terça-feira, 9 de outubro de 2012

Fluxos estrangeiros: pare com o mimimi e use regulação

Essa é a mensagem de Barry Eichengreen sobre como o Brasil e outros países devem lidar com os fluxos originados por juros muito baixos no mundo. Nas palavras dele para o Caixin - China Economics & Finance:


What should Brazil and China do?  Neither has much room to fight fire with fire. Chinese consumer prices rose 2 percent year-on-year in August, and food prices climbed 3.4 percent. Brazilian inflation in the year through mid-September was 5.3 percent, and there too food prices are a problem. Both the Brazilian Central Bank and People's Bank of China have already loosened significantly. Given inflationary pressures, it is not clear that they can do more. 
Tightening fiscal policy is another standard way of leaning against an appreciating exchange rate, but with growth so weak this too is off the table. 
The best way of dealing with the impact of cheap foreign money, under the circumstances, is with regulatory policy. Both Brazil and China have regulatory restrictions on hot money inflows. If advanced-country policy threatens to augment those flows, now is the time to tighten those rules and restrictions. 
And Brazil, for its part, should emulate China and abandon its public criticism of advanced-country quantitative easing. Low interest rates in the advanced countries may be uncomfortable for emerging markets. But recession throughout the advanced country world, which would result from central bank inaction, would be even worse. As the Chinese proverb says, "there is no wisdom like silence."

25 comentários:

Anônimo disse...

Ah, mas daí qual desculpa o planalto vai dar pra privilegiar seus amigos empresários com protecionismo? Para adotar medidas populistas estilo "fogo-de-palha" para bombar emprego e consumo e ganhar a próxima eleição? O autor do texto não conhece os problemas e objetivos de nossos governantes.

Drunkeynesian disse...

O tradicional argumento de que no Brasil as coisas funcionam diferente do resto do planeta...

Anônimo disse...

Me lembra aquela pergunta do Professor Girafales, para a Chiquinha, no Chaves
- Se seu pai ganha 100 cruzeiros por dia, quando ele ganha por mês.
- 4 mil, professor.
- Errado. 100 cruzeiros por dia vezes 30 dias dá 3 mil cruzeiro. Mas você não entende nada de matemática mesmo.
- O senhor é que não entende dos trambiques do meu pai.

Anônimo disse...

"there is no wisdom like silence."
Tenho q me lembrar mais disso...
Maradona

Anônimo disse...

Uma externalidade positiva dos QE e afins é permitir que as taxas caiam mais por aqui.

Isso é relevante?

Drunkeynesian disse...

É relevante, só não sei quantificar o quanto o QE pesa na queda dos juros aqui.

Anônimo disse...

O mundo dá tantas voltas que em alguns momentos loucos como o atual os fatos dão alguma razão ao Mantega. O cara repete um discurso desde 1970, afrontando a história e a lógica, mas abre-se uma janela...
Será que o nosso ministro-luz permanecerá suportado pelo ambiente até 2014?
Maradona

Drunkeynesian disse...

Eu desconfio que ele nunca esteve com tanta moral.

Ticão disse...

Eu me divirto cada vez mais.

As coisas vão ficando de ponta-cabeça e vão surgindo "soluções" estranhas.

Não sou economista, nem da área. Meu interesse é só curiosidade.

O divertido desses "palpites" vindos de fora é o malabarismo que eles provocam.

Não sei que apito toca o Barry Eichengreen. Talvez não seja um Liberal Empedernido. Talvez seja um Vermelho Enrustido.

Seja lá o que for, continuo me divertindo.

Ticão

Anônimo disse...

Realmente, é uma defesa da revolução comunista essa proposta de regular a entrada de capital enquanto os principais BCs do mundo jogam dinheiro a rodo em economias paradas.

Anônimo disse...

Desconfio que nao eh o mundo que anda dando voltas e sim o que a crise de 2008 esta provocando no pensamento economico. A extrema desregulamentacao do mercado provou ser de um risco muito grande. Agora quando o pendulo oscila corre o risco de ir para o outro extremo tbm. Tomara que nao.

paulo araújo disse...

Caro

Claro que só li a parte que você colocou no post.

Algumas passagens chamaram minha atenção:

1. "Dilma pare com essa chorumela ridícula. Isso não leva a nada que não seja fazer o Brasil passar vergonha nos organismos internacionais. O Itamaraty não lhe explicou que esse bla-bla-bla na ONU é pura perda de tempo? Imite os chineses, porra!"

2. "Dilma, o momento não é para discurseira ideológica. Seja pragmática como são os anglo-saxões" (no caso, parece também um elogio ao pragmatismo chinês, que ensina que a habilidade de caçar ratos precede a escolha da cor deles).

3. O pragmatismo, nessas circunstâncias, sugere a implementação de políticas protecionistas (ou o eufemismo "regulatórias") contra o hot money (não sei bem o que é hot money. Para mim, hot money é aquele que está no meu bolso e que posso gastar ao meu bel prazer. Se você puder explicar, agradeço). Entendi também que ele não põe fé na eficácia das medidas protecionistas pró-FIESP e quejandos. Foi isso?

Você confirma que o entendimento do Barry Eichengreen a respeito de quais medidas protecionistas contra os fluxos de hot money seriam necessárias é o mesmo da equipe da Fazenda? Ou, ainda, você confirma que na Fazenda existe vida inteligente para entender o que ele está propondo?

Eu não tenho inteligência para entender exatamente o que ele está propondo [e pelo bem do Brasil, dos familiares e amigos, juro que jamais serei candidato a Ministro da Fazenda :)] e por isso não faço a mínima ideia das consequências disso, para o bem e para o mal.

Costumo decidir com base no fabuloso preceito de Spinoza (Tratado Teológico-Político, capítulo 16):

“É uma lei universal da natureza que ninguém renuncia ao que julga bom, se não por esperança de bem maior ou medo de prejuízo maior (…) Cada um, de dois bens escolherá o que julga ser o maior, e entre dois
males, o que na escolha lhe parece o menor."

O que Barry Eichengreen propõe exatamente? Não o principio, que entendi, mas o operacional da coisa. Como funcionaria na prática esse protecionismo contra o hot money?

PS: O John Kay omitiu uma parte importante na sequência da passagem do Tales. Aristóteles fala que ele ganhou uma grana, mas atribui a isso o fato de Tales ter formado um monopólio das prensas. Depois, cita um outro caso, de um comerciante de ferro que fez o mesmo em Siracusa e por isso foi banido da cidade.

Ou seja, parece que o que Aristóteles conta de Tales é uma anedota e não um fato.

Esse tipo de corta, copia e cola para uso e abuso é vigarice intelectual. Não se faz.



Drunkeynesian disse...

Ticão, o Eichengreen é um historiador econômico da UCLA, com trabalhos muito bons sobre a Grande Depressão, a história dos fluxos internacionais e, mais recentemente, sobre o papel do dólar. Eu qualificaria ele como um liberal pragmático, mas certamente a turma que estudou política deve ter uma opinião mais fundamentada.

Paulo Araújo, ótimo comentário. O "hot money", grosso modo, é o capital especulativo, que só entra para aproveitar alguma oportunidade percebida no diferencial de taxa de juros ou no potencial de valorização da moeda e sai rapidamente uma vez alcançados os objetivos de lucro (ou limites para perda, caso a estratégia dê errado). A visão geral (e do Eichengreen) é que esses capitais são desestabilizadores, causam superapreciação no câmbio e magnificam os efeitos de crises cambiais.

É esse tipo de capital que o Eichengreen sugere regular, antes de qualquer medida protecionista no comércio exterior, que é o tipo de coisa que, se generalizada, teria o potencial de enfiar de vez a economia global num buraco (é meio consenso que um ato protecionista nos EUA, o Smoot-Hawley, foi dos principais catalisadores da Grande Depressão).

Acho que o pensamento da Fazenda por aqui é algo alinhado com o do Eichengreen, estando a maior diferença na retórica. Idealmente, o Brasil lançaria mão de restrições para o capital de curto prazo (estabelecendo quarentenas ou uma tabela de impostos agressiva e regressiva no tempo) e pararia com essa bobagem de "guerra cambial".

Esse preceito do Spinoza lembra muito a frase do Bertrand Russell que está na coluna aí do lado (bem, nunca achei que ele tinha tirado do ar).

Bom saber da história do Tales. Algum outro comentarista já tinha sugerido que era apócrifa. Ainda assim, acho que ilustra bem um aspecto do mercado de commodities e não foi citada como grande exemplo de virtude, então não acho a vigarice intelectual tão grave.

iconoclastas disse...

"A visão geral (e do Eichengreen) é que esses capitais são desestabilizadores, causam superapreciação no câmbio e magnificam os efeitos de crises cambiais."

tenho a impressão de que nem tão geral assim, mas independente disso, são mesmo eficazes as medidas para impedir o fluxo?

no caso do Brasil, de qualquer forma, o ideal mesmo seria seguir o equilíbrio (aperto é palavrão) fiscal "standard".

Drunkeynesian disse...

Mas aí dependeria de acreditar que, com o fiscal melhor, os juros cairiam mais rápido... não necessariamente seria verdade, ainda mais se a inflação apertar.

Dawran Numida disse...

O Mantega deve estar com "sorte", outra vez.
Até 2007, o pé na jaca estava a todo vapor.
Até que eclodiu a crise das "hipotecas" e o gasto excessivo passou a ser chamado de anti-cíclico, no que, parece, foi acompanhado por muita gente.
Ainda bem que o ministro fora pró-ativo...
Depois ele disse que a economia ia crescer depois da crise e a economia, depois de negativa em 2008, cresceu cerca de 7% em 2009. Detalhe que de uma base negativa, só o efeito carregamento alavancaria alguma bolha de inchaço.
O PIB desabou em 2010, mas, isso é detalhe de ano eleitoral.
Agora, com novo pé na jaca iniciando ou já com água pelo peito, os caras vêm com QE. E a culpa passa a ser dos ricos outra vez. Até Delfim está elogiando. E gozado, pouca gente contraria Delfim. Tanto que ele ficou lulista por que decidiu assim e pronto.
Tudo de péssimo, na última coluna do Delfim na FSP, ocorreu de 1994 até 2002. O restante delfiniano, de 2003 até 2012, foi e está só alegria. Dá para rir bastante lendo as colunas dele.
Mesmo com 2012, 2013 e 2104, ameaçando "crer" no Ministro da Fazenda outra vez.

iconoclastas disse...

bem, mas o fiscal mais equilibrado seria fator de alívio para a inflação...

;^/

Ticão disse...

Ok, "liberal pragmático" explica bem.

Me lembro que, acho que aqui no seu espaço, já houve controvérsia sobre esse tema quando o Mantega propos um aumento de IOF (?) sobre essas aplicações de curto prazo desse Hot-Money.

E, na época, os que combatiam a medida afirmavam que ela seria inútil. Que o $$$ encontraria caminhos para contornar essa barreira.

Acho que agora, passado uns 2 anos (?), seria um bom momento para pedir uma avaliação sobre o resultado dessa "intervenção" do Mantega.

1 - O imposto conseguiu diminuir o fluxo do Hot-Money?
2 - Ou o Hot-Money encontrou caminhos para contornar a medida?
3 - Ou 6% foi pouco?

Certo que a queda da Selic deve ter desequilibrado a condição inicial da equação. Mas talvez alguém consiga dar o devido desconto em alguma análise.

Prefiro os pragmáticos. Normalmente não se prendem muito a ideologias economicas. Creio que a Economia está muito longe de ser uma ciência exata. Econometria é ferramenta e não religião. Psico-Historiadores devem ser uma realidade só lá pelo Século XXX.

Ticão

PS: Me ocorreu uma imagem. Imagine, lá no Sec XXX, a OPHB (Ordem dos Psico-Historiadores do Brasil) se aliando ao PMDB e indicando o vice-presidente da chapa?
É só um chiste.

Drunkeynesian disse...

Sei não, sei não...

Fato que tem muita variável envolvida: acho que dificilmente o juro teria caído tão rápido se fosse esperar o fiscal ou a inflação melhorarem, e a queda nos juros é um fator bem importante pra melhora do fiscal.

Ou, já que estamos no campo do não acontecido, qual seria a combinação de agora com um banco central mais ortodoxo? Dá fácil pra imaginar uma de juros mais altos e câmbio mais apreciado, não sei se seria melhor pro país...

Drunkeynesian disse...

Ticão, o problema na época foi que ele baixou a medida pra uma modalidade de câmbio e deixou um monte de buracos pro mercado contornar... tanto que depois passou muito tempo com novas medidas pra tentar tapar esses buracos (a mais radical e que teve mais impacto foi baixar imposto sobre as posições de futuros na BM&F - ainda assim, o mercado se virou migrando a liquidez para o mercado externo). O que acho que mais afastou os fluxos foi a queda no diferencial de juros, mesmo.

No século XXX todos os partidos terão se aglutinado e formado um grande PMDB, vai ser o fim da história a nossa moda - e o Sarney vai ter achado um jeito de se tornar imortal e será presidente vitalício (batendo na madeira aqui).

iconoclastas disse...


discordâncias em seguida, o que se trata é da sugestão de qual medida seria mais eficaz para tratar de eventual apreciação cambial, e não do que não aconteceu.

agora, com relação a queda de juros, o fiscal melhorou? a dívida bruta foi reduzida?

"Sei não, sei não..."

hummm...a política fiscal não tem efeito sobre a inflação?

;^?

Drunkeynesian disse...

Na margem sem dúvida tem, só não sei se a ponto de influenciar a tendência da inflação no Brasil, que me parece dominada por preços de alimentos e pela indexação...

A discussão de se o fiscal melhorou ou não é mesmo boa... no relativo (contra o resto do mundo) sem dúvidas é melhor, a dívida / PIB caiu, mas sempre criamos nossos esqueletos...

iconoclastas disse...

"Acho que agora, passado uns 2 anos (?), seria um bom momento para pedir uma avaliação sobre o resultado dessa "intervenção" do Mantega.

1 - O imposto conseguiu diminuir o fluxo do Hot-Money?
2 - Ou o Hot-Money encontrou caminhos para contornar a medida?
3 - Ou 6% foi pouco?"

é exatamente este tipo de questão que deve ser feita.

o melhor é ampliar para outros exemplos, em outros países, sob outros comandos, pois tratar de qualquer medida que dependa da competência do referido ministro pode ser considerada apenas anedótica (no duplo sentido).

paulo araújo disse...

Obrigado pelos comentários, Drunkeynesian.

Retiro o que disse a respeito do John Kay.

Li os outros comentários. O que não consigo compreender é esse "vai e vem" discursivo do Planalto e da Fazenda.

Veja o caso das privatizações anunciadas por Dilma num dia e, parece, desditas no outro. Quem eu acho que pegou bem esse ponto das contradições nos discursos foi Mansueto, que, entre outras, lembrou o desmonte das agências reguladoras, o fiasco da privatização das estradas e aeroportos.

Nisso, acho que a Fazenda mostra-se a anos-luz do entendimento pragmático proposto pelo Eichengreen. Por isso, tendo a concordar com Alex "Mão Visível" nos posts que terminam com a dupla-imagem do muar (duas cabeças orelhudas em um mesmo corpo e cada uma querendo ir para o lado oposto a outra).

Se o entendimento do controle do hot money, nos termos de Eichengreen, é o mesmo da Fazenda, por que raios não aplicam? Não bate. Tem algo mais aí do que retórica a diferenciá-los.

Drunkeynesian disse...

Não sei bem o que guia a Fazenda, mas dou o crédito de que não deve ser fácil estar lá e lidar com o monte de interesses que pedem pra acomodar.

No geral eu tento acreditar que a Fazenda e a política econômica do governo vai bem além das asneiras que o Mantega se propõe a falar, mas talvez seja boa vontade demais.