que intriga muitos dos meus amigos, que apreciam proximidade familiar, mas acham que pode haver exageros. Um fim-de-semana prolongado não é suficiente? E não evitaria algumas briguinhas e simplificaria o planejamento?

A resposta para a segunda pergunta é sim, mas, para a primeira, um enfático não.

Eu costumava achar que mais curto seria melhor, e, no passado, eu chegava para essas férias na praia um dia depois ou ia embora dois dias antes, dizendo a mim mesmo que eu tinha que quando, na verdade, eu também queria – porque eu desejava meu espaço e meu silêncio, e porque eu fico cansado de me lambuzar de protetor solar e de encontrar areia em lugares estranhos. Mas, nos últimos anos, eu tenho aparecido no começo e ficado o tempo todo, e notei uma diferença.

Num período mais longo, há uma chance maior de eu estar por perto no momento preciso e aleatório quando um dos meus sobrinhos baixa a guarda e me pede um conselho sobre algo pessoal. Ou quando uma das minhas sobrinhas precisa de alguém que não seus pais para lhe dizer que ela é inteligente e bonita. Ou quando um dos meus irmãos lembra de um incidente na nossa infância que nos faz rir incontrolavelmente e, de repente, a corrente íntima e feliz do nosso amor fica muito mais apertada.

Simplesmente não há substituto real para a presença física.

Nós nos iludimos quando dizemos o contrário, quando invocamos e veneramos “quality time,” uma expressão batida com uma promessa questionável: que nós podemos planejar ocasiões de franqueza extraordinária, tramar episódios de ternura sutil, engenhar intimidade numa hora marcada.

Podemos tentar. Podemos isolar uma refeição por dia ou duas tardes por semana e livrá-las de distrações. Podemos escolher um lugar especial que encoraje relaxamento e elevação. Podemos enchê-lo de totens e frufrus – um balão para uma criança, espumante para uma esposa – que sinalizam celebração e criam um senso de sagrado.

E não há dúvida que o grau de atenção que trazemos para uma ocasião a enobrece ou a diminui. É melhor passar 15 minutos focados e atentos do que 30 totalmente distraídos.

Mas pessoas não operam no exato momento em que se espera. Pelo menos nossos humores e emoções não. Nós pedimos ajuda ocasionalmente; nós desabrochamos de forma imprevisível. O jeito mais seguro de ver as cores mais brilhantes, ou as mais escuras, é observar e esperar e estar pronto para elas.

Isso se reflete em uma mudança sobre a qual Claire Cain Miller e David Streitfeld escreveram no The Times. Eles notaram que “uma cultura de trabalho que exige que mães e pais voltem correndo para seus escritórios está começando a mudar,” e citam “políticas mais amigáveis para famílias” na Microsoft e na Netflix, que estenderam o tempo de licença que pais e mães podem tirar.

Ainda estamos por ver quantos pais e mães vão sair da rotina acelerada e se beneficiar disso, mas aqueles que o fizerem estarão decidindo que a quantidade de tempo que passam com suas crias importa tanto quanto a intensidade com que o fazem.

Eles têm sorte: muitas pessoas não são privilegiadas o bastante para poder fazer esse tipo de escolha. Minha família também tem sorte. Nós temos condições de tirar férias.

Mas nós também nos dedicamos a isso, e determinamos que o Dia de Ação de Graças não é o bastante, que o Natal passa muito rápido e que se cada um de nós quer mesmo ser parte central da vida dos outros, precisamos fazer um investimento do qual os maiores componentes são minutos, horas e dias. Assim que a nossa semana na praia deste verão acabou, nos debruçamos sobre nossos calendários e trocamos dezenas de e-mails para achar uma semana no próximo verão que todos possam tirar. Não foi fácil, mas foi essencial.

Casais vão morar juntos não porque isso é prudente economicamente. Eles entendem, conscientemente ou instintivamente, que proximidade ininterrupta é o melhor caminho para a alma de alguém; que gestos não ensaiados em momentos inesperados rendem melhores recompensas que aqueles ensaiados para um encontro marcado; que o “eu te amo” que conta mais não é sussurrado com grande cerimônia no topo de uma colina na Toscana. Não, ele escapa casualmente, espontaneamente, na seção de hortifrútis ou lavando louça, no meio do tédio e da sujeira de suas rotinas. Também é quando as confissões mais verdadeiras são feitas, quando a mágoa está mais crua e o carinho mais puro.

Eu sei como meu pai de 80 anos se sente sobre morte, religião e Deus não porque eu marquei um encontro discreto para discutir tudo isso com ele. Eu sei porque eu, por acaso, estava no banco do passageiro do carro dele quando esses pensamentos estavam na sua mente e quando, por qualquer motivo imprevisível, ele se sentiu confortável para articulá-los.

E eu sei o que ele aprecia e do que se arrepende mais no seu passado porque, além de eu ter sido pontual para as férias deste verão, eu viajei para lá com ele, para engordar nossa visita, e ele estava especialmente pensativo naquele voo.

Foi durante um almoço na casa de praia o dia que meu sobrinho mais velho falou, com franqueza e extensão incomuns, sobre suas expectativas para a faculdade, suas experiências no ensino médio – coisas que eu sempre tentei arrancar dele antes, nunca conseguindo as respostas generosas que ele me deu durante aquela refeição em particular.

Foi numa corrida na manhã seguinte que a minha sobrinha mais velha descreveu, como nunca tinha feito para mim antes, frustrações e detalhes do seu relacionamento com seus pais, suas duas irmãs e seu irmão. Por que essa informação saiu dela naquele momento, com pelicanos voando sobre nossas cabeças e suor escorrendo pelas nossas testas, não consigo dizer. Mas consigo dizer que estou ainda mais fortemente ligado a ela agora, e não por causa de algum esforço orquestrado e deliberado para testar as emoções dela. É porque eu estava presente. É porque eu estava lá.