Enfiava-se no interior do Brasil e anunciava que estava "comprando bicho", para levar ao museu. Numa dessas viagens, trouxe também Cuitelinho, de autoria desconhecida e das mais belas canções da nossa língua.
Parou de fazer samba porque, segundo ele, "às vezes ficava uma semana pra resolver uma rima". Com a zoologia, porém, continuou mesmo depois de se aposentar da USP. Quem conviveu com ele no museu dizia que era casca grossa no primeiro contato, mas de uma generosidade imensa depois de quebrada essa barreira.
Cantava mal pra burro (era o primeiro a reconhecer que não sabia a diferença entre tom maior e tom menor), mas tinha grande intuição da sonoridade das palavras e da métrica que um bom samba requer, e sempre soube se cercar de bons músicos.
Um pecado que tenha ficado conhecido só por Ronda e Volta por Cima. Menos pecado que a gravadora Biscoito Fino tenha, em 2002, reunido grande parte de suas composições, interpretadas por cantores famosos (Paulinho da Viola, Chico Buarque, Martinho da Vila...) e colaboradores habituais (sua mulher Ana Bernardo, Carlinhos Vergueiro, Márcia), em Acerto de Contas de Paulo Vanzolini, caixa impecável de 4 CDs e melhor homenagem que ele poderia ter recebido em vida. Aliás, pessoal que vai editar essas homenagens póstumas da TV: ele detestava a versão de Maria Bethânia para Ronda. Gostava mesmo é de Inezita Barroso ("aquele vozeirão, aquele senso de samba") e Cristina Buarque ("afinada que só ela").
No ano passado fui ver uma homenagem a Vanzolini no SESC Pompéia, com presença do próprio. Entrou no palco com dificuldade para andar, sentou-se numa mesa e tomou uma cerveja atrás da outra, ouvindo suas composições, contando "causos" entre elas e brindando com o público. No final, ovacionado, levantou-se chorando, como se depois de tanto tempo ainda não tivesse se acostumado com o reconhecimento da grandeza de sua obra. Um colosso.
Aqui uma ótima entrevista de Drauzio Varella com Vanzolini, mais sobre ciência do que samba. Aqui a íntegra do documentário Paulo Vanzolini: um homem de moral, de Ricardo Dias. Aqui dá pra ouvir todas as faixas do Acerto de Contas.
"Sou um homem em paz. Feliz? Não sei qual foi o filósofo, se Sólon ou Thales, que disse só ser possível julgar se uma pessoa foi feliz ou não, depois de sua morte, porque é imprescindível ter uma morte feliz também."
Uma das provas de que SP não é totalmente o túmulo do samba
ResponderExcluirDk,
ResponderExcluirMinha impressão é que toda essa discussão sobre o this time is different é bem menos relevante do que parece, assim como o tal do índice de dívida/PIB maior que 90%.
Acho que a mensagem essencial do livro é bem mais ampla e discutir detalhes não afeta a idéia central do livro, que, em minha opinião, continua de pé. Estou errado?
Abraços
Sim, acho que a ideia central do livro (a meu ver, que crises de dívida são cíclicas e se parecem entre si) permanece intacta. O que ocorre é que pegaram esse caso do erro no paper pra alimentar o Fla x Flu entre defensores e detratores de austeridade.
ResponderExcluirRogoff continua sendo pica. Até porque os resultados qualitativamente continuam certos né.
ResponderExcluirFoi Solon quem disse isso
ResponderExcluirabraços
TEco