sexta-feira, 24 de junho de 2011

Devaneios do feriado - o keynesiano e o Fed

Ontem, feriadão, meio gripado e sem nada melhor pra pensar, comecei a lembrar de um professor da graduação. Meio maluco, se declarou keynesiano desde a primeira aula (a matéria, se não me engano, era "Introdução ao Desenvolvimento Econômico"). Tinha uma porção de pós-doutorados, entre Brasil, Inglaterra, Alemanha e Japão. O curso foi cheio de grandes momentos: de vez em quando ele parava a aula e começava a dar conselhos pra carreira, falando pra gente dar um jeito de fazer pelo menos um mestrado no exterior e arrumar um emprego "no FMI, no Banco Mundial, qualquer um desses, são os melhores empregos pra economista, pagam muito bem, você viaja de graça e não trabalha muito" (tenho uma porção de amigos que trabalham ou já trabalharam nesses órgãos e dizem que não é bem assim). Numa outra aula, ele distribuiu uma folha de xerox com vários recortes de textos, uns colados na horizontal e outros na vertical, escritos em alemão (o título era "Das Mundell-Fleming model", não esqueço até hoje), inglês e espanhol. Alguém reclamou que a maioria da classe não lia alemão, ele olhou pro pessoal meio surpreso e emendou o seguinte diálogo:

- Alemão é fácil, vocês deviam aprender. É só comparar os textos.
- Como assim, professor?
- Você pega um texto em uma língua que você conhece, o mesmo texto em alemão e vai comparando, decorando as palavras.
- Aaaaaah, claro. O senhor também aprendeu japonês assim?
(pausa de uns 20 segundos, professor pensativo)
- Nâo, não, japonês é mais complicado. Não dá. Japonês é mais complicado.

Mas a história que eu queria lembrar aqui não é nenhuma dessas. Quase no final do curso, rolou uma discussão sobre presença do governo na economia, quais eram as possibilidades e restrições para investimento do estado. Com a aula quase acabando, ele solta:

"No fim das contas, é fácil. É só o governo imprimir dinheiro."

Acho que tínhamos acabado de sair de alguma aula com um professor monetarista puro-sangue, porque a reação da maioria foi fazer cara de espanto e começar a perguntar:

"Professor... isso não acaba em hiperinflação?"

Ao que ele, sabiamente, respondeu:

" Talvez, mas e daí? Depois arruma."

Aí acho que a sala caiu na gargalhada e a aula terminou.

Nem tantos anos depois, de algum jeito chegamos no Fed de Ben Bernanke, que pode pensar e se justificar de forma bem diferente, mas, na prática, adota a mesma solução "fácil" que parecia absurda. Não sei se a história tem uma moral: talvez gestão de política econômica tenha mesmo que ser flexível a ponto de não se envergonhar de passar por cima de qualquer dogma estabelecido na academia; talvez a tentativa de preservar um modelo de economia que dá sinais de esgotamento implique em bizarrices que os historiadores do futuro vão quebrar a cabeça para entender; talvez seja mesmo fácil arrumar depois, e Bernanke e meu professor malucão vão rir por último. Daqui a uns anos a gente confere.

4 comentários:

Danilo Balu disse...

GÊNIO!!! A mulher ao meu lado aqui no aeroporto deve estar achando que eu sou um idiota de tanto que eu dei risada...

Ricardo disse...

Apesar de eu não ter feito esta matéria, tenho certeza de quem se trata.

Anônimo disse...

Tragicômico... E assim caminha a humanidade...

Anônimo disse...

Eu tb tive aula com o Darcy! hahaha