segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A covardia do G-20

O grupo dos sábios ministros das finanças das 20 nações mais importantes do mundo reuniu-se neste final de semana na Escócia, provavelmente para chegar à conclusão de quão sagazes e providenciais eles foram ao tirar o mundo da beira do abismo em que se encontrava entre o final do ano passado e início deste. "Abismo que cavaste com teus pés", diria o mestre Angenor de Oliveira: as ações (ou falta delas) desses mesmos políticos levaram, em grande medida, àquela situação. Fora o eventual autoelogio, mais nada saiu da tal reunião: o mundo já saiu da recessão, dizem, mas, mesmo assim, ainda não é hora de começar a retirada dos maiores pacotes de estímulo monetário e fiscal que se tem notícia -- algo como dar alta a um doente e mantê-lo sedado, só por via das dúvidas. Assim, o mundo continua em uma situação de prosperidade artificial, comprada com os recursos das próximas gerações, que ainda não têm poder político ou econômico para contestar.

Outra inação do grupo foi se recusar a fazer qualquer menção à taxas de câmbio, sobretudo da moeda chinesa contra o dólar. Mais um ajuste que ficará para um dia qualquer no futuro, já que, como a China é o grande salvador da humanidade, consumidor, investidor e poupador de todas as instâncias, sua política econômica não pode ser contestada -- e se eles se irritam e resolvem parar de comprar nossa dívida, nosso minério, nosso petróleo, de nos fornecer iPods e tênis de corrida a custos baixos?

Os primeiros resultados já estão sendo vistos nos mercados: as bolsas devem voltar para as máximas do ano, com a promessa da perpetuação da pedra filosofal criada com dinheiro grátis - volta do crescimento - ausência de risco deflacionário. No mercado de câmbio, todas as moedas relevantes do mundo se valorizam contra o dólar: como o câmbio chinês segue fixo e desvalorizado, algum ajuste de fluxo de conta corrente global é feito dessa forma distorcida, que, no limite, levaria para um mundo de apenas um produtor. Felizmente esse "limite" provavelmente não chegará: se a história ensinou algo é que todo regime de câmbio fixo um dia ruiu. Quanto mais tarde, maiores as distorções acumuladas que vão se converter em turbulência no momento do ajuste. Mas, novamente, parecemos estar em um momento em que há pouca preocupação com o futuro -- ainda o legado de uma era de excessos, que políticos teimam em tentar legitimar e provar que não há nada de errado com a idéia de consumir além do que se pode pagar. Covardia e uma profunda falta de respeito com as próximas gerações, estes ainda são os nomes do jogo.

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