terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Europa 2013

Entre o que aconteceu de surpreendente no ano passado, nada me espanta mais do que a Zona do Euro ter chegado a 2013 funcionando e com exatamente a mesma composição de um ano atrás. Dentro desse tema, cresce o espanto ao ver que as taxas de juros pagas pelos títulos dos governos que usam a moeda entraram novamente em convergência, diminuindo a diferença para os títulos da Alemanha.

De algum jeito, Mario Draghi, seus colegas tecnocratas e políticos conseguiram: conter uma corrida bancária que, em vários momentos, pareceu se iniciar na Grécia, Portugal e Espanha; evitar a eleição de partidos radicais, que poderiam tirar unilateralmente seus países do acordo monetário; administrar as divergências internas da comunidade e garantir linhas de salvamento para todos os países em crise mais aguda; e fomentar programas de austeridade mesmo em países com alto desemprego e grande pressão por mais gastos públicos. Não é pouca coisa, e só foi conseguido às custas de alguns pactos faustianos, de alto risco: aumento do "risco moral" do sistema (bancos não quebram mais, ponto final); potencial da austeridade gerar mais um longo período de desemprego alto e consequente radicalização política; enormes desequilíbrios entre os balanços de bancos centrais nacionais (o sistema TARGET2, mais neste paper do BIS) e distorção dos mecanismos de mercado para vários preços importantes (notadamente, o custo de financiamento público).

Para o futuro, creio, uma hipótese importante a ser testada (emprestada do Taleb) é se essa supressão de volatilidade implicará em rupturas mais profundas. Afinal, a vida da maioria da população e sua capacidade de consumir ou pagar dívidas não parece ter melhorado, e deve haver um ponto em que a insistência na austeridade, se não gerar resultados concretos para o emprego, passe a ajudar na plataforma de partidos de oposição mais radicais do que aqueles eleitos nas votações mais recentes. Assim, os maiores riscos tornaram-se ocultos, longe das telas de cotações de preços e sujeitos a dinâmicas pouco previsíveis e de grande impacto.

Por enquanto, sobra aos pessimistas o rótulo de Cassandra, já que as apostas vencedoras das quais se têm notícia foram na capacidade dos governos contornarem a crise e na reação que isso gerou nos mercados - como exemplo, basta dizer que ativos gregos forneceram grandes retornos no ano passado. Não há como ignorar, porém, a deterioração progressiva da representatividade de alguns governos e a tentativa de domar grandes sistemas complexos com medidas centralizadas. A história mostra algumas consequências desastrosas dessa combinação e, infelizmente, não vejo porque acreditar que desta vez será diferente. Porém, anos podem se passar sem que nada aconteça, o que inviabiliza boa parte das teses de investimento baseadas nessa ideia. Resta buscar opcionalidades e, sobretudo, evitar a tentação de eventuais ganhos de curto prazo em ativos sabidamente ruins.

5 comentários:

Anônimo disse...

DK, cadê aquele post sobre análise técnica prometido no ano passado???
Abs
RM

Drunkeynesian disse...

HAHAHAHAHAHAHA, um dia ele vem.

Alex disse...

A Cassandra sempre esteve certa; a punção dela por não dar para o Apolo era estar certa, mas nunca conseguir que alguém acreditasse nela.

Abs

Anônimo disse...

Apostar no Thanksgiving ou virar peru e encher a pança?
Maradona

Anônimo disse...

Chamou?!



Apollo Creed