Hora de parar para olhar para a lista de leituras do ano, separar o que achei mais legal e lembrar como é bom escrever um blog (obviamente não estou perto de voltar com regularidade, talvez a periodicidade anual seja de fato a mais conveniente). A amostra inteira está no Goodreads.
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Ficção:
'O nervo óptico', María Gainza. É ficção? As histórias parecem bater com o pouco que descobri da biografia da autora, as muitas obras de arte mencionadas parecem existir... Isso importa? Só aumenta o charme deste 'Ways of Seeing' com sotaque portenho.
'The Divorce', César Aira. O outro argentino notável da lista, também curtinho, o primeiro que leio do autor – que, aparentemente, tem vários outros pequenos romances de imaginação borgesiana.
'Sul da fronteira, oeste do sol', 'Sono' e 'Primeira pessoa do singular', Haruki Murakami. Respectivamente, o Murakami de que mais gostei, uma novela-quase-conto-ilustrada e o livro de contos mais recente. Jazz, Japão e relacionamentos meio platônicos sempre vão me pegar.
'Ghost Town', Kevin Chen. Um romance de realismo fantástico sulamericano do século XX, só que lançado em 2022 e ambientado em Taiwan.
'Trust', Hernan Diaz. Uma ficção histórica altamente convincente (e bem escrita), num formato desafiador e engenhoso. Parece ter merecido o Pulitzer que levou (e mais um argentino na lista...).
'The Road', Cormac McCarthy. Uma das experiências mais aterradoras que a literatura já me proporcionou.
Quadrinhos:
'Afirma Pereira', Pierre-Henry Gomont. Linda versão do essencial romance antifascista de Antonio Tabucchi.
'Verões Felizes', Zidrou & Jordi Lafebre. Nem todo bom livro precisa ser sobre famílias infelizes e distintas.
'The Secret to Superhuman Strength', Alison Bechdel. Bechdel continua sendo uma personagem tão irritante quanto quadrinista talentosa, aqui usando como pano de fundo sua obsessão de décadas com atividade física.
Economia, mercado e afins:
'The Chile Project: The Story of the Chicago Boys and the Downfall of Neoliberalism', Sebastian Edwards. Edwards foi muito criticado (talvez justamente) pela certa complacência com muitos colaboradores de um regime psicopata. Ao mesmo tempo, o livro não existiria se não fosse sua proximidade com esses personagens. De qualquer maneira, pouca gente poderia contar a história econômica do Chile nos últimos 50 anos de forma tão competente.
'Slouching Towards Utopia: An Economic History of the Twentieth Century', J. Bradford DeLong. Polanyi e Hayek como os 'economistas defuntos' que escravizaram tantos homens práticos no longo século XX.'Status and Culture: How Our Desire for Social Rank Creates Taste, Identity, Art, Fashion, and Constant Change`, W. David Marx. O nome deve ajudar na agudeza da observação social
multidisciplinar.
`The Fund`, Rob Copeland. Delenda Dalio.
Outros de não-ficção:
'Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele', Rafael Soares. Um livro de enorme coragem, com o tipo de trabalho jornalístico que está morrendo na era da informação rasa e "gratuita". Vale ler junto com a 'Vale o Escrito', da Globoplay.
'How the World Really Works: The Science Behind How We Got Here and Where We're Going', Vaclav Smil. Cause we are living (and will keep living) in a material world.
'Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business', Neil Postman. Postman morreu sem ver o estrago que a internet e redes sociais fizeram na política, o que tornou sua análise ainda mais pertinente e atual.
'Sovietistão', Erika Fatland. Um olhar de antropóloga, mas livre de academicismos, sobre as esquisitices da Ásia Central.