quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crescimento x austeridade

A última coluna de economia da The Economist (Economic focus) comenta alguns trabalhos acadêmicos que tentam encontrar casos históricos em que austeridade fiscal levou a maior crescimento econômico, a combinação que muitos julgam desejável para os EUA e a Europa atuais Infelizmente, o sucesso dos defensores do aperto dependerá da incômoda premissa que "this time is different" (o racional suposto é que a austeridade diminui a probabilidade de calote da dívida, baixando as taxas de juros e, por consequência, aumentando os preços de ativos e os incentivos para investimento - esse tipo de argumento embute um grau de crença em expectativas e na preponderância de fatores financeiros que é bastante típica da nossa época, também tem sido usada pelo Fed): em um paper do FMI, por exemplo, foram estudadas 173 mudanças de política fiscal entre 1978 e 2009, e a conclusão é que um corte no orçamento de 1% do PIB leva a um crescimento real cerca de 0,7% menor e a um desemprego 0,3% mais alto.

Fugindo das possíveis distorções que uma modelo econométrico agregado pode gerar, um outro trabalho, de um professor da Universidade Bocconi, apresentou os casos em que políticas austeras tiveram sucesso. As tristes conclusões são que: (i) não são muitos, (ii) dependeram de fortes quedas nos juros (com o estímulo monetário decorrente substituindo algo da restrição fiscal) e/ou de grandes desvalorizações das moedas - possibilidades remotas em nosso mundo de juros já muito baixos e (no caso da Europa) taxas de câmbio não-independentes. Sem crescimento, sobram como opções para diminuir a dívida a combinação perniciosa de monetização e inflação ou o velho e bom calote, com o nome pomposo que queiram dar (reestruturação, renegociação...). O aperto fiscal arrisca piorar a atividade de economias já fragilizadas, e, no fim das contas, levaria por outro caminho a essas duas opções. Não vejo como os detentores de dívida não perderem, e,  até isso acontecer, seguiremos nesse estranho mundo de promessas irreais e políticos de grandes egos tentando controlar o incontrolável (e, tristemente, de dívida ruim sendo transferida de bancos privados para bancos centrais e tesouros nacionais).

2 comentários:

Anônimo disse...

http://ftalphaville.ft.com/blog/2011/07/20/628176/yes-greece-could-devalue-while-staying-in-the-euro/

Variações do mesmo tema, sem sair do tom. O que acha, dado que você comenta bastante sobre o problema da Zona do Euro?

Drunkeynesian disse...

O mecanismo é engenhoso, mas acho difícil que dê certo. Obviamente eu não conheço direito a estrutura tributária da Grécia, mas, por tudo o que falam, o sistema de arrecadação lá é uma piada, o que reduziria a eficiência de qualquer medida baseada em impostos. Ainda que seja possível operacionalizar, provavelmente o efeito seria muito menor do que uma desvalorização clássica, de 30% - 40%).