sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Robert Lucas e a macroeconomia em 2012

Eu tenho uma opinião relativamente pouco informada e ambígua sobre o Robert Lucas: por um lado, acho a hipótese de expectativas racionais extremamente elegante e útil quando não abusada; por outro, acho que ele é uma personificação de "economista autista" que quase ofende meu lado mais prático (a crítica de Lucas, porém, é uma ideia epistemológica ultrapertinente, ainda que não muito original: vejo com uma derivação do "efeito observador" dos físicos). De qualquer maneira, a influência dele ainda é enorme, de forma que sempre vale a pena prestar atenção no que se fala dele e no que ele fala. Esta semana o nome dele apareceu bastante no meu Google Reader:

- Delfim cutucou, na CartaCapital:

"Os economistas já deveriam ter perdido a inocência revelada pelo Prêmio Nobel Robert Lucas, que sonhou ter destruído Keynes quando decretou, em artigo na American Economic Review, que "a macroeconomia foi bem-sucedida: seu problema principal, a prevenção da depressão, está, para todos os fins práticos, resolvido e, de fato, resolvido por muitas décadas."

- A EconomicDynamics publicou uma entrevista, curtinha, com o próprio Lucas, no qual ele minimiza a importância atual da famosa crítica (e este autor lamenta):


"...the models I criticized then have long since been replaced by others that build on their work. I am pleased that my work contributed to this. 
But the term "Lucas critique" has survived, long after that original context has disappeared. It has a life of its own and means different things to different people. Sometimes it is used like a cross you are supposed to use to hold off vampires: Just waving it it an opponent defeats him. Too much of this, no matter what side you are on, becomes just name calling."

- Noah Smith comenta, do ponto de vista de um macroeconomista acadêmico com formação em física.

- Matthew Yglesias usa a entrevista e os comentários de Smith para destacar como dados macroeconômicos são problemáticos, e como isso deveria levar economistas a serem mais humildes.

Enfim, poucas conclusões, mas muito bom material para pensar.

7 comentários:

  1. Não vejo como a Lucas' critique pode ser uma derivação do "efeito observador" dos físicos.

    O "efeito observador" dos físicos é que para medir uma coisa, você precisa jogar algo nela, e esse algo tem que bater de volta em um sensor. E jogar algo nela vai mudar o que ela estava fazendo antes.

    A "Lucas' critique" é que observar os comportamentos macroeconômicos procurando regularidades vai levar a achar regularidades "espúrias", não fundamentais, que podem mudar de acordo com coisas que não estão no modelo.

    Assim como na física as leis clássicas ou newtonianas quebram em certas circunstancias especificas, por não levarem em conta comportamentos mais fundamentais.

    A solução das microfundações seria como buscar a física quântica da economia. Mas note que isso é um meio para se chegar a uma teoria universal e robusta. Se chegassemos a algo prossimo a fisica classica em questão de previsões, sem microfundações, a critica faria bem menos sentido.

    Não há por que escolher um nível arbitrário de abstração para fazer nossos modelos. Não da pra dizer: "Partam das motivações dos indivíduos e agreguem." e achar que isso é A economia. As microfundações não são microfundadas na psicologia, a psicologia não é microfundada na neurologia. As micro fundações entre a neurologia e a física quântica estão em melhor estado, mas bem longe da perfeição. Não da para microfundar tudo, a microfundação como validadora do conhecimento não é valida.

    O objetivo é construir conhecimento, e a microfundação nos serve apenas enquanto nos ajudar nisso.

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  2. Eu penso na implicação para implantação de política baseada em abstrações, que uma vez que você implementa algo, fica quase impossível separar causas e efeitos e o modelo usado com base nos dados antes das políticas deixa de valer.

    No mais, concordo com o que disse, e esses são motivos para não enxergar economia como ciência, pelo menos não além do que facilita o entendimento de uma determinada conjuntura específica.

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  3. Ilustres,
    Isso tem algo de vários campos, como:

    1 – Mercado: Princípio da Reflexividade de Soros
    Caso exista reflexividade, os participantes do mercado serão os contribuintes para as consequências de suas próprias crenças, previamente estabelecidas.

    2 –Física Quântica: Princípio da Incerteza de Heisenberg
    Contrapõe-se a possibilidade da observação sem consequências, impossibilitando isolar as respostas do objeto de análise do ambiente e do observador que o analisa.

    O particionamento dos campos de estudo nos serve de orgasmo inconsciente para que possamos na possibilidade de encapsular em sistemas fechados e bem regrados assuntos cuja complexidade foge à nossa compreensão.

    De fato não existe Economia, Física, Psicologia, etc. E não existiria sem o próprio homem, causador e causa de seus próprios atos, definidor arbitrário de todas as coisas. Ainda hoje impera racionalismo cartesiano que ainda prevalece em todas as ciências.

    Isso tudo me lembra do sonho de Kekulé, a cobra que morde seu próprio rabo, a descoberta do benzeno. Nesse caso, a cobra é o homem e o rabo é o resultado de suas ações que o retroalimenta continuamente.


    Hasta..

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  4. Errata

    "...para que possamos crer na possibilidade ..."

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  5. Eu acho que os economistas ainda não entenderam completamente todas as implicações da "crítica de Lucas" para a profissão, ou não podem admiti-la, o que explica a pressa do próprio autor em relativizar sua importância. Acho que o ponto fulcral daquele artigo clássico (Econ Policy Evaluation: a Critique) não é crítica da previsibilidade econométrica das políticas, mas as condições de possibilidade dessa previsão que ele propõem no final (debate, coordenação), que é um mero "Deus ex machina" para não concluir que a economia é quase irrelevante.

    Esse arigo da AER citado pelo Delfim é beira o patetismo... O cara precisa desqualificar a macroeconomia inteira pra escrever sobre bem-estar!

    Para a Jocasta Jocosa (nick legal):

    http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-49/tipos-brasileiros/o-louco-de-palestra

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  6. Delfim Bisnetto...

    Muito me surpreende essa linha ofensiva tomada por vc.

    Respeito mais o debate a conclusões fechadas sobre os assuntos e respeito a sua opinião como a de qquer outro aqui.

    Nessas horas vemos as pessoas descerem de seus altares de cristal e vociferar argumentos espúrios por não saberem o que responder.

    Quis fazer um paralelo entre pensamentos, mas isso o irritou. E ambos entendemos o porquê.

    Isso só prova o incomodo claro causado em pessoas que não conseguem expandir seus horizontes além dos campos de estudo encapsulados pelo próprio homem.

    Vide Daniel Kahneman - Psicólogo, Nobel de Economia 2002).

    Louca da Blog (não economista)

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  7. Calma, Jocasta, não foi meu intuito ser ofensivo, era só brincadeira. Tomei a liberdade, pois achei que seu nick comportava alguma permissividade ao bom humor.

    É verdade que não entendi uma série de mediações da sua colocação inicial, mas não fiquei irritado com elas e muito menos quis me ater aos "campos de estudo encapsulados pelo próprio homem", muito pelo contrário. Se digo que os economistas não entenderam direito a crítica de Lucas é porque acho que há ali uma série de questões sociais, interacionais e discursivas latentes que eles negligenciam.

    No mais, alguém deve me achar um "louco de blog" por isso também, então, não leve essas coisas tão a sério...

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