segunda-feira, 31 de maio de 2010

Google vai para o lado negro da força

A Bloomberg noticia que o Google está abrindo sua própria mesa de operações, para gerenciar seus módicos US$ 26 bilhões em caixa. Espero que sejam mais espertos que outras empresas (né, Sadia?) que deixaram de lado seus negócios principais para brincar de especulação.

Esther Duflo para não-economistas

Já que está na moda falar dela, aí vai o perfil que a New Yorker publicou, há umas duas semanas.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Som da Sexta - Cat Power

Esta foi a melhor música do show da última quarta-feira, no Bourbon Street. O som estava muito bom, a banda é ótima, ela canta muito, mas... não é um show para se ver em pé, como foi feito.

Mais febre da Copa - Futinvest

O Valor de hoje falou do Futinvest, a bolsa de apostas criada pelo banco português Banif e a ESPN para negociar as seleções da Copa. Diferente do esquema de opções que o mercado financeiro está acostumado (mais aqui, em breve), lá os times são tratados como ações, divididos por classes e valorizados de acordo com o desempenho nos jogos.

Mais Copa do Mundo e economia - Brasil vence!

Dessa vez é o dinamarquês Danske Bank que se mete a tentar prever o vencedor da Copa, com a seguinte equação:




Isso para chegar numa reedição da final de 2002, com o mesmo resultado: Brasil batendo a Alemanha.

Danske Bank - World Cup 2010 Special

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vídeo do dia - "I would recommend you panic"

Discussão de Hugh Hendry, um dos heróis deste escriba, com a editora do Financial Times Gillian Tett e o acadêmico de Columbia Jeffrey Sachs.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Problemas econômicos? PAC neles!

Mais uma piada de mau gosto do nosso nobre Ministro da Fazenda:

Mantega propõe ao FMI a criação de um PAC para crise europeia

Até amanhã, caros leitores.

A vingança dos nerds (sobre os nerds)

Você vai ver essa notícia em muitos lugares, mas não poderia faltar aqui, também: hoje o valor de mercado da Apple ultrapassou o da Microsoft (US$ 222 bilhões vs US$ 219 bilhões). Steve Jobs está rindo melhor.


Pergunta provocativa do dia: o que vai acontecer com a Apple no dia em que um dos seus produtos revolucionários não for totalmente bem aceito pelo mercado? Ou: quanto valeria a Apple se um de seus produtos tivesse 91% de market share (é o caso do Windows)?

Dez mapas que mudaram o mundo

Para quem também tem uma bizarra e inexplicável fixação por mapas e informação gráfica, aí vai um deleite:

Ten of the greatest: Maps that changed the world

Via Chris Blattman.

Notícia irônica do dia - Bernanke, Japão e inflação

Em um seminário promovido pelo Banco do Japão, Ben Bernanke disse que as expectativas de inflação nos Estados Unidos estão estáveis. Com o núcleo da inflação ao consumidor no menor nível em 30 anos (ver gráfico), meu palpite é que seu Bernanke deveria aproveitar a visita ao Japão para tentar entender porque aquele país está há décadas, sem sucesso, tentando lutar contra a queda de preços nominais, vulga deflação.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vídeo do dia - o custo da crise de dívida na Europa

Isso resume bastante a situação (clique na imagem para abrir o vídeo).


Déjà vu all over again

Lembra de quarta-feira passada?

Este é o panorama dos mercados futuros de índices de ações hoje:

Razões? Coréia, Espanha... as mesmas de ontem, o que quer dizer que o buraco está mais embaixo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O preço do que não tem preço

Interessante discussão no New York Times sobre o preço de obras de arte.

O que aconteceu em 2003?



Segundo a The Economist, a China aconteceu (e isso explicaria um boom no crescimento da África desde então). Por coincidência, 2003 foi o primeiro ano do governo Lula. Acertos e erros a parte, é preciso levar em conta que algo maior aconteceu no mundo, que não dependeu de PACs e mensalões.


sexta-feira, 21 de maio de 2010

Som da Sexta - Hermeto Pascoal

Para comemorar o fim de uma semana maluca, o mais maluco dos músicos, o velho bruxo da Lagoa da Canoa de Arapiraca. O vídeo é da lendária apresentação que Hermeto Pascoal e sua superbanda fizeram no festival de jazz de Montreux, em 1979, quando abriram a apresentação de Elis Regina e roubaram o show (tinha um texto muito legal sobre a ocasião no no.com.br que, infelizmente, se perdeu com o fim do site).

Muito do que o Hermeto faz é experimental demais para ser facilmente gostado (também é lendária a sessão de gravação que ele fez com porcos, num estúdio), mas acho que qualquer fã de música instrumental deve curtir essa piração no Fender Rhodes.


Frase do dia - Sapos (???)

“If you want to drain a swamp, you don’t ask the frogs for an objective assessment.”

Wolfgang Schäuble, ministro das finanças da Alemanha, referindo-se à reação hostil dos mercados ao banimento da venda descoberta de alguns ativos. Políticos, quando acuados, podem fazer coisas malucas, e o alvo da vez é o mercado financeiro.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Fórmula 1, um indicador contrário para ações

É claro que agora tenho todo o benefício de poder olhar para o passado. De qualquer forma, aí vai o caso: a onda de patrocínios de bancos europeus na Fórmula 1, sobretudo desde 2007, pode ter sido um sinal de que essas companhias estavam perto do topo ("temos muito dinheiro fácil, que tal patrocinar uma equipe de Fórmula 1?" ). Em termos práticos: venda as ações de qualquer companhia que anunciar um patrocínio grande a uma equipe da categoria mais cara do automobilismo. Vamos aos exemplos:

ING - banco holandês, começou a patrocinar a equipe Renault em março de 2007. Anunciou o fim do patrocínio em fevereiro do ano passado:


A ação caiu 88% no período:


Royal Bank of Scotland - iniciou o patrocínio para a Williams na temporada de 2005, encerrou em fevereiro de 2009:

Ação caiu 95% nos quatro anos:


Credit Suisse - entrou na Fórmula 1 pela Sauber, em 2001, e renovou o contrato em 2005, quando a equipe foi adquirida pela BMW. Retirou-se em janeiro de 2009:


Ações perderam 60% desde 2001 (ou 44% desde 2005):


O último dos moicanos é o Santander, que abraçou a "Alonsomania" em 2007, patrocinando a McLaren. A ida do espanhol para a Ferrari, anunciada em setembro do ano passado, levou o banco a tornar-se o principal patrocinador da equipe italiana:


Seguindo o script, as ações caíram 37% desde 2007:


O Santander é o único banco que continua patrocinando uma equipe de Fórmula 1 -- e, curiosamente, um dos que menos sofreu com a crise de 2008-2009. Este ano, entretanto, as ações do banco têm o pior desempenho entre os grandes bancos dos EUA e da Europa, com queda de 27,7%. Olhando para a situação da Espanha, a conclusão é que essa queda ainda não está perto do fim.
É claro que não é o dinheiro gasto com a Fórmula 1 que leva os bancos à ruína. Acredito, entretanto, que esse é um sinal importante de excesso de autoconfiança, do pensamento de que as coisas não podem dar errado que geralmente precede as grandes quedas.
P.S. Diagramar na ferramenta do Blogger é quase pior que mexer com o Powerpoint. Quase.

Mudanças na Folha

A Folha de São Paulo avisa que seu caderno "Dinheiro" passa, a partir de domingo, a chamar-se "Mercado", e ganha novos colunistas: Eike Batista, Antonio Palocci e Fábio Barbosa (o do Santander). Não sei ainda quais saíram (na verdade sei de um: o diretor-executivo do FMI Paulo Nogueira Batista Jr, cuja última coluna foi publicada hoje), mas a conclusão inevitável é que o leitor deve ficar cada vez mais distante de uma análise isenta e livre de interesses...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Niall Ferguson sobre crises fiscais

Um amigo me mandou essa excelente apresentação do historiador britânico.

"Those who cannot remember the past are condemned to repeat it." (George Santayana)

Niall Ferguson on fiscal crises, defaults and inflation

Frase(s) do dia - a dança de Karl Marx

"Karl Marx is probably dancing somewhere. Because, in America right now, the government owns the automobile industry, the insurance industry, the mortgage industry and the banking industry. The government suddenly owns huge parts of the American economy - that's what Karl Marx said he wanted, and he didn't have to fire a shot."


Jim Rogers, no Sydney Morning Herald (via Jim Rogers Blog).

Post # 500

Na verdade este é o 501º, mas não poderia deixar de registrar a marca -- sobretudo porque eu achava que este ia ser mais um entre a grande maioria dos blogs que não passa da empolgação inicial de poucas semanas (ou dias). Agradeço muito aos ainda poucos (este é um blog de 30 - 40 visitas por dia) fiéis e valorosos leitores -- seus comentários, discussões, críticas e elogios são uma grande motivação para eu continuar na missão de me tornar o primeiro palpiteiro econômico-financeiro multimilionário do planeta.

Para "comemorar", fiz uma nuvem de palavras tosca (em VBA... meu lado engenheiro ainda se manifesta, de vez em quando) com os rótulos que usei nas quinhentas postagens. Isso é o que se falou por aqui até agora (clique para aumentar).

Começo de dia auspicioso

Teremos uma abertura interessante nos mercados do lado de cá do Atlântico (clique para aumentar):



Bom dia a todos.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Aí, sim, fomos surpreendidos novamente

O governo da Alemanha surpreendeu hoje ao banir a venda descoberta de títulos soberanos em euro, seus respectivos derivativos de crédito (CDS) e ações de alguns bancos. A idéia é conter a a especulação que estaria "levando a movimentos de preços que ameaçam o sistema financeiro". A reação inicial do mercado foi empurrar o euro para uma nova mínima dos últimos anos (desde 2006), já que para a moeda esse tipo de restrição não é aplicada (e seria de muito difícil implementação).

A iniciativa surpreende sobretudo porque acredita-se que a Alemanha é o elo mais forte que ainda segura o euro. Uma medida dessas, cheirando a desespero, parece um atestado de que as coisas não estão tão bem assim. É mais uma tentativa de comprar tempo: o banimento tem validade até 31 de março do próximo ano (pode ser prorrogada, evidentemente), e, até lá, espera-se que tenha aparecido uma solução para os reais problemas das economias que usam a moeda única -- alto endividamento e baixo crescimento, para resumir bem.

A iniciativa deve ser seguida por outros países. Se vai ser capaz de conter parte do pânico dos detentores de ativos em euro, é outra questão. Caso não, resta saber qual vai ser a próxima iniciativa dos políticos. Fechar os mercados? Estamos em tempos interessantes, definitivamente.

JP Morgan e Copa do Mundo: Inglaterra campeã

No modelo mais rebuscado que vi até agora, o JP Morgan prevê uma final entre Inglaterra e Espanha, com os ingleses levando a taça após 44 anos. O Brasil? Cai nas quartas-de-final, para a Holanda. A surpresa seria a Eslovênia, que chegaria nas semifinais após eliminar a Alemanha e a Argentina.






JP Morgan - Quantitative Guide to World Cup 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uma cerveja para a Palestina

Conheça a fascinante história de David Khoury e da Taybeh Beer no New York Times, e tenha um pouco mais de fé na humanidade (e no poder da cerveja) .

PIB: ruim com ele...

A revista de final de semana do New York Times trouxe um longo e interessante texto sobre medidas de progresso econômico, começando pela crítica ao PIB e acompanhando a (difícil) busca de economistas como Amartya Sen e Joseph Stiglitz por uma alternativa melhor. Boa leitura para os interessados em macroeconomia e desenvolvimento.

Link do dia (edição falta do que fazer)

Mostrando, mais uma vez, que a internet escancara o excesso de tempo livre de parte da humanidade:

THE BROKERS WITH HANDS ON THEIR FACES BLOG

Aforismos talebianos

Nassim Taleb reuniu os aforismos que publica no twitter.

Dica do Batata.

Definindo o Brasil


O Marcelo Rubens Paiva escreveu, na sexta-feira, uma das melhores definições do Brasil que li nos últimos tempos:

Se o Brasil fosse mulher, seria uma jovem imatura, linda, corpo mignon, jeito florido, tropical.

Conservadora, defenderia a pena de morte, o porte de armas, a proibição do aborto e eutanásia e a criminalização irrestrita das drogas, teses já abandonadas por colegas de sociedades mais elevadas (ou não) da Europa.

Não saberia se o casamento gay deve ser constituído com bases legais, e a adoção de filhos permitida. Na informalidade, até aceitaria. Nas paradas, ela se divertiria. Teria amigos gays. Seu cabeleireiro seria um.

Católica, admiraria religiões sincretistas. Receberia passes em cultos pagãos.

Às noites, noveleira, se trancaria em casa, para assistir ao desfecho de quem é o pai verdadeiro do galã.

Gostaria de música, dançar, festas. Não leria muito. Nem iria muito ao teatro. Não seria fã de estudos. Adoraria conhecer gente, fazer amigos, viajar, colocar o pé na estrada, ou no finger, se a cotação da moeda estiver favorável, uma emergente.

Mas cometeria deslizes morais, como comprar DVDs piratas e bolsas de grife falsificadas. E furar filas, se preciso. Não se comportaria muito bem no trânsito. Com seu charme inigualável, conquistaria muitos estrangeiros. Faria amizade com quem a maioria evita, o iraniano radical, o líbio excêntrico e o venezuelano autoritário.

Ideologicamente, não se definiria. Para ela, esquerda e direita seriam uma coisa só. Votaria na pessoa, não no partido, e depois das eleições reclamaria que todos os políticos são corruptos. Não teria muita clareza política.

Leria poucos jornais. Suas informações seriam baseadas no “ouvi falar”.

Preferências: cerveja, quitutes, comida não muito apimentada e saudável, praia ao invés de montanha, verão ao invés de inverno.

Contraditoriamente, teria uma vida sexual diferente dos padrões. Avançadinha, não controlaria a libido, nem seguiria uma rotina reprimida por tabus.

Aparentemente, seria uma pessoa aberta, esclarecida. Porém, teimosa como uma mula, não ouviria ninguém, presa em princípios contaminados por deturpações.

Seu senso de justiça não seria muito apurado. A coerência deixaria a desejar.

Esqueceria facilmente traumas do passado. Seu lema: olhar para o futuro, virar a página, perdoar. E não estaria nem aí para o que os outros iriam pensar.

Claro que é um perfil estereotipado, e nem de perto as mulheres brasileiras se encaixam nele.
Porém, de longe, nossa história mostra que pode ser traçado.

Basta ler os jornais.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sarkozy, o chiliquento. Zapatero, o língua de trapo.

Para termos idéia de como anda a situação da zona do euro: apenas uma semana após a reunião de emergência dos membros da União Européia na semana passada, em Bruxelas, o primeiro ministro espanhol já revelou as divergências entre a Alemanha e outros países nos termos do acordo para ajudar a Grécia. Segundo o El País, o irredutível gaulês chegou a dar um soco na mesa (ui!) e ameaçou deixar o euro, o que teria feito Angela Merkel reconsiderar sua posição.

Com o euro se desvalorizando a cada dia e as taxas dos títulos de Grécia, Portugal e Espanha voltando a subir, a novela promete novas cenas fortes. Aguardemos.

Som da Sexta - Stevie Wonder, 60

Homenagem aos 60 anos do gênio (completados ontem): ele e banda completa tocando Superstition no estúdio de Vila Sésamo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dado-bolha do dia - mercado imobiliário em São Paulo

Eu sei que é uma pesquisa informal, com uma amostra pequena e, provavelmente, viesada. Mas não deixou de me assustar os 87% de intenção de adquirir um imóvel neste ano (clique para aumentar), ainda mais num ambiente de juros subindo e crescimento mundial duvidoso. Em breve teremos nossa versão (em outra escala, evidentemente) do subprime.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Estônia: pronta para adotar o euro (que pena)

A boa notícia: a Estônia já tem os indicadores (de dívida e déficit públicos) compatíveis com as regras da União Européia para adoção do euro.

A má notícia: além da Estônia, apenas a Suécia encontra-se atualmente em conformidade com essas regras (e eles não deixaram de usar a moeda própria, obrigado).

A péssima notícia: a Estônia pode ser aquele amigo que chega no bar quinze minutos antes de acabar a festa, e acaba tendo que dividir a conta (no caso, ajudar com o resgate dos bancos dos demais países da UE).

Mais na The Economist.

Grécia: você sabe que a situação está ruim...

... quando aparece o Domingo Cavallo para dar pitacos sobre a situação do país. Como é fácil ser ex e ter o benefício do tempo, não?

terça-feira, 11 de maio de 2010

E a vida continua...

A melhora das bolsas por conta do pacote europeu durou UM dia. Por outro lado, as taxas dos títulos soberanos dos países do euro seguem caindo, e o Banco Central Europeu deve estar se dando por satisfeito -- assim como os exportadores alemães, que estão assistindo satisfeitos à depreciação da moeda. Quem paga é a carta, ou melhor, o contribuinte, mas esse, por enquanto, não está muito preocupado.

Nos EUA, a GM anuncia a intenção de voltar ao negócio de financiamento de veículos. Ufa. Já provaram que são bons nisso.

Não à toa, o ouro fechou o pregão de Londres na máxima de todos os tempos (US$ 1220 / onça).

E saiu a convocação do Brasil para a Copa. Mercado de balcão inalterado, precifica em 21% a chance do Brasil levar o hexa.

Volto amanhã. Fiquem com o Chewbacca, por enquanto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Gráfico do dia - doing God's work

O gráfico é uma distribuição dos ganhos diários da Goldman Sachs com atividades de tesouraria durante o primeiro trimestre deste ano. NENHUM dia de perda. 35 dias de ganhos maiores que US$ 100 milhões.

O espírito Gordon Gekko segue vivo e chutando:

"I don't throw darts at a board. I bet on sure things. Read Sun-tzu, The Art of War. Every battle is won before it is ever fought."

Globalização? Na música pop, não.

Um estudo interessante publicado pelo NBER mostra que a globalização teve pouco efeito no consumo de música pop mundo afora: ainda se ouve muito mais música regional do que era de se supor. Calypsooooooooooooo!!!

Um risco para o Brasil: alavancagem

A matéria de capa do Valor de hoje comenta um estudo feito pela LCA Consultores que levantou que as famílias brasileiras já gastam 18% da renda com o pagamento de dívidas (juro + principal). Nos EUA, o número correspondente é 15% (claro que o consumidor americano é mais alavancado, mas os juros aqui são algumas vezes maiores). Tudo vai bem enquanto o país está crescendo, o desemprego cai, os salários sobem e os ativos se valorizam. Quando o ciclo reverte... a história está cheia de exemplos para mostrar.

Acabou a crise (NOT!)

Como era de se esperar, a Europa seguiu a mesma receita adotada por Japão, Reino Unido e Estados Unidos: resolveu ligar a impressora de dinheiro (com um pacote de quase US$ 1 trilhão) e ser feliz. Também como era de se esperar, os mercados reagiram: dinheiro compra ativos, e, com mais dinheiro na praça, é natural que ativos se valorizem, num primeiro momento. Enquanto escrevo, o euro ganha quase 2%; as ações na Europa (índice Euro Stoxx 50) sobem 9%; e as ações de bancos, em alguns casos, ganham mais de 20% -- estão salvos, por enquanto.

O que mudou no mundo de sexta-feira para hoje? A Europa não vai crescer mais por conta do pacote, os governos não vão gastar menos (pelo contrário! O incentivo é para continuar a lambança, já que alguém sempre vai jogar a bóia), as empresas não vão lucrar mais, os bancos continuam com balanços precários... Como no caso dos EUA, comprou-se tempo. O custo é perpetuar instituições (empresas e governos) ineficientes e enterrar qualquer tipo de iniciativa inovadora e/ou corajosa. Novamente, as gerações que ainda não têm poder terão que pagar (ou repudiar) uma dívida monstruosa, para que seus antecessores continuem vivendo acima de suas posses.

Muitos amigos me procuraram nos últimos dias para saber o que fazer com suas aplicações (coitados...). Respostas diretas: aproveitem a euforia (que pode durar um dia, uma semana ou um mês) para reduzir o risco de suas aplicações. Venda ações. Se quiser manter ações, escolha companhias pagadoras de dividendo, com alta previsibilidade de fluxo de caixa e baixo endividamento. Compre títulos do governo, aproveite o escândalo que são os juros no Brasil. Livre-se de qualquer ativo em euro, não dá para saber o que vai acontecer com a moeda única na próxima piora. Adiante seus gastos em dólares do próximo ano (pelo menos). E tenha paciência. Novamente, o mercado pode se tornar eufórico por um tempo, mas os fundamentos seguem deprimentes. O estoque de dívida no mundo continua colossal, enquanto não for destruído (por inflação ou calote), vai ser difícil ficar otimista.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mais Copa do Mundo & Economia

Provando que a Goldman Sachs produz algum benefício para a sociedade.

Goldman Sachs - The World Cup & Economics 2010

Som da Sexta - Neil Young & Crazy Horse

Finalmente estou conseguindo ouvir o fabuloso Neil Young Archives, Vol. 1. Não daria para colocar outra coisa aqui. Esta é a primeira música do show de 1970 no Filmore East, um festivalzinho que reuniu, além de Young e seus comparsas, uns tais de Miles Davis, John Mayall e Joe Cocker.

Nem todos os créditos soberanos do mundo estão piorando...

Da Bloomberg:

Bolivia’s Ratings Raised at S&P on Economy, Finances

Caso consiga encontrar condições, a Bolívia deve fazer este ano sua primeira emissão externa em 70 anos. Suerte!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Lição de psiquiatria aplicada do dia (reloaded)

Dando sequência à série dos transtornos bipolares:

Em setembro do ano passado:

"Bovespa caminha rumo aos 200 mil pontos", reforça Ricardo Amorim

Hoje:

“É hora de vender tudo”, diz Ricardo Amorim

Número do dia: 537779%

Foi a valorização do quadro Desnudo, Hojas Verdes y Busto, de Pablo Picasso, desde 1951 (vendida por US$ 19,8 mil) até ontem, quando foi leiloado por US$ 106,5 milhões (novo recorde para uma obra de arte) na Christie's de Nova York . A inflação americana no mesmo período foi cerca de 745%.

Mais no Estadão.


"A nickel ain't worth a dime anymore." - Yogi Berra.

O maior dedo gordo da história?

Quem estava sentado em uma mesa de operações há alguns minutos tomou um susto gigantesco, e pode ter presenciado o maior caso de dedo gordo (fat finger) da história do mercado financeiro. Todos os grandes mercados (juros, ações, commodities) tivera movimentos violentíssimos em segundos (em um dia que não estava exatamente tranquilo) -- o índice de ações americano caiu 5% em um movimento contínuo.
Enquanto não há uma explicação "oficial", dois boatos circulam: um que um banco americano queria vender US$ 16 milhões em futuros de ações e, por um erro de digitação, acabou vendendo US$ 16 bilhões. O outro é um erro similar nas ações da Procter & Gamble, que caíram 36% (!!!) de uma vez:

Caso pior foi nas ações da consultoria Accenture, que estavam operando a US$ 41 e chegaram a ser vendidas por UM centavo (queda de 99,98% -- ou de mais de 100%, como diria o Luiz Nassif). A empresa morreu e foi ressuscitada em segundos:



Erros operacionais à parte, o episódio é uma ilustração aterradora do nível de integração e consequente fragilidade (Taleb... sempre ele) do mercado financeiro atualmente: o erro em uma ação fez com que computadores entendessem que àquele nível deveriam vender um índice, comprar ouro, vender euro, comprar títulos do tesouro.... as consequências poderiam ter sido devastadoras.
Update: tem algo na CNBC sobre o assunto.

Infraestrutura no Brasil

Para os interessados, uma overdose sobre o tema, via Financial Times e Morgan Stanley.

Especuladores, esses incompreendidos


Basta aparecer uma crise para que dedos comecem a apontar para os especuladores. Os corvos. As hienas. Os aproveitadores inescrupulosos. São os alvos preferidos de políticos, como forma de desviar a atenção de sua própria incompetência e dos exageros das sociedades que comandam (ver a declaração da dona Merkel hoje). Jornalistas, que, no geral, gostam de explicações fáceis, também costumam apelar para essa prática. É de fazer perder (mais) a fé na classe ler o editorial de Clóvis Rossi na Folha de hoje. Um dos mais experientes e visíveis profissionais da imprensa no Brasil usa até uma defesa dos "bancos não corsários" para ilustrar a sua análise rasa e mal informada.
Ele diz que não há "rationale" (que belo termo... soa sofisticado, não?) para o que está ocorrendo na Europa -- como se anos de desequilíbrio e falta de austeridade não justificassem uma piora no custo da dívida dos governos. Os "bancos não corsários", coitados, são os mesmos que receberam ajuda dos tesouros nacionais para não quebrarem por suas más decisões de crédito, e agora estão sem saber o que fazer com as carteiras repletas de títulos de países, companhias e hipotecas com baixa capacidade de pagamento. Exemplo mais gritante: títulos da dívida da Grécia foram adquiridos para se obter um excesso de retorno de 0,65% ao ano (a diferença média, na última década, do rendimento de um título de dez anos da Grécia para um equivalente da Alemanha -- ver o gráfico -- hoje essa diferença é de 8,18% ao ano). Falemos sobre "ganância desenfreada".

É difícil gostar de um especulador. Sua tarefa parece fácil e desproporcionalmente recompensada -- talvez a última impressão seja verdadeira, mas, definitivamente, não é fácil lucrar tentando antecipar movimentos do mercado (sem informação privilegiada, claro). Para começar, recomendo fortemente a leitura do (especulador) Hugh Hendry, numa coluna para o Telegraph de dois meses atrás. Especuladores podem não ser totalmente admiráveis (no Brasil, não ajuda a palavra ser praticamente sinônimo de "Naji Nahas"), mas são uma parte importantíssima e necessária do mercado -- merecem, ao menos, serem tratados sem os preconceitos e maniqueísmos costumeiros.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O que é, o que é...

Do último Investment Outlook de Bill Gross, da PIMCO (que, apropriadamente, chuta as agências de classificação de risco):

"Here’s a country with 20% unemployment, a recent current account deficit of 10%, that has defaulted 13 times in the past two centuries, whose bonds are already trading at Baa levels, and whose fate is increasingly dependent on the kindness of the EU and IMF to bail them out. Some AAA!"